Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

segunda-feira, fevereiro 26, 2007


SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arq.º Saraiva…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

Tema: Saraiva, deu uma grande queda…

Introdução - Ao Arq.º José António Saraiva, com toda a consideração que nos merece, transmitimos uma singela advertência: Cuide-se! E sem querermos assustá-lo, dizemos-lhe: Dá-nos a ideia de perseguir um destino de azarado. Mais, ainda, de a incómoda fatalidade se ter acentuado a partir da saída do "Expresso". Até parece "mau-olhado" lançado pelo Dr. Francisco Balsemão. Nesta coisa de feitiços anónimos nunca se sabe de onde eles partem. Se estivéssemos em condições de dar conselhos sobre matéria tão delicada, arriscaríamos recomendar-lhe que fosse à bruxa…

Não há dúvidas quanto à continuação das ocorrências desagradáveis que têm atormentado o cidadão José António Saraiva. Dessa certeza estamos sabedores. Por alta mercê do conhecido jornalista para com os seus leitores; a quem vem prestando regulares informações de natureza pessoal na sua coluna "Viver para contar". O que induz a existência de um drama interior de alguém que sente estar vivendo para contar as suas desditas, ao ponto de insinuar que a sua vida já não tem outros horizontes que não sejam os de partilhar mágoas e desgraças que afectam a sua vida.

Assim, estamos confrontados semanalmente com os seus relatos que designámos por "SARAIVADAS" que, apesar de alguns traços dramáticos, inserem uma ou outra nota picaresca; certamente destinada a amenizar a leitura.

Se bem nos lembramos de tudo que lemos em sede de desgraças de Saraiva no período de um ano, o rol é extenso e elucidativo.

A sucessão dos desagradáveis acontecimentos terá começado com a saída de José António Saraiva da direcção do "Expresso". Depois, veio a excitante aventura do relançamento do "SOL". Este sucesso de Saraiva teve consequências desconfortáveis: colocou-o no regaço da banca da Opus Dei e submeteu-o à tutela da seita fundada por Josemaria Escrivá de Balaguer y Albás. Situação que para ele não será fácil gerir sem se tornar engolidor de sapos bem vivos… Outra vertente desalentadora da má alimentação a que se sujeita Saraiva… (Assunto que citaremos mais adiante, nesta crónica).

A seguir, Saraiva viu-se envolvido na trapalhada de um cartão de crédito não solicitado – o que lhe trouxe amarga desilusão com o banco. Este; pregou ao Arq.º Saraiva uma desaforada partida. Entretanto, o famoso arquitecto-jornalista passou, um tanto imprevistamente, as passas do Algarve para levantar uma encomenda postal.

E quase sem tempo para respirar aliviado de bastantes tensões e chateações teve um desastre de automóvel nas vésperas do Natal. De que resultou a viatura ter ficado muito maltratada – o que obrigou a que fosse enviada de urgência para tratamento operatório na clínica mecânica de estabelecimento digno de crédito, sito algures em Lisboa. Com a agravante que houve peripécias relacionadas com o seguro que Saraiva entendeu não divulgar.

Por outro lado, o Paco embora seja um bom companheiro do Arq.º Saraiva e lhe faça gracinhas, prega-lhe sustos pouco compatíveis com o clima de repousante amizade que deveria permanecer inalterável para benefício mútuo das duas criaturas. Também um pouco incómodo, senão desagradável, a circunstância de Paco causar várias preocupações a Saraiva. É que o Paco não fala e está por descobrir porquê? E há que apurar qual é o modo de Paco articular os raciocínios. Mais: Qual é o nível dos seus sentimentos – uma questão importante porque o Paco já não lhe merece tanta confiança e o arquitecto Saraiva teme que, por milagre, um dia ele, cão fiel, comece a dar opiniões; e, provavelmente, Saraiva passaria a desgostar-se dele, Paco.

Como se tudo isto não fosse suficiente para trazer em sobressalto qualquer cidadão bem comportado e nem desse azo a noites mal dormidas, José António Saraiva, em data recente, deu uma grande queda… Revelando invulgar estoicismo e desusada humildade, ele – no seu relato - não menciona as mazelas sofridas no físico e na alma; mas deu para perceber que ficou bastante combalido.

A grande queda… De todas as peripécias registadas nos últimos tempos em que tem sido fértil o quotidiano viver de José António Saraiva, já tratámos, desenvolvidamente, em crónicas anteriores. Exceptuando a última apontada: a grande queda. Esta, é o tema central do presente artigo.

O texto descritivo da insólita ocorrência que caiu na rifa da pouca sorte do Arq.º Saraiva, consta da sua coluna "Viver para contar" inserida no órgão Tabu. Mas antes da descrição da aziaga queda, Saraiva dá a pequena nota de que não segue à risca o preceito de o pequeno-almoço ser constituído por variadas substâncias alimentícias nas quantidades adequadas a uma nutrição saudável. Saraiva limita-se a tomar um chá e a comer uma torrada. Sentado, a ler o jornal numa pastelaria. Pouquíssimo para uma refeição que deveria ser um acto cultural, de concentração, de mãos livres para a tarefa alimentar e olhar colocado nos produtos comestíveis, com natural dispensa do periódico e de qualquer outro elemento ainda que relacionado com a Cultura. É de considerar que o pequeno-almoço deve ser a segunda refeição mais substancial do dia. E nela, a atenção dispensada em termos de exclusividade anímica. Talvez por essa falta de cuidado na alimentação o conhecido jornalista apresenta o rosto pálido, aquela expressão de tristeza e um certo ar de moléstia.

Aconteceu que, feita a pequeníssima refeição para enganar o estômago, Saraiva parecendo ignorar o facto de se estar alimentando mal e a prejudicar, desnecessariamente, a saúde, dirigiu-se à oficina com o intuito de reaver o carro. Só que este não estava lá: "tinha saído sem ser, sequer, reparado"! Extraordinário! Para além de nem ter sido reparado, o carro tinha saído em viagem (de passeio?) – deduz-se que sem condutor, pelos seus próprios meios, embora avariado. Provavelmente deslocando-se em voo com recurso a artes mágicas. Uma conclusão se tira: é um carro fabuloso a fazer inveja ao concorrente prestidigitador Luís de Matos. Na informação prestada por Saraiva sobressai uma referência interessante à recepcionista da loja. A prestante senhora não atinando com a informação a dar ao cliente, dirigindo-se a Saraiva, "tirou então a única conclusão lógica: - "Então telefone à sua secretária". Tão evidente ou lógica que Saraiva, desconcertante, confessa: "conclusão a que eu, aliás, já chegara". Formidável intuição de Saraiva. Extraordinária reacção tardia, igualmente de Saraiva.

Prosseguindo a descrição o Arq.º Saraiva refere que se dirigiu a outra oficina e que foi difícil localizá-la. Porquê? "Porque os nomes das ruas não são visíveis" e teve de "andar às apalpadelas". Convenhamos: uma estranha forma de caminhar. Incómoda. Aborrecida. Perigosa. Quanto à invisibilidade dos nomes das ruas, trata-se de uma novidade. Um índice de modernidade da cidade alfacinha. Lisboa já tem ruas com nomes invisíveis. A quem se deve tão surpreendente invento de natureza urbanística? A Santana Lopes? A Carmona Rodrigues? O Arq.º Saraiva regista o facto, mas não fornece quaisquer explicações.

Chegado à oficina localizada numa "floresta de portões, barracões, rampas, letreiros", deparou-se com o automóvel em situação de repouso: estacionado à entrada. Foi um encontro algo comovente. Não tanto "como seria com o Paco". Deu para Saraiva ficar consolado.

E vamos à queda… Uma grande queda… Saraiva caiu no conto do vigário!

Como? Ele explica: Decidido a meter gasolina no carro, parou numa estação de serviço. Acto contínuo, estacionou ao lado um Mercedes cujo condutor o interpelou pelo seu nome. Estabeleceu-se um diálogo com uma certa vivacidade, grande eloquência e poder de persuasão da parte do interpelante, enquanto Saraiva "assistia a tudo, atónito". Mais grave e deveras circunstância embaraçante para o interlocutor Saraiva: "não percebia o que estava a acontecer". E enquanto o diabo esfregava um olho, Saraiva viu-se na posse de um casaco de homem e de outro de senhora, ambos depositados na bagageira do seu carro. Casacos fornecidos a título gracioso e por amizade, mediante a simples oferta de "qualquer coisa para liquidação do IVA". Mal-grado seu, "alguma relutância, estranhando e escandalizado", Saraiva, generoso quanto bastou para afirmar o seu espírito de pessoa condescendente e afável, pegou na carteira, tirou cinco notas de 20 euros e passou-as para as mãos do seu amigo da onça "antes de ele se meter no carro e arrancar velozmente". Diz-nos o Arq.º Saraiva que, nesta altura, suspeitou "de que poderia ter caído no conto do vigário". Também, não despiciendo o facto de Saraiva, no trajecto de regresso ao lar ter pensado maduramente no caso até chegar ao apropriado ponto de vista, tal modo conclusivo que, lá chegado, "já não tinha dúvidas de que fora enganado". Momentos depois teve "uma surpresa: os casacos eram mesmo casacos!"; cujos preços de venda serão 15 euros cada. "A imitar pele. A etiqueta, porém, revelava o pecado original: a origem chinesa".

A concluir, Saraiva escreve: "Embora mantenha grande estima pelo meu automóvel, tenho de reconhecer que ando azarado".

Certo que Saraiva tem razão: anda azarado. O que não percebemos é o tom enigmático com que evoca o seu estado de espírito de "manter grande estima pelo meu automóvel" e o anteponha como factor de reconhecimento do seu percurso de azares. Mistério… do misterioso Saraiva.

Fim

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Um texto sem tabus…

UM MEU PROBLEMA DE

FALTA DO CONHECIMENTO...

E, TAMBÉM, DE MUITA GENTE…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

A sociedade portuguesa debate-se com graves problemas de ordem política, de natureza social e de âmbito cultural. Eles são muitos, variados, difíceis e todos causadores de grandes preocupações, de sofrimentos e de carências que, sobremodo, afectam as camadas mais desfavorecidas da população. É uma situação que constitui um fardo pesado e que se está tornando insuportável para bastante gente. E a muitos, já arrastou para estados de desespero e de colapso total.

Porém, como se isso não bastasse no atormentado viver quotidiano dos portugueses surgem, de quando em quando, factores novos, imprecisos, que - conjugados com temores ancestrais e experiências mal sucedidas, que deixaram profundas marcas no tecido social - põem em sobressalto as consciências dando origem a momentos de confusão, mesmo de choque. E não só. Dir-se-ia que tudo converge numa permanente angústia, onde nem cabe qualquer pequeno alívio ou descontracção que liberte o vulgar cidadão do pesadelo.

Aqui e agora, trazemos à colação mais um factor perturbante que surgiu no meio futebolístico, se expandiu ao campo da política e ameaça alastrar a outros sectores da comunidade. Estamos a referir-nos ao surgimento da “atitude.

A este ponto chegados, ousamos perguntar à leitora e ao leitor:

Nalgum tempo passado você já teve atitude? Hoje sente que tem atitude? Não descarta a hipótese de amanhã ter atitude? Prevê que nos próximos tempos necessitará de ter mais atitude? Ponderou a hipótese de, normalmente, ter menos atitude? Onde está o impedimento de manter atitude? Ou será que dispensa a atitude? Qual ou quais atitudes? Atitude? Sem outra indicação, a atitude que lhe é exigida não a/o deixa pendurada/o, sem atitude? E a pensar: mas que raio de atitude? Como vou ter atitude? Porquê? Quando? Onde? Em que circunstâncias terei atitude? Qual o modo de actividade motora a que recorrer se lhe pedirem atitude? Se num dado momento tiver convicção, duvida, surpresa, medo, audácia, qual destes tipos de atitude (mental) vai escolher para ficar melhor na “fotografia”? Pessoa de aptidões várias e necessidades muitas tende para que atitude? O que a/o tornará vulnerável à atitude? Que cuidado, vacina, mezinha, tomar para adquirir imunidade à atitude? Haverá possibilidade de liquidar, à nascença, a endemia da atitude? Poderá viver sem “atitude? Ou, pelo contrário, inquieta-se com a possibilidade de morrer por causa da atitude? Como nem reconhecer que coisa chata é a atitude?

Por mero acaso, a leitora e o leitor saberão o que é atitude?

Pela nossa parte, humildemente, confessamos a nossa ignorância sobre aquilo que é a atitude que anda por aí, disponível, na boca da malta; qual projéctil disparado à queima-roupa a qualquer momento e nos mais diversos sítios, pelos homens do futebol e seus compadres da política. E porque, desligada se apresenta da classe morfológica constante da Gramática, parece ser um misterioso agente, talvez um novo vírus que ameaça a saúde física, a paz de espírito, o bem-estar e a segurança de cada cidadão. Com a agravante de nem se saber se esse obscuro elemento ataca o conjunto das componentes da vida do ser racional que somos ou se apenas algumas delas. Nós suspeitamos que atitude seja uma doença semelhante à sarna… Um mal que dá muita comichão. Pessoa atingida, forçosamente, não se aquieta. Enfermidade contagiosa, rapidamente se propaga.

Se calhar é isso… Desportistas, políticos e cidadãos precisam de sarna para se coçarem. Espevitarem. Produzirem algo de útil e agradável à vista e ao paladar… O que, para cépticos e amigos da onça, deixa algumas dúvidas quanto à compreensão do fenómeno e à sua eficácia no domínio das prestações profissionais, quer nos futebóis, quer noutras actividades. A menos que nela, sarna (a reclamada atitude), se busque o antídoto ou a desculpa para os maus resultados das pugnas desportivas, dos combates políticos e das lutas quotidianas da vida. Um pouco à semelhança de quem cura doença de cão com o pelo do dito.

Falando-se de atitude trata-se de um problema sério que urge conhecer nas suas minudências…

Se bem nos lembramos quem descobriu a atitude e afoitamente a lançou na ribalta do teatro mundano dos nossos infortúnios actuais foi o seleccionador nacional de futebol, Scolari, ao tempo do último campeonato europeu de futebol. Então, ele começou por afirmar que os jogadores da selecção nacional tiveram atitude. Alguns indígenas ao ouvirem o “palavrão” ficaram a ver navios e a fazerem conjecturas. Depois, em várias ocasiões, o Scolari referiu que alguns seleccionados não tiveram atitude. Nessas alturas, a compreensão do empolado termo ficou mais difícil, porque apresentado em circunstâncias diferentes. Recentemente, um treinador de futebol, numa pequena entrevista, utilizou a palavra (atitude) cinco vezes. Transcrevemos algumas passagens: “quero que os jogadores tenham ambição, atitude, querer, garra”; “a equipa tem apresentado mais atitude, mais garra, mais determinação”; “que a turma adversária não ganhe por ter corrido mais que nós, por ter mais atitude, mais garra e mais vontade de vencer”.

A gente ouve e lê estas referências à atitude e não consegue assimilar o que se pretende indicar. Que atitude, eventualmente e de forma imprecisa, pudesse induzir que o jogador se empenhava com pertinácia no jogo, ainda estaria, com algum esforço mental e boa vontade, ao alcance do entendimento da malta. Porém, não será essa a interpretação visto que a atitude está destacada com algum sentido próprio, na proposição. Nesta, seleccionou-se metodicamente: a vontade de vencer, a garra e a determinação. Por outro lado, nalgumas das falas, expressas em letra de forma, atitude está associada ao advérbio de quantidade mais o que faz supor que se tratará de algum medicamento ou suplemento vitamínico potenciador de mais fortaleza física, melhor destreza atlética e maior força de ânimo. Quiçá, alguma misteriosa droga que escapa aos ensaios laboratoriais de detecção de substâncias estimulantes proibidas…

Assim, atordoados com tantas dúvidas, pesquisemos a Semântica e vejamos quais são os significados que a palavra atitude encerra:

1 – posição do corpo; postura; jeito.

Então, se a atitude é isso teremos de nos interrogar qual será a posição, a postura e o jeito que se exige aos jogadores quando se diz que devem ter atitude. E, naturalmente, indagar se devem jogar sentados, deitados, a rebolarem-se no chão, portando-se mal, fazendo gestos obscenos, insultando tudo e todos, jogando com requebros de passos de dança. Se devem tomar atitude de protesto, incorrecta, violenta, indisciplinada, irreflectida e indecente. Ou, pelo contrário, se a atitude deverá ser civilizada, de contenção, de resignação e de alegre confraternização com o adversário.

No fim de contas, algo diferente do que se vê nos campos desportivos em que os jogadores actuam de pé, esbracejam, dão cabeçadas e recorrem a todos os expedientes não só para manter a virgindade da baliza do seu reduto defensivo mas, também, para desflorar desavergonhadamente e à má-fé, se possível, a outra, do adversário. O mesmo se pode afirmar dos políticos que não olham a meios para atingirem os seus fins de aproveitamento pessoal e de exploração da boa-fé e ingenuidade do Zé-Povinho. Por aqui iríamos dar ao espectáculo burlesco e à grosseria e à correlativa depreciação dos profissionais da política. Todos, do futebol e da política, ficavam desclassificados. Nem haveria atitude (qualquer que ela fosse) que lhes valesse em propósito de remissão.

2 – maneira de significar um propósito.

Será que jogadores e pessoas deverão adoptar alguma desconhecida maneira de significar um propósito. Qual propósito assim fervorosamente instigado?

3 – modo de proceder.

Questão posta: Que outro modo de proceder num jogo de futebol, senão jogar com entusiasmo, arte, disciplina, respeito pelo adversário e acatamento das regras?

Ocorre apurar como é possível extrair destas significações do termo (atitude) concordâncias de sentido quando se diz que os jogadores e as pessoas tiveram ou deixaram de ter atitude?

Esta abordagem semântica confrontada com os desvarios linguísticos, acima focados, evidencia várias e graves lacunas no uso da Língua. Também serve de confirmação dos hábitos permissivos da facilidade, da falta de rigor, do desleixo e da lei do menor esforço, que estão na moda. Infelizmente, abrangendo as áreas da aquisição dos conhecimentos e formas de expressão oral e escrita. Outrossim, da prestação de serviços e do exercício profissional.

Enfim: Pedir ou exigir atitude é um disparate. A merecer uma atitude de repúdio.

O uso do substantivo atitude implica que se lhe associe explicitamente a determinante que lhe dará sentido de objectividade e orientação do procedimento. Geralmente, uma coisa e a outra, associadas e concretizadas na forma de estar em sociedade, definem a personalidade da criatura humana.

Fim

domingo, fevereiro 18, 2007

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arqº. Saraiva…

Brasilino Godinho

http://quintalusitana.blogspot.com

Tema: As mulheres sob a mira de Saraiva…

Falando de "POLÍTICA A SÉRIO" e como se isso correspondesse à prática do sistema vigente em Portugal, o Arqº. Saraiva, na semana transacta, brindou-nos com um estudo sobre as mulheres.

Saraiva escreveu:

- "Alguns partidos metem as mulheres "a martelo" nas listas – porque isso cai bem e é politicamente correcto".

Bem, perguntar-se-á: porquê meter mulheres a martelo e não de outra forma mais delicada? Nas listas? Quais? Isso cai bem? Por que não considerar que isso levanta-se mal? "Politicamente correcto"? Ó malfada expressão! Já te tornaram insuportável! Então é correcto aquilo que se faz de forma incorrecta à força, à bruta e a golpes de martelo? Ou a política já caiu tanto no lodaçal, talvez num abismo sem retorno, ao ponto de se considerar que, desde que praticada com falta de ética e duvidosa seriedade, ela é genuinamente correcta na medida em que a letra será condizente com a careta do embuste, do oportunismo, da falcatrua, ao arrepio da autenticidade da Política (com letra maiúscula)? Bonita vai esta paródia da inversão gratuita de valores civilizacionais. Pelos vistos, aceite e aplaudida pelo Arqº. Saraiva.

Contudo, apesar desse infortúnio as mulheres podem dar graças ao Altíssimo. Porque se os partidos e alguns outros elementos activos não quebradiços, os chamados inteiros, as empurrassem para outros sítios também inconvenientes, seria uma lástima. Provavelmente, teriam que se haver com experiências piores, mais sofridas. De modo que… as damas da política, melhor ponderadas as situações reais e previsíveis, estão com sorte. Parabéns!...

- "Quando o assunto lhes interessa, as mulheres envolvem-se.

Todos os dias, nos debates, nas sessões de propaganda, nos passeios pelas cidades, vimos mulheres".

As mulheres envolvem-se no assunto? Ou em quê? Como? Entusiasmadas? De livre iniciativa? Ou fazendo o frete, a contragosto? Todos os dias envolvidas nos debates e nas sessões de propaganda? Nem ao domingo ficam em casa a descansar? E se o assunto não der ar de sua graça e presença as mulheres desistem dos passeios pela cidade? Nessas circunstâncias… gaita! Nem por um canudo as veremos... O Arqº. Saraiva admira-se de ver as mulheres por tudo que é sítio? Esqueceu-se de mencionar outros lugares por onde elas se passeiam: cafés, jardins, espectáculos, igrejas, hipermercados, estádios de futebol e outros mais. Mas, aqui entre nós, admirados ficamos com a admiração do inspirado cronista.

- "Quando o assunto as toca, as mulheres participam e empenham-se".

As mulheres serão assim tão amorfas que tenham de ser tocadas pelo assunto para participarem em qualquer coisa? De que jeito terá de ser o toque do assunto? Participam onde e como? Empenham-se em quê? O que dão em penhor? Quando o assunto as toca, esse atrevido arrasta-as para os endividamentos? Sorte malvada! E se o assunto não lhes toca, o que acontece?

Qual a razão de tanto espanto pelo espírito de entrega das mulheres? Porventura, é desconhecido que quando o amor ou um gesto carinhoso as toca, mesmo que leve, levemente, elas participam e comprometem-se, geralmente, com ternura e entusiasmo? Pudera! Onde estão a novidade e a estranheza?

- "Quando o tema as motiva, as mulheres saem para a rua, gritam, barafustam e são capazes de se sacrificar".

Por esta é que ninguém esperaria. As mulheres quando se interessam por um tema não ficam em casa ou nos serviços onde trabalham? Saem para a rua desatinadas? Tornam-se desordeiras e perdem a compostura? Para entrarem numa farra de diversão e escândalo? Francamente! Quem julgaria que o Arqº. Saraiva alguma vez cometesse um deslize deste tamanho? Se repetisse no toque e no motivo? E se pusesse a escrever no molhado?

- "Porque aqui (na campanha do referendo) sentiu-se o crepitar da sociedade civil". Bolas! Vá lá entender-se… A sociedade civil crepitou? Como sucedeu essa coisa inconcebível? A sociedade civil a estralejar? A sociedade civil com estados patológicos das vias respiratórias? Com estalidos? A tiritar? A tremer de frio? De medo? De quem?

Também de referir que a Saraiva se lhe afigura que o primeiro-ministro ousa imitar o "lobo mau". Assim, tomámos conhecimento que Saraiva dividiu os lobos em duas classes: lobos maus e lobos bons. Só nos faltava esta chateação… O que é um lobo bom? Quem põe o rótulo no focinho do lobo mau? Porquê? De Saraiva, nem uma palavra esclarecedora… Prevalece o silêncio… Desponta a inquietação da malta…

Quanto a Sócrates que se cuide… Nem se exponha aos caçadores furtivos… Trate de se conhecer melhor… às tantas é lobisomem, sem se aperceber…

Visto, lido, respigado e ora aqui comentado, vale a pena assinalar que ler os artigos do Arqº. Saraiva é uma útil ocupação propícia à prática da higiene mental. Outrossim, um entretimento sucedâneo da resolução de charadas e de palavras cruzadas.

É que na escrita de Saraiva as palavras não sendo cruzadas, estão dispersas, perdidas, nalgumas vezes, enredadas na trama e isoladas do contexto. Assim, é posta à prova a capacidade de apreensão dos indígenas.

Afinal, com ela, escrita enigmática de Saraiva, dá-se o encontro de duas artes: a do autor, traduzida na concepção, na novidade e na explanação dos temas e a do leitor, expressa no engenho da leitura e, portanto, mais virada para a descoberta dos sentidos e das subtilezas da linguagem do articulista, Arqº. Saraiva.

sábado, fevereiro 17, 2007

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arqº. Saraiva…

Brasilino Godinho

http://quintalusitana.blogspot.com

Tema I: A caixa de Saraiva

Esta semana o Arqº. Saraiva evocando “A caixa de Pandora” abriu a sua caixa: A caixa de Saraiva.

E se bem comparado, à semelhança de um prestidigitador que habitualmente tira um coelho da cartola, o Arqº. Saraiva dessa caixa retirou um livro de recordações que abriu para nos transmitir alguns dados interessantes sobre a sua vida de menino e moço e acerca de um grande fenómeno da natureza que testemunhou, aparentemente sem surpresa.

O famoso arquitecto-jornalista no desempenho da sua normal actividade de cronista é propenso a divagações, sempre baseadas no pretexto evocado, na circunstância da ocorrência e, sobremodo, na tendência narcisista para se contemplar, embevecidamente, a si mesmo. Tudo isso condimentado com fantasiosos desvios e impresso nas composições escritas em que as palavras se atropelam entre si na amálgama das formulações e dos conceitos, num estranho desencontro com as ideias vertidas em letra de forma nuns casos, insinuadas noutros ou, simplesmente, não intuídas quer pelo autor, quer pelos leitores. Sendo esta a típica escrita de Saraiva, não há volta a dar. Há que aceitar a situação e dela extrairmos as mais valias da boa disposição e do conhecimento, por mais insólito que ele se represente nas ditas “saraivadas”.

Desta vez, José António Saraiva para não fugir à sua regra, no relato de ocorrências do seu passado infantil, juntou-lhe mais algumas apreciações sobre a questão colocada no referendo do p.p. dia 11 de Fevereiro de 2007. Em primeiro lugar, como se preocupado em tomar embalagem na “corrida” descritiva, informa-nos que desde a data do nascimento até casar viveu numa casa “de dois andares com uma certa dignidade” com frente para o Jardim Colonial, em Lisboa

Em vista disso… impõe-se um parêntesis nesta crónica e formular o seguinte reparo: Uma das curiosas facetas da escrita de Saraiva é a de ela se identificar com a sua expressão corporal e natureza anímica, de pessoa taciturna, semblante triste revelador de timidez, insegurança e preocupação, olhar vago, distante, braços cruzados, dando a ideia de quem está em guarda, à defesa, resignado e, talvez por isso, envergando camisa branca de condenado prestes a ser conduzido à cadeira eléctrica… Também dir-se-ia que ele carrega um qualquer mistério e muito se esforça por mantê-lo ao abrigo da curiosidade alheia. Precisamente, reserva misteriosa perceptível quando, após a afirmação de existência de uma certa dignidade nos dois andares, nada acrescenta - que nos elucide - sobre o que é e como se evidencia a dignidade desses andares especiais. Mais, ainda, o facto relevante de ambos a possuírem. Não se detendo na definição deixou-nos com uma grande curiosidade sobre o que se entenderá como a “certa dignidade” em contraposição à - verosímil - incerta dignidade dos demais andares conhecidos e desconhecidos… Naturalmente, nos interrogamos: Quais as características da “certa dignidade” dos andares? O que a diferenciava das dignidades de outros seres indeterminados?

Saraiva também nos dá notícia que, nessa época da sua vida, a família tinha duas criadas de servir, vulgo sopeiras. Aconteceu que um dia “uma delas caiu doente”. Que grande queda! Teria sido de cabeça, em queda livre? Digamos, em voo picado? Uma aflição! O resultado foi que a moça fez um desmancho mal sucedido. Uma carga de trabalhos. Daí adveio um problema que Saraiva descreve sem se importar de o envolver num ar de mistério permanente. Ao referir que mais tarde teve a explícita referência ao facto, assevera que a explicação lhe foi dada “no meio de silêncios”. Circunstância espantosa. Mais não disse. E pronto! O leitor que se lixe… E dei tratos à imaginação. Neste particular caso, quem tudo quer saber da vida alheia, bastante acabará por perder… Leitor abelhudo, nalgum tempo, chegará à conclusão de como teria sido possível fazer-se a explicação do desmancho “no meio de silêncios”? Estranho que não tivesse sido dada em pleno silêncio. Porquê “no meio de silêncios”? E não nas bordas do conjunto de silêncios? Tantos silêncios juntos não fizeram um barulho ensurdecedor? Provavelmente por deficiência nossa nem conseguimos imaginar como no meio de vários silêncios (muitos? poucos?) se possa ouvir algum som. Caramba! Logo naquela altura da atribulada explicação haveria de acontecer aquele desencontro de tantos silêncios… Convenhamos: terá sido um grande azar. Resta considerar a hipótese de ter sido utilizada a linguagem gestual. Mas porquê? Saraiva nada esclarece. Enigma por decifrar… Igualmente, do maior interesse no âmbito da aquisição de saberes é a questão de, perante um cenário localizado “no meio de silêncios”, se aprender como localizar as bordas de um qualquer silêncio ou as beiras do conjunto dos vários silêncios; estes, possivelmente, naquela altura da “explicação” quanto “à queda” e ao “desmancho”, reunidos em conclave patético e silencioso…

De registar o hábito de Saraiva de aplaudir não com uma das mãos mas - segundo se depreende da anotação sobre um hipotético aplauso da despenalização do aborto - com as duas mãos. O que representa uma achega importante para melhor conhecermos a personalidade em causa.

No contexto do escrito do Arqº. Saraiva sobre “A caixa de Pandora” - que melhor seria chamar-se “A caixa de Saraiva” (designação que, eventualmente, por modéstia, omitiu) – está incluso um grande mistério a que nos referimos na parte inicial deste texto Vejamos o que Saraiva escreveu. Preto no branco, lê-se que o referido prédio tinha “um quintal murado, onde pontificavam duas imponentes palmeiras”. Aqui, ficámos completamente baralhados. As palmeiras pontificavam no quintal? O ambiente conferia-lhes a faculdade de pontificar? Por serem imponentes é que elas pontificavam? Pontificavam para dentro ou para fora do quintal? Ou para inglês ver, se passante na Calçada do Galvão? Por acaso, com o fausto que lhes advinha da condição de seres imponentes, teriam celebrado missas pontificais? Há memórias, certamente enriquecedoras da cultura nacional, das suas intervenções orais e escritas feitas com autoridade sobre específicos assuntos? Qual e onde se encontra o acervo das leis que as inconfundíveis palmeiras ditaram?

Urge que o Arqº. Saraiva forneça respostas a estas interrogações porque haverá que perseverar a memória de tão extraordinário fenómeno: a pontificação exercida por duas palmeiras. Sem motivos para não acreditar na informação do Arqº. Saraiva, porque pessoa da maior respeitabilidade, registamos que elas, as duas imponentes palmeiras do quintal murado da família Saraiva, superiormente dotadas, se dedicavam às nobres actividades da pontificação.

Aliás, se nos é permitida a sugestão, os surpreendentes actos de pontificar das invulgares palmeiras deveriam ser detalhadamente descritos em documentos a depositar na Torre do Tombo e ao Arqº. Saraiva não escasseia talento para se dedicar a essa nobre tarefa. Nesse arquivo nacional estariam

domingo, fevereiro 11, 2007

Um texto sem tabus…

TANTOS COM SUAS SENTENÇAS

SOBRE “O QUE ESTÁ EM CAUSA”…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

“Não há fome que não dê em fartura”. Há longo tempo que em Portugal se mantém a discussão sobre a despenalização do aborto. Esgrimem-se argumentos, proferem-se acusações, disponibilizam-se opiniões, sobrelevam as paixões entre os dois pólos da discórdia: à direita, o “não” da discordância e da condenação da entidade feminina; à esquerda, o “sim” da concordância e do respeito pela dignidade da mulher. A lengalenga do costume. E não se passava da cepa torta.

Até que se chegou, imprevistamente, no decurso da semana que precedeu a data do referendo (11 de Fevereiro de 2007), a um momento providencial em que um “inteligente” quis pôr ordem na confusão das ideias e na algaraviada. Alguém inspirado teve “atitude”, como se diz na gíria futebolística. Nada mais, nada menos que a ideia brilhante de sintetizar a questão do aborto em cinco palavras: “o que está em causa”. Uma rica expressão que deu avantajado pano para muitas mangas talhadas ao feitio de cada indivíduo. O êxito não podia ser maior. Foi um estrondoso sucesso…

A qual, pelos vistos, utilíssima e oportuna ocorrência aconteceu no início do período de campanha eleitoral actualmente em curso - um tempo aproveitado pelos dois campos do “sim” e do “não” para arregimentarem adeptos e eleitores predispostos ao cumprimento do dever cívico de, no dia do sufrágio, irem à boca da urna depositar o voto correspondente às respectivas posições. E com um registo estranho: o de uma situação que, principiando com alguns afloramentos ocasionais de tímida revelação, rapidamente se transformou numa prática constante, irreflexa e descarada, algo irredutível.

Passou o tempo da campanha a ouvir-se a expressão: “o que está em causa”. Por tudo que era sítio e meio de comunicação não se ouvia outra coisa supostamente mais convincente. Nos jornais; nas entrevistas de rua; nos debates radiofónicos; nos encontros de personalidades e desencontros noticiosos efectuados nas televisões; nas tertúlias dos cafés; nas conversas às mesas dos restaurantes; nas acaloradas intervenções dos deputados na assembleia dos cujos; nos corredores dos ministérios; à beira dos balcões dos estabelecimentos; às portas das autarquias; nos colóquios realizados nas aulas magnas das universidades; nos oaristos entre noivos e conjugues; nas maquiavélicas palestras do professor Marcelo; nas conversas de contra-estímulo do António Vitorino com a inefável Judite de Sousa da RTP; nas reclamações da Arqª. Helena Roseta; nas violentas declarações do Dr. Daniel Serrão; nas opiniões ásperas, sem mel nem doçura, do Sousa Tavares; nas reuniões do Episcopado em Fátima; nas alocuções do cardeal-patriarca; nos sermões dos bispos; nas homilias dos padres durante as missas dominicais; nos delico-doces escritos do Arqº. José António Saraiva; nas diatribes dos políticos; nas divagações das ministeriais figuras; nos diálogos dos intelectuais alfacinhas; nos alvoroços ruidosos das peixeiras da lota de Matosinhos; nas manifestações espontâneas das vendedeiras do mercado do Bolhão; nos almoços e jantares das clientelas partidárias; nas observações surpreendentes da Zita Seabra; nos pacatos retiros de colegiadas das grandes fraternidades; nos intervalos dos espectáculos de teatro e de cinema em Lisboa; nas instalações das polícias; nos salões de cabeleireiras sitos na região da Grande Lisboa; nos bate-papos ocasionais travados durante viagens em comboios Alfa e em cruzeiros no mar territorial; no conselho directivo da Associação Nacional de Farmácias; nos tempos de antena da Ordem dos Médicos; nos monólogos do Jardim da Madeira; nos comentários “abruptos” do Pacheco Pereira; nos tempos de devaneio de qualquer bicho-careto, provavelmente nas reuniões dos conselhos de administração dos bancos portugueses da Opus Dei, e até nos sumptuosos salões do Vaticano e no anfiteatro do Parlamento Europeu, a qualquer momento e em diversos locais e ambientes sempre que havia fala sobre o assunto lá vinha á baila “o que está em causa”. O que sucedia com satisfação da generalidade dos intervenientes. Porque as conclusões se encaixavam no contexto do que cada um, aferindo por si mesmo, considerava estar em causa. Ainda por cima, com a singular particularidade de todas elas serem sábias e definitivas… Logo, irrefutáveis.

Era uma barafunda completa. Parecia que todos estavam possuídos de um estado de graça. A suprema faculdade de saberem aquilo que estava em causa. Só que cada indivíduo interpretava a expressão “o que está em causa” ao seu modo, peculiar jeito e livre arbítrio. Nunca em Portugal se terá atingido tamanhas amplitude e notoriedade, determinadas pelas lucubrações de tantos cidadãos demasiado voluntaristas. Não obstante, muitos deles, privilegiados detentores da iludida sapiência e de periclitante objectividade. Uma inédita situação de tantos portugueses a contemplarem-se nas ignorâncias das suas certezas sobre “o que está em causa” numa dada circunstância mas, igualmente, sem se darem conta do que está em causa nas realidades das suas ignorâncias…

Dos vulgares cidadãos se espera que, lúcidos, não se tenham estonteado pelo espectáculo ruidoso e, algumas vezes, obsceno, horrendo, indecentemente associado a uma campanha de disputa pela primazia de uma corrente de opinião. Diga-se, campanha pessimamente desenvolvida, ao arrepio da elevação exigível numa Democracia.

Desejável teria sido que, com dispensa da campanha, o resultado do referendo correspondesse ao somatório de opções de consciência de cada cidadão. O qual, livre de pressões, de tutelas religiosas, de influências políticas, inteiramente mobilizado pela inteligente compenetração dos seus direitos e obrigações cívicas, agiria por si próprio. Sem muletas, com repúdio de espúrias orientações de voto.

Mais: estados de barrigada, específicos das mulheres que sentem no corpo e na alma a acuidade e o drama das situações, a expressão dos sofrimentos físicos e as sequelas psíquicas, geralmente associadas a uma interrupção de gravidez, deveriam ser elas - e só elas - a pronunciarem-se em referendo quanto à despenalização do aborto.

Enfim, não esqueçamos que esta é a Nação que carrega uma pesada herança de rígidas doutrinas; cínicas práticas obscurantistas, censuráveis tradições; de equívocos métodos nas áreas da política, administração, ensino, educação, investigação, desenvolvimento; de abusivos costumes; e de nefastos garrotes culturais… que lhe determinaram o angustiante presente e condicionam o indeciso futuro. O que não deixa de ser uma dramática contradição com o esplendor atingido na era dos Descobrimentos e com os altos padrões de qualidade da ilustre gente que, no nosso tempo, se evidencia nos mais variados sectores de actividade e muito prestigia o País.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Estimadas senhoras,
Caros senhores

Junto uma crónica sobre um tema aliciante: SARAIVADAS.
Ao tomar esta iniciativa quero exprimir a seguinte opinião: se elas não existissem teriam que ser inventadas. Porquê? Porque distraem. E na presente conjuntura de tantas tristezas, preocupações e maldades, elas cumprem esse inestimável serviço à comunidade. Ajudam a desanuviar o ambiente soturno que nos envolve a todos - os indígenas deste país.
Fico esperançado que concordem com esta minha apreciação acerca do valor "terapêutico" das SARAVAIDAS.
Deixo uma palavra de consideração pela pessoa que lhe empresta a designação.
Saúda-vos cordialmente,
Brasilino Godinho


SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arqº. Saraiva…

Brasilino Godinho

Tema: O país de Saraiva

É convicção geral, óbvia e indesmentível, arreigada nos indígenas que conseguem enxergar um palmo à frente do nariz que Portugal é um país pequeno. Em contraposição a esta realidade, na capital, muitos tubarões, melgas, camaleões, parasitas e mostrengos, sem os pés bem assentes na terra que habitam, julgam-se no centro do Mundo. Os grandes senhores que na capital da alface-do-mar têm poder e influência estão convencidos que Lisboa é Portugal. O resto, Província, é a paisagem circundante a servir de moldura ao quadro resplandecente da grande cidade da região saloia. A qual agrega outra peculiar característica mal concebida, bem aceite nos costumes lisboetas e muito explorada de forma maquiavélica pelos intelectuais das avenidas novas, pelas rapaziadas das televisões, pelos aprendizes do feiticismo anichados nos jornais e pelos infiéis depositários da cultura nacional integrantes do círculo onde encaixa o quinzenário JL: a de, no seu meio ambiente, ter concentrada a inteligência dita portuguesa…

Para nós, párias e mentecaptos que - segundo as doutas lucubrações de tais indivíduos superabundantes de jactância - seremos por causa indeterminada atribuível a Deuses mal intencionados, restar-nos-ia o desconsolo e a amargura de vivermos na horrível e desconfortável “paisagem” que se espraia para além da área da república alfacinha. Por fatalidade nossa, uns desinfelizes, teríamos de nos acomodar a esse tristíssimo estado de coisas. Também, darmos graças ao Altíssimo, o “Grande Arquitecto do Universo”, pela consolação da proximidade; senão pela glória inerente à vizinhança de tão deslumbrante lugar de culto das grandezas de Portugal; consubstanciadas nos procedimentos das fantásticas celebridades que orientam, governam e marcam posição de destaque em todos os campos de actividade no Portugal de José António Saraiva. O que exercitam, geralmente, com pouco engenho, alguma disfarçada arte, folgado aproveitamento pessoal e grande satisfação dos respectivos grémios e irmandades. A que acresce o falso préstimo de se constituírem seleccionado escol da comunidade lisbonense do país saraiveiro.

Claro que tais criaturas porque entretidas nas suas actividades profissionais e de lazer, dir-se-ia que estarão condicionadas pela rotina citadina e pelo limitado horizonte definido pelo perímetro da grande urbe. Porém, reconheça-se que isso não as perturba. Se não têm o rei na barriga porque ele se perdeu na voragem do tempo, no entanto conservam a soberba, o distanciamento dos semelhantes das áreas periféricas e a contemplação dos próprios umbigos, não lhes restando vagar, pachorra e entendimento para se abalançarem a virem arejar as ideias e alargar as vistas nos “matagais” em que os provincianos se encontram instalados. Decerto, estáticas e dormentes por comodismo. E, também, por várias motivações higiénicas e calculistas que, nada tendo a ver com a higiene da alma, terão em conta os cuidados repartidos pelas nutrições das barriguinhas, pelas fatiotas e pelos riscos de desalinho nas posturas e movimentações…

Portugal, para além de ser um pequeno território mal conservado e pior organizado; um Estado navegando à deriva num mar encapelado de dificuldades suscitadas por tráficos de incompetências, de ambições e de oportunismos; uma Nação pobretana, dispersa, sem rumo, perdida num labirinto de contradições, de maus hábitos seculares e de reminiscências de um passado de obscurantismo e de atraso que se aprofunda ao compasso do tempo; é, também, aquilo que fica descrito na antecedente breve síntese: o agora famigerado “país de Saraiva”.

Todavia, depois de lermos o escrito de “VIVER PARA CONTAR” em que o autor José António Saraiva nos conta as sensações que experimentou no último concerto promovido pela Associação Portuguesa. Contra a Leucemia que teve lugar no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, ficou-nos um amargo de boca… É que parece, a acreditarmos em Saraiva, que Portugal ainda é mais pequeno do que julgávamos.

Mestre jornalista, Arqº. Saraiva, no uso do direito de gozar da autoridade que lhe confere o estatuto de quem vive para contar histórias - se bem apreendemos a significação do seu título “VIVER PARA CONTAR” - com a maior solicitude e invulgar destreza mental, veio informar-nos que “o país em peso que se deslocou ao Pavilhão Atlântico” era aquele mesmo bastante sentido por si, dir-se-ia quase à sua posse chegado, quiçá absorvido sofregamente na sua alma de cidadão devotado às grandes causas, onde “estava toda a gente: os representantes do Estado (desde o Presidente da República e o primeiro-ministro aos presidentes dos tribunais) os partidos, a alta finança, o empresariado, as artes e os media”.

Em vista disso, ficámos cientes das quatro certezas do Arqº. Saraiva. A primeira, que o país é Lisboa. O que nem constitui realidade desconhecida.

A segunda, que “o país em peso” (óbvio, que na totalidade; esta, composta por “toda a gente” de Lisboa, naturalmente dotada do peso e da medida de importância facilmente compatíveis com os padrões de Saraiva) coube no Pavilhão Atlântico. Aqui, a surpresa: por muito grande que seja o pavilhão, muitíssimo pequeno é o Portugal no qual se revê o cronista Saraiva e que já qualificámos como o país do Arqº. Saraiva.

A terceira, que no país do Arqº. Saraiva não há lugar para a média e baixa finanças. Evidente que nos confrontamos com uma manifesta segregação social e… capitalista.

A quarta, que o Zé-Povinho nascido, criado e residente na capital não é gente. Tal e qual acontece com o irmão gémeo da Província. No país do Arqº. Saraiva não existe um cantinho aprazível e decente para eles ou para a arraia-miúda.

Não deixemos passar a oportunidade sem fazer reparo que a terceira e a quarta certeza de Saraiva assentam na desqualificação de alguns sectores da sociedade portuguesa, em nítida violação dos preceitos constitucionais.

Tudo isto em sintonia com a estranha conclusão do Arqº. Saraiva: “Porque é preciso estabelecer uma pirâmide social”… Face a este propósito de Saraiva cumpre-nos parafrasear o Zeca Afonso. Porque, igualmente, é preciso avisar a malta… para que ela saiba pôr-se no lugar que lhe está reservado pelo famoso arquitecto, logo que projectada e erguida a “pirâmide social”. Ou seja: posição suficientemente afastada da “pirâmide social” congeminada pela rica mente de Saraiva. Todo o cuidado será pouco. Para já, depreende-se que o arquitecto Saraiva tem o projecto em mãos…

Inexplicavelmente, o articulista Saraiva esqueceu-se de mencionar que os representantes da Igreja, da Maçonaria, da Opus Dei e das Forças Armadas terão marcado presença no Pavilhão Atlântico. Nem é de crer que o distinto jornalista os exclua daquele compacto e selecto núcleo designado por “toda a gente”. Não obstante, a omissão é intrigante visto que o Arqº. Saraiva se entreteve a observar detalhadamente o amplo cenário ao ponto de ter registado que “na quarta fila alinhavam-se personalidades avulsas”. Note-se que sem distinguir: se anónimas, se isoladas, se não autênticas (a propósito: o que será uma personalidade não autêntica?). Realce-se o pormenor interessante de as personalidades, apesar de avulsas, estarem alinhadas. Felizmente! Seria deselegante, incómodo e aborrecido que estivessem desalinhadas… A tal ponto que poder-se-ia considerar um desaforo… lesivo da bela e cuidada imagem do país do Arqº. Saraiva. Ufa!

Outros dois aspectos pitorescos do descritivo de Saraiva são aqueles em que dá nota do seu interesse na identificação dos luxuosos automóveis Mercedes do actual presidente da República e na satisfação de, naquela noite, Cavaco Silva não “ter de ir para a bicha”.

Além destas particularidades indiciadoras de atenção aos detalhes, o Arqº. Saraiva, às vezes, tem apetite. Por exemplo, na ocasião, se bem o sentiu, melhor o disse: “perante aquela plateia, apetecia perguntar: Quem é que não está?”. Então apetecia-lhe fazer tão extravagante pergunta? Com que justificação? Se afirmou que “estava toda a gente” no Pavilhão do Atlântico e que a ele se deslocou “o país em peso” qual o sentido de pretender ajuizar “quem é que não está”? Sim ou não estava “toda a gente” e o “país em peso” (o Portugal de Saraiva, claro!)? Qual é a versão credível?

Depois, num singular parágrafo, dando mostras de ter encontrado a resposta que ciosamente guardou para si, desabafa: “Talvez nenhum acontecimento tenha reunido até hoje tanta gente importante como este concerto”. Ao leitor, naturalmente surge a curiosidade e as correspondentes interrogações: “nenhum(?-nulo) acontecimento tenha reunido…”? E onde? Em Portugal? Aqui à ilharga, na Espanha? Do outro lado do Atlântico, no Brasil? A Norte, num país escandinavo? Em qualquer parte do Mundo? Na Lua? Noutra galáxia do universo de Saraiva, nossa desconhecida? Como saber?

Também se compreende a razão de ser daquele desabafo. O que seria o “acontecimento” se em vez de “tanta gente importante” tivesse reunido gente sem importância aferida pelo exigente critério selectivo do autor da crónica? Mas, atenção! Anda por aí gente que, futuramente, não deverá descurar a simpatia e os laços afectivos e sociais com Saraiva. Para acautelar sua inestimável condição de “gente importante” conforme o figurino saraiveiro.

Daqui se conclui que José António Saraiva considera que é um fascínio de Lisboa a possibilidade de reunir tanta “gente importante”. Mais ainda, que está atento e empenhado na elaboração de estatísticas. Provavelmente para ilustrar as crónicas que vai escrevendo com entusiasmo e desenvoltura; embora de quando em quando tropece na confusão das ideias e no emaranhado dos termos do discurso.

Para rematar Saraiva meteu o pé na poça quando escreveu: “Duarte Lima arranjou um ajudante de primeira: José Cura”. Uma lástima! Sem cura possível…

José Cura, o grande tenor argentino, ajudante de Duarte Lima? Só lido…

Apesar das reservas quanto aos anjos maus instalados em Lisboa porque entendemos que se empenham em complicar as vidas das gentes, sem importância, da Província, custa-nos admitir que algum deles se lembrasse de erguer Cura à condição de ajudante de Lima… Que grande saraivada!

Verdade seja dita: Tem cabimento a conjectura de quanto são imprevisíveis as formas de contar para viver ou as condicionantes de “VIVER PARA CONTAR”… Outrossim, interrogamo-nos: E se houver lugar a viver para descontar qualquer coisinha? No viver? Decerto, no contar – entenda-se…

P: S. - Se gostar da presente crónica, passe-a aos seus amigos e compartilhe com eles a boa disposição alcançada pela leitura das SARAIVADAS…

Ou dê-lhes a informação que as SARAIVADAS estão inseridas no blog http://quintalusitana,blogspot.com

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Convite a qualquer cidadão
(sem discriminações)

Perca-se ou ganhe-se neste blog
http://quintalusitana.blogspot.com...

Visite-o!

Não paga: Nada à entrada… Coisa nenhuma à saída…Mas nele alcança uma prenda invulgar - o seu espírito vai soltar-se! E livre, como o passarinho saltitante, pousará: ora alegre e prazenteiro, no lugar do conforto da satisfação; ora triste e revoltado, no sítio da incomodidade do descontentamento - conforme for a natureza da matéria lida, segundo seja o seu estado de alma no momento da leitura, consoante haja o seu grau de compenetração cívica e quanto comprometido sujeito refém da crença política ou religiosa. __________________________________________________
Fico reconhecido aos Deuses da sua devoção por lhe terem guiado os passos na visita... e grato a si pela atenção dispensada.
Brasilino Godinho

Cara/o visitante

- Goze um Feliz Ano 2007!

- Sob as bênçãos de DEUS.

- Invocando os favores de ALÁ.

- Beneficiando da graça e complacência de BUDA.

- Dispondo do agrado de CONFÚCIO.

- Com a "discreta" protecção do "GRANDE ARQUITECTO DO UNIVERSO" (Eu preferiria considerá-lo: GRANDE ENGENHEIRO DO UNIVERSO... por capricho pessoal e uma certa mania de marcar diferenças...).

- Ou, simplesmente, por desejo pessoal e vontade própria; esta, sujeita às imprevisíveis variáveis da sorte. Porventura, à mercê do determinismo psicológico?

Um texto sem tabus…

PELO PEIXE SE ABRE A BOCA…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

Costuma dizer-se que “pela boca morre o peixe”. O homem, entretido na pescaria, lança o anzol com o isco e o peixe acorre tentado pelo alimento que lhe surge inopinadamente no fim da linha suspensa da cana de pesca. Assim, o incauto animal vai ao encontro do sofrimento. Talvez em corrida célere para a morte. As humanas criaturas extrapolam este malvado jogo para a vida em sociedade e vai daí considerar-se que alguém se falar demais pode, eventualmente, prejudicar-se: quer nos interesses, quer, talvez, na sua reputação.

Mas se dissermos que pelo peixe se abre a boca estamos querendo indicar que perante um ser vertebrado aquático bem preparado e condimentado posto no prato de uma refeição se o pretendemos degustar teremos, forçosamente, que abrir a boca para o mastigarmos e sentirmos o seu agradável paladar.

No plano das ilações associadas às metáforas se admite que seremos propensos a orientarmo-nos na vida pelas vantagens que as coisas e loisas nos suscitem: Seja pelo prazer, pelo enriquecimento material, pela satisfação moral, pela euforia da conquista e do sucesso.

Quer dizer que a ambição, a embriaguês do triunfo, o espírito de conquista, leva as pessoas a procedimentos apontados à consumação desses desígnios que se impuseram a si próprias. Também, algumas vezes determinadas por entidades a que estão associadas ou das quais são dependentes por rígidos deveres de obediência.

Por outro prisma, ocorrem situações em que se configura o peixe na verdade das coisas e dos factos e o indivíduo abre a boca, no sentido literal da expressão, para mesmo num desabafo ocasional dizer a verdade que vinha mantendo encoberta.

Este arrazoado vem a propósito de uma pequenina notícia perdida num canto da última página do Jornal de Notícias, edição de 31 de Janeiro de 2007, com o título: “Soares não queria candidatar-se”. Transcrevemos com a devida vénia: “Mário Soares disse, ontem, num debate promovido pelas produções Fictícias que decidiu candidatar-se a Belém pela terceira vez “tarde e a más horas, quando não queria”, porque o “empurraram” e admitiu a hipótese de ter sido prejudicado pelo apoio do PS”.

Para quem não sabe, se esqueceu ou não acompanha a evolução das opiniões e dos comportamentos dos políticos mais em evidência neste país, vale a pena dizer que a história do surgimento da candidatura de Mário Soares, na última eleição para a Presidência da República, esteve muito mal contada pelo próprio. Para alem do tabu sobre a sua origem e quem deteve a maior responsabilidade do seu lançamento tem havido uma sucessão de declarações do próprio ex-candidato que, a conta-gotas, vai acrescentando novos dados ou versões, embora sem grandes diferenças de conteúdo informativo sobre o assunto. Mas apesar dessa consabida formalidade deve assinalar-se que os dados, as circunstâncias e a passagem do tempo se conjugaram para que viessem da boca de Mário Soares, no dia 30 de Janeiro de 2007, as palavras elucidativas daquilo que realmente se passou na génese da candidatura soarina. De facto, Mário Soares em várias entrevistas aos órgãos da comunicação social (jornais, revistas e televisões) vinha afirmando que teria partido dele a iniciativa e que, após ouvir as opiniões de amigos, chegara à decisão de se candidatar para se opor a Cavaco Silva – o candidato da Direita que parecia ter à sua frente estendida a passadeira vermelha até à entrada do Palácio de Belém. Na generalidade das declarações de Soares a tónica assentava na ideia de a autoria da decisão de lançamento da candidatura lhe pertencer exclusivamente.

Ao contrário do que Mário Soares declarava, sempre sustentámos em várias crónicas publicadas na imprensa, no nosso blog e na Internet, sem qualquer desmentido das partes envolvidas, que as coisas não se teriam passado como ele dizia. De forma consistente e ao longo do tempo, dissemos que teria sido o Grande Oriente Lusitano a determinar-lhe o rumo e a definir-lhe a tarefa.

Agora, a 30 de Janeiro de 2007, conforme as afirmações acima reproduzidas, Mário Soares desdizendo-se informa-nos que se lançou na corrida presidencial “tarde e a más horas, quando não queria e porque o empurraram”.

Com estas afirmações e alguma displicência Mário Soares, dando o dito por não dito, de modo implícito, confirma que nós acertámos em cheio quando atribuímos à Maçonaria a responsabilidade de todo o processo da candidatura do ex-presidente da República.

Aliás, façamos a seguinte ponderação: Quem em Portugal ousaria ou estaria em condições de “empurrar” Mário Soares e “obrigá-lo” a fazer aquilo que ele “não queria”? Quem, senão a Fraternidade a que deve obediência ajuramentada? Leitor: responda! Se disse Maçonaria – acertou!

Aliás, qual é a entidade que com máxima “discrição” mantém as rédeas do Poder em Portugal?

Por acaso, a Maçonaria não existe? Não escolhe? Não ordena? Não comanda? Certamente, que tudo lhe está ao alcance. Apesar de invisível, dispersa, agressiva, à semelhança dos vírus que ameaçam as vidas dos seres humanos

P.S. – A única surpresa (por sinal, “grande”) contida nas últimas declarações de Mário Soares é admitir “a hipótese de ter sido prejudicado pelo apoio do PS”. Quem diria?...

Ao Dr. Mário Soares deve dizer-se: Nunca é tarde para aprender. Sirva-lhe de lição ter-se esquecido de uma “grande” regra de ouro da Maçonaria: a discrição. Uma falha grave (e “grande”, claro…) num mação. Seguindo as normas do secretismo e do encobrimento vigentes no seio da grande fraternidade, devia ter escondido esse apoio partidário – embora menosprezando a qualidade de “grande” fundador do Partido Socialista. No entanto, Soares reconhecerá que membro da grande fraternidade (Grande Oriente Lusitano) não deve descurar as obrigações que contraiu num certo dia e a que ficou sujeito de livre e de espontânea “grande” vontade…

Aqui, neste ponto, Mário Soares, ocultando-se em si mesmo, a salvo da ira dos “irmãos” e, assim, mui discretamente resguardado no seu segredo (pequeno? ou “grande”?), com espírito tranquilo, estará de acordo… connosco.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arqº. Saraiva…

Brasilino Godinho

Tema: “Os dinheiros do SOL”, a inveja e os inimigos de Saraiva

Segundo o que José António Saraiva deixa transparecer no texto “Inimigos à portuguesa” que sob a rubrica “VIVER PARA CONTAR” insere no nº. 20, da revista TABU, ele está preocupado com três questões a saber: primeira, o que José Pacheco Pereira pensa “dos dinheiros do SOL “; segunda, a existência dos inimigos que identifica em seis badaladas figuras da praça alfacinha; terceira, o sentimento que está em moda culpar dos males da nossa desgraça colectiva - a inveja.

Para Saraiva, a questão do financiamento do SOL” surge pelas “bocas” de José Pacheco Pereira que, ultimamente, se terá obstinado em interrogar-se sobre o “mistério dos dinheiros do SOL” e quanto ao “mistério do director do SOL”. A estas interrogações o arquitecto Saraiva responde que “os accionistas do jornal foram apresentados (em carne e osso, para dar um sinal público de transparência) numa conferência de imprensa no Hotel Ritz, no dia 4 de Setembro”.

Sim senhor! Acredito! Julgo que foi uma fantástica ideia, traduzida numa espampanante realização. Uma coisa e a outra mereciam música. Deram um grande sinal… Com transparência total… Os circunstantes devem ter visto, a olho nu, os nus em cena de apresentação e tirado rápidas conclusões… Só o Pacheco, mais tarde, é que não atinou… Ou será que se faz desentendido?

Porém, lemos e… ficámos perplexos… Então para fazer crer aos indígenas que os tais sujeitos eram mesmo os donos da ”massa” que sustenta e engorda o semanário e que nada havia a esconder que se relacionasse com a vestimenta da Opus Dei ou a carapuça do maior banco que esta instituição possui em Portugal, havia necessidade de os dirigentes do SOL ousarem mostrá-los em pêlo; isto é: “em carne e osso”? Sem dó, nem piedade, num tempo de invernia. Valeu não se terem esquecido de ligar o ar condicionado. Certíssimo que deram um “sinal público de transparência”. Inequívoco, acentue-se. Mas, Arqº. Saraiva, permita-me que daqui lhe observe: Que enorme falta de pudor!... E logo no selecto Hotel Ritz… É de cortar a respiração a quem souber do evento e preza os bons costumes…

De notar o facto insólito de, aparentemente, Pacheco Pereira ignorar que o SOL é financiado pela Opus Dei. Esta, representada no núcleo accionista por alguns destemidos testas-de-ferro escolhidos a dedo. Daí a fuga para a frente, em jogada de antecipação ao que pudesse vir a ser divulgado sobre o assunto. O espalhafato da cerimónia no Ritz foi algo que surpreendeu: pelo lugar, pela grandeza mediática e pelo previsível custo. Igualmente pela novidade do espectáculo da nudez. Nunca se vira coisa semelhante.

No que concerne ao seu pessoal mistério, Saraiva volta a enganar-se no julgamento que faz sobre si próprio. Julgava que 22 anos de exercício do cargo de director do Expresso não constituíam mistério e também admite que Pacheco Pereira o considera um pára-quedista que caiu na sopa das letras. Do “mistério Saraiva” não é fornecida explicação do acusado, nem do acusador. Três vezes nove, coisa nenhuma. Já quanto ao pára-quedista basta aqui deixar uma palavra de regozijo por a queda ter sido sobre a sopa e não sobre a mesa do manjar. Neste caso, os estragos poderiam ser maiores…

Ainda sobre o Pacheco Pereira, o articulista Saraiva embirra que ele o trate por “arquitecto Saraiva” – acha uma deselegância. Perante esta nota endereçada àquele político fico com as minhas barbas de molho porque, também, tenho usado a expressão arquitecto Saraiva, ainda que sem sombra de deselegante pecado…

Depois, Saraiva informa a malta de outro engano: “julgava difícil coleccionar inimigos”. Aqui, não consigo conter a exclamação: Apre! Saraiva era mesmo ingénuo…

E queixa-se de ter sido muito zurzido. Alonga-se na descrição, até chegar ao campo da inveja onde se situam os seus críticos e inimigos de estimação: Prado Coelho, Mário Mesquita, Vicente Jorge Silva, Pulido Valente, José Pacheco Pereira e Miguel Sousa Tavares. É em redor da inveja que Saraiva explana várias considerações e coloca as dúvidas que há bastante tempo sobressaltam o seu espírito. Até que, providencialmente, um dia encontrou o Machaqueiro que, sujeito esclarecido, talvez com espírito de Dom Quixote, lhe deu a perceber “a razão de ser daquilo em que nunca tinha acreditado”. Depreende-se que algo relacionado com o livro VIVER PARA CONTÁ-LA, autobiografia de Gabriel Garcia Marquez e o EQUADOR, de Miguel Sousa Tavares. O êxito do segundo inviabilizara o sucesso do primeiro. Assim prevenido, Saraiva considera que a área lisbonense é reduzida e está muito ocupada por gente assaz estranha ligada a esoterismos e chegou à terrível conclusão: “Falta-nos espaço para darmos largas às nossas ambições, para satisfazermos os nossos desígnios. Quando agredimos os que se movimentam no mesmo território que nós (seja na escrita, nas artes, na ciência ou na gestão de empresas) fazemo-lo por questões de sobrevivência: para protegermos o nosso espaço vital. Ou matamos o adversário – ou morremos às suas mãos”. (A propósito, uma pergunta que, neste momento, me ocorre fazer ao Arqº. Saraiva: a obra “A QUINTA LUSITANA” teria sido censurada por influência destes terríveis conceitos?).

Sem embargo, ao arquitecto Saraiva agradecemos a prevenção. Ele, por questões de sobrevivência está disposto a agredir os que se lhe atravessarem no seu território. Mais: receando ser aniquilado ele agirá pelo seguro, antecipa-se e zás! Mata o adversário… Bolas! Afinal, também me engano… Não o julgava tão violento – ele que parece um paz-de-alma; um pouco tímido até…

No p.p. sábado (dia 27 de Janeiro) ao ler estas palavras azedas e ameaçadoras e, agora, ao transcrevê-las, senti um calafrio. Lembrei-me das expressões semelhantes de Adolfo Hitler que lançou a Segunda Grande Guerra (!939-1945) evocando a necessidade do espaço vital e o direito de acesso ao Mar Báltico, através do corredor de Dantzig.

Decididamente, neste ponto, José António Saraiva resvalou para um terreno pantanoso, de areias movediças, onde se afundaram as boas intenções posteriormente afloradas no apelo aos seus leitores para que sejam magnânimos.

Igualmente patética a advertência “Aproveitem aquilo que têm em lugar de ambicionarem o que não têm”. A trazer à memória colectiva a frase de Salazar: “A vontade de obedecer, única escola para aprender a mandar”; ou aqueloutra: “manda quem pode, obedece quem deve”. Em qualquer dos casos a implícita sujeição ao fatalismo, às situações e à resignação. Ainda motivo para perguntar ao Arqº. Saraiva: o que têm os portugueses de substancial nas suas existências que os levem a não ambicionar uma vida melhor? Onde está o mal dessa ambição se enquadrada no respeito dos deveres cívicos e sem envolver o prejuízo ou a exploração do semelhante?

Saraiva - como se acreditasse piamente no ditado: “nunca o invejoso medrou, nem quem ao pé dele morou” - termina o texto como se colocasse a cereja sobre o bolo: “A inveja não torna ninguém feliz”.

Interpelo-o: Tem a certeza? E se tornar? Em caso afirmativo, diga-se: Que lhe faça bom proveito. Espíritos fortes estão-se nas tintas para essa história da inveja nacional e das invejas dos cretinos, que virou tema de moda na comunicação social da alfacinha cidade, depois do livro e das entrevistas de Gil nas televisões.

Por mim, prefiro afirmar, martelando bem as sílabas de cada palavra: A FELICIDADE, A PRÁTICA DA HIGIENE DA ALMA E (OU) O BOM CARÁCTER NÃO TORNAM NINGUÉM INVEJOSO!

Uma confirmação…

No artigo “Inimigos à portuguesa” de José António Saraiva, escrito sob a rubrica “VIVER PARA CONTAR” (a qual mantém na revista TABU) e a que me cingi, ele deixa escapar, inadvertidamente, que tal título foi copiado da obra de Gabriel Garcia Marquez intitulada VIVER PARA CONTÁ-LA. Aliás, Saraiva faz a citação do famoso livro do consagrado autor sem se dar conta do seu acto de copiar, ali exposto em letra de forma, sem margens para dúvidas a esse respeito. Com o desagradável senão de nem estar condizente com um provável – quiçá, num breve futuro – estatuto de Prémio Nobel da Literatura…

Quero acentuar que, mais uma vez, se confirmou o que tenho dito, redito e escrito sobre as generalizadas práticas de plágio que proliferam nos meios de comunicação social de Lisboa - seja na atribuição das designações das revistas e dos jornais, seja nas rubricas das secções, seja nos títulos dos artigos de opinião. Parece que entre as muitas crises com que os poderosos de Lisboa vêem contemplando os portugueses se conta a que se instalou na comunicação social lisboeta: a crise da falta de imaginação…

Caso para comentarmos: se antes se dizia que “da Espanha nem bom vento, nem bom casamento”, no nosso tempo se dirá que de Lisboa para a Província não vem broa, nem coisa boa…

E plágios… não se recomendam nem aos meninos de coro!

Por último, interrogo-me: “Viver para contar”? Justifica-se? E a transmitir o quê? Não! Aqui há ligeireza de julgamento. Ou viver para copiar? Não concordo com qualquer destas asserções, Francamente, nem me convenço que Saraiva se enquadre em qualquer delas.

Alguém, desconfiado, diria. Aqui há gato!

Eu direi: Saraiva, continua ingénuo. Também, de vez em quando, distrai-se… e catrapus - estampa-se!

Acrescento um voto: que se cuide. Para não lhe suceder algum acidente idêntico ao que vitimou o grande Pierre Curie - atropelado numa rua de Paris por uma carruagem de tracção animal. Circulava tão absorto nos seus pensamentos que nem se apercebeu da aproximação do veículo.

E se Saraiva tiver presente a lembrança do desastre em que esteve envolvido na véspera do último Natal, no regresso de um jantar de confraternização com o pessoal do semanário que dirige, concordará que faz algum sentido esta manifestação da minha boa vontade relativamente à sua pessoa.