Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sábado, janeiro 31, 2015


PAUL KRUGMAN, SABEDOR E REALISTA, PÕE O DEDO NA FERIDA GREGA...

Com a devida vénia transcrevemos do site do jornal NEGÓCIOS o seguinte texto


Paul Krugman fala em “fim do pesadelo da Grécia”
26 Janeiro 2015, 13:59 por David Santiago | dsantiago@negocios.pt

Paul Krugman: “Se a troika tivesse sido verdadeiramente realista, teria reconhecido que estava a exigir o impossível”. Foto de Lou Gold
O economista Paul Krugman considera que o problema da Grécia deriva das más opções feitas pelos credores internacionais e classifica os planos do Syriza como “realistas.”
Para o antigo Nobel da Economia, a Europa deveria dar uma oportunidade [a Tsipras] para acabar com o pesadelo do país”.
Na habitual coluna de opinião de Paul Krugman no New York Times, o prémio Nobel começa por realçar que Alex Tsipras, líder do Syriza, "que está em vias de se tornar primeiro-ministro da Grécia", "será o primeiro líder europeu a ser eleito sob a promessa de desafiar as políticas de austeridade".
No artigo publicado esta segunda-feira no jornal norte-americano, o conhecido economista alerta que "haverá muita gente, certamente, a avisá-lo [Tsipras] para abandonar essa promessa e comportar-se ‘responsavelmente’".
No entender de Paul Krugman, todo o processo grego, que culminou agora na vitória do Syriza nas eleições parlamentares deste domingo, teve início em 2010 com o primeiro memorando de entendimento, "um documento assinalável, no pior dos sentidos". Krugman recorda que a troika acreditava que a "Grécia poderia aplicar duras medidas de austeridade com pequenos efeitos no crescimento e emprego", isto numa altura em que o país "já estava em recessão".
"A Grécia tem pago o preço por essas ilusões", sustenta o colunista do New York Times. Conhecido pelas fortes críticas dirigidas aos dirigentes europeus pela forma como tentaram combater a crise das dívidas soberanas que sucedeu à crise financeira internacional, Krugman conclui que aquilo a que se assistiu na Grécia desde então foi "um pesadelo económico e humano".
No entender do economista norte-americano, "nada está mais longe da verdade" do que a ideia de que o que falhou na Grécia foi a incapacidade de Atenas "para efectuar os cortes prometidos". Até porque o Executivo helénico "cortou a despesa pública muito mais do que se poderia prever".
O problema derivou do facto de tanto "a Comissão Europeia como o Banco Central Europeu terem decidido acreditar no conto de fadas da confiança – defender que os efeitos directos da destruição de emprego provocados pelos cortes na despesa seriam mais do que compensados por um surto de optimismo no sector privado".
Portanto, agora que "Tsipras venceu com estrondo", Paul Krugman não acredita que o líder do Syriza possa ser demovido pelos líderes europeus até porque "eles não têm credibilidade". Krugman vai mais longe e antecipa que a coligação de esquerda radical possa até nem ter um programa suficientemente diferente face ao até agora seguido.
"O problema com os planos do Syriza poderá ser que não sejam suficientemente radicais". Porque "um alívio da dívida e uma redução da austeridade podem diminuir a angústia económica, mas é duvidoso que seja suficiente para garantir uma forte recuperação", defende Paul Krugman.
Portanto, clamar "por uma grande mudança" como fez Tsipras "é bem mais realista" do que as alternativas defendidas pelas instituições europeias. Por esse motivo, Krugman acredita que "o resto da Europa deveria dar uma oportunidade [a Tsipras] para acabar com o pesadelo do país".

sexta-feira, janeiro 30, 2015

Com a devida vénia transcrevemos da Esquerda.net, através do Facebook, a seguinte Carta Aberta do novo chefe don governo grego.


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Carta Aberta de Alexis Tsipras aos cidadãos alemães

A 13 de janeiro deste ano, Alexis Tsipras dirigiu a todos os cidadãos alemães uma carta aberta, publicada no jornal económico Handelsblatt, em que explica a posição do Syriza sobre a dívida grega e defende que a atual tática “adiar e fingir” aplicada pela Europa será muito onerosa para o contribuinte alemão e condenará uma orgulhosa nação europeia à indignidade permanente. A tradução é do Aventar, a cujos responsáveis o Esquerda.net agradece.
30 de Janeiro, 2015 - 12:34h
Tsipras: está a nascer na Grécia uma grande oportunidade para a Europa. Foto de FrangiscoDer -
A maior parte de vós, caros leitores do Handelsblatt, terá já uma ideia preconcebida acerca do tema deste artigo, mesmo antes da leitura. Rogo que não cedais a preconceitos. O preconceito nunca foi bom conselheiro, principalmente durante períodos em que uma crise económica reforça estereótipos e gera fanatismo, nacionalismos e até violência.
Em 2010, a Grécia deixou de conseguir pagar os juros da sua dívida. Infelizmente, as autoridades europeias decidiram fingir que o problema poderia ser ultrapassado através do maior empréstimo de sempre, sob condição de austeridade orçamental, que iria, com uma precisão matemática, diminuir drasticamente o rendimento nacional, que serve para pagar empréstimos novos e antigos. Um problema de insolvência foi tratado como se fosse um problema de falta de liquidez.
Dito de outro modo, a Europa adoptou a táctica dos banqueiros com pior reputação, que não reconhecem maus empréstimos, preferindo conceder novos empréstimos à entidade insolvente, tentando fingir que o empréstimo original está a obter bons resultados, adiando a bancarrota. Bastava bom senso para se perceber que a adopção da táctica “adiar e fingir” levaria o meu país a uma situação trágica. Em vez da estabilização da Grécia, a Europa estava a criar as condições para uma crise auto-sustentada que põe em causa as fundações da própria Europa.
Bastava bom senso para se perceber que a adopção da táctica “adiar e fingir” levaria o meu país a uma situação trágica. 
O meu partido e eu próprio discordamos veementemente do acordo de Maio de 2010 sobre o empréstimo, não por vós, cidadãos alemães, nos terdes dado pouco dinheiro, mas por nos terdes dado dinheiro em demasia, muito mais do que devíeis ter dado e do que o nosso governo devia ter aceitado, muito mais do que aquilo a que tinha direito. Dinheiro que não iria, fosse como fosse, nem ajudar o povo grego (pois estava a ser atirado para o buraco negro de uma dívida insustentável), nem sequer evitar o drástico aumento da dívida do governo grego, às custas dos contribuintes gregos e alemães.
Efectivamente, passado menos de um ano, a partir de 2011, as nossas previsões confirmaram-se. A combinação de novos empréstimos gigantescos e rigorosos cortes na despesa governamental diminuíram drasticamente os rendimentos e, não só não conseguiram conter a dívida, como também castigaram os cidadãos mais frágeis, transformando pessoas que, até então, haviam tido uma vida comedida e modesta em pobres e mendigos, negando-lhes, acima de tudo, a dignidade. O colapso nos rendimentos conduziu milhares de empresas à falência, dando um impulso ao poder oligopolista das grandes empresas sobreviventes. Assim, os preços têm caído, mas mais lentamente do que ordenados e salários, reduzindo a procura global de bens e serviços e esmagando rendimentos nominais, enquanto as dívidas continuam a sua ascensão inexorável. Neste contexto, o défice de esperança acelerou de forma descontrolada e, antes que déssemos por ela, o “ovo da serpente” chocou – consequentemente, os neo-nazis começaram a patrulhar a vizinhança, disseminando a sua mensagem de ódio.
A lógica “adiar e fingir” continua a ser aplicada, apesar do seu evidente fracasso. O segundo “resgate” grego, executado na Primavera de 2012, sobrecarregou com um novo empréstimo os frágeis ombros dos contribuintes gregos, acrescentou uma margem de avaliação aos nossos fundos de segurança social e financiou uma nova cleptocracia implacável.
O recente e modesto aumento do PIB real, ao ritmo de 0,7%, não indica (como tem sido aventado) o fim da recessão, mas a sua continuação.
Recentemente, comentadores respeitados têm mencionado a estabilização da Grécia e até sinais de crescimento. Infelizmente, a ‘recuperação grega’ é tão-somente uma miragem que devemos ignorar o mais rapidamente possível. O recente e modesto aumento do PIB real, ao ritmo de 0,7%, não indica (como tem sido aventado) o fim da recessão, mas a sua continuação. Pensai nisto: as mesmas fontes oficiais comunicam, para o mesmo trimestre, uma taxa de inflação de -1,80%, i.e., deflação. Isto significa que o aumento de 0,7% do PIB real se deveu a uma taxa de crescimento negativo do PIB nominal! Dito de outro modo, aquilo que aconteceu foi uma redução mais rápida dos preços do que do rendimento nacional nominal. Não é exactamente motivo para anunciar o fim de seis anos de recessão!
Permiti-me dizer-vos que esta lamentável tentativa de apresentar uma nova versão das “estatísticas gregas”, para declarar que a crise grega acabou, é um insulto a todos os europeus que, há muito, merecem conhecer a verdade sobre a Grécia e sobre a Europa. Com toda a frontalidade: actualmente, a dívida grega é insustentável e os juros não conseguirão ser pagos, principalmente enquanto a Grécia continua a ser sujeita a um contínuo afogamento simulado orçamental. A insistência nestas políticas de beco sem saída, e em negação relativamente a simples operações aritméticas, é muito onerosa para o contribuinte alemão e, simultaneamente, condena uma orgulhosa nação europeia a indignidade permanente. Pior ainda: desta forma, em breve, os alemães virar-se-ão contra os gregos, os gregos contra os alemães e, obviamente, o ideal europeu sofrerá perdas catastróficas.
Quanto a uma vitória do SYRIZA, a Alemanha e, em particular, os diligentes trabalhadores alemães nada têm a temer. A nossa tarefa não é a de criar conflitos com os nossos parceiros. Nem sequer a de assegurar maiores empréstimos ou, o equivalente, o direito a défices mais elevados. Pelo contrário, o nosso objectivo é conseguir a estabilização do país, orçamentos equilibrados e, evidentemente, o fim do grande aperto dos contribuintes gregos mais frágeis, no contexto de um acordo de empréstimo pura e simplesmente inexequível. Estamos empenhados em acabar com a lógica “adiar e fingir”, não contra os cidadãos alemães, mas pretendendo vantagens mútuas para todos os europeus.
Caros leitores, percebo que, subjacente à vossa “exigência” de que o nosso governo honre todas as suas “obrigações contratuais” se esconda o medo de que, se nos derem espaço para respirar, iremos regressar aos nossos maus e velhos hábitos. Compreendo essa ansiedade. Contudo, devo dizer-vos que não foi o SYRIZA que incubou a cleptocracia que hoje finge lutar por ‘reformas’, desde que estas ‘reformas’ não afectem os seus privilégios ilicitamente obtidos. Estamos dispostos a introduzir reformas importantes e, para tal, procuramos um mandato do povo grego e, claro, a cooperação dos nossos parceiros europeus, para podermos executá-las.
A nossa tarefa é a de obter um New Deal europeu, através do qual o nosso povo possa respirar, criar e viver com dignidade.
No dia 25 de Janeiro, estará a nascer na Grécia uma grande oportunidade para a Europa. Uma oportunidade que a Europa não poderá dar-se ao luxo de perder.

Breve apontamento sobre a entrevista do cientista Sobrinho Simões
Brasilino Godinho

Se há anos (a 20 de Março de 2003) o Iraque foi invadido a pretexto do ditador Saddan Hussein dispor de armas de destruição maciça - o que nem era verdade - neste nosso tempo, em Portugal, não havendo arsenal das ditas, tem-se dado o fenómeno da destruição de bens e de pessoas se processar com recurso a camufladas armas de eliminação fragmentada por sectores, instituições e, também, por seleccionadas classes sociais; as quais, autênticos instrumentos de extermínio, são manejadas pelos famosos guerrilheiros aquartelados no Palácio de S. Bento, no Palácio de Belém e no Terreiro do Paço, em Lisboa que, sem pudor, ostentam o estandarte da Democracia.
E as consequências estão à vista: nas morgues, nos hospitais, nas escolas, nas universidades, nas fábricas que encerram as actividades, nos estabelecimentos comerciais que fecham portas definitivamente, nas crescentes mendicidade e prostituição expostas nas vias públicas e jardins, na criminalidade que cresce, na insegurança que aumenta, na banca que sucumbe face à corrupção. Sobretudo, nas inúmeras mortes que não constam das estatísticas oficiais e que se devem à fome, à miséria e às faltas de meios de subsistência, de básicos cuidados médicos e de alojamento de muitos cidadãos carenciados e de avançadas idades. Convirá termos presente que a gripe não é, por si só, a malvada que causa tão tenebroso quadro de mortandades, como as entidades oficiais querem fazer crer.
E que faz o governo? Em coro, mais ou menos desafinado, assobia para o lado! Sobremaneira e com acinte, contemplando-se na escandalosa e pacóvia figuração de bom e entusiástico aluno da disciplina da Austeridade superiormente doutrinada pela grande orientadora Angela Merkel e pela soberba assistente Christina Lagarde.
Governo feliz e contente... Porquê? Por que está cumprindo um dos dois programas da sua (des)governação.
Um deles, de disfarce de intenções, era programa - que apresentara ainda na oposição e no decurso da campanha eleitoral do actual mandato legislativo - recheado de muitas promessas que não seriam para cumprir, conforme há, agora, plena consciência colectiva. Programa apresentado somente para inglês ver, português se deslumbrar e para iludir o Zé-Povinho. E para alcançar o Poder. E, como mais tarde disse Passos Coelho para “alguém meter a mão no pote”.
O segundo programa consistia em fazer tudo e mais alguma coisa ao contrário do que fora prometido pelo grande chefe Passos Coelho. Com uma predeterminada e confessada ideia: a do empobrecimento do povo. E ainda com um claro objectivo: o da destruição do país. O qual está sendo atingido. Antevê-se que quando chegarmos ao fim do ano de 2015 Portugal esteja completamente arrasado.
Caso para se dizer: há por aí gente que tem de pagar por isso!
Haja a esperança de que um dia, este povo desperte desta "austera, apagada e vil tristeza". Oxalá que ainda seja a tempo de correr com os vendilhões do templo nacional e de redimir a atraiçoada Pátria.
A voz do cientista Sobrinho Simões é uma preciosa achega a ter em conta na forma como se encara a situação calamitosa a que chegámos por decorrência das terríveis consequências advindas das nefastas políticas impostas pelos (des)governantes deste entristecido e maltratado país.
Por assim ponderarmos, publicámos a importante entrevista do Professor Doutor Sobrinho Simões, através da qual explana um elucidativo quadro da destruição operada no campo da Ciência, por parte do actual governo.
Formulamos o voto de que aos leitores não escape a importância de tais declarações do conhecido cientista, concernente à rigorosa, verídica, avaliação das políticas impostas pelos actuais (des)governantes.



Para ler e não esquecer a destruição que está em curso



Um registo de Brasilino Godinho

Um cientista português de elevado prestígio internacional, Professor Doutor Manuel Sobrinho Simões, pronunciou-se sobre a “destruição criativa” do actual governo que rebentou com tudo.

Por acaso (ou talvez não...), algo que vimos apontando nas nossas crónicas.

Com a indispensável vénia, transcrevemos a entrevista, feita por Samuel Silva, que nos chegou através da Internet e que se segue:

Entrevista

“Este Governo fez uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo”

Samuel Silva
22/11/2013 - 07:42
Manuel Sobrinho Simões é um dos cientistas mais conhecidos do país. Há quase 25 anos que o instituto que dirige, e fundou, é uma referência na investigação do cancro em Portugal.
Sobrinho Simões dirige o Ipatimup, onde trabalham 130 cientistas.
Fernando Veludo/NFactos
O prestígio do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup) não o deixou incólume aos cortes no financiamento público e é dessa experiência e dos desafios que se colocam à ciência em tempos de crise que falará nesta sexta-feira à tarde, na conferência Ciência, Economia e Crise, tal como o físico Carlos Fiolhais, o economista Daniel Bessa ou o ensaísta Onésimo Teotónio Almeida, que a Fundação Francisco Manuel dos Santos organiza na reitoria da Universidade do Porto.
Aos 66 anos, Sobrinho Simões não se imagina a deixar de trabalhar. “É tudo o que sei fazer.” E não disfarça o entusiasmo quando fala do próximo grande projecto em que está envolvido, o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S), que junta o Ipatimup aos institutos de Biologia Molecular e Celular (IBMC), de Engenharia Biomédica (INEB) e agora também a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, para integrar um consórcio de investigação na área da saúde, sobretudo de doenças neurodegenerativas e infecciosas, cancro e medicina regenerativa.
Nos últimos 15 anos, Portugal conseguiu fazer um caminho com o aumento do investimento em ciência, quer público quer privado, e obteve bons resultados. De quem foi o mérito?
O primeiro é um demérito, já que partimos muito de baixo. O segundo foi a capacidade de projectar o futuro do [ex-ministro da Ciência e Ensino Superior] Mariano Gago, que foi instrumental para desencadear e consolidar esta aposta. O terceiro mérito foi dos ministros do PSD que tiveram a pasta da Ciência. Nunca perturbaram esta estratégia, o que é uma coisa raríssima em Portugal.

A FCT [Fundação para a Ciência e a Tecnologia] está de uma incompetência como eu nunca vi. Está a mudar permanentemente as regras e os prazos. Não há coisa mais difícil do que alguém planear a sua vida sem um mínimo de estabilidade.
O que falhou?
Não conseguimos que as universidades e politécnicos contratassem tantos doutorados e pós-doutorados nos seus quadros como gostaríamos. E isto tem uma consequência, sobretudo numa fase de crise, porque eles não estão a encontrar emprego.

Há lugar para esses diplomados nas empresas? 
As nossas empresas não estão treinadas para fazerem investigação internamente. Temos um tecido empresarial fraco e que gosta muito de comprar “chave na mão”.

Os anteriores governos do PSD seguiram a linha inaugurada por Mariano Gago. Este não fez o mesmo?
Este Governo fez uma ruptura, o que não aconteceu só na ciência. Mas na ciência foi mais grave, porque é um tecido relativamente novo. Fez uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo, esperando que, das cinzas, nasça algo de novo. Na ciência, não nasce.

O que perdemos já com a austeridade?
Perdemos muita gente. E perdemos esperança. Na ciência, apesar de tudo, os nossos jovens têm capacidade para serem contratados, no estrangeiro, mas vão muito feridos de asa e dificilmente voltarão.

Isto é responsabilidade de quem?
De uma política cega em relação ao ensino superior. O Governo não percebeu que não pode rebentar com o tecido universitário.

Como vê a proposta do Orçamento do Estado para o sector?
É péssima, porque corta de uma forma cega. Não reforça as instituições que merecem e deviam ser premiadas. Ao mesmo tempo, deveria reformular as instituições que não merecem. Além disso, do lado da ciência, há uma ideia de que um investigador muito bom pode juntar dois amigos e vai ali para o pátio do Hospital de S. João [no Porto] fazer um projecto de investigação.

É a cartilha do empreendedorismo aplicada à ciência?
A ciência, antes de mais nada, precisa de um tecido de suporte. O empreendedorismo é criminoso, porque tem estimulado perversões. O cientista que é muito empreendedor deve ser um empresário. Os estímulos deste tipo podem acabar por ser um convite ao chico-espertismo.

Como vê as alterações que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) introduziu ao financiamento da ciência?
A FCT está de uma incompetência como eu nunca vi. Está a mudar permanentemente as regras e os prazos. Não há coisa mais difícil do que alguém planear a sua vida sem um mínimo de estabilidade.

E concorda com os critérios de avaliação, baseados na produtividade científica e na obtenção de patentes, por exemplo?
São terríveis. Primeiro, porque coloca os investigadores das ciências sociais e humanas numa situação de dificuldade. E a sociedade portuguesa precisa, como de pão para a boca, de ciências sociais. Depois, parece-me que é mais importante a repercussão da nossa actividade no mundo científico e na sociedade do que o facto de se publicar numa revista com muito impacto. A FCT não pensa o mesmo.

O próximo quadro de financiamento europeu pode ser uma saída para estas dificuldades?
Será muito importante e vamos responder bem. Mas os estímulos europeus têm perigos. Como estamos numa crise filha da mãe, vamos ter de responder a todas a solicitações. Há um efeito perverso se começarmos a concorrer a coisas que não costumamos fazer. A Europa tem de ser a cereja em cima do bolo, não pode servir para suportar custos fixos. Temos sempre de ter um tecido institucional, que tem que ser suportado pelo Estado.

Defende que se inverta a política de cortes?
Quem ganhasse um projecto europeu tinha como prémio não um corte, mas dinheiro a mais. Mas a Europa também está a falar muito de aplicação e inovação quando o assunto é ciência. Quando se desvia para essa área, coloca-se Portugal numa situação difícil, por causa da fragilidade do tecido empresarial.

A relação com o mercado pode ser uma solução para os centros de investigação?
A grande questão na ciência é quem faz primeiro uma [determinada] pergunta. Não quero que seja feita pela empresa X ou Y e eu só tenha de dar a resposta. Depois, a ciência precisa de tempo. E a indústria, a inovação e a Europa querem resolver coisas no menor intervalo de tempo possível. Uma pessoa não tem tempo para pensar e fazer boas perguntas. Então o que faz? Faz perguntas óbvias de que já sabe a resposta.

Desse modo, dificilmente haverá movimentos disruptivos na ciência.
Sobretudo em países pobres. Neste momento, só há dois movimentos disruptivos: ou há um investigador genial com uma excelente pergunta, ou se está num sítio tão rico que pode comprar sempre a última versão do equipamento pesado. Neste aspecto, toda a Europa também está em dificuldades. Por exemplo, o Beijing Genomic Institut (China) sozinho tem mais capacidade de sequenciação que toda a Europa junta.

Qual a saída para o momento actual que vivemos no ensino superior e na ciência?
Não sei. Mas tenho a certeza de que não é com esta gente. O meu medo é que não seja fácil pensar com quem há-de ser. Não há tanta diferença assim entre os partidos do centro.

Então o que defende?
A Europa tem de constituir de facto um tecido de ensino superior e investigação que ultrapasse as fronteiras nacionais. E temos de colaborar mais ao nível das regiões europeias – por exemplo, o Norte do país tem de trabalhar com Espanha.

Quanto tempo mais aguenta o país o desinvestimento na ciência sem pôr em causa o que foi feito?
Não sei, e tenho muito medo de que aguentemos menos do que aquilo que as pessoas pensam. O Ipatimup aguenta mais dois ou três anos, depois acaba.

Porquê?
Tivemos uma redução do nosso financiamento de base do Estado de 45% em quatro anos. Antes, representava 1/3 e, nesta altura, é 1/7, correspondendo a cerca de 900 mil euros.

Como foi possível manter o instituto em funcionamento?
Aumentámos a prestação de serviços e a investigação contratada com as farmacêuticas, criando uma unidade de translação e outra de inovação, que tem trabalhado junto da indústria. Ainda não conseguimos começar a ganhar projectos europeus em quantidade suficiente, ao passo que os concursos da FCT estão cada vez mais difíceis, com menos dinheiro e maior competição.

Quantas cientistas trabalham no Ipatimup?
Somos 130, dos quais 70 são doutorados. Cada vez tem sido mais difícil contratar. Ou os jovens conseguem bolsas de pós-doutoramento, ou têm conseguido articular-se parcialmente com as faculdades para darem aulas ao mesmo tempo que são investigadores aqui.

O I3S é o grande projecto para os próximos tempos?
No fundo, será o I4S. Porque agora também temos a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto associada ao projecto. É um crescimento brutal para nós. As obras estão a andar bem e, em Janeiro de 2015, vamos começar a fazer a mudança. É uma aposta séria, numas instalações que têm 18 mil metros quadrados e poderão acolher 600 investigadores.

Vai reorientar a actividade científica em função dessa nova realidade?
Fizemos sempre investigação em cancro e em genética populacional e iremos manter essas duas linhas. Como é muito mais fácil estudar as alterações genéticas do que a influência do tabaco ou dos raios solares, temos continuado a estudar sobretudo as alterações genéticas e metabólicas que justificam os cancros. Mas agora temos consórcios com o Hospital de S. João e o Instituto Português de Oncologia para procurar resolver a nossa ligação à prevenção e ao tratamento.


quinta-feira, janeiro 29, 2015


UMA OPORTUNA E GRANDE LIÇÃO
DE PROFUNDO E ABRANGENTE
ESPECTRO SOCIOPOLÍTCO


OPORTUNA E IMPORTANTE ENTREVISTA
Com a devida vénia transcrevemos de ESQUERDA. NET
a importante entrevista do ministro das Finanças do novo governo grego, Professor Yanis Varoufakis, concedida à jornalista austríaca Johanna Jaufer.
Vale a pena ler!
É uma extraordinária lição de Política, de Economia e de Finanças. E até – assinale-se! - de História da Europa.
Brasilino Godinho





Entrevista com Yanis Varoufakis, ministro das Finanças do Governo do Syriza

Nesta entrevista, para o público falante de alemão, dada a Johanna Jaufer da cadeia pública austríaca ORF, Varoufakis afirma: “A Europa não aprendeu com as lições da história e, enquanto não mudarmos de rumo, é altamente improvável que consigamos manter o conjunto da união”.
27 de Janeiro, 2015 - 15:27h

Yanis Varoufakis, ministro das Finanças do Governo do Syriza
Yanis Varoufakis é o ministro das Finanças do governo grego do Syriza. É um reconhecido economista greco-australiano, professor na Universidade do Texas e na Universidade de Atenas. Em março de 2014, foi um dos 74 economistas de 20 países que assinaram o manifesto internacional que apelou à reestruturação da dívida portuguesa e apoiou o manifesto das 70 personalidades portuguesas.
Você é há três semanas político profissional…
Duas semanas.
Teve que pensar muito? No seu blogue escreveu também que a decisão lhe dava pânico.
Foi uma decisão grave. Porque eu entro na política para realizar uma tarefa que sempre pensei que tinha que levar a cabo, e era-me dada a oportunidade de meter mãos à obra. Tem a ver com as negociações entre a Grécia e a União Europeia, em caso de vitória do Syriza: trata-se de um projeto e de uma perspetiva extremamente difíceis. Por outro lado, eu sou um académico, sou um cidadão, um cidadão ativo, de maneira que estou habituado a um tipo de diálogo em que o que se trata é que eu aprenda realmente consigo e você comigo: teremos desacordos, mas através desses desacordos, os nossos respetivos pontos de vista enriquecer-se-ão.
Não se trata de alguém se impor a outro…
Exato. Mas na política é pior: cada parte tenta destruir a outra parte – perante o público -, e isso é algo que me é alheio, algo que de nenhuma forma estou disposto a fazer.
E o que acontece com o seu trabalho na universidade? Fica suspenso?
Sim, efetivamente. Deixei a Universidade do Texas. Mantenho a minha cátedra na Universidade de Atenas – sem pagamento -, e espero que não passe muito tempo até regressar.
Está disposto a permanecer num governo por mais tempo?
Não. Não desejo fazer carreira política. Idealmente, o que quereria é que outra pessoa fizesse isto, e que o fizesse melhor que eu. Só que esta era a única forma de fazer algo que não poderia fazer de outro modo. Não sou um profeta, de modo que não lhe posso dizer onde estarei daqui a dois, três, cinco ou dez anos. Mas se me pergunta agora, o ótimo para mim seria que o nosso governo tivesse sucesso na renegociação de um acordo com a Europa que tornasse a Grécia sustentável, e que depois outras pessoas viriam, já se sabe… o poder deve ser rotativo, ninguém deveria prender-se a ele.
Algo que foi divulgado várias vezes na Alemanha e na Áustria é o assunto das reparações de guerra, porque a Alemanha se esquivou a pagar reparações propriamente ditas depois da II Guerra Mundial. Na sua opinião, por que aconteceu isso? Talvez porque alegaram que a Alemanha se encontrava dividida, e esperavam uma reunificação? Ou foi porque os norte-americanos alegaram que precisavam de uma Alemanha capaz de albergar as suas bases militares, o que deixava pendurados os reclamantes? Ou foi uma combinação de ambas as coisas?
Foi uma combinação. Nos anos 40, os Aliados tinham decidido converter de novo a Alemanha num país camponês. Propuseram o desmantelamento de 700 fábricas, e foram os norte-americanos que travaram esse plano. De maneira que, sim, destruíram 700, mas depois mudaram de ideias. Mudaram por razões que têm a ver com o modo como os EUA estavam a desenhar o capitalismo global: precisavam de uma moeda forte na Europa e de uma moeda forte na Ásia (que acabaram por ser o marco alemão e o iene japonês), e todo o projeto da União Europeia se construiu em torno desse plano. Na Europa nós gostamos de pensar que a União Europeia foi uma criação nossa. Não foi. Foi um desenho norte-americano que depois nós adotamos e que, certamente, era congruente com o que desejávamos, com as nossas aspirações. Parte desse desenho passava por estimular a economia alemã, tirá-la da depressão, tirá-la do poço em que se encontrava nos anos 40, e uma componente importante de qualquer tentativa de revigorar uma economia passa por aliviar a sua dívida, por um corte importante da dívida, pelo perdão de dívida. Assim, em 1953 foi organizada a Conferência da Dívida em Londres, da qual resultou um violento corte da dívida alemã em prejuízo de muitas nações, entre as quais a Grécia. Mas a Grécia é um caso especial, porque a Alemanha tinha contraído com ela uma dívida que não tinha com nenhuma outra nação: em 1943, a Kommandatur aqui, em Atenas, impôs ao Banco da Grécia um acordo pelo qual este banco imprimiria um montão de dracmas – dracmas de guerra— e fornecê-lo-ia às autoridades alemãs para que estas pudessem comprar material, financiar os seus esforços de guerra e acumular bens agrícolas para a Wehrmacht, etc. O interessante é que as autoridades alemãs assinaram um contrato: deixaram por escrito o montante de dinheiro que tomavam como empréstimo. Prometeram pagar juros. Foi, por conseguinte, um empréstimo formal. Os documentos existem ainda e encontram-se em poder do Banco (Central) da Grécia. Em nenhum outro país aconteceu algo parecido. De modo que isto é como uma dívida oficial, como um título, contraído com a Grécia em tempo de guerra pelo estado nazi alemão.
Pode dar números exatos?
Números exatos. Será escusado dizer que a dificuldade está em traduzir essa moeda de guerra, que muito rapidamente foi absolutamente inflacionada por causa da quantidade de dracmas imprimidos. As autoridades alemãs, ao aceitar esse empréstimo do Banco da Grécia e ao fazerem compras, desvalorizaram a moeda, o que teve enormes custos sociais secundários em toda a Grécia. É muito difícil calcular exatamente em quanto se traduz esse empréstimo em termos atuais, como se compõe o juro, como se converte, como se calcula o custo da hiperinflação causada… O meu ponto de vista é que somos parceiros; deveríamos deixar-nos de moralismos, deveríamos deixar de apontar-nos mutuamente com o dedo. A teoria económica bíblica – “olho por olho, dente por dente” - deixa todo o mundo cego e desdentado. Deveríamos, simplesmente, sentar-nos com o mesmo espírito com que os EUA se sentaram em 1953, sem levantar questões como: “os alemães merecem o castigo?”, “é culpa ou é pecado?”. Já sei que em alemão os dois conceitos - “culpa” e “dívida” - se expressam com a mesma palavra (Schuld), antónima de crédito. Deveríamos limitar-nos a levantar esta simples questão: como podemos voltar a tornar sustentável a economia social grega de modo que os custos da crise grega sejam minimizados para o alemão médio, para o austríaco médio, para o europeu médio.
Por que é que muitas pessoas da Europa setentrional não temeram que os cortes nos direitos laborais nos anos 90 pudessem ser presságio do mesmo tipo de coisas que agora estão a ocorrer aqui (na Grécia)?
Acho que tudo é culpa de Esopo. A sua fábula da formiga e da cigarra: a formiga trabalha duro, não desfruta da vida, guarda dinheiro (ou valor), enquanto a cigarra se limita a descansar ao sol, a cantar e a não fazer nada, e depois vem o inverno e põe cada uma no seu lugar. É uma boa fábula: desgraçadamente, na Europa predomina a estranhíssima ideia de que todas as cigarras vivem no Sul e todas as formigas no Norte. Quando, na realidade, o que há são formigas e cigarras em todo o lado. O que aconteceu antes da crise - é a minha revisão da fábula de Esopo— é que as cigarras do Norte e as cigarras do Sul, banqueiros do Norte e banqueiros do Sul, por exemplo, se aliaram para criar uma bolha, uma bolha financeira que os enriqueceu enormemente, permitindo-lhes cantar e descansar ao sol, enquanto as formigas do Norte e do Sul trabalhavam, em condições cada vez mais difíceis, até nos tempos bons: conseguir que as contas quadrassem em 2003, em 2004, não foi nada fácil para as formigas do Norte e do Sul; e depois, quando a bolha, que as cigarras do Norte e as cigarras do Sul tinham criado, estoirou, as cigarras do Norte e do Sul puseram-se de acordo e decidiram que a culpa era das formigas do Norte e das formigas do Sul. A melhor forma de fazer isso era confrontar as formigas do Norte com as formigas do Sul, contando-lhes que no Sul só viviam cigarras. Assim, a União Europa começou a fragmentar-se, e o alemão médio odeia o grego médio, o grego médio odeia o alemão médio. Não tardará que o alemão médio odiará o alemão médio, e o grego médio odiará o grego médio.
Isso já começou, não?
Sim, já se vê. E é exatamente o que ocorreu nos anos 30, e Karl Marx estava completamente equivocado quando disse que a história se repete como farsa. Aqui a história repete-se, simplesmente.
No tocante à decisão do Sr. Draghi de inundar o mercado com biliões de euros, vi que você disse que isso é como usar uma pistola de água num incêndio florestal.
Acho que o Sr. Draghi tem boas intenções. Quer manter unida a zona euro, e é muito competente. Faz o que pode, dadas as restrições que tem. Não tenho a menor dúvida - ainda que ele nunca o admita - de que entende cabalmente que o que está a fazer é demasiado pouco e demasiado tarde: uma pistola de água perante um grande incêndio florestal. Mas ele acha que até uma pistola de água é melhor que nada. Se se declarou um incêndio, ele preferiria servir-se de um canhão de água, e teria preferido começar a usá-lo antes, mas não era permitido porque na Europa temos uma Carta do BCE que o ata de pés e mãos e o lança perante o monstro da deflação, o que é muito injusto para o BCE. E assim será enquanto a Europa não compreender o que é imperiosamente necessário do ponto de vista económico para sustentar uma união monetária, enquanto não entender por que se dá toda esta fragmentação e a crescente renacionalização de tudo, incluída agora a flexibilização quantitativa do senhor Draghi (80% das compras de títulos serão realizadas pelos Bancos Centrais nacionais, como se estes existissem separadamente do BCE). Porque essa fragmentação e essa renacionalização é exatamente o oposto do que deveríamos estar a fazer, apoiar, consolidar. Como se formaram os EUA? Pois, porque cada vez que tinham uma crise - a Guerra Civil, a Grande Depressão - avançavam na sua união. Nós dizemos que estamos a fazer isso com as “uniões bancárias”, com os “Mecanismos Europeus de Estabilização”, mas não é verdade. Criámos uma união bancária que não é uma união bancária, é uma desunião bancária, e chamamo-la, à maneira orwelliana, “união bancária”. A Europa não aprendeu com as lições da história , e enquanto não mudarmos de rumo, é altamente improvável que consigamos manter o conjunto da união.
A propósito dos planos do Syriza para revitalizar a indústria na Grécia, Theodoros Paraskevopoulos disse que se trata também de recuperar as dimensões do setor farmacêutico na Grécia, porque tem uma boa base. Como é isso?
Ao que sei, por alguma razão, temos boas empresas farmacêuticas que têm exportações sólidas. Precisamos ajudá-las e precisamos criar indústrias assim também noutros setores.
Por exemplo?
Acho que temos excelentes programadores informáticos e engenheiros de software, de modo que deveríamos fazer algo parecido ao que fez Israel. Criar uma rede de pequenas empresas emergentes orientadas internacionalmente para a exportação. Se algumas delas acabarem por ser compradas pela Google, etc., não é uma má coisa. É o tipo de coisas que deveríamos ensaiar e apoiar, se podermos.
Se pusermos a questão de que fazer para atrair investidores estrangeiros para a Grécia, há alguma ideia parecida com parcerias público-privadas, algo que nos países da Europa setentrional tem dado muitos problemas?
Eu não sou partidário das parcerias público-privadas. Onde essas associações foram ensaiadas, acabaram sempre por drenar recursos do estado sem produzir nenhum valor acrescentado significativo. Normalmente, foram exercícios de corte de custos, e no final, sem o menor efeito de desenvolvimento. O que eu acho é que devemos tender para o desenvolvimento de ativos públicos já existentes sem os vender - mesmo agora estamos a liquidar e a vender simplesmente para angariar receitas -, de modo que o dinheiro do setor privado, os fundos de investimentos, possam vir e contribuir para o desenvolvimento de forma mutuamente benéfica. É um tipo de empreendimento público-privado, mas não ao estilo do que se ensaiou na Grã-Bretanha e noutros lugares.
Voltando à discussão do memorando: entre que fatores acha que a Sra. Merkel está condicionada?
Acho que a Alemanha está dividida. Os interesses da banca em Frankfurt não são os mesmos que os da banca média, tal como os interesses das pequenas e médias empresas na Alemanha central não são os mesmos que os da Siemens e da Volkswagen, etc. É muito diferente ter a capacidade produtiva exclusivamente localizada na Alemanha, como as empresas pequenas e médias, ou estar mergulhado na globalização e ter fábricas na China e no México. E a Sra. Merkel é uma política astuta que se preocupa - ou pensa precaver-se - de que haja consenso entre esses interesses sobre o que há que fazer com o euro, com o nosso Banco Central, com a periferia, etc. A Sra. Merkel, simplesmente, não moverá qualquer peça até que haja um consenso que lhe garanta a sobrevivência política.
Mas esse consenso não é possível.
Bom, repare, por exemplo, o que se passou em 2012 com o anúncio unilateral por parte do Sr. Draghi das Operações Monetárias sobre Títulos, ou mesmo ontem, com a Flexibilização Quantitativa. Verá que, quando começam a ouvir-se vozes que dizem: “olhem, rapazes, que a deflação nos está a matar, há que fazer algo”, então a Sra. Merkel pode servir-se dessas vozes para dizer: “apoiarei o Sr. Draghi, façam o que fizerem”. Por conseguinte, não é um consenso-consenso, mas ela está a calibrar as movediças placas tectónicas sob os seus pés. E o modo como o faz é muito astuto. Eu convidá-la-ia a pensar no seu legado para além da mera sobrevivência, e gostaria que considerasse a possibilidade de que daqui a 10, 20, 100 anos, a Europa pudesse falar não só de um plano Marshall que salvou a Alemanha, mas também de um plano Merkel que salvou o Euro.
Artigo traduzido para espanhol sinpermiso.info por Estrella Mínima e para português por Carlos Santos para esquerda.net

terça-feira, janeiro 27, 2015

Prezadas Senhoras,
Caros Senhores
Chamamos a vossa atenção para o assunto que se expõe em seguida.

O mistério Portas e os valores do Prof. Marcelo

Em 6 de Outubro de 2014 publicámos uma crónica sobre a esquisita compra de dois submarinos por parte do governo português.
Em Portugal abriu-se um processo judicial que, após anos de elaboração, teve há poucas semanas o desfecho de arquivamento. Ao contrário do que aconteceu na Alemanha. Lá houve processo e condenações dos envolvidos na negociata.
Por em Portugal ter acontecido aquilo que, geralmente, se espera de complacência da justiça portuguesa nos casos submersos em que estão envolvidos corpulentos tubarões e grandes trutas, vale a pena dedicarmos alguma reflexão ao assunto.
Cremos que a nossa referida crónica ajudará na cívica tarefa, ora proposta, de rigorosa e descomprometida apreciação dos actos das entidades públicas.
Até porque nela, na parte final, já púnhamos em dúvida que viessem respostas às perguntas que formulávamos. Não nos enganámos.
Aliás, agora até estaríamos tentados em admitir que Paulo Portas, não sendo um menino, acaba por ser, de algum peculiar modo, travesso beneficiário da protecção de alguma divindade; conforme aquele idílico quadro descrito no aforismo popular: “Ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo”. Neste caso paulino, com uma importante e não descabida ressalva: é que ficam as dúvidas se a mão é posta por baixo ou por cima ou se uma mão por cima e outra mão por baixo. Aqui, o indecifrável mistério...

Quanto ao Prof. Marcelo vale a pena relembrar a sua paradigmática lição daquela data.

Com os nossos melhores cumprimentos.
Brasilino Godinho
Juntamos a crónica de 6 de Outubro de 2014


segunda-feira, outubro 06, 2014



O mistério do fotocopista Paulo Portas

Brasilino Godinho

Imaginando uma história afim da realidade

Para bem nos situarmos na complexidade da mágica de prestidigitação que envolve o intrigante mistério do fotocopista Paulo Portas e das milhares fotocópias que tirou de documentos arquivados no ministério, durante uma noite e madrugada não dormida, mas de presumível azáfama operativa na véspera de cessar funções de ministro da Defesa Nacional, comecemos por imaginar que:
  1. Hoje um jornal diário traz a notícia de que anteontem um modesto trabalhador do Ministério da Defesa Nacional na véspera de cessar as suas funções, em vez de sair no termo do seu horário de trabalho, às 17:30', deixa-se ficar nas instalações e já sem a presença dos restantes funcionários, inicia a exaustiva tarefa de fotocopiar milhares e milhares de documentos. Tarefa que se prolongou por toda a noite e madrugada. Ao que se supõe, o funcionário terá sido ajudado por alguns comparsas amigos.
  2. Anos depois (quando já o facto estiver esquecido pelo público), talvez que, por consequência, descobre-se que desapareceram alguns importantes documentos relacionados com a aquisição de submarinos a uma empresa da Alemanha.
Sobre o caso a que alude o ponto 1 interrogamos o leitor:
a). Qual a razão do funcionário, por seu livre arbítrio, extrair fotocópias de documentos dum órgão tão importante do governo e, possivelmente, com teores de grande confidencialidade e de extrema relevância nacional? Que aplicação lhes dará? O que, o prevaricador, numa acção preventiva, pretende encobrir e (ou) justificar de expedientes e matérias ilícitas? Suas práticas irregulares ou de terceiros que quer proteger?
b). O delito do funcionário é muito grave. Transgride as normas da legalidade que lhe são aplicáveis. É um abuso de confiança e de exorbitação de poder. Ofende os preceitos da ética. Implica a necessidade de investigação judicial porque está em jogo: quer a indevida apropriação de património; quer o custo de materiais utilizados em proveito pessoal; quer a própria segurança da República.
c). Pensemos: Que vai acontecer ao modesto funcionário que cometeu o delito?
Certamente, que será aberto um inquérito, haverá um processo disciplinar e feita a averiguação da responsabilidade criminal. De pronto, é constituído arguido; rapidamente, é julgado e condenado.

A realidade afim da hsitória imaginada

A realidade que vamos expor tem a ver com o denso mistério do fotocopista Paulo Portas.
Ao tempo da saída de Paulo Portas do Ministério da Defesa Nacional alguns jornais noticiaram que o governante, na véspera do dia último de exercício das funções de ministro da Defesa Nacional, tinha passado a noite e a madrugada (entretido... será o termo apropriado?) a extrair milhares de fotocópias.
Uma actuação anómala, incompreensível e de contornos obscuros, porque não pode ser dissociada da corrupção assinalada na compra dos submarinos e de outros equipamentos militares. Anote-se que os corruptos alemães envolvidos no fraudulento negócio já foram condenados pelos tribunais germânicos, enquanto em Portugal decorrem há vários anos investigações sem fim à vista; provavelmente, programadas para se articularem com o regime das prescrições.
Ainda há poucos dias um jornalista do diário i deu informação de que, para além dos membros da família Espírito Santo, havia alguém que teria recebido milhões de luvas do negócio dos submarinos. Quem? Que diz a Justiça? Nada!
As autoridades judiciais estavam distraídas e alhearam-se da extrema gravidade delituosa que é de atribuir a tal actuação de Paulo Portas. Anote-se que nem um simples inquérito ou processo disciplinar foi realizado (a propósito: os ministros deviam estar sujeitos a processos disciplinares sempre que indiciados em ilícitos). Os jornalistas assobiaram para o lado. Os governantes e políticos de todos os partidos não lhe dispensaram a devida ponderação.
Há tempos apurou-se no Ministério da Defesa Nacional (repare-se: não é um qualquer ministério de somenos importância) que desapareceram documentos. Quais? Imagine-se: logo haviam de desaparecer os documentos relativos às compras de equipamentos militares, incluindo os famigerados submarinos.
Quer a actuação delituosa de Paulo Portas, quer o desaparecimento de documentos do ministério que chefiou, aconteceram impunemente sem ter havido séria e competente investigação sobre as duas esquisitas situações.
De registar que na semana transacta uma comissão da Assembleia da República concluiu um apelidado inquérito parlamentar que se limitou a isentar de responsabilidades os políticos que, de algum modo, lidaram com os processos de aquisição dos equipamentos militares. Aliás, uma conclusão prevista desde que devidamente compatibilizada com os expedientes de alijar responsabilidades, muito usuais na referida assembleia. Todos sabemos que os inquéritos parlamentares se traduzem em dois procedimentos: de condenar quantos investigados integrantes das minorias; de ilibar os prevaricadores pertencentes aos partidos da maioria.
Em vista disso e, a título de excepção, com um pouco de indulgência, dizemos aos deputados protagonistas dessas comédias dos inquéritos parlamentares o seguinte: contemplem-se na desfaçatez e festejem-se até ao exaustão, no gozo das vossas incoerentes, ilógicas e falseadas decisões. Até a um dia... de higienização geral que tarda em chegar.
Pela nossa parte, caros e atentos leitores, deixemo-nos de tretas. Sejamos objectivos: se milhares de documentos foram no Ministério da Defesa Nacional abusivamente fotocopiados por Paulo Portas em violação de todos os preceitos regulamentares, das normas legais, de elementares regras da Ética e dos imperativos deveres concernentes à Deontologia Governativa, então por que nem admitir que nessa mesma madrugada tenham levado sumiço os tais documentos, porventura muito comprometedores? E se assim terá sido, qual o motivo porque a Paulo Portas não se atribuem todas as responsabilidades? E como não investigar com rigor o aludido procedimento de Paulo Portas? Quem de direito está à espera de quê? E porquê?
Uma última e crucial interrogação: A explicação do que se passou com a negociata dos submarinos e as contrapartidas previstas e nunca devidamente concretizadas, não terá a haver com esta história nunca bem contada das fotocópias do fotocopista Paulo Portas? Talvez que nela esteja fixada a grande matriz do escândalo que vai flutuando nas águas muito turvas e conspurcadas da política nacional.
Deixo as perguntas. Também declaro a minha convicção de que não virá a público nenhuma resposta.
Pela simples razão de Portugal ser um dos países onde:
- mais existe a corrupção;
- subjaz o compadrio e o clientelismo;
- bastante se valoriza a mediocridade e a ignorância encartada;
- muito se aplaude o oportunista e o vendedor de banha da cobra;
- está instalado o medo;
- prolifera a prática da perseguição e vingança por parte dos governantes;
- não há uma justiça que puna exemplarmente os poderosos pelos actos ilícitos; - - existe uma generalizada apatia face à gravíssima degradação sociopolítica vigente.
Fim

Nota marginal – Mais uma preciosidade do Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, apresentada há instantes na TVI.
A hipocrisia consagrada como valor máximo a prosseguir a bem do triunfo da coligação nas próximas eleições legislativas.
O professor advoga que custe o que custar nunca Passos Coelho, Paulo Portas e os dois partidos da coligação, devem transmitir aos portugueses a impressão de que estão desavindos ou com problemas de relacionamento e opiniões divergentes sobre as orientações políticas.

Ou seja: o professor Marcelo entende que é preciso disfarçar. Fingir que estão unidos. Se a coligação quere ganhar as eleições tem de proceder assim. O país não importa. Nem a deplorável situação da maioria dos cidadãos portugueses lhe merece atenção. O que interessa ao professor Marcelo, a Passos Coelho, Paulo Portas e aos seus dois partidos é o domínio do Poder e as correlativas benesses e mordomias – numa palavra: a efectiva exploração da QUINTA LUSITANA, sem obstáculos ou impedimentos.
Fiquemos com a certeza: valor importante para o professor Marcelo é o exercício continuado da hipocrisia e do cinismo para muito enganar e confundir os eleitores portugueses. Neste domínio da manipulação das mentes o professor Marcelo sente-se como peixe na água da baía de Cascais. Nesse mar costeiro tem longa prática de flutuação... É consagrado Mestre com créditos firmados e amplamente reconhecidos.
Mais uma grande lição(...) do Professor Marcelo, das muitas semelhantes que tem leccionado ao longo dos muitos anos das suas charlas televisivas.
Enfim, algo bastante elucidativo do elevado magistério moral e superior doutrinação política do famoso comentador televisivo...

segunda-feira, janeiro 26, 2015

Saudemos a Grécia
Brasilino Godinho
A trimilenária nação helvética que foi precursora da Europa e que no seu seio criou a Democracia, a Política, a Filosofia e o Teatro, credora do maior apreço e respeito dos povos europeus e de todo o mundo civilizado, foi hoje, 25 de Janeiro de 2015, mais uma vez inovadora e criativa: com o resultado da consulta eleitoral gerou a esperança de um futuro melhor para a Grécia e para a Europa.
Parabéns à Grécia! Parabéns à Europa, submetida ao poder do eixo Berlim-Bruxelas.
Porém, há que registar que o povo grego foi confrontado com as inúmeras pressões e chantagens de que foi alvo por parte da chanceler alemã Angela Merkel, da directora do FMI, Christine Lagarde, da Comissão Europeia e da banca internacional. Ainda há três dias o director do Banco Europeu, Mário Draghi, lançou o plano de compra das dívidas nacionais como derradeiro instrumento de chantagem política sobre o eleitorado grego.
Felizmente o povo grego não cedeu às ameaças e deu eloquentes lições: de dignidade, de firme demonstração de civismo e de arreigado apego à Democracia.
É de presumir que as mencionadas entidades que tanto pressionaram a Grécia venham a usar todo o seu poder para complicarem e neutralizarem as políticas do futuro governo grego.
Por isso não existem garantias de que sejam concretizadas todas as esperanças que agora são despertas na Grécia e em todos os países atingidos pelas nefastas orientações impostas por Merkel e pela Comissão Europeia.
Mas desde já precavidos quanto às nuvens negras que despontam no horizonte de Bruxelas e de Berlim, hemos de aguardar, com alguma confiança, os acontecimentos que se seguem.

quinta-feira, janeiro 22, 2015

Um testemunho bastante elucidativo
sobre o extermínio da língua mátria

Brasilino Godinho

Há instantes recebi uma mensagem de cidadão português residente em Marrocos, que é de relevante interesse, porquanto representa um eloquente testemunho de como, por obscuros rumos, enviesados meios e maléficos expedientes, prossegue o encaminhamento da destruição da língua portuguesa.
Este testemunho vem reforçar o meu conhecimento sobre a matéria que me é tão desagradável. E há muito tempo que sei dos clamores que vão por essas Europa, África, Ásia e Américas, contra o encerramento dos poucos núcleos escolares onde se leccionava o português e contra a negação de apoio e o manifesto desinteresse dos governantes portugueses pela manutenção do uso e pela divulgação da nossa língua.
Mais que alheamento e desprezo por parte de tais protagonistas da decadência nacional há que considerar, sem subterfúgios que, no tocante à destruição da Língua, se trata de crime de lesa-pátria.
Aos leitores solicito que concentrem a vossa atenção no texto do citado e-mail do Senhor Manuel Andrade, que transcrevo:

Manuel Andrade


14:14 (Há 36 minutos)

para mim


AMIGO E SR. BRASILINO
INFELIZMENTE É UMA TRISTE REALIDADE O QUE SE PASSA. OS SUCESSIVOS DESGOVERNOS DE PORTUGAL NADA FAZEM PARA INVERTER ESSA SITUAÇÃO. EU COM A EXPERIÊNCIA DOS PAÍSES ONDE JÁ PASSEI POSSO CONFIRMAR. HÁ BASTANTES PASSOS A DAR. A COMEÇAR POR MAZAGÃO. HOJE, EL JADIDA. ONDE HÁ UMA GRANDE VONTADE DE APRENDER PORTUGUÊS. HÁ UM CASO CONCRETO DE 2 IRMÃOS QUE FALAM PORTUGUÊS MUITO RAZOAVELMENTE COMO AUTODIDACTAS. A RTP FEZ UMA REPORTAGEM COM ELES MAS PARECE QUE NUNCA A EXIBIRAM, NEM SEQUER CHAMARAM QUEM DE DIREITO PARA A ATENÇÃO QUE O ASSUNTO MERECIA. EU MESMO, SOBRE A VONTADE DE UMA MARROQUINA QUE QUERIA APRENDER PORTUGUÊS, LIGUEI, HÁ ANOS, PARA O INSTITUTO CAMÕES QUE NADA ME ADIANTOU. ALIÁS ESTE INSTITUTO MAIS PARECE UM POUSO DE TACHISMO, QUE REALMENTE UM DEFENSOR E DIFUSOR DA NOSSA LÍNGUA.
 AQUELE ABRAÇO.

Nota - pode publicar e divulgar onde e como quiser.
Fim de citação

quarta-feira, janeiro 21, 2015

Língua Portuguesa corre perigo de extinção

Brasilino Godinho

A revista VISÃO - citada pelo SAPO - de hoje, deu a notícia de que John McWhorter, linguista da Universidade de Columbia, em New York, num artigo publicado no Wall Street Journal prevê que 90% das línguas vão-se extinguir no próximo século (até 2115).
O mesmo professor anota que está em curso, à escala mundial, a colonização linguística do inglês e do chinês.
Não sou linguista mas a falta deste requisito científico não me tem impossibilitado de - desde os anos 90 - vir, através das minhas crónicas, alertando para as persistentes ameaças de extinção do português; nomeadamente, a maior traduzida no desprezo que lhe dão sucessivos governos portugueses. Governos que para além do mau trato da Língua, a subalternizam em favorecimento do inglês e, agora, também do chinês. Já chegámos ao ponto de em todos os graus de ensino (mesmo no ensino básico) se pôr mais ênfase e determinação no ensino do inglês do que no estudo da língua pátria. O que evidencia que em Portugal, confirmando as previsões do professor John McWhorter, se prossegue um rumo de escandalosa e detestável vanguarda e se corre célere para o abismo da perda da língua portuguesa. O que se passa em sintonia de objectivo destruidor da nação portuguesa com a prática governamental de escorraçar a massa cinzenta para o estrangeiro. A este abominável atentado de lesa-património da Pátria junte-se-lhe a perda da Língua e eis que estará alcançada a perda de Portugal como Estado e Nação.
Já todos percebemos que os governantes portugueses estão nisso empenhados. A previsão agora anunciada, qual meio-caminho andado para ser consumado o fatídico desígnio, provavelmente, vai deixá-los satisfeitos.
Pela parte que me diz respeito, continuarei a pugnar pela minha pátria que é a Língua Portuguesa.

domingo, janeiro 18, 2015


Duas grandes tretas,
ambas repulsivas!



Brasilino Godinho

Ontem, sábado, pelas 16h:50', o SAPO inseriu notícias referentes a duas tretas que são com frequência apresentadas ao público.
A primeira, foi denunciada por Silva Peneda: A ideia de autoregulação do mercado é uma treta”.
Depois do colapso financeiro e, por arrasto, do descalabro da economia, ocorridos nos últimos tempos, há a convicção de que não faz sentido insistir-se no que já é considerado um erro crasso: manter o modelo de funcionamento dos mercados financeiros que vem causando devastadoras consequências em diversos países, incluindo Portugal.
Silva Peneda, social-democrata de rija têmpera e com imagem de político sensato, está certo na oportuna avaliação abrangente (nacional e internacional) que faz na presente conjuntura.
A segunda, refere-se à deprimente mania da regionalização que, ciclicamente, quando se avizinham eleições, o Partido Socialista, exercitando uma deplorável continuidade obsessiva, traz à colação e que constitui uma séria ameaça de desconformidade político/administrativa muito onerosa e prejudicial ao País.
A seguir, transcrevemos trechos (que numeramos, para melhor incidência dos nossos comentários) da notícia da RENASCENÇA, inserta no portal SAPO.
  1. António Costa defende descentralização

17-01-2015

  1. Líder socialista quer alteração da lei eleitoral. A descentralização é fundamental para o bom funcionamento da democracia. Palavras de António Costa este sábado numa conferência em Leça da Palmeira.
  2. O secretário-geral do PS considera que só uma política de maior proximidade pode garantir um melhor funcionamento do Estado.
  3. "Grande instrumento do Estado deve ser a política de descentralização", que "permitirá maior proximidade, que é garantia de transparência e de maior eficiência do gasto público".
4. Para avançar com a regionalização é, contudo, necessário "evoluir e desbloquear o impasse constitucional", sublinhou.
5. António Costa disse que o "reforço da democracia passa por aumentar o poder do cidadão", bem como "reforçar a confiança do cidadão no exercício da actividade politica".
6. É a "proximidade que reforça a transparência, a qualidade da democracia", concluiu.
Vejamos:
Ao lermos as declarações de António Costa, secretário-geral do PS, ficámos perplexos.
Então António Costa ainda não atingiu o Poder e já avança com a estapafúrdica ideia da Regionalização?
Neste atribulado tempo de múltiplas desgraças, Portugal está confrontado com várias crises de grandes dimensões e a esmagadora maioria da população portuguesa enfrentando tremendas dificuldades. No entanto, pasme-se! O putativo novo chefe do executivo não apresenta um convincente e bem estruturado programa; e, ao invés, contempla-se, muito empenhado, em promover a regionalização do país. Parece que para ele não há outras grandíssimas prioridades. Essa (a da regionalização) - imagine-se! quem nos diria tal avassaladora necessidade? - é a prioridade do futuro, hipotético, órgão executivo. Começa bastante mal António Costa a caminhada em direcção ao Palácio de S. Bento. Muito mau prenúncio do que seria o seu exercício de governação. Será que há, da sua parte, disponibilidade para se prosseguirem as desastradas (diremos mesmo, horríveis) políticas de Passos Coelho?
A manter-se António Costa neste rumo e com recurso a uma retórica oca, recheada de fantasiosos lugares-comuns da politiquice caseira e sem sentido objectivo de reconstrução de um país destroçado, não se vislumbra a famigerada luz ao fundo do túnel, nem o rumo certo do desenvolvimento e de um melhor futuro para o empobrecido, sacrificado e ofendido povo português.
À cadência de síntese, analisemos ao pormenor:
1. Para satisfazer o capricho de António Costa aí está o espantalho da revisão da Constituição.
A descentralização é fundamental para bem funcionar a democracia, disse António Costa. Por feliz acaso, faz sentido!
Só que os dispositivos constitucionais e legais existentes facultam a descentralização.
Aliás, foi já no século XIX, que Alexandre Herculano – bem secundado por Antero de Quental – propôs de forma vigorosa e descomprometida (assinalamos descomprometida) a descentralização focada no municipalismo. Portanto, os novos arautos da descentralização não descobriram o “ovo de Colombo” neste domínio político/administrativo, nem se apresentam tão isentos na opção como pode ser sugerido à primeira vista.
2. A história da proximidade é um chavão habitualmente apregoado que já incomoda e fere os tímpanos do pacato cidadão, minimamente consciente. E realce-se: não resiste ou subsiste a uma serena abordagem crítica.
Trata-se, também, de uma falácia. Desde logo, não se percebe o que seja: “só uma política de maior proximidade pode garantir um melhor funcionamento do Estado”. Repare-se que não se fala de proximidade. Sim, da maior. As câmaras municipais e juntas de freguesia não são instituições de proximidade? Que maior proximidade poderá existir? Qual será a caracterização da terminologia de “maior proximidade”. Porém, se nos alhearmos das autarquias e nos detivermos na abstracção “de só uma política de maior proximidade”, interroguemo-nos sobre o que se representa ou se compreende numa tal política de “maior proximidade”? Então o governo, as autarquias têm desenvolvido políticas de não proximidade ou de fantasmagórica menor proximidade aos cidadãos e às povoações? Por outro lado, será que política de “maior proximidade” se traduza numa excessiva e violenta aplicação de medidas agressivas do ambiente, do tecido urbano e da sobrevivência do ser humano?
Que política de maior (nem de regular ou de menor, mas de maior, note-se!) proximidade pode garantir p melhor funcionamento do Estado? Como neste restrito âmbito equacionar os termos inerentes ao funcionamento do Estado: Mau? Regular? Bom? Melhor? Garantia do melhor funcionamento do Estado decorrer da hipotética “maior proximidade”, seja lá isso o que for em termos práticos, congeminado na cabeça de António Costa? Como poderia ela (falseada, abstrusa, até inexistente garantia) subsistir ou sobrepor-se à verdadeira garantia que sempre decorre do excelente desempenho dos cidadãos investidos nos exercícios das funções oficiais? As políticas e as instituições valem pelo contributo que lhes é dado pelo Homem. O que não se compadece com o desvirtuado jogo de palavras vãs e a abstracção dum inconsequente discurso vazio.
Outra ideia de incrível desajuste à realidade é a de “maior proximidade pode garantir um melhor funcionamento do Estado”. Os agentes da nossa praça política têm a singular preocupação de iludir as massas populares falando de tudo e de nada, sempre acenando com a expressão garantia. Os factos desmentem-nos a toda a hora. E as garantias leva-as o vento para o caixote do lixo da História.
3. “Garantias de transparência e de maior eficiência do gasto público”? Risível tal observação. Atente-se nas enormes dívidas de muito numerosas câmaras municipais contraídas num invejável estado de proximidade (aqui, parece insinuar-se a hipótese de não ser da famigerada “maior proximidade”...) de transparência e, provavelmente, de maior eficiência do gasto público... Certamente, segundo a congeminação de António Costa, tudo obra e (des)graça decorrente de uma exemplar funcionalidade à vista desarmada de cada munícipe, ali - no terreno local - colocado e respeitador das recomendadas e utilitárias aproximações visuais e legais... E claro, de pouco e assaz comprometido beneficio para a comunidade decorrente das apregoadas garantias da maior proximidade de que falam António Costa e seus camaradas de partido.
Enfim, sobressai nesta inexpressiva linguagem superficial e de nula objectividade de António Costa o aspecto de charada que confunde o indígena.
4. 5. e 6. Para animar a rapaziada socialista só faltava ao secretário-geral do PS voltar ao tema da regionalização. A regionalização é um embuste. Seria uma divisão político/administrativa do continente português sem qualquer sentido de interesse público e de vantagem para o cidadão comum.
Ademais, denotando uma deplorável tendência de gratuita subserviência perante o estrangeiro. Igualmente, a mostrar nociva predisposição ou arreigado vício para imitar e plagiar tudo o que são modas, usos e práticas de outros países.
Os partidos estão, na regionalização aportuguesada, empenhados por razões de oportunismo, de hegemonia territorial e pela circunstância, em aberto, de proporcionar existência duma reserva de acolhimento - nos lugares a criar - das rapaziadas das jotas e dos barões que se encontram em filas de espera espreitando, cobiçosos, os inúmeros tachos que se criariam no disperso espaço continental.
António Costa diz: para avançar com a regionalização é, contudo, necessário evoluir e desbloquear o impasse constitucional”. Com preconcebida ressalva de cortesia para com o declarante diremos que é conversa de chacha. Bem pode o secretário-geral do PS tirar o cavalinho da chuva. Pela simples razão de que tal avanço com a regionalização concretizaria, sim, o regredir e o passe para desvirtuar a Constituição na parte substantiva de melhor estabelecer a estrutura funcional do Estado de Direito que, infelizmente não vigora em Portugal. Aliás, o propósito de António Costa dá disso prova concludente, na medida em que para se concretizarem obscuras iniciativas pensa-se logo em introduzir alterações na Constituição, ao arrepio do povo. Este instrumento de soberania nacional só prevalece na firmeza dos seus proncípios e determinações enquanto não representa estorvo na aplicação das ideias de certos mentores da política nacional.
Os portugueses devem ter consciência que Portugal continental, no quadro europeu, tem configuração, bem delineada, de uma pequena (média, na melhor das suposições) região da comunidade. Na Europa há países como a Alemanha e a Espanha (basta citarmos estes dois) que têm regiões com dimensões superiores à de Portugal continental.
Portugal continental que, afinal, bem se pode considerar uma relativamente pequena região marginal existente no campo dilatado das muitas regiões europeias, precisa de subdividir-se em diminutas regiões para, segundo alguns dos políticos portugueses, haver maior aproximação aos cidadãos e se darem as famosas garantias(...) - de coisa nenhuma - no que concerne a transparência, a boa aplicação dos dinheiros do Erário e à abençoada “maior proximidade” dos cidadãos? Onde? Quando? E como se faz inequívoca demonstração do acerto de tais apregoadas virtualidades das ambicionadas pequeninas regiões portuguesas?
Reparem os leitores: Na Alemanha, em Espanha e noutros países europeus, onde existem regiões com a maior dimensão que a região Portugal continental, os povos dessas regiões devem estar muito deficientemente servidos por, nas suas avantajadas regiões, não usufruírem dos poderes dos cidadãos, não haver reforço da democracia, não haver a tal “maior proximidade”, nem a maior eficiência do gasto público, nem, sequer, o fantástico aumento do poder do cidadão – os preciosos ditames de António Costa para a região Portugal continental. Coitadas e distraídas gentes. Espertos e vivaços são certos políticos portugueses...
Caso para nos interrogarmos por que razão misteriosa aquelas regiões europeias, maiores que Portugal, não se regionalizam à sublime maneira portuguesa e nem se dignam seguir as recomendações que, neste domínio, alguns dos nossos políticos querem impor a Portugal?
Ainda no que concerne à União Europeia justificam-se as regiões. Elas correspondem a específicas caracterizações de Estados que se formaram geralmente no século XIX, pela aglutinação de nações ou povos possuídos de distintas diferenciações de variadas naturezas: étnicas, linguísticas, culturais, históricas, tradicionais, geográficas.
Tome-se na devida conta que aquilo que é aproveitável e justificado na Europa não nos obriga a considerar como moda que devemos seguir no nosso país - que é secularmente estruturado num operoso municipalismo onde, afinal, se depara uma verdadeira proximidade dos cidadãos ao Poder. Mas que mesmo beneficiário dessa prerrogativa de vizinhança nos espaços concelhios não evita os desmandos dos gestores da Administração Local. Prova evidente que é nos homens que está o enorme problema correlativo ao mau funcionamento dos órgãos de soberania: Presidência da República, Assembleia da República e Governo. E. outrossim, no modus faciendi dos detentores dos poderes central e autárquico.
Com objectividade se poderá dizer que a União Europeia é uma União de Nações ou União de Regiões, incluindo as três regiões portuguesas (continente português, Madeira e Açores) já legalmente constituídas.
Pois que em Portugal, um dos quatro países mais antigos da Europa, algumas das referidas diferenciações identitárias só existem na Madeira e nos Açores. Por isso temos, acertadamente, de facto e de direito, três regiões: Portugal (região continental) Madeira e Açores (chamadas regiões autónomas).
Para concluir, um alerta dirigido aos portugueses: compenetrem-se dos elevados custos de uma regionalização à portuguesa espécie que iria contribuir para um descabido e enorme agravamento do défice orçamental, e aumento da dívida do Estado e, ainda, para a continuada desgraça que atinge o povo português. Aos propagandistas da regionalização portuguesa não bastam as existências (e as exigências...) de Presidência da República, Assembleia da República, ministérios, autarquias e de numerosos institutos, fundações, empresas municipais, laboratórios de variadíssimas observações, para se atingir o exorbitante e insuportável somatório de despesas do Estado que de ano para ano vai agravando a dívida pública?
Haja bom senso! Um país endividado como Portugal não se deve dar ao luxo de condescender com os cânticos de sereia dos fanáticos adoradores do bezerro de ouro; o qual, os mesmos, com sofreguidão e deslumbramento vislumbram na regionalização que paira no estreito horizonte de alguns iluminados políticos que gravitam em redor do arco do Poder instalado neste maltratado país. Tão-pouco, os portugueses se devem permitir aceitar o despautério do Estado (melhor explicitando: o governo) esbanjar ingloriamente, estupidamente, os fracos recursos financeiros de que o País vai dispondo com enormes dificuldades. E tenhamos presente o estádio de miserabilismo do povo português.
Definitivamente:
O que é a Regionalização?
Um detestável embuste! Uma grande falácia! Uma repulsiva treta! Uma descabida formulação político/administrativa. Uma pretensiosa iniciativa de mau agouro! Uma forma escandalosa de desperdício dos dinheiros dos contribuintes!
Mas de festejada oportunidade e grande benefício para muitos - alegremente e zombando dos crédulos eleitores - “meterem as mãos no pote”.
Fim