Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

segunda-feira, junho 25, 2007

Leitora amiga,

Leitor amigo,

Leitora adversa,

Leitor adverso,

Leitores de ambos os sexos,

Amigas e amigos da onça,

Acabam de entrar na Quinta Lusitana.

Sejam bem-vindos!

Sintam-se como se estivessem em vossas casas. Apresentáveis, educados, serenos, bem-dispostos, respeitando-se a vós mesmos; assim demonstrando respeito para com o próximo. Disponham a vosso bel-prazer do “material” que “A QUINTA LUSITANA” tem para lhes oferecer.

Deixem aqui os vossos comentários. Não se coíbam.

Se escritos em linguagem correcta e não demasiado extensos, serão publicados.

Grato pela atenção dispensada.

Brasilino Godinho

Prezadas leitoras,

Caros leitores,

Junto as SARAIVADAS da semana.

Estas, versam o tema das ideias.

Algo fascinante.

E complicado

Saudações cordiais.

Brasilino Godinho

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arq.º Saraiva…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

Tema: Saraiva às voltas com as ideias…

Esta semana José António Saraiva foi possuído pelas ideias. E não há fome que não dei em fartura. Os leitores foram brindados com dois textos.

Num deles, o reputado jornalista inicia a crónica, escrevendo: “Em lugar de falar dos candidatos à presidência da Câmara Municipal de Lisboa parece-me mais útil aproveitar esta época eleitoral para fazer sugestões para Lisboa”.

Não se percebe bem o que uma coisa terá a ver com a outra. E qual a vantagem do aproveitamento do período eleiçoeiro para sugestionar. Os candidatos estão mais interessados em se ouvirem a eles próprios do que a atenderem as boas intenções do articulista José António Saraiva. É um critério pessoal discutível e que, na circunstância, nem se afiguraria ser de utilidade. Isso até se destaca no lamento que Saraiva faz no parágrafo seguinte: “Já fiz algumas no passado, sem quaisquer resultados”. Algumas, quê? Partidas? Não! Sugestões

Com estes antecedentes e nesta altura do campeonato eleitoral auguramos que não vai ter mais sorte. Mas quem corre por gosto não se cansaAparentemente. Pois que, na fotografia, o jovem de espírito, Saraiva de sua graça, representa-se com aspecto de homem vergado de cansaço. Cuide-se! Ponha-se a pau! Quem o avisa seu amigo é

A seguir, Saraiva informa-nos que chegou a sugerir a cobertura das ruas Garrett, do Carmo e Nova do Almada, da alfacinha cidade, com uma grande clarabóia de vidro à semelhança da galeria Victor Emanuel, em Milão.

Tinha que ser A sistemática ideia de copiar o estrangeiro. Uma pecha que não descola da mentalidade de muitos lisboetas. Tenha lá paciência, Saraiva. Com esta sugestão não demonstrou ter ideias. Pelo contrário, evidenciou apetência para o copianço – como se diz na gíria académica. Onde está a originalidade quando há aproveitamento das ideias alheias?

Depois, Saraiva, entusiasmado e afoito, escreve: “Hoje vou defender outra ideia, não tão original, mas que mudaria a parte ocidental da cidade”. (Aquela, sua, original?...) Ou seja: “Saída do troço da linha da CP entre o Cais do Sodré e Algés e sua substituição por uma linha de Metropolitano”. E remata com a nota esclarecedora da sua angústia: “Com poucas esperanças de que venha a ser aproveitada”.

Talvez porque, como diz: “A solução está na cara” (presume-se que na de Saraiva) e “só não a vê quem não quer”, o autor da ideia não nos esclareceu onde, em que lugar, tempo e circunstância, vai defender a dita. E foi pena. Os leitores gostariam de saber; até para, eventualmente, comparecerem a dar-lhe apoio moral e incentivo De novo, por omissão, o arquitecto Saraiva falha na transmissão do pensamento. Neste caso, da ideia No que concerne à expressão: “Só não vê quem não quer” Saraiva teria que ser mais comedido. Porquê? Porque entre muitos dos seus leitores haverá bastantes que não vão à bola com a sua cara e, consequentemente, passarão ao largo desperdiçando a oportunidade de verem a dita solução estampada no seu rosto tristonho.

No outro artigo, Saraiva questiona a veracidade dos lugares-comuns. Considera que alguns serão verdadeiros, outros não. Também se mostra interessado em questionar a “perfeita patetice” do lugar-comum que expressa a ideia de não haver pessoas insubstituíveis. Aqui, suscitada a nossa incompreensão sobre o que será “perfeita patetice”. Igualmente, quanto a saber-se: o que será a imperfeita patetice? Do mesmo modo, o nosso embaraço em decidirmos sobre o que poderemos inferir da seguinte interrogação que está subentendida na escrita de José António Saraiva: e se a patetice não sendo perfeita, nem imperfeita, for simplesmente patetice? Como ficará a patetice enquadrada no famigerado lugar-comum? Problema sério! Usando a palavra (mesmo) que Saraiva empregou dezenas de vezes: mesmo muito intricado. Porventura, mais uma rasteira do famoso arquitecto-jornalista.

Cingindo-nos ao outro texto assinalamos que está enriquecido com várias notações do maior interesse para a valorização cultural dos leitores. Saraiva anota que os tecnocratas e os comunistas, negam o talento e, “compreensivelmente (vejam só), querem que as organizações funcionem independentemente das pessoas” – para alguma coisa devem servir os robots. Não será verdade?...

Outra referência de profundo alcance no domínio da subjectividade é a incisiva conclusão de Saraiva de que nas actividades criativas, prevalecem as ideias – “e as boas ideias nascem normalmente numa cabeça”.

Aplaudimos: Bravo! Bravíssimo! Na verdade temos de nos regozijar que as ideias nasçam nas cabeças das pessoas… Sobretudo, normalmente! Que tragédia não seria se nascessem anormalmente? Safa! E como diz Saraiva “Não há brainstorming que substitua uma cabeça criativa”…

Nota de requinte não despicienda: Saraiva sabe Inglês e dá o toque de distinção que deixa a malta embasbacada. Aliás, em sintonia com o Governo, no propósito de mentalizar os portugueses para se habituarem a falar e escrever numa algaravia anglo-lusa; enquanto não se extingue a língua portuguesa.

Mas voltando atrás, temos que interpelar o autor: haverá cabeças não criativas? Vazias? Sem neurónios? Em tais cabeças, inertes, perdidas, nem achadas de algo, não nascem as ideias? Quaisquer (boas, apalermadas, loucas, más, péssimas, medíocres), que possam ser?

À laia de apontamento objectivo e importante, assente na experiência e no deleite, José António Saraiva faz a mercê de nos informar que frequenta praias onde “há três fornecedores de bolas de Berlim”; e pasme-se (!...), “apesar de todas terem aproximadamente o mesmo peso, a mesma massa e o mesmo açúcar cristalizado, nenhuma delas têm o mesmo sabor. Porquê? Porque foram feitas por três pasteleiras diferentes”.

Releva deste pormenorizado relato o laborioso trabalho de investigação de José António Saraiva. De tanto esforço, podemos extrair as seguintes conclusões:

- Saraiva bate o professor Marcelo no número de praias que frequenta.

- É guloso e, habitualmente, come bolas de Berlim.

- Não lhe escapa a particularidade de as bolas de Berlim serem fabricadas com o mesmo peso, a mesma massa e o mesmo açúcar; mas nenhuma tem o mesmo sabor.

Bolas de Berlim que foram feitas por três pasteleiras, com a extravagância de as três mulheres serem diferentes - o que é deveras intrigante. Sem indicações de Saraiva tentamos adivinhar. Se calhar, uma, atraente, com falinhas mansas, de Cascais, Outra, insinuante, mas um pouco arredia, extraterrestre. E ainda uma, simpática, bonitona, da Atlântida. Agora, o que nos deixa mais baralhados é o facto de Saraiva ter apurado que todas as bolas de Berlim - para além de terem o mesmo peso - têm a massa e o açúcar comuns Como isso foi ou é conseguido em três diversos estabelecimentos e fabricado pelas três pasteleiras diferentes? Mistério

O conhecido jornalista Saraiva conclui a prosa, com uma mensagem sensacional que nos obriga a abrir a boca de espanto. E a tomarmos a devida e previdente nota de arquivo. Escreveu: “Não há, não houve nem haverá duas pessoas iguais”.

Nem haverá? Está certo disso? Esquece os clones? Estes, não estarão a caminho?...

Enfim, permitam-nos um desabafo: estamos impressionados

Fim

quinta-feira, junho 21, 2007

Estimadas senhoras,

Caros senhores,

Trago-vos mais umas SARAIVADAS. Estas, abordam a cadente questão da depilação masculina. Pelos vistos – e segundo o recente ensaio de Saraiva - mais uma chateação que tira o sono a algumas criaturas da nossa melhor sociedade lisbonense.

Se bem interpretamos, também será um grande problema que atormenta as privilegiadas mentes de bastantes machos da estirpe fadista dos Marialvas que frequentam os retiros da Severa em Alfama e as tasquinhas da Mariquinhas sitas no Bairro Alto e excita freneticamente as brilhantes cabecinhas loiras das espampanantes e invulgares damas de fina linhagem que saltitam na linha de Cascais e se expõem nos estúdios das televisões.

Cordialmente,

Brasilino Godinho

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arq.º Saraiva…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

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Tema: Saraiva dissertou sobre depilação masculina…

No p.p. dia 09 de Junho, do corrente ano (2007), José António Saraiva publicou na sua revista um artigo sobre esse problema da depilação masculina que, observador perspicaz, numa dada altura, entendeu ser de transcendente importância para o bem estar do indivíduo, para a captação do interesse estético feminino e para a tranquilidade da sociedade portuguesa. E, talvez, para a boa convivência e melhor harmonia entre as várias espécies nativas do território nacional

Daquilo que foi escrito depreende-se que o conceituado arquitecto-jornalista terá feito as suas pesquisas e logrado chegar a resultados surpreendentes. E dá-nos conta de alguns deles.

Por exemplo: a depilação masculina é feita, algumas vezes, a par com a depilação feminina, “em que a moça se deita numa marquesa, o namorado na marquesa ao lado e são depilados ao mesmo tempo” - segundo a explicação que colheu numa revista de sociedade; na qual, era referida uma confidência que a Saraiva “pareceu estranha”. Confidência a que reporta a citação que atrás fizemos das circunstâncias em que uma apresentadora de televisão e seu cavaleiro andante, perdão, seu cavalheiro andante se sujeitam à depilação num estabelecimento de tratamentos de beleza unissexo. Naturalmente, surgem-nos as interrogações: Marquesa será móvel? Ou haverá poucas-vergonhas a quatro? Quem depila? Um macho? Dois machos? Uma fêmea? Duas fêmeas? Um robot? Ou dois? Saraiva contempla-se nestas omissões

Claro que, igualmente, o conhecido jornalista não explica a sua estranheza. Valha a consideração de esse “lapso” nem ser relevante. Para nós, importa mais compreender o parágrafo em que Saraiva, depois de evocar a ideia expressa pela moça de “que os homens também têm direito a querer ser bonitos”, diz que “este raciocínio, politicamente correcto e aparentemente inatacável, enferma, porém de um vício que o compromete”. Melhor dizendo: desejaríamos matar a charada.

Lê-se e fica-se atónito: “Raciocínio politicamente correcto”? No caso em apreço o que será essa coisa do “politicamente correcto”? Porquê chamar a política à colação? Onde está a correlação de uma preferência estética ou gosto pessoal com a política? Daqui lançamos a Saraiva este desabafo: já se torna insuportável esta moda de por tudo e por nada se falar e escrever no que será ou deixará de ser “politicamente correcto”. Decerto, que a política está abandalhada; mas apesar desta sua condição, em Portugal, ser hoje intrínseca, não se exagere ao ponto de com ela se fazerem todas as saladas russas e apreciações descabidas ou idiotas. Por outro lado, como compatibilizar o discurso do politicamente correcto com a dúvida do aparentemente inatacável e pior, ainda, com a afirmação de “enfermar, porém, de um vício que o compromete”? Se enferma de um vício que o compromete não poderá ser correcto. E se é correcto torna-se inadmissível e, de certo modo, redundante admiti-lo “aparentemente inatacável”.

Ademais, isto exposto por não nos acomodarmos a semelhantes desacertos de conceitos e às manifestas contradições em que muitos se contemplam impunemente.

Em seguida, Saraiva dá-nos conta de duas descobertas.

A primeira, algo constrangedora, que deixa o leitor arrepiado(…) perante a referência à infelicidade de “um jovem que ainda não aderiu à depilação e confessa que se sente um estranho nas piscinas públicas”. Saraiva regista o deprimente facto. Coitado do moço. Decerto prendado. Estupidamente desprendido Mas nem uma palavra nos dá sobre se está na mesma condição do jovem; não depilado ou se, pelo contrário, aderiu à depilação e se sem pêlos está satisfeito ou desconfortável. Também o vulgar leitor, propenso a curiosidades e bisbilhotices, se interrogará: Saraiva, uma vez depilado, sentir-se-á estranho nas piscinas públicas e, vamos lá, igualmente, nos tanques de natação privados? Mesmo depois de “com o andar do tempo ter percebido que a falta de pêlos no corpo resultava de um desequilíbrio hormonal”?

Íamos a dizer de novo, mas temos de rectificar: de velho hábito, Saraiva, realça que precisa do “andar do tempo” para chegar a conclusões que parecem óbvias ou de aquisição rápida. Claro que estas características de lentidão na actividade mental e imprecisão nos descritivos das reacções e dos factos têm o condão de nos colocar na desagradável situação de ficarmos a ver navios Por exemplo: Saraiva diz que com o andar do tempo ter percebido(…). E nós, ficando a chuchar no dedo, interrogamo-nos: Mas se o tempo não tivesse andado? Ele, jornalista de primeira água, teria chegado a perceber? De que maneira andou o tempo? De tal jeito que abriu os horizontes de Saraiva? E se o tempo, por birra e hostil a Saraiva, houvesse ficado indefinidamente parado? Igualmente, Saraiva ter-se-ia, refém de si próprio, submetido a um estado de pasmo? Felizmente, que o tempo andou e, maior felicidade, o jovem de espírito, Saraiva, percebeu o que representava a falta de pêlos no corpo do homem – sem cair em exageradas (e perigosas) generalizações. Haja em vista a confusão em que José António Saraiva se viu envolvido quando era miúdo acerca da palavra eunuco.

A segunda descoberta tem mais a ver com uma atenta constatação. Ou seja: o Arq.º Saraiva entende que “Quando os sexos começam a indiferenciar-se, tende a diminuir a atracção que está na origem da reprodução da espécie”. Evidente que - aplicando a regra das evidências à senhor De La Palice – nesta desconformidade a Lei da Atracção Universal vai à vela e a matéria já não atrai a matéria na razão directa das massas e na inversa do quadrado das distâncias

A partir desta anotação; Saraiva desenvolve uma série de exaustivas considerações que relevam de interesse na abordagem da bondade e natureza dos processos de depilação e na apreciação da vertente sociológica - nomeadamente quanto a padrões comportamentais e a critérios distintivos concernentes ao relacionamento entre os sexos.

José António Saraiva termina o artigo com uma indicação enigmática que dá a impressão de ali ter caído em pára-quedas. Escreveu: “E agora paga-se um bom preço por uma depilação”. Porquê? Dantes pagava-se um mau preço? O que é um bom e um mau preço por uma depilação?

O autor não se explica. Nós temos de adivinhar. Sorte malvada!

É sempre este desconsolo com o “discurso” de Saraiva

segunda-feira, junho 18, 2007

Um texto sem tabus…

AEROPORTO DA OTA

– A OBSCURA, TAMANHA, ASOFIA…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

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Acontece com o caso do aeroporto da Ota o mesmo que se passa com a pescada, tenha ela ou não o rabo na boca… Antes de o ser já o era…

Vá em frente a obra na Ota, seja concluída e posta a funcionar ou, em alternativa, venha a ser escolhida outra localização do novo aeroporto internacional (agora, surgiu a hipótese de Alcochete), o certo é que não se modificará a conclusão a extrair que decorre do arrastamento do processo ao longo dos extensos, derradeiros, quarenta anos.

Que conclusão? Aquela que assenta no vocábulo: asofia. Expressão que significa: ignorância; falha de juízo; falta de prudência.

Expliquemo-nos.

A rapaziada que desgoverna este país e os senhores empresários e ricaços que detém as rédeas do poder económico-financeiro e presidem às associações corporativas ainda não teriam nascido ou seriam frágeis criancinhas nos meados dos anos cinquenta e já, nessa época, se falava na exigência de se substituir a médio prazo o Aeroporto da Portela, sito em Lisboa, cerca das avenidas novas e Praça do Areeiro. Contados vão cinquenta anos. Precisamente, nesse tempo o Aeroporto da Portela iniciou um ciclo de obras provisórias, ampliações de instalações, arranjos e modificações que se têm mantido quase ininterruptamente. Sempre na perspectiva de abandono do aeroporto existente e construção da nova infra-estrutura aeronáutica. E, desde logo, se foram aventando diferentes locais e se iniciaram os estudos para a sua localização. Mas esses trabalhos preliminares foram sendo conduzidos nas calmas e sem grandes avanços nos anos sessenta e setenta. Para o que terão contribuído as dificuldades financeiras suscitadas pelos esforços de condução das guerras nas colónias. No final dos anos oitenta as preocupações com a saturação do Aeroporto da Portela voltaram à ribalta e o processo de construção do futuro aeroporto toma novo alento no ano de 1990. E nos últimos dezassete anos os estudos prosseguiram e foi-se sedimentando a ideia de a Ota ser o melhor local. E nesse sentido se orientaram os estudos. Embora de quando em vez se apontassem outras localizações na margem sul do Rio Tejo. Até que chegados aos tempos dos governos de Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes, se deram passos significativos no desenvolvimento dos estudos e do projecto do próprio aeroporto a ser localizado na Ota. Inclusive, o governo de Durão Barroso prosseguiu diligências na Comissão Europeia para assegurar participação financeira para a execução da obra – o que terá conseguido.

O actual governo seguindo as pisadas dos que o antecederam resolveu avançar em força na concretização dos estudos e elaboração do projecto de execução do novo aeroporto da Ota.

Eis senão quando nos últimos meses se desencadeou um intenso clamor contra a localização do aeroporto na Ota.

E aqui a porca torce o rabo

Sem esquecermos que ao longo dos anos se foram ouvindo algumas vozes contra a ideia de extinguir o Aeroporto da Portela ou a favor de outras localizações, nunca as contestações à solução Ota atingiram tanta expressão e virulência como agora. O político João Soares e outras pessoas insistem em ter o aeroporto dentro de Lisboa - se fosse possível até à porta da residência… Outros movem-se por interesses próprios e de índole corporativa. Mas é cada vez maior o número daqueles que alinham com recomendações dos especialistas das várias matérias concernentes ao objecto em causa: o novo aeroporto. As opiniões divergem e extremaram-se correntes sobre várias hipóteses de abordagem do problema; cada uma com a sua particular visão sobre matéria que é de grande complexidade técnica, de profunda convergência de interesses, de extraordinária influência no desenvolvimento do país e com enormes implicações de natureza política.

Estamos face a um problema de tão vasta magnitude para a escala do pequeno país, Portugal, que todos os cuidados serão poucos na sua análise e na busca da melhor solução possível.

Por isso, consideramos pertinente pôr as seguintes questões:

- A manutenção do Aeroporto da Portela é insustentável por diversas razões que têm vindo a público. As que mais sobrelevam são a insegurança e a saturação - ao ponto de as rotas de alguns aviões serem desviados para outras paragens. Os lisboetas estão habituados à rotina diário dos voos e já nem se dão conta do ruído e do perigo que representa os aviões passarem quase a rasar os telhados dos edifícios da Av. de Roma e das torres da Praça do Areeiro. Sabe-se que têm havido ocasiões em que esteve iminente a tragédia de uma queda sobre a zona urbana da cidade, de que não foi dada divulgação para não gerar sobressaltos na opinião pública.

- Na solução Ota o funcionamento das pistas será condicionado e com riscos de rotas de colisão? A ocorrência de turbulências e proximidade da montanha, são factores de extrema perigosidade demasiado frequentes naquele local?

- Sendo na montanha adjacente ao perímetro do futuro aeroporto (por razões de embaratecimento dos custos de transportes) contraídos os empréstimos de milhões de metros cúbicos de terras a aplicar nos elevados volumes de aterros necessários nas terraplenagens, a alteração topográfica do terreno não determinará a modificação ou eliminação das condições hoje apontadas como desfavoráveis nos corredores de aproximação às pistas, na formação de nevoeiros e na inviabilidade de ampliação do aeroporto a localizar na Ota? Estes aspectos já foram contemplados nos estudos entretanto efectuados?

- Será possível que um governo responsável se permita decidir a construção de uma tão dispendiosa infra-estrutura aeroportuária com um horizonte de plena utilização reduzido a 18 anos? E sem possibilidades de ampliação? Isto que é afirmado pelos críticos da opção Ota corresponde à verdade?

- Na margem sul há a considerar as zonas protegidas em que se concentram numerosos afluxos de aves migratórias. Não menos importante sob o prisma da segurança do transporte aéreo é o perigo que as aves representam para os aviões em voo porque são facilmente sugadas pelas turbinas dos reactores.

- Na margem sul existem importantes aquíferos e reservas naturais a preservar a todo o custo.

Ainda, uma pergunta inquietante: não haveriam sérios riscos de insegurança e de catástrofe com o novo aeroporto implantado na margem sul do Rio Tejo, assente num solo que cobre a maior e mais activa falha tectónica existente em Portugal; a qual, se estende a partir de Lisboa no sentido norte-sul, por Setúbal, Alcácer do Sal, até ao Algarve? Nota insólita e inquietante: estes, são dois aspectos associados, extremamente importantes, que nunca aparecem aflorados nas discussões sobre a localização do novo aeroporto nacional. Porquê? E como “esquecê-los”? Ninguém se lembra de consultar os peritos em Sismologia, Geologia e Mecânica dos Solos?

Outras considerações pertinentes sobre este tema serão apresentadas numa próxima crónica.

Fim

domingo, junho 17, 2007

CARTÃO

DE BOAS FÉRIAS

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

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Estamos em Junho. Início da época de férias.

Se os caros leitores fazem parte do grupo de felizardos que conseguem resistir ao fatalismo do triste desfecho da extinção a breve prazo que se antevê para a espécie dos indígenas lusitanos e, afinal, vós ides sobrevivendo sem se sujeitarem inteiramente às leis dos especuladores da “política” e à utilização dos meios impostos pelo Desgoverno tendentes a encaminhar os portugueses de segunda e terceira classes, rapidamente, para as irreversíveis temporadas do repouso absoluto nos espaços murados das autarquias municipais onde os ocupantes involuntários jazem devidamente armazenados com guarda à vista durante o dia e à noite ficam partilhando a companhia das almas penadas que por ali vagueiam em vigília constante e se, dispondo de meios de fortuna, pensam veranear em Portugal; então, aqui me apresento a formular os melhores votos de uma feliz permanência temporária na estância turística onde vos acolheis.

E se, de facto, for em Portugal o vosso pouso de lazer e recuperação de forças e de ânimos para enfrentar as agruras da vida que nos são facilitadas, como mercês dos Deuses, pelas habilidosas medidas e desconcertantes obséquios do Grande Desgoverno que temos a chagar-nos a paciência, permitam-me as atenções que, agora, como amigo, vos dispenso e aqui expresso. As quais traduzo nalgumas advertências que ouso dirigir-vos. A primeira delas vai no sentido de antes de iniciarem a viagem das férias façam um seguro de vida. A razão é simples. Se tiverem algum percalço de saúde ou acidente estejam certos que sempre haverá uma ambulância, um médico e uma enfermeira que não esperarão por vós. Por serem coisas de existência virtual, inadmissivelmente fixadas no vosso imaginário. Assim determinadas pelo ministro da Doença, vulgo ministro da Saúde. Em contraposição, será um achado, qual milagre, se conseguirdes encontrar um hospital, um centro de saúde, uma maternidade, uma unidade de atendimento permanente ou serviço de urgência que esteja à vossa espera, algures, a muitas dezenas de quilómetros do sítio onde estiverdes. Em matérias de cuidados de saúde, melhor será cultivardes a progressão das doenças. Nunca tenhais certezas nem tenteis adoptar as impressões de Cavaco nos tempos em que foi chefe do executivo. Jogai na segurança da previdência. Ou seja: insistam no seguro da dúvida, ao contrário do que dizia o mesmo político há uns anos atrás… À cautela levem caixa de primeiros, segundos e terceiros socorros. Ah! Também não esqueçam de se fazerem acompanhar de um médico. Não é um expediente barato; mas é cómodo e inspira confiança…

A segunda advertência é que evitem cruzar os vossos passos com os do ministro da Doença (designado ministro da Saúde). Tenham cuidado! A criatura parece um anjo celestial da corte do Real Senhor, Grande Arquitecto do Universo. Goza a vantagem de ter cara angélica de pele rosada, exposta sobre uma máscara que esconde uma alma insensível às dores alheias, não dada a sentimentos de solidariedade e desprovida de quaisquer preocupações de natureza social. Com uma agravante: é vesgo. Julga-se que devido a muita fixação do olhar nos números e nos cifrões. Há quem diga que tem mau-olhado. Decerto, que assusta os adultos e as criancinhas. E os velhinhos, se pudessem, fugiam dele como o Diabo foge da cruz. A ministerial figura representa um perigo para a tranquilidade das pessoas confiantes nas aparências e nas palavrinhas mansas, que sejam apanhadas desprevenidas… Figas, canhoto!

A terceira advertência reporta a uma precaução básica. Antes de partirem dos locais das suas residências os leitores procurem a indispensável resposta para a seguinte interrogação: o trajecto de auto-estrada que vão seguir e o tempo da viagem não coincidirão com o itinerário do ministro da Economia? Este cuidado, porquê? Porque a viatura oficial daquele ministro é conhecida pelas deslocações a altíssimas velocidades que põem em risco a segurança dos pacatos cidadãos que circulam em obediência às determinações do Código da Estrada. Se os leitores têm amor à vida e prezam a integridade física dos seus familiares não facilitem. Tomem nota: Isto de um cidadão lidar ou se cruzar com um ministro tem muito que se diga. Nunca se sabe o que poderá acontecer. E se ele se desmanda com frequência… aqui-d’el-rei!

Ah! Mesmo não estando em serviço e em gozo de férias tenham tento na língua. Não digam piadas, nem anedotas sobre as ministeriais figuras. O diabo tece-as. E às tantas são incomodados pelos delatores de serviço ao grémio partidário e pelos polícias dos bons (ou dos maus?) costumes governamentais.

Para não falar mais em desgraças que são o pão nosso de cada dia e vos deixar uma nota de boa disposição (e porque nem tudo é mau do lado do Desgoverno e dos actores políticos), se tiverem possibilidade de assistir a qualquer sessão em que intervenham o inefável ministro da Economia, o irrequieto professor Marcelo ou o endiabrado “Paulinho das feiras”, não percam a oportunidade de se divertirem com as larachas, as mímicas e os desempenhos hilariantes destes conhecidos animadores da paródia nacional.

Finalizando:

-Pois gozem as férias docemente... Em paz! Sossego! Resguardem-se das radiações do SOL. Mantenham-se a distâncias consideráveis da bicharada que nos põe os cabelos em pé: as ratazanas (incluindo as das sacristias), os tubarões (que, às vezes, até atacam nas esquinas das ruas), os abutres, os cães de má raça, os gatos assanhados, as víboras de venenosas línguas, os papagaios malcriados, as toupeiras que minam os terrenos onde pousais os pés, as raposas manhosas, os lobos dissimulados, os macacos de péssima índole, as melgas sempre prontas a picarem. Ficam prevenidos!

Que a boa disposição vos acompanhe. Mas convençam-se que ela só será alcançada e mantida se, durante esse tempo de veraneio, esquecerem os governantes e os políticos. E as maldades de uns e outros… Portanto: Divirtam-se!

Façam esse favor a vós próprios e a este vosso amigo. Enquanto o Desgoverno vos deixar… e sem pagamento de taxas fiscais de ocupação dos tempos livres, dos ares que respirais, dos lugares públicos que frequentarem… Igualmente, sem liquidação do IVA…

Aproveitem enquanto é tempo…

17 de Junho de 2007

quarta-feira, junho 13, 2007

Estimadas senhoras,

Caros senhores

Deixo-vos as SARAIVADAS. Hoje trazem uma grande novidade.

Se ela tem alguma parcela de verdade, então temos de reconhecer que:

- “andámos a dormir na forma”;

- seremos parolos…

Portanto, esperto é Saraiva. Quem disser o contrário, mente…

Tão frequentes têm sido nossos contactos que hoje quero agradecer-vos o generoso acolhimento e endereçar-vos saudações amistosas.

Brasilino Godinho

SARAIVADAS…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

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Tema:

Saraiva mete o pé na poça das liberdades…

.

Confesso: andava intrigado com a imagem de José António Saraiva indiciadora de um qualquer tabu que o mantém inquieto. Aquela foto em mangas de camisa, ar triste, olhar inexpressivo, semblante carregado, barba mal cuidada, aspecto desprendido de irresolução e algum acanhamento, toca a sensibilidade mais empedernida e leva as pessoas a rapidamente virarem o olhar para as margens onde se insere o palavreado que subscreve e, dessa maneira expedita, libertarem-se da desagradável impressão.

Interrogava-me sobre o que determinaria a angústia do conhecido arquitecto-jornalista. Invariavelmente, talvez sugestionado pela forma como José António Saraiva se representa, cruzando os braços, chegava à elementar conclusão de ele trazer alguma coisa escondida sob a manga ou quaisquer loisas enfiadas debaixo das duas mangas. Decerto, bem as agarra para elas não se lhe escaparem

Acontece que, na devida altura, passando em revista a sua revista de 26 de Maio p.p. deparei com aquilo que julgo ser a demonstração do enigma (ou um dos mistérios) da foto de Saraiva. Quiçá, a coisa encoberta na manga

Creio que José António Saraiva tendo chegado a determinada conclusão sobre o regime do Estado Novo, ao arrepio da convicção geral da população portuguesa, receou transmiti-la aos leitores das publicações que dirige.

Mas naquela data ter-se-á possuído de coragem e zás: brindou-nos com uma revelação bombástica. Sem dúvida, susceptível de abalar profundamente as ideias evocadas pelos revolucionários de 25 de Abril de 1974 e, mais do que isso, desacreditando o que se tem proclamado sobre uma das principais justificações do golpe de estado. Talvez receando o clamor que poderia suscitar, o conhecido jornalista-arquitecto Saraiva foi comedido na expressão introduzida nessa crónica de 26 de Maio. A qual - repare-se - é publicada na antevéspera da data do 28 de Maio comemorativa da Revolução Nacional de 1926 e indicia que teve algum cuidado e sentido de oportunidade.

Sobretudo, a afirmação de Saraiva é uma extraordinária parcela de antologia discursiva. Foi introduzida, no contexto do artigo, de uma forma subtil. Sintética. Quase passa despercebida. Uma linha de sete palavras bastou para exprimir a convicção, a argúcia, a profundidade do pensamento e a superior visão de pequeno alcance circunscrito à sua paróquia e de grande projecção sobre o vasto horizonte da vida colectiva em Portugal.

Um feito literário condizente com a especial qualidade de candidato recomendado – por ele próprio, em conformidade com os modernos conceitos éticos e as evoluídas normas de afirmação pessoal em voga - para o Prémio Nobel da Literatura.

O que escreveu José António Saraiva?

Simplesmente isto: “Deu-se o 25 de Abril, as liberdades aumentaram (…)

Ora só se aumenta algo que existe Branco é galinha o põe

Portanto, Saraiva está convicto que existiam liberdades em Portugal nos tempos do Estado Novo de Oliveira Salazar e de Marcelo Caetano.

Quem diria? Pelos vistos só o jornalista-arquitecto Saraiva, o mago das grandes descobertas, nos pode abrir os olhos… para a “sua realidade”.

Afinal, vivemos distraídos nos anos transcorridos entre 1926 e 1974. Também, falhos de entendimento, nem nos demos conta das liberdades concedidas por Salazar e Caetano; aliás, expeditamente subentendidas pelo famoso jornalista. Igualmente, as novas gerações que estavam confiantes de ter existido um regime ditatorial que não concedia liberdades estão, agora, confrontadas com a embaraçosa insinuação de Saraiva. Grande gaita! Só nos faltava esta

E sendo assim e se todos nos fiarmos na conversa do jornalista José António Saraiva, lá vão para os caixotes do lixo da História as memórias, que vêm sendo transmitidas, de total falta de liberdade em Portugal no tempo da longa ditadura do Estado Novo.

Igualmente, resultará trabalho redobrado para os historiadores que terão de desconsiderar as proclamações dos revolucionários do 25 de Abril de 1974. Ficam já com a tarefa de rever a História, encomendada por José António Saraiva. Não percam tempo: Agradeçam-lhe as contrariedades, os trabalhos e as canseiras que os esperam

terça-feira, junho 12, 2007

CARTA ABERTA

Ao meu desconhecido leitor Alexandre, jovem e curioso…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com


Aqui e referente à sua solicitação, comento o seu comentário.

Também, dou algumas informações correspondentes ao pedido que me endereçou, via Internet.
O senhor Alexandre não me aborreceu com perguntas. A elas vou responder sucintamente e de forma objectiva.

E começo pela sua primeira dúvida acerca do posicionamento da Opus Dei na universalidade da Franco-Maçonaria.

A Opus Dei não integra a Franco-Maçonaria Universal. É uma seita católica, secreta, só dependente simbolicamente do Papa, que tem uma estrutura orgânica e um funcionamento decalcados da Maçonaria. Foi fundada pelo Pe. Josemaria Escrivá de Balaguer y Albás, no ano de 1928, em Espanha. Ao tempo, ele era um jovem de 26 anos de idade. E tal fundação ter-se-á feito porque o moço padre teve “inspiração divina” a determiná-la(…). A partir de 1939 com o triunfo das forças do general Francisco Franco no termo da guerra civil espanhola, atingiu grande expansão facilitada pelo apoio que o regime franquista lhe proporcionou. Instalou-se, sobretudo, em Espanha, Itália, Portugal e América Latina. Actualmente está implantada em oitenta países. Tem um poderio enorme e ascendente na Igreja, nomeadamente no Vaticano.
De quando em quando há contactos e relacionamentos obscuros entre a Opus Dei e alguns clãs maçónicos; como aconteceu com o escândalo das finanças do Vaticano no tempo do pontificado de João Paulo II. Então sucederam acontecimentos estranhos e foram praticados actos ilícitos e criminosos em que apareceram envolvidos: o Banco Ambrosiano; o banco do Vaticano, Instituto de Obras Religiosas (IOR); o presidente deste, arcebispo Marcinkus; o banqueiro Roberto Calvi que apareceu enforcado numa ponte em Londres; a loja P2 do núcleo maçónico de Roma e a Mafia.

Também, no nosso país, ocorrem encontros esporádicos e surpreendentes entre membros das duas organizações. Aliás, a Maçonaria tem no seu seio padres, bispos e cardeais - o que é deveras contraditório no domínio dos princípios apregoados quer pela Igreja, quer pela Franco-Maçonaria. Também impressionante, num sentido negativo, pelo que releva de cinismo e hipocrisia.
Por cá, em Lisboa, até se registam casos de personalidades que entram pela porta da direita na Opus Dei e saem pela porta da esquerda na Maçonaria. Têm essa incrível habilidade de estarem, simultaneamente, confortados e felizes, nos dois espaços da mesma obscuridade.

Os espanhóis chamam Maçonaria Branca à Opus Dei. Os italianos dão-lhe a sugestiva designação de Santa Mafia.

Portanto, quando designamos a Opus Dei como entidade maçónica estamos a enquadrá-la numa configuração idêntica: de orgânica, de secretismo e de prática obscurantista. Ambas organizações convergem num objectivo comum: o de alcançarem o Poder. E alargarem-no ao maior número de países.

Sintetizando: são entidades independentes. Porém, em muitas ocasiões, convergentes e colaborantes. Embora se digladiem com "discrição" segundo as regras de uma e outra.

Focando brevemente os fins prosseguidos pela Maçonaria e os seus métodos de actuação no Mundo e no seio da nação portuguesa vale a pena evocarmos o que já no século XIX, o conhecido autor de “La Comédie Humaine”, H. De Balzac, escreveu na sua obra “Les illusions perdues”: “Há duas histórias, a oficial, mentirosa; e a secreta, em que estão as verdadeiras causas dos acontecimentos”.

Igualmente, para completar a informação, transcrevemos de Ginzberg os seguintes trechos: “A aquisição do poder passa por diversas fases. A primeira compreende os primeiros dias de loucura de um cego que se atira para a direita e para a esquerda. A segunda é a da demagogia, de onde nasce a anarquia; depois vem inevitavelmente o despotismo, não um despotismo legal e franco, mas um despotismo invisível e ignorado, todavia sensível; despotismo exercido por uma organização secreta, que age com tanto menos escrúpulo quanto se acoberta por meio de diversos agentes. Quem ousa derrubar uma força invisível? Nossa força é assim. O plano de acção dessa força e o lugar que assiste, são inteiramente

ignorados do público”.

”Nosso poder reside na fome crónica na fraqueza das gentes porque tudo isso as escraviza à nossa vontade, de modo que fiquem sem poder, força e energia de se opor a ela. Pela miséria e o ódio invejoso que dela resulta, manobramos as multidões e nos servimos de suas mãos para esmagar os que se oponham aos nossos desígnios”

“Os administradores escolhidos por nós em razão das suas aptidões servis, não serão indivíduos preparados para a administração do país. Assim, facilmente se tornarão peões de nosso jogo, nas mãos dos nossos sábios e geniais conselheiros”.

Para rematar as citações, este mimo: “Nossa palavra de ordem é: Força e Hipocrisia”.

Estes textos datam do início do século passado. Mas conservam actualidade. É o quadro da realidade que a ditadura do regime maçónico vigente em Portugal nos impinge. Pondo a maioria dos portugueses a pão (pouquíssimo) e água (cada vez menos potável, mais cara e, dentro em breve, provavelmente, racionada e… taxada com o IVA). Sem hospitais. Sem escolas. Sem maternidades. Sem Centros de Saúde e Serviços de Urgência. Sem protecção social. Mas devidamente esfomeados! Sedentos de justiça! Adequadamente analfabetos a papaguearem em inglês. Bastante sofridos! Convenientemente doentes! Por enquanto usufruindo de esfarrapadas tangas! Até a um dia que lhas tirem, os deixem nus e os prendam por atentado ao pudor

Mais de considerar: os chamados “profanos”, indígenas, cidadãos de 2ª e 3ª classes, contentem-se com o direito, generosamente concedido pelo “desgoverno” que temos, a salários de miséria e, na velhice, a pensões mínimas sujeitas a reduções graduais; habituem-se a não receberem a necessária assistência médica, nem comparticipações para aquisição de medicamentos. Estes incapazes e resignados, revejam-se na preocupação revelada a todos os instantes pelos “beneméritos irmãos” que bem se esforçam para lhes assegurar a marcha acelerada, encaixotados, para os jardins das tabuletasQuando a miséria desta gente mal gerada, desagradecida, infortunada, for total ou tiver passado para o tal outro lado, sem retorno, não mais chateando com a sua incómoda presença os homens dos “bons costumes”, então se atingirá o reino de todas as perfeições étnicas. Assim ficarão consagrados os grandes desígnios das grandes “fraternidades” sabiamente entretecidas pelos modernos pedreiros que por aí se passeiam, livres de apresentarem as alvenarias das escondidas obras que laboriosamente erguem nos fundos das sombrias lojas. “Fraternidades” por demais, vigilantes, “discretas”, operantes, abastadas e devotas do Grande Arquitecto do Universo.

Quanto à sua curiosidade sobre o meu livro “A QUINTA LUSITANA” presto-lhe o seguinte esclarecimento:

A minha obra "A QUINTA LUSITANA" não contempla especificadamente matérias relativas à Maçonaria e à Opus Dei.
Trata-se de um ensaio sobre a evolução político-social de Portugal desde 1926 até ao período do governo chefiado por Durão Barroso.

Na parte concernente à Maçonaria e Opus Dei o livro insere um capítulo de 16 páginas, num

conjunto de 480 páginas.

Mesmo assim o livro é considerado maldito pelas duas organizações e foi bloqueado de todas as formas e com recurso aos mais incríveis expedientes. Sem espalhafato. Às escondidas. Evidentemente: segundo as regras da “fraternidade” conformes à célebre "discrição"
Todavia, não olvidamos o facto de - estando a Maçonaria infiltrada nos partidos políticos e, sendo ela, a verdadeira detentora do Poder em Portugal, qualquer que seja o regime político vigente na sucessão dos tempos considerada a partir dos finais do século XIX, - ela, a poderosa organização, se considerar indirectamente atingida sempre que são formuladas críticas às políticas seguidas pelos vários governos. Tal como acontece quando uma pessoa é atacada pelas pulgas: só a criatura sabe onde as atrevidas lhe mordem

Espero que tenha satisfeito a sua curiosidade.

Grato pela atenção dispensada.

Cumprimento.
Brasilino Godinho

terça-feira, junho 05, 2007

Um texto sem tabus…

TAMBÉM UM DIA, ALGURES, PINTARAM BIGODE NUM RETRATO DE SALAZAR…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

Portugal é um país de gentes desvairadas… e pessoas despachadas. Um grupo, entre vários, sobressai com arreganho, atrevimento e sem respeito pelo Zé-Povinho. Precisamente, aquele que o leitor está a pensar. O que se inclui na classe política. Mas não só – como deixámos antever. Também, noutros sectores da sociedade a espécie anómala marca presença. Ou se faz notar com maior ou menor evidência, conforme os respectivos "calibres" das personalidades intervenientes. Nos órgãos de comunicação social, nos vários domínios das autoridades policiais, administrativas, judiciais, instituições oficiais e entidades particulares, se encontram indivíduos verdadeiros especialistas nas artes do improviso idiota, do incrível disfarce, do insuspeito embuste, do malabarismo acrobático, do arrebatamento descontrolado, da incompetência encartada e atrevida, do autoritarismo desenfreado, do execrável abuso do poder, do nepotismo mais dissipador, da avassaladora desfaçatez na imoralidade e falta de ética manifestadas a qualquer momento, da enorme ligeireza e abominável irresponsabilidade explícitas nas falas e nos actos.

Ainda há poucos dias se registou um clamoroso facto que ilustra bem até que ponto vai o voluntarismo de certas pessoas com maneiras de ser próprias de ditadores de pacotilha. O país sobressaltou-se com a iniciativa da presidente da Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) em suspender do serviço e levantar um processo disciplinar ao professor Fernando Charrua, ex-deputado do PSD, com fundamento num motivo fútil. Sem dúvida para quem tivesse o sentido das proporções e das conveniências e, decerto, a capacidade de discernir correctamente sobre as grosserias e as ofensas à dignidade das pessoas, não ocorreria a peregrina ideia de sancionar um cidadão que num diálogo, em privado, sem escândalo público, disse uma piada sobre o actual chefe do governo português. O procedimento da citada directora da DREN prestou um mau serviço ao País e à causa da Educação; esta, englobada na ordem cívica da Nação. Igualmente, com o seu gesto de subserviência e pretensa desafronta da suposta ofensa à pessoa do chefe do governo “deu-lhe um tiro no pé” absolutamente despropositado e inconveniente para o próprio. Deplorável que o visado (Sócrates) e a ministra da Educação não se tenham compenetrado da extrema gravidade e negativo alcance desta tristonha novela de mau gosto.

Também, neste caso, bem notada a aplicação da regra da discreta "fraternidade" que um dia foi evocada pelo socialista Jorge Coelho: quem se meter com o PS leva… Só que nunca se sabe o quê… Certamente, que não chocolates, nem mimos. E o maçon António Vitorino avisou: Habituem-se!... Infelizmente, os portugueses esquecem-se destas ameaças.

Outrossim, tratou-se de uma arbitrariedade na sequência de uma delação. Portanto, até mais que a classificação de fútil que é atribuível à motivação invocada para o procedimento da directora da DREN releva a circunstância de ela, a sanção aplicada, se constituir como grave violação do direito à liberdade: quer do pensamento, quer de opinião, consagrado no articulado da Constituição da República Portuguesa.

Estando a responsável da DREN sob a tutela da ministra da Educação teria sido procedente que esta governante abrisse um inquérito face à transgressão das normas constitucionais, com vista a procedimento disciplinar sobre a directora da DREN. Por outro lado, ao primeiro-ministro e à ministra em causa ficou-lhes mal que, interpelados pelos jornalistas, alegassem o desconhecimento oficial do facto e se refugiassem no pretexto de não deverem intervir na área de competência da senhora chefe da delegação do ministério. Um mau exemplo de não assunção de responsabilidades hierárquicas.

Um outro aspecto bastante grave e condenável é que neste caso, sobressai o clima de perseguição às pessoas não filiadas no partido detentor do Poder e se fomenta a indecente prática da delação, à semelhança da que constava dos métodos do regime corporativista do Estado Novo, a ditadura de Salazar e, mais tarde, de Marcelo Caetano. Agora, sem a PIDE. Mas com recurso aos cidadãos que instigados a ser bufos gratuitos se prestam ao triste papel de delatores renegando elementares deveres éticos e de cidadania. Aqui, por gestos gratuitos, dir-se-ia outra medida de restrição das despesas do Orçamento não fora a provável hipótese de as compensações se processarem noutros formatos mais sofisticadose de mais gravosos activos financeiros

Esta, é mais uma ocorrência confirmativa de que - sob o disfarce de uma democracia institucionalizada - continuamos a viver sob uma ditadura do vale tudo, de contornos obscuros e de efeitos não menos perniciosos e ofensivos da dignidade de indistinto cidadão. Não esqueçamos que os oportunistas democráticos de hoje são farinha do mesmo saco da ditadura salazarista; como amanhã o serão se vier por aí desmandada outra corrente ditatorial. É uma questão de oportunidade e mudança de fatiota

Actualmente, os portugueses têm medo das represálias que lhes podem ser aplicadas pelas atitudes que intentam perante as arbitrariedades do Poder e face às sombrias forças que o sustentam e o manipulam. São interesses instalados que intimidam, exploram, maltratam, afligem e discriminam. Eles, os respectivos detentores, comandam e determinam as políticas de opressão económico-financeira demasiado asfixiantes das classes desfavorecidas que, nalgumas vertentes, se articulam e convergem no sentido de se tornarem arrasadoras das vidas humanas. Isto é: visam humilhar o cidadão; procuram complicar-lhe a vida; desejam fatigá-lo excessivamente de forma a levá-lo à apatia, ao desespero, ao convencimento da inutilidade da sua resistência e, consequentemente, se deixar abater até ao limite de ser destruído. Acrescente-se: sem piedade. E manifestação de luto Aliás, incompatível com o egoísmo, a prepotência e a desumanidade que evidenciam no dia-a-dia.

Vem a propósito contar uma história verdadeira.

Estávamos – se não nos falha a memória – no ano de 1966. Em plena era de Salazar.

Algures, neste país, certo dia primaveril, em departamento oficial, um funcionário bem colocado numa posição cimeira da escala hierárquica do serviço, resolveu fazer uma brincadeira no retrato de Salazar; o qual, pendurado numa parede, para ali estava mostrando a soturna imagem do ditador com olhos de carneiro mal morto, pasmado, como se estivesse vigiando os funcionários. Que fez ele? Pintou um bigode no lábio superior da figura do Presidente do Conselho, como o caudilho era designado. Os circunstantes riram-se. O momento foi de boa disposição. Mas o chefe do sector administrativo quando viu a foto da criatura metamorfoseada não achou graça nenhuma. Ficou furibundo. Peremptório, afirmava que "aquilo" era uma grave falta de respeito para com Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho. No círculo dos seus subalternos insistia que tinha de se agir rapidamente (limpando o retrato) e em força na investigação de apuramento da autoria de tão ofensivo despautério.

Vai daí - e desde logo - propunha-se fazer participação a entidade superior com eventual encaminhamento à PIDE. (a polícia de repressão política do regime). Durante alguns dias pairou no ar a ameaça de, a breve instante, se assistir à entrada de rompante dos agentes da temível polícia. Valeu naquela ocasião o chefe do serviço onde exercia o "atrevido" prevaricador que, sensatamente, pôs água na fervura e desencorajou o colega, a não prosseguir nos seus destemperados intentos. Um chefe responsável que, apesar de ser um salazarista ferrenho, deu prova de justo discernimento. Escusado será dizer que, a quando do dia 25 de Abril de 1974, o "escandalizado" reprovador do bigode de Salazar, se portou com tal jeito que parecia um democrata convicto e fervoroso entusiasta do Movimento das Forças Armadas.

Isto contado para ilustrar como, em qualquer época, surgem criaturas mais papistas que o papa.

E para assinalar que também há gente oportunista com falha de carácter, sem resquícios de vergonha, que facilmente muda de vestimenta na praça pública...

Para terminar, aventamos que, brevemente, a directora da DREN seja colocada no Funchal, num serviço adequado e propício à meritória() tarefa de providenciar um expedito processo disciplinar ao Dr. Alberto João Jardim que, como se sabe, não morre de amores pelo chefe do Governo. Um processo devidamente precedido de suspensão de vencimento e transferência compulsória para Lisboa, onde – eventualmente – prestará a José Sócrates assessoria de proximidade com especial ênfase em asneirolas e correlativas boas maneirasA tão compenetrada funcionária não lhe faltará ocasião e motivo para mostrar a sua coragem, habilidade, eficiência e fidelidade ao grande chefe Sócrates (Já repararam como este país está predestinado a ter grandes chefes?... Atente-se na galeria onde se destacam: Salazar, Caetano, Jardim, Soares, Cavaco, Guterres, Durão, Santana, Sócrates. E quanto a resultados?...).

Antecipemos as palmas e os foguetes

Bem vistas as coisas e loisas tudo em conformidade:

- Ao Bem da Nação Socialista regida pela batuta do "grande" maestro Sócrates - o desembaraçado regente de todas as nossas desgraças quotidianas.

- Em prol dos misteriosos "grandes" objectivos do "Grande Oriente Lusitano"

- A favor da consagração do "grande" regime maçónico (também participado pela Opus Dei – a conhecida maçonaria branca) que nos chaga a paciência

E com a "grande" bênção do Grande Arquitecto do Universo

segunda-feira, junho 04, 2007

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arq.º Saraiva…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

Tema: A teoria dos grandes e pequenos passos no casamento… criada por Saraiva.

Se José António Saraiva se predispôs a “viver para contar” temos que entender a sua atitude como obedecendo a uma motivação de índole muito íntima que nos cumpre respeitar. Claro que se subentende que ele não se inclinou para uma decisão tão drástica, possivelmente muito trabalhosa e cansativa, de ânimo leve. Menos, ainda, que displicentemente, como quem se liberta de pesadelos, ficasse a sonhar nas nuvens e com o espírito a pairar no mundo da fantasia, descurasse essa obrigação que a si próprio se impôs. Ou que se limitasse a falar para os peixinhos do aquário e para as paredes. De todo arredada a hipótese de discorrer na escuridão da noite, isolado no quarto, sem ouvintes. Nem que alguma vez lhe tenha surgido a propensão para travar conversa, olhos nos olhos, com o fiel companheiro Paco. Igualmente, posta de lado a eventualidade de escrever sobre papéis avulsos rapidamente metidos na gaveta da secretária como se fossem apontamentos sem importância. Nada disso passou pela bem arrumada cabeça do famoso arquitecto-jornalista da praça alfacinha. Adiantamos a conclusão porque estão fornecidas as provas. Ele entendeu - e bem - que devia traduzir em letra de forma inúmeras recordações e variados temas que emergem no seu subconsciente. Daí e porque tem as portas do jornal abençoado pela prestimosa e beata Opus Dei, escancaradas à sua mercê, regularmente, à cadência do tempo contado por semanas, José António Saraiva com as melhores intenções de satisfazer a curiosidade dos indígenas, alardeando desprendimento de bens materiais e grande generosidade (impagável pelos dois euros do custo do irradiante Sol – que, recomendamos, deve ser fitado cuidadosamente de soslaio e com recurso a adequadas lentes para não provocar a cegueira ao afoito indígena) - nos brinda com as suas prosas descritivas, temáticas e (ou) doutrinárias.

Bem ponderado o assunto, admitimos sem esforço que, na qualidade de leitores, somos os destinatários involuntários das narrativas do arquitecto-jornalista Saraiva.

Costuma dizer-se que quando a esmola é grande o pobre desconfia. Mas não indo por aí, de ser ela grande ou pequena, cada qual saberá o que lhe convém absorver e decidir se aceita ou não a oferta de José António Saraiva. Pela nossa parte, temos mostrado disponibilidade e reconhecimento Assinalamos que, na medida das nossas possibilidades de autor residente na paisagem aquém de Lisboa, em rota de colisão com irmandades de tristes figuras e primorosamente censurado por Saraiva, retribuímos com aprazimento

E agora falemos da teoria dos grandes e pequenos passos atinentes à “crise do casamento”.

Para começar, anotamos que se fossemos nós daríamos preferência ao tema “O casamento das crises”. Não uma crise mas várias que se interligam e têm origem num ponto de partida incontornável (como está na moda dizer-se): a educação e a formação das mentalidades daquela decorrente.

E escrita esta nota ficam, em síntese, contraditadas muitas das considerações do articulista sobre a suposta crise do casamento. Verdadeiramente, esta, apontada por Saraiva não existe.

Quando um casamento se desfaz algumas coisas falharam e que determinaram o seu fim. De modo algum tal desfecho invalida a função e o benéfico alcance da instituição: casamento.

A família é uma célula da sociedade que funciona bem ou de forma satisfatória. Necessária! Imprescindível! Mas requer cuidados, aprofundamento na aquisição do conhecimento, na procura da acomodação e no empenho em compatibilizar feitios dos parceiros. O que é atingível durante o namoro – período pré-nupcial de observação, de estudo, de relacionamento, durante o qual se apuram as afinidades e se detectam as incompatibilidades. Se tudo isto vai sendo desprezado, esquecido ou desvalorizado, então culpe-se a sociedade que em vias de degradação arrasta o colapso da Educação. É na educação e formação das novas gerações que todos nos devemos empenhar. Nunca assumirmos atitudes de condescendência com as formas degenerativas em curso de liquidação não só da família como da sociedade portuguesa.

José António Saraiva contempla-se muito a divagar sobre o casamento encarado como a resultante apriorística incontrolável de uma teoria de grandes e pequenos passos, bem ou mal medidos, vários, indeterminados; algumas vezes prosseguidos à toa e invariavelmente determinados por factores ocasionais de todo imprevisíveis e de indefinível essência. Disserta largamente sobre o tema numa perspectiva de resignação que condensa no suspiro: “Enfim, é todo um mundo que muda”.

Mas, atenção: não nos precipitemos! Principalmente, no que concerne à escrita de José António Saraiva nem sempre o que parece é. Toda a prudência é pouca. E mais uma vez Saraiva se confunde arrastando no equívoco e na embrulhada o leitor mais crédulo ou menos precavido. Se juntarmos as habituais interrogações para as quais procura desesperadas respostas, verificamos que Saraiva acabou por ficar enredado: nos passos, nas incertezas, nas histórias e nas afirmações ambíguas ou de duplo sentido. De permeio, Saraiva faculta-nos imagens interessantes como a que se representa no seguinte trecho: “As mulheres casam mais tarde, têm filhos mais tarde e em menor número (porque é completamente diferente uma mulher engravidar estando em casa ou tendo de ir todos os dias para o emprego”). É de difícil interpretação esta frase… Em quê está a diferença de uma mulher engravidar estando em casa ou tendo de ir para o emprego? Se está em casa é como se “a ocasião faz o ladrão”? Ladrão aqui configurado no legítimo esposo ou na pessoa do “carteiro que bate duas vezes à porta” focado na obra de Pablo Nerhuda? Como a mulher engravida estando em casa? A forma, o processo, os jogos amorosos como se farão? Com maior ou menor carinho? E se tiver que ir para o emprego? Os actos que provocam as gravidezes nessa circunstância são diferentes no seu formalismo e circunstância? Praticados no lar? Nos meios de transporte? No emprego? Como? Onde? E com que parceiro? Aqui uma amostragem da escrita de Saraiva que deixa no ar várias suposições? Certamente que ele pensa: “Os leitores que se desenrasquem”

Depois, José António Saraiva num surpreendente arroubo confessa que partilha com todos o gosto “de protagonizar pelo menos uma vez na vida as histórias que nos preenchem o imaginário e nos fazem sonhar”. Histórias como as de César e Cleópatra e Sá Carneiro e Snu. Pois daqui acenamos a Saraiva: se esse devaneio, não conseguido, o incomoda tanto, como deixa transparecer (não havia necessidade de generalizá-lo à malta…), vá em frente Para que não venha a morrer frustrado e estúpido

Abreviando considerações façamos uma referência à seguinte informação de José António Saraiva: “A sociedade alimenta-se de heróis mas faz-se de pessoas comuns”.

O articulista, Saraiva, está ciente que a sociedade é antropófaga. Alimenta-se de heróisMas, vamos lá entendermo-nos. O que é ser herói? Os heróis existem? Onde se encontram? Quem são?

Arriscamos uma dica: Serão os “heróis” da censura constantes da banda desenhada nas direcções e redacções dos jornais, das rádios e televisões de Lisboa, na qual sobressaem as tristes figuras do próprio Saraiva, Marcelo Rebelo de Sousa, João Marcelino, José Carlos Vasconcelos, Rodrigues da Silva, Mário Crespo, Manuela Moura Guedes, José Eduardo Moniz, Almerindo Marques e de mais uns tantos cavalheiros e damas de fina estirpe democrática que, por agora, não vale a pena mencionar?

E perguntamos: “A sociedade alimenta-se de heróis” em regime de exclusividade? Tal como a galinha chega a encher o papo? A sociedade “faz-se de pessoas comuns? Faz-se? Como? O que é isso de fazer a sociedade com (e de) pessoas comuns? De heróis não porque, entretanto, terão sido comidos pela sociedade

E problema maior: que lugar atribuir ou proveito e desconsolo de não fazer a sociedade com pessoas incomuns? Estamos confrontados com uma tragédia engendrada por Saraiva. Pois se não servem de alimentação da sociedade (para isso aí estão disponíveis os heróis de Saraiva) e nem a sociedade se faz com eles, então que solução? Talvez, mandá-los para os quintos do inferno?

Fim