Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

segunda-feira, junho 04, 2007

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arq.º Saraiva…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

Tema: A teoria dos grandes e pequenos passos no casamento… criada por Saraiva.

Se José António Saraiva se predispôs a “viver para contar” temos que entender a sua atitude como obedecendo a uma motivação de índole muito íntima que nos cumpre respeitar. Claro que se subentende que ele não se inclinou para uma decisão tão drástica, possivelmente muito trabalhosa e cansativa, de ânimo leve. Menos, ainda, que displicentemente, como quem se liberta de pesadelos, ficasse a sonhar nas nuvens e com o espírito a pairar no mundo da fantasia, descurasse essa obrigação que a si próprio se impôs. Ou que se limitasse a falar para os peixinhos do aquário e para as paredes. De todo arredada a hipótese de discorrer na escuridão da noite, isolado no quarto, sem ouvintes. Nem que alguma vez lhe tenha surgido a propensão para travar conversa, olhos nos olhos, com o fiel companheiro Paco. Igualmente, posta de lado a eventualidade de escrever sobre papéis avulsos rapidamente metidos na gaveta da secretária como se fossem apontamentos sem importância. Nada disso passou pela bem arrumada cabeça do famoso arquitecto-jornalista da praça alfacinha. Adiantamos a conclusão porque estão fornecidas as provas. Ele entendeu - e bem - que devia traduzir em letra de forma inúmeras recordações e variados temas que emergem no seu subconsciente. Daí e porque tem as portas do jornal abençoado pela prestimosa e beata Opus Dei, escancaradas à sua mercê, regularmente, à cadência do tempo contado por semanas, José António Saraiva com as melhores intenções de satisfazer a curiosidade dos indígenas, alardeando desprendimento de bens materiais e grande generosidade (impagável pelos dois euros do custo do irradiante Sol – que, recomendamos, deve ser fitado cuidadosamente de soslaio e com recurso a adequadas lentes para não provocar a cegueira ao afoito indígena) - nos brinda com as suas prosas descritivas, temáticas e (ou) doutrinárias.

Bem ponderado o assunto, admitimos sem esforço que, na qualidade de leitores, somos os destinatários involuntários das narrativas do arquitecto-jornalista Saraiva.

Costuma dizer-se que quando a esmola é grande o pobre desconfia. Mas não indo por aí, de ser ela grande ou pequena, cada qual saberá o que lhe convém absorver e decidir se aceita ou não a oferta de José António Saraiva. Pela nossa parte, temos mostrado disponibilidade e reconhecimento Assinalamos que, na medida das nossas possibilidades de autor residente na paisagem aquém de Lisboa, em rota de colisão com irmandades de tristes figuras e primorosamente censurado por Saraiva, retribuímos com aprazimento

E agora falemos da teoria dos grandes e pequenos passos atinentes à “crise do casamento”.

Para começar, anotamos que se fossemos nós daríamos preferência ao tema “O casamento das crises”. Não uma crise mas várias que se interligam e têm origem num ponto de partida incontornável (como está na moda dizer-se): a educação e a formação das mentalidades daquela decorrente.

E escrita esta nota ficam, em síntese, contraditadas muitas das considerações do articulista sobre a suposta crise do casamento. Verdadeiramente, esta, apontada por Saraiva não existe.

Quando um casamento se desfaz algumas coisas falharam e que determinaram o seu fim. De modo algum tal desfecho invalida a função e o benéfico alcance da instituição: casamento.

A família é uma célula da sociedade que funciona bem ou de forma satisfatória. Necessária! Imprescindível! Mas requer cuidados, aprofundamento na aquisição do conhecimento, na procura da acomodação e no empenho em compatibilizar feitios dos parceiros. O que é atingível durante o namoro – período pré-nupcial de observação, de estudo, de relacionamento, durante o qual se apuram as afinidades e se detectam as incompatibilidades. Se tudo isto vai sendo desprezado, esquecido ou desvalorizado, então culpe-se a sociedade que em vias de degradação arrasta o colapso da Educação. É na educação e formação das novas gerações que todos nos devemos empenhar. Nunca assumirmos atitudes de condescendência com as formas degenerativas em curso de liquidação não só da família como da sociedade portuguesa.

José António Saraiva contempla-se muito a divagar sobre o casamento encarado como a resultante apriorística incontrolável de uma teoria de grandes e pequenos passos, bem ou mal medidos, vários, indeterminados; algumas vezes prosseguidos à toa e invariavelmente determinados por factores ocasionais de todo imprevisíveis e de indefinível essência. Disserta largamente sobre o tema numa perspectiva de resignação que condensa no suspiro: “Enfim, é todo um mundo que muda”.

Mas, atenção: não nos precipitemos! Principalmente, no que concerne à escrita de José António Saraiva nem sempre o que parece é. Toda a prudência é pouca. E mais uma vez Saraiva se confunde arrastando no equívoco e na embrulhada o leitor mais crédulo ou menos precavido. Se juntarmos as habituais interrogações para as quais procura desesperadas respostas, verificamos que Saraiva acabou por ficar enredado: nos passos, nas incertezas, nas histórias e nas afirmações ambíguas ou de duplo sentido. De permeio, Saraiva faculta-nos imagens interessantes como a que se representa no seguinte trecho: “As mulheres casam mais tarde, têm filhos mais tarde e em menor número (porque é completamente diferente uma mulher engravidar estando em casa ou tendo de ir todos os dias para o emprego”). É de difícil interpretação esta frase… Em quê está a diferença de uma mulher engravidar estando em casa ou tendo de ir para o emprego? Se está em casa é como se “a ocasião faz o ladrão”? Ladrão aqui configurado no legítimo esposo ou na pessoa do “carteiro que bate duas vezes à porta” focado na obra de Pablo Nerhuda? Como a mulher engravida estando em casa? A forma, o processo, os jogos amorosos como se farão? Com maior ou menor carinho? E se tiver que ir para o emprego? Os actos que provocam as gravidezes nessa circunstância são diferentes no seu formalismo e circunstância? Praticados no lar? Nos meios de transporte? No emprego? Como? Onde? E com que parceiro? Aqui uma amostragem da escrita de Saraiva que deixa no ar várias suposições? Certamente que ele pensa: “Os leitores que se desenrasquem”

Depois, José António Saraiva num surpreendente arroubo confessa que partilha com todos o gosto “de protagonizar pelo menos uma vez na vida as histórias que nos preenchem o imaginário e nos fazem sonhar”. Histórias como as de César e Cleópatra e Sá Carneiro e Snu. Pois daqui acenamos a Saraiva: se esse devaneio, não conseguido, o incomoda tanto, como deixa transparecer (não havia necessidade de generalizá-lo à malta…), vá em frente Para que não venha a morrer frustrado e estúpido

Abreviando considerações façamos uma referência à seguinte informação de José António Saraiva: “A sociedade alimenta-se de heróis mas faz-se de pessoas comuns”.

O articulista, Saraiva, está ciente que a sociedade é antropófaga. Alimenta-se de heróisMas, vamos lá entendermo-nos. O que é ser herói? Os heróis existem? Onde se encontram? Quem são?

Arriscamos uma dica: Serão os “heróis” da censura constantes da banda desenhada nas direcções e redacções dos jornais, das rádios e televisões de Lisboa, na qual sobressaem as tristes figuras do próprio Saraiva, Marcelo Rebelo de Sousa, João Marcelino, José Carlos Vasconcelos, Rodrigues da Silva, Mário Crespo, Manuela Moura Guedes, José Eduardo Moniz, Almerindo Marques e de mais uns tantos cavalheiros e damas de fina estirpe democrática que, por agora, não vale a pena mencionar?

E perguntamos: “A sociedade alimenta-se de heróis” em regime de exclusividade? Tal como a galinha chega a encher o papo? A sociedade “faz-se de pessoas comuns? Faz-se? Como? O que é isso de fazer a sociedade com (e de) pessoas comuns? De heróis não porque, entretanto, terão sido comidos pela sociedade

E problema maior: que lugar atribuir ou proveito e desconsolo de não fazer a sociedade com pessoas incomuns? Estamos confrontados com uma tragédia engendrada por Saraiva. Pois se não servem de alimentação da sociedade (para isso aí estão disponíveis os heróis de Saraiva) e nem a sociedade se faz com eles, então que solução? Talvez, mandá-los para os quintos do inferno?

Fim