Um texto sem tabus…
QUEM NOS ACODE? NESTE “ESTADO CLAUSTROFÓBICO” VIVE-SE NUMA “CLAUSTROFOBIA DEMOCRÁTICA”…
Brasilino Godinho
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No p.p. dia 25 de Abril houve sessão solene na Assembleia da República para festejar mais um aniversário da “Revolução dos Cravos”. Discursou o presidente da República. Que disse o chefe do Estado? De mais relevante uma referência a “Um regime em que sejamos governados por uma classe política qualificada, em que a vida pública se paute por critérios de rigor ético, de exigência e competência, em que a corrupção seja combatida por um sistema judicial eficaz e prestigiado”.
Parece que Cavaco Silva investido nas altas funções de supremo órgão de soberania acordou para a realidade do País.
Quem acompanha regularmente as nossas crónicas sabe que elas vão no sentido tardiamente apontado pelo actual presidente da República. Pena que devendo a Magistratura da Justiça ser a reserva moral da nação portuguesa, como temos escrito frequentemente, se registem falhas e atropelos que estão ao arrepio da eficácia, da transparência e do alto desígnio ético.
Também, o actual “presidente de todos os portugueses” procedeu bem em falar da corrupção e esquecer a infeliz intervenção que fez no mesmo lugar, há anos, quando na qualidade de chefe do Governo declarou, agastado e com veemência, que ela não existia em Portugal. É bom que mudando os tempos também se mudem as vontades e os tons das afirmações. Palmas para o presidente Aníbal Cavaco Silva!
Mas falando de qualidade da classe política e de moralidade na vida pública, o presidente sabe que elas andam pelas ruas da amargura.
Desde logo, ali naquele cenário de pompa e circunstância, isso foi demonstrado pelas equívocas atitudes de uns tantos deputados e os deploráveis teores de algumas intervenções oratórias.
O deputado Paulo Rangel, do PSD, invectivou desabridamente Sócrates e o Governo “esquecendo” o descalabro que vai pela Madeira e outros telhados de vidro da casa da sua família partidária. Inclusive, com o Alberto João Jardim a inaugurar todos os dias, sem pudor e sentido de Ética, obras públicas em pleno período de campanha eleitoral.
Numa impressionante manifestação de ligeireza no discurso, Rangel introduziu uma pacóvia expressão de antologia picaresca nos anais da oratória parlamentar. Disse o deputado social-democrata: “Vive-se numa claustrofobia democrática”. Estupenda afirmação!... Ou insensata apóstrofe? Por que não considerá-la hilariante? O orador falou com ar sério. Carrancudo. Não se riu. Ameaçador, apontou o dedo
Apreciando o caso: gostaríamos de saber se naquele grupo de deputados entusiasmados que bateram palmas haveria algum que soubesse explicar o que é essa coisa de “claustrofobia democrática”? Claro que claustrofobia quase toda a gente sabe do que se trata. Mas admitindo que haja algum parlamentar mais esquecido das aprendizagens escolares aqui deixamos a definição: “Forma de neurose caracterizada pela aparição de angústia quando o individuo se encontra num lugar fechado”.
Interrogamo-nos: O que será a “claustrofobia democrática”? Quem a vive? Paulo Rangel, autor da expressão, sente-se enfermo dessa neurose (pelos vistos, “democrática”)? Vive num lugar fechado? Considera-se encarcerado no seu partido? Refém na Assembleia? Tal neuropatia está generalizada à sua bancada? Ou tornada extensiva a grandes faixas da sociedade? E dai a ter classificado de democrática? Mas como chegou a essa conclusão? Rangel é psiquiatra com habilitações académicas para cientificamente extrair essa verificação? Ou estaremos todos enlouquecendo e ele, Rangel, julgando-se imune à patologia fica, de través, a observar a sua evolução como se fosse uma epidemia como a gripe que ataca no Inverno? Na esperança dela dizimar o chefe Sócrates e o governo socialista? O que a acontecer, talvez lhe abrisse o acesso ao poleiro do Poder… E aí outro galo cantaria em louvor da bendita “claustrofobia democrática”…
Da mesma forma expansiva aconteceu com a propagação da asneira. Pressurosa, no dia seguinte, a jornalista Ana Correia botou escrita no JN e pôs em título que “PSD fala de Estado “claustrofóbico”. Este palavrão estrambótico faz-nos admitir que o Estado português sofre da fobia… de claustrofobia. Aqui, nesta expressão, mais uma dificuldade suplementar. Será esta “claustrofobia” do Estado, democrática? Ou, simplesmente, o Estado, encontrando-se fechado nas quatro paredes que delimitam o perímetro do Palácio de S. Bento, está angustiado, doente neurótico, sem tino democrático, a necessitar de internamento num hospital psiquiátrico? Quer dizer que não bastando os deputados viverem na “claustrofobia democrática” engendrada por Paulo Rangel temos, agora, que arcar com o pesadelo de um “Estado claustrofóbico”? Gaita! Que grande gaita!...
Igualmente, por infeliz casualidade, naquele Palácio de S. Bento, após o termo da sessão solene, o primeiro-ministro José Sócrates, comentando as palavras de Paulo Rangel e em resposta às perguntas dos jornalistas, frente às câmaras de televisão, disse tratar-se de “bota-baixismo”. Assim tivemos o remate da cereja colocada sobre o bolo…
Numa oportuna e auspiciosa relação de boa causa e de necessário fim, com os elevados graus de exigência e qualidade da classe política e dos operadores jornalísticos, preconizados pelo presidente da República, ousamos sugerir ao parlamentar, ao governante e à jovem jornalista, que façam uns estudos de reciclagem
É que por efeitos daqueles citados e outros semelhantes atropelos linguísticos eles, empedernidos políticos de meia-tigela e elas, desenrascadas amazonas da arte de (a bem ou a mal) cavalgar o jornalismo, “hadem” dar cabo da Língua Portuguesa – com a devida vénia, empregando o termo verbal usado por um conhecido homotérmico de Lisboa, aparentado à conceituada família dos Leporídeos, ex-ministro socialista, bastante ocupado - nos últimos tempos - com um complexo e insolúvel problema geométrico… sob os holofotes da estação televisiva SIC.
Fim
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