Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

segunda-feira, abril 23, 2007

Prezadas damas

Caros senhores

Junto as “SARAIVADAS” da semana.

As de hoje, com sabor alfacinha e sentidos (também apreciados) cheiros…

Saudações cordiais.

Brasilino Godinho

Um texto sem tabus…

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arq.º Saraiva…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

Tema: Saraiva sente o cheiro de Cais do Sodré…

Mais: saboreia-o!

Esta semana, José António Saraiva no seu afã de “viver para contar” leva-nos até ao Cais do Sodré, em Lisboa.

Começa por dar a informação que o Cais do Sodré “é a única praça de Lisboa onde se pode tomar qualquer meio de transporte. Com excepção do avião, claro”.

Escuro, dizemos nós… Seria bom que - não podendo o Aeroporto da Portela estender-se ao Campo Grande, até à porta da residência do conhecido político João Soares (assanhado opositor da solução da Ota) assim facilitando-lhe a vida e o mínimo de esforço nos trajectos de ida para o avião e de regresso a casa – também fosse possível tomar o avião naquele largo que, segundo Saraiva, se assemelha a uma babilónia., onde “há gente a correr para apanhar o comboio” e “filas de pessoas caminhando em passo acelerado para não perder o barco”. Também, os indígenas que se misturam: uns que vão para os eléctricos; outros que esperam autocarros. “Para não falar dos que se atropelam para apanhar um táxi, que muitas vezes está ocupado. E em baixo, nos subterrâneos, movimenta-se uma mole humana que chega ou parte de Metro”.

Feita a descrição da mobilidade humana o Arq.º Saraiva diz-nos: “Não é vulgar encontrar, mesmo procurando pelo mundo fora, um largo servido por todos os meios de transporte. Mas curiosamente, apesar de já ter por lá passado milhares de vezes, só há dias me dei conta disso”.

Vamos por partes. O que nos parece invulgar é alguém se preocupar em encontrar “um largo servido por todos os meios de transporte”. Igualmente, muito improvável que algum excêntrico se dê ao imenso e exaustivo trabalho de tal largo procurar pelo mundo fora. Mesmo dando de barato que desista de o localizar pelo mundo dentro

“Curiosamente, apesar de já ter por lá passado milhares de vezes, só há dias me dei conta disso” – escreveu, textualmente, José António Saraiva.

Valha-nos o santo padroeiro de Lisboa! Então um cidadão passa milhares de vezes pelo Cais do Sodré, sempre distraído? E sendo antiga, como Saraiva afirma, a sua relação com o Cais do Sodré, que explicação ou justificação para tamanha desatenção? Os agentes reguladores do trânsito devem manter Saraiva “debaixo de olho”? Ele pode ser um perigo para o tráfego… Ainda para agravar o pandemónio – exactamente, numa “babilónia”…

Depois, Saraiva dá-nos uma referência inquietante… Havia por aquelas bandas um Porto de Abrigo, onde comia de vez em quando. Hoje não há mais porto, nem abrigo… Sequer rei a fazer anos…O citado refúgio está agonizante. Rezem por sua alma…

Formidável, o seguinte apontamento do Arq.º Saraiva: “Vale a pena passar por ali e sentir o cheiro – que a uma primeira impressão pode parecer pestilento, nauseabundo, mas que depressa se percebe estar impregnado de significado e de História. E enquanto se saboreia o cheiro admire-se o espectáculo das toneladas de salgados expostas nas prateleiras, penduradas no tecto ou acamadas em sacas de serapilheira”.

Sobre tal apontamento, desde logo nos interrogamos: “vale a pena passar por ali e sentir o cheiro” que para Saraiva é pestilento e nauseabundo? Saborear o cheiro? Comê-lo devagar, requintadamente e com prazer? Só masoquistas se disporão a essa experiência de tão repelente efeito. Embora “depressa se percebe estar impregnado de significado e de História”. Como assim? O cheiro horrível está impregnado de significado e de História?

Outra questão: Estará ao alcance de qualquer indígena aquele específico olfacto histórico de Saraiva? Além da circunstância única e intransmissível, de nele ser rápida a percepção do significado e da História estarem radicados no tal cheiro (muito mal cheiroso, passe a redundância), porquê isso haveria de suscitar prazer, interesse ou curiosidade?

E que dizer da dúvida subjacente: a abstracção em causa é de tal intensidade que - a uma segunda, terceira ou mesmo quarta impressões de um vulgar cidadão sem olfacto histórico - anula “o cheiro pestilento e nauseante”?

Ficámos baralhados e incrédulos quando Saraiva indica que “enquanto se saboreia o cheiro” (pestilento e nauseabundo) “admire-se o espectáculo das toneladas de salgados expostas nas prateleiras (…)”. Perguntamos: as toneladas expostas?... penduradas?... acamadas?... E dão espectáculo? De acrobacia? De cor? De dimensão ciclópea? De que natureza?

Na parte final da sua crónica o Arq.º Saraiva manifesta alguma frustração pelo insucesso das continuadas tentativas de persuasão junto de um desenhador do seu gabinete de arquitectura, que era um assumido chulo, no sentido de ele acabar com aquela situação imoral. O bom patrão Saraiva, revendo-se na melhor das intenções, fez tudo por reconduzir o devasso ao bom caminho. Infelizmente, em vão. Com trágicas consequências. O homem era incorrigível.

Pela nossa parte, após a leitura, compenetrados da tristeza de Saraiva e com o louvável propósito (segundo pessoal avaliação) de ajudar o arquitecto-jornalista a superar o trauma do desagradável insucesso como pedagogo e orientador de consciências mal formadas, veio-nos à lembrança um caso verídico também relacionado com a sexualidade, embora de cariz diferente da reportada no escrito em causa.

O caso foi revelado pelo distinto psiquiatra e reputado escritor sueco Axel Munthe, autor da conhecida obra “O LIVRO DE SAN MICHELE”. Ele fora consultado por um jovem diplomata que pretendia cura para a sua homossexualidade. O Dr. Axel Munthe esforçou-se durante uma larga temporada por conseguir libertá-lo da compulsiva tendência. E após as diversas fases de aparências da cura e das sucessivas recaídas, o famoso médico viu-se compelido a admitir o fracasso do seu tratamento. Mais tarde – à semelhança do que ora manifestou Saraiva relativamente ao seu colaborador de gabinete – o Dr. Axel Munthe amargamente reconheceu que: “Se ao tempo soubesse o que sei hoje, nem sequer teria tentado”.

Face ao que lemos, depreende-se que José António Saraiva, tantos anos decorridos, terá chegado a idêntica conclusão.

Terminamos, tal e qual Saraiva:”Todos os caminhos vão dar ao Cais”…

Fim