Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

segunda-feira, novembro 27, 2006

Um texto sem tabus…

AS NOVAS CORTES…

AGORA, EM CORTES-LEIRIA…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

As Cortes remontam ao tempo da Monarquia. Inicialmente, eram assembleias dos representantes do Clero, da Nobreza e do Povo convocadas pelo soberano reinante. E que se realizavam sob a presidência de Sua Alteza. Geralmente ocorriam espaçadas no tempo, sem datas predeterminadas e para debaterem assuntos da maior importância para o Reino.

Com o advento da República as Cortes foram substituídas pela Câmara dos Deputados, a qual reunia com regular frequência durante o período de cada legislatura.

No entanto, já na vigência da actual terceira república registou-se a particularidade de a suprema magistratura do Estado ter sido ocupada por uma alta individualidade – o Dr. Mário Nobre Soares - a quem no consenso público se atribuiu o estatuto invulgar de Presidente-Rei. É um caso único na História de Portugal.

Claro que sendo o apelido Nobre um indício de uma virtual ascendência com sangue azul e, possivelmente, corresponder a um qualquer vínculo ao ideal monárquico, ao tempo, o facto não deu azo à relutância do povoléu; nem a titularidade da função de Chefe do Estado com tão esquisita formulação provocou qualquer embaraço no seio da corte de D. Soares I, alguma estranheza nos frequentadores dos Passos Perdidos do Palácio de S. Bento ou aborrecido incómodo nos fiéis adoradores do templo da venerável fraternidade – estes últimos conhecidos por serem, habitualmente, muito intolerantes com irrelevantes heresias e pequenos desvios de ordem funcional…

E se o Presidente-Rei, D. Mário Soares I, enquanto no exercício da sua altíssima magistratura, nunca deu realce público às suas cortes reunidas em ocasionais conclaves; certo é que expirado o prazo de validade da sua presidencial-real dignidade e remetido à condição de presidente da Fundação Mário Soares vem dando expressão mediática às celebrações dessas assembleias, representadas no formato de jantares-conferências que, por regra, acontecem na Casa-Museu João Soares, sita na povoação de Cortes, concelho de Leiria.

Dada a convergência dos factores de nobreza, presidência e realeza do mentor, do aparato do cenário, da natureza dos assuntos postos à consideração dos participantes, da ressonância do evento nos meios de comunicação social e da fama dos ilustres conferencistas, pode dizer-se, com propriedade, que estes selectos encontros, sempre revestidos da maior solenidade e celebrados com obediência a protocolo e ritual próprios, são as modernas cortes que, sem dúvida, constituem brilhantes ornamentos da república que, indígenas, usufruímos com aquele mínimo proveito autorizado pelos governantes; estes, certamente guiados pelas suas excelsas e misericordiosas almas e pela validade e oportunismo das suas desconsertadas e inapeláveis competências…

É notório que as cortes do ex-Presidente-Rei, D. Mário Soares, prosseguem três objectivos: manter viva a tradição das Cortes; dilatar, num prolongado tempo, o fulgor da presidencial reinação de D. Soares I; e estabelecer sólidas bases de continuidade da nova dinastia soarina (de matriz híbrida repúblico-monárquica).

Por outro prisma, as Cortes do ex-Presidente-Rei evidenciam um expressivo cunho de modernidade. Desde logo, porque enquanto nas antigas cortes assentavam os membros do Clero, da Nobreza e do Povo, nas actuais, presididas pelo D. Mário Nobre Soares, não têm assento os representantes do Povo. Também se nota a ausência dos clérigos. E quanto a nobres a selecção faz-se no círculo restrito da fraternidade que se revê e se deslumbra no grande horizonte do não menos grande oriente lusitano…

O facto de estarmos a falar das cortes de D. Soares I tem a ver com a última realizada nos Cortes no p.p. dia 22 de Novembro.

Desta vez, as Cortes contaram com a presença do ex-presidente da República Jorge Sampaio que foi o orador de serviço. Segundo foi noticiado o Dr.Jorge Sampaio dissertou sobre Portugal – cuja afirmação como “país não se mede em função da dimensão do território ou do PIB (Produto Interno Bruto) mas da sua capacidade de se afirmar como parceiro credível, empenhado em contribuir efectiva e activamente para a resolução dos problemas e para o desenvolvimento de políticas inovadoras”.

Interrompemos a citação para tentarmos perceber… O país e o PIB são pequenos; todos sabemos. Nada a opor... Mas, será que “o país se mede em função da capacidade de se afirmar como parceiro credível”? Medir o país? Ao metro? Ao quilómetro? Em área? Quem está interessado em medi-lo? Algum português? Desnorteado estrangeiro? Porquê medi-lo? Parceiro credível em relação a quem? E por que ser credível para outrem que não em primeiro lugar para nós mesmos? Igualmente, “empenhado em contribuir efectiva e activamente para a resolução dos problemas”. Quais problemas? Dos outros países? Dos imensos que nos dizem directamente respeito? Do exorbitante poder da Maçonaria na governação e nos sectores vitais da sociedade portuguesa? Da Educação? Da Saúde? Do Ensino? Da Economia? Do Comércio Externo? Do Orçamento? Da Justiça? Da Segurança Pública? Da Cultura? Do abandono e maus-tratos dados à Língua Portuguesa em Portugal e na Diáspora? Do Ambiente? Da questão de Olivença? Da censura que se faz às escondidas em Portugal? Das autonomias dos Açores e da Madeira? Do futebol? Da pedofilia? Da fraude fiscal? Da excessiva produção de “tachos”? Do descomunal abismo entre os ricos e os pobres? Da corrupção? Do tráfico de influências? Das clientelas partidárias na Administração e na Função Pública? Dos enormes gastos com os funcionamentos da Presidência da República, do Governo e da Assembleia da República? Da falta de seriedade e ausência de ética na política em Portugal? Ou o Dr. Sampaio quer referir-se aos problemas da Geometria? Da Matemática? Da Física? Da Química? – os quais tanto perturbam os discentes das escolas. Da linguística? - que estão chagando a paciência dos estudantes e professores de Português, dos ensinos básico e secundário.

Do mesmo modo, o que se depreende da contribuição efectiva “para o desenvolvimento de políticas inovadoras”? Quais políticas? Em que áreas? Com que objectivos? Para aplicação em Portugal? Na Comunidade Europeia? Ou praticadas à escala mundial? Inovadoras? Prestáveis, com boa utilização? Ou tão inúteis e de maus resultados que melhor será rejeitá-las à nascença?

Depois o ex-presidente foi dizendo que “(…) um país como o nosso(…) e com as necessidades derivadas do seu perfil, será determinante apostar numa política externa dinâmica, forte e adaptada às realidades do nosso tempo”. Ao lermos esta passagem ficam-nos as dúvidas: Qual é o perfil de Portugal? E quais são “as necessidades derivadas do seu perfil”? E se as ditas “necessidades derivadas do seu perfil” determinam uma política externa dinâmica e forte, o que se pode entender como política forte derivada das necessidades do perfil de um país tido e achado como fraco? Aliás, é mesmo o perfil que impõe as necessidades? Não será a Nação? E as precárias condições de vida dos portugueses que determinam as necessidades? E que fazer com as eventuais necessidades que nem sejam derivadas do famigerado perfil? Como destrinçar umas e outras? Ainda uma interrogação: em que medida as necessidades derivadas do perfil de Portugal podem determinar a aposta numa “política externa dinâmica e forte”? Presumindo que as necessidades são muitas que se originam e revertem na fragilidade do perfil (fraco de sua natureza) como admitir uma política externa forte e dinâmica? Onde buscar a fortaleza e o dinamismo? E essa hipotética política externa iria suprir as necessidades derivadas do perfil de Portugal?

Em vista disto, anotamos que o Dr. Jorge Sampaio tem o condão de nos deixar baralhados…

Ainda na intervenção deste ex-presidente da República, houve um aspecto importante que os jornais não salientaram: a sua autocrítica. Foi muito notada a repetida declaração: nesta altura sinto mais liberdade para me pronunciar sobre a situação política e o estado do País. Assim, o Dr. Sampaio está descobrindo, com redobrada atenção, que a prioridade é a Educação. E que falta justiça social.

Pois tarde fez a descoberta… Sem responsabilidades de natureza institucional o ex-presidente da República, Jorge Sampaio, veio reconhecer que, antes, andou como um vulgar actor do teatro político a fazer-de-conta que não se apercebia da gravidade do real estado político-social da Nação.

Enfim, agora, parte dele a confirmação do acerto das nossas muitas críticas às suas actuações como presidente da República Portuguesa. Melhor teria sido para o povo que não tivéssemos razão.

terça-feira, novembro 21, 2006

Um texto sem tabus…

O ZÉ-POVINHO QUE PAGUE A CRISE…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

O Orçamento apresentado pelo governo relativamente ao próximo ano é o instrumento regulador da actividade governamental que estabelece as previsões das receitas do Estado e das despesas da Administração Pública. Dele sucede determinante influência na economia nacional – afinal, tudo aquilo que repercute sobre as condições de vida dos cidadãos portugueses.

A discussão do Orçamento na Assembleia da República foi triste, enfadonha, redundante e arredada do verdadeiro sentir da comunidade. Serviu para todos nos darmos conta da falta de sinceridade e pouca credibilidade da classe dirigente do País, do marasmo do Estado e da decadência da Nação.

No documento e na discussão evidenciaram-se os interesses que condicionam a acção governativa e revertem na deficiente qualidade de vida dos portugueses.

O sentido político-social do documento insere-se num contexto economicista de todo arredado das preocupações de justiça social que seriam inerentes à concepção de um Estado de Direito de raiz genuinamente democrática – que, infelizmente, não é o caso de Portugal.

Não se viu da parte dos deputados e governantes o empenho na prossecução de uma política que contemple objectivamente o desenvolvimento do país, sincrónico com a elevação dos padrões de vida dos portugueses. Aliás, não vai haver desenvolvimento até por causa do decréscimo dos investimentos nos sectores público e industrial; o que é previsível face ao negro quadro delineado de elevação de impostos e de cortes de meios financeiros substanciais em áreas extremamente importantes como são a Educação e a Investigação. E quando isso acontece e os impostos acrescem nas bolsas dos contribuintes e nas caixas das empresas certo que o progresso passa a tornar-se uma miragem. E o alívio das dificuldades sentidas pelas populações e pelas empresas manter-se-á inatingível.

Da parte do governo e do grupo parlamentar que o apoia notou-se a obsessão do défice que se pretende reduzir à custa do “sangue, suor e lágrimas” das classes mais desfavorecidas e muito frágeis da sociedade portuguesa. Uma programação que é gizada sem atingir minimamente aqueles que desfrutam de altíssimas remunerações e de bastantes rendimentos e que, por sinal, são os que reclamam a toda a hora com veemência e alta gritaria que é necessário não aumentar os salários dos trabalhadores – especialmente os da Função Pública. Certamente, para eles próprios retirarem os maiores dividendos.

Trata-se de gente expedita, demasiado insensata, que ousa exigir coragem ao Governo para assim maltratar os cidadãos mais carenciados. Se calhar, na mesma equivalência do que lhe sobra em cinismo, falta de vergonha, e ausência de moral; a que se adiciona um enorme egoísmo e uma grande carência de seriedade intelectual.

Num cenário de imensas dificuldades e de pelintrice geral onde sobressaem os arautos dos apelos aos sacrifícios de todos os portugueses, quais são as privações a que se sujeitam os detentores dos poderes políticos, os homens do grande capital e os demais privilegiados que dispõem de chorudas reformas e dos maiores rendimentos? Eles, de forma obscena, passeiam-se pelas avenidas em caríssimos carros, frequentam os locais de diversão mais luxuosos, gastam à-tripa-forra alardeando soberba e ostentação. Não se coíbem de mostrar elevados níveis de consumos supérfluos. Verdade seja dita: por que haveriam de se preocupar com essas balelas dos cuidados, dos pudores e das inibições?... O mundo português não é deles? Claro, a vida airada corre-lhes de feição. Ademais, escapam às arremetidas do Fisco. Para eles e no que concerne a proveitos e mordomias, tudo e mais alguma coisa converge e acumula. No que concerne aos outros, portugueses de segunda e terceira classes, os governantes e os portugueses da primeira classe endinheirada e protegida, reservam o indecente desígnio: comam o pão que o Diabo amassou, se ainda vos restar alguns cêntimos para o adquirir… Pois, que se lixem!

Os funcionários e aposentados da Função Pública, os reformados, os deficientes, os trabalhadores por conta de outrem, os empregados fabris, todos os que se integram nos grupos mais problemáticos da sociedade portuguesa, estão confrontados com iníquas condições de vida, quiçá de subsistência, como acontece com os desempregados das fábricas que fecham e das empresas que abrem falência. Se a generalidade destes portugueses vivem com extrema dificuldade com salários que são os mais baixos da União Europeia e milhares deles simplesmente vegetam sem meios materiais para proverem ao seu mínimo sustento, como se pode admitir que o Governo decrete a atribuição de impostos sobre os seus pequenos salários, pensões, reformas, subsídios, vencimentos – os quais até, agora, estavam isentos. Como isto é possível? Que governação (dita socialista, apregoada devota da fraternidade e suposta praticante da igualdade na aplicação da justiça fiscal) desumana é esta? Qual aceitação devemos conceder a tais políticos? Que fazer com estes governantes?

O Governo insiste no fado choradinho das medidas que urge tomar para equilibrar as Finanças. Logo há que conter os salários, criar ou atribuir obrigatoriedade de pagamento de impostos mesmo a quem já não tem meios de sustentação individual e familiar. Mais reclama contenção de despesas e faltas de verbas para ocorrer a prementes necessidades dos organismos oficiais.

No entanto, o mesmo Governo continua a esbanjar no recrutamento de pessoal dos ministérios; na aquisição de automóveis topo de gama; na concessão de benefícios e regalias a altos funcionários; na criação de novos organismos; nos reforços de dotações para a Assembleia da República, para as viagens de várias altas entidades da República, para celebrações da mais variada espécie. Além disto, nem move uma palha no sentido de acabar com a imoralidade de tantos auferirem chorudas pensões; também elas, causadoras do desequilíbrio financeiro da Segurança Social (um tema ignorado pela comunicação social subserviente e acomodada). Igualmente, importa afirmar que é inadmissível que se gastem milhões de euros com os destacamentos militares em várias regiões do globo como se Portugal fosse um país rico e se pudesse permitir essas exibições para inglês ver.

Tudo isto significa que os sucessivos (des)governos conduziram Portugal e os portugueses para uma deplorável situação político-social que, sobremodo, nos penaliza e nos envergonha no contexto da União Europeia. Mais releva a impunidade dos responsáveis por esta desolação. Quais? Os governantes que se sucederam nos últimos decénios.

Para terminar, a referência a um insólito dado obscuro, vindo à baila durante o debate do Orçamento, que causou grande reboliço.

Este governo “descobriu” tarde e nesta péssima hora que a Banca é contribuinte privilegiada que se limita a pagar uma percentagem ínfima das contribuições ao Fisco. O Orçamento apresentado na Assembleia da República faz uma tímida referência à possibilidade de a Banca iniciar em 2007 pagamentos de aproximação aos valores das taxas cobradas pelo Fisco às empresas.

Tal enunciado de intenções suscitou violentas reacções do presidente do “grémio” bancário, a Associação Portuguesa de Bancos (APB) e de alguns cronistas dos órgãos de comunicação social mais influentes na sociedade portuguesa. Nestes, lemos e ouvimos virulentos comentários bem elucidativos das conspícuas ligações que uns tantos jornalistas e comentadores têm com a Banca e outros interesses associados ao grande capital e a ocultas instituições.

Assinale-se: estas personagens nem trazem nada de novo ao esclarecimento e formação de uma sadia opinião pública. Porque agindo como vozes dos donos do sistema, seus tutores, não contribuem para a formulação de soluções para debelar a crise profunda em que estamos mergulhados. Pelo contrário, obstinam-se em baralhar os factores a considerar na análise e no funcionamento da Economia e no comentário e na apreciação da Política. E fazem-no conscientes de estarem a confundir e manipular os cidadãos. Com descaro, ao serviço das respectivas tutelas.

Este aspecto é um problema sério com que nos enfrentamos na actualidade.

quinta-feira, novembro 16, 2006

LUMES E CHEIAS

Estimadas senhoras,
Caros senhores

Junto uma crónica séria acerca de um problema que nem parece ser sério...

Ou - se preferirem - aqui se apresenta um problema sério numa crónica que nem parece ser tratada muito ao sério...

Qual das duas asserções é mais séria? Ou serão as duas?

E por que não ponderar que a crónica e o problema, constituindo-se como uma entidade única, são intrinsecamente sérios?

Proponho: Leiam o texto; olhem a paisagem sugerida e escutem as vossas consciências...

Depois... Veremos, como dizia o cego da outra banda...

Brasilino Godinho
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Um texto sem tabus…

LUMES E CHEIAS,

AS NOVAS ATRACÇÕES TURÍSTICAS…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com)

Ainda há pouco nos confrontávamos com os fogos florestais. Um flagelo que varreu o território continental desde o Minho ao Algarve. Ele já se tornou uma rotina de tormentos, desgraças e prejuízos, sem que se vislumbre uma qualquer tábua de salvação libertadora ou algo que leve as populações a respirarem de alívio e a encararem com alguma esperança um futuro melhor. Num tal sentido nem se deparam, no terreno, as acções concretas.

Os anos vão-se sucedendo e os serviços oficiais de protecção civil não agem em profundidade, tão-pouco se organizam capazmente para enfrentar as situações de calamidade pública relacionadas com os incêndios florestais.

Os governantes, numa cadência regular, acenam com medidas de prevenção e combate aos incêndios florestais, asseverando que para o próximo ano se sentirão os efeitos favoráveis de modo a reduzirem-se as quantidades das ocorrências e as áreas ardidas. Mas, na prática, sucede o contrário. Todos os anos o número de fogos aumenta e se nalgum Verão pouco diminuem, a amplitude das nefastas consequências excede a dimensão verificada no ano anterior.

Quando se endereça escrita ou fala para os governantes no sentido de tomarem iniciativas sobre o repovoamento florestal, com áreas de plantações de várias espécies arbóreas adaptadas aos terrenos e dispostas de forma a quebrarem a progressão do fogo; quanto à instalação de postos de vigilância; à abertura de aceiros, arrifes e caminhos de penetração nas florestas; ao estabelecimento de áreas de contenção do fogo, limpas de coberto vegetal; à existência de sapadores florestais que trabalhem regularmente segundo um plano de limpeza das matas; à construção de depósitos de água e à mobilização regular dos militares em missões de patrulhamento e de desobstrução dos terrenos e linhas de água – parece que nos exprimimos em chinês, tal é a indiferença com que eles acolhem estas e outras similares intervenções de quantos vêem alertando para estas acções que seriam de largo alcance se atempadamente concretizadas no terreno.

Não há maneira de se acertar na organização do sistema de prevenção e combate aos fogos florestais. Pouco se faz no que concerne a este domínio da Protecção Civil. Existe legislação sobre a matéria mas falham os instrumentos para a sua cabal aplicação. Até nos centros das cidades, vilas e aldeias, se nos deparam manchas florestais a rodearem casas de habitação. E não há entidade que zele pelo cumprimento da lei que obriga à existência de uma área em redor do espaço edificado, de protecção, livre de mato ou de denso arvoredo. As juntas de freguesia e as câmaras municipais fazem vista grossa e permitem a manutenção das situações de potenciais riscos de incêndio ou de queda das árvores de grande porte sobre as casas. Até um dia… Em que haja sinistro que determinará apuramento de responsabilidades criminais em sede de tribunal judicial.

As consequências dos lumes nas matas e nos matagais são extremamente gravosas para a economia nacional. Os danos ambientais são imensos e desoladores. Nos terrenos ficam depositados os resíduos das árvores ardidas e as cinzas formando camadas impermeabilizadoras cujos efeitos se notarão quando vierem as chuvas. Efeitos a traduzirem-se na erosão dos solos das encostas e na formação de volumosos caudais que, em torrente, afluirão às linhas de água nos fundos dos vales causando o transbordo das margens e as grandes inundações.

E se juntarmos a obstrução dos ribeiros e rios causada pelas ramagens e detritos de várias espécies neles existentes – o que dantes era evitado pelas actividades fiscalizadoras e actuantes dos prestimosos guarda-rios (cujo quadro, nos serviços hidráulicos oficiais foi extinto indevidamente); a intensiva e desordenada impermeabilização dos solos nos aglomerados populacionais; o desleixo nos cuidados de limpeza e manutenção das redes de esgotos das águas pluviais; a crescente e irresponsável construção de redes de esgotos mal projectadas e (ou) construídas; o deficiente dimensionamento das secções de vazão das passagens hidráulicas nos atravessamentos de aterros (estes, a funcionarem como barragens de detenção de caudais); as permissivas construções em leitos de cheias; as disparatadas implantações de estradas ao longo dos fundos dos vales; a indesculpável incúria na limpeza das valetas e dos aquedutos das vias rodoviárias e das sarjetas e sumidouros dos arruamentos; as descargas de emergência das barragens; temos definido um quadro de colapso funcional das bacias hidrográficas. Um colapso que dá azo às grandes inundações que tão gravemente atingem a segurança das populações e lhes causa terríveis danos patrimoniais.

Assim se explica que, na actualidade, as situações de cheias devastadoras ocorram quando menos se espera, sejam mais céleres na sua formação e provoquem maiores prejuízos. E que, incrivelmente, nalgumas vezes, ocorram em locais de mais elevada cota, como já aconteceu em Aveiro (no Largo das Cinco Bicas).

Enquanto há quarenta anos as inundações advinham de continuadas e intensas quedas de água durante alguns dias ou semanas, agora uma “chuvada crítica” (expressão técnica que designa uma muito intensa precipitação num curto período e numa zona confinada) provoca torrentes de enormes velocidades de escoamento que multiplicam os efeitos assoladores comuns às grandes inundações.

Todos estamos conhecedores que tudo isto já se tornou uma tradição. Infelizmente, também se intui a tendência de nos contemplarmos na resignação e indiferença perante a incompetência e a negligência dos detentores dos poderes central e locais. Do mesmo modo, tendemos a acomodarmo-nos à ideia de impotência, face às terríveis consequências de tão dramáticos fenómenos que parecendo ser naturais não o serão inteiramente porque neles convergem as más intervenções ou as condenáveis omissões dos homens.

E se é assim uma fatalidade...

Então, vamos conviver com as situações dos lumes e das cheias. Mas tirando partido delas. Lembrando-nos que uma moeda tem sempre duas faces. No caso dos incêndios florestais o verso é o lado negativo. O anverso será o positivo. Igualmente, recordando a Lei de Lavoisier: “Na Natureza nada se perde, nada se cria; tudo se transforma”. Não deixemos os fogos extinguirem-se sem deles se extrair algum proveito… Já que estão criados e fazem parte dos programas dramáticos admitidos pelos governantes para as estações da Primavera e do Verão, vamos resolutamente transformá-los em atracções turísticas…

Ao Governo e às autarquias - já que não são capazes de os evitar e combater eficazmente - cabe a obrigação, em tempo de vacas magríssimas e esfomeadas, de extraírem o máximo lucro da sua existência. Para tal acontecer, façam campanhas de publicidade na estranja. Despertem o interesse dos estrangeiros para virem a Portugal extasiarem-se com a beleza do fogo em todo o seu esplendor; deliciarem-se com as excitantes representações das grandes luminosidades e com os espectáculos das movimentadas peripécias dos bombeiros e dos populares a combaterem as chamas, muitas vezes, com recurso a frágeis ramos de arbustos, a pequenos baldes e a mangueiras de jardim. Acenem-lhes com a perspectiva de assistirem a cenas impressionantes, pitorescas e inesquecíveis. Se pessoas propensas a sentirem emoções fortes aqui terão oportunidades de com elas se regalarem. Também, o Governo deve organizar roteiros dos fogos que além de proporcionarem as deslumbrantes vistas dos lumes, dos materiais incandescentes e das pessoas atarefadas e aflitas, darão ensejo a, posteriormente, visitarem os mesmos locais onde admirarão a grandiosidade das paisagens lunares naqueles locais em que prevalecem os tons de cinza e os troncos enegrecidos de árvores erguidos ao alto como se fossem setas apontadas à glória da incapacidade das criaturas face à Natureza e ao infinito do desvario prevalecente no campo luso repleto de mato e de bicharada…

Igualmente, os turistas seriam incentivados a permanecer mais algum tempo ou a retornarem na época das chuvas para se entreterem na observação das inundações que já se configuram como uma fantástica sucessão de espectáculos aquáticos nos campos, nas povoações rurais e, sobretudo, nas avenidas e ruas das cidades transformadas em canais onde, eventualmente, poderão desfrutar de belos passeios turísticos nos barcos e lanchas postos à sua disposição pelas câmaras municipais.

Publicitem… Apregoem… Enalteçam Portugal como aquele ímpar país onde as calamidades se sucedem com regular frequência em épocas predeterminadas pela esperteza saloia e sagacidade urbana do Governo, com a suprema vantagem de nelas, admiravelmente, se conjugarem e harmonizarem as forças da Natureza com a extraordinária burrice dos asnos falantes e a sempre compensadora e enaltecida estupidez humana… que em Portugal é cultivada com ousadia, pertinácia e lucro.

Após conseguida a afluência das correntes turísticas e considerando que tristezas não pagam dívidas, ninguém estranharia que os altos funcionários das governações central e locais organizassem piqueniques de confraternização com os turistas em improvisados miradouros sobranceiros aos campos e às praças alagadas, abrilhantados com as actuações de grupos folclóricos. Sem esquecer a intransigente exigência de, nos fraternais convívios, as conversas decorrerem em inglês. Uma determinação segundo o disposto na política do Governo, de despromoção e abandono da língua nativa: o português…

Tudo isto seria bonito. Assaz vantajoso. Mui atraente. E bastante expressivo…

Mais: Juntava-se o útil ao agradável…

Aqui fica a sugestão. De borla…

terça-feira, novembro 14, 2006

UMA CRÓNICA SOBRE UM CASO FUTEBOLÍSTICO QUE TEVE REPERCUSSÃO MUNDIAL

Crónica elaborada no tempo do campeonato mundial de futebol disputado na Coreia do Sul, que volta à lembrança porque referente a um equívoco suscitado no desafio entre Portugal e a Coreia; o qual, foi há dias evocado num órgão da Comunicação Social a propósito da notícia da hipotética candidatura de Portugal à realização de um campeonato mundial da modalidade.

Por isso, agora, a republico.

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Um texto sem tabus…

UM SOCO… QUAL SOCO?

DEVERAS, UM SUFOCO!…

Brasilino Godinho

Eu não conheço pessoalmente o João. Mas rezam as crónicas de bem e de maldizer que se trata de um pinto (sem qualquer hipótese de chegar à identidade de galo), franzino, ingénuo, talentoso jogador de futebol, rapaz esforçado, bom chefe de família e amigo de peito do major Valentim Loureiro, célebre personagem do mundo da bola e, como não podia deixar de ser associado, ilustre político.

Além disso, que é muito, João Pinto, já usufruiu daquela condição que, segundo vi escrita "in illo tempore", é necessária para o anónimo indígena se poder considerar um bom português: ser do Benfica…

Como artista da bola acusam-no de, às vezes, fazer teatro nos relvados do jogo da dita, o que - para muitos conceituados especialistas de ambas as artes - é considerado como uma indesculpável heresia. Aparte essa pretensa tendência de confundir palcos de actuação, o famoso Pinto tem-se revelado um autêntico artista no exercício das suas habilidades futebolísticas, de modo a merecer os aplausos das multidões.

A culminar uma época brilhante ao serviço do verde Sporting foi escolhido para integrar a selecção nacional da modalidade, que representou Portugal no campeonato do mundo disputado na Coreia do Sul e no Japão.

E foi nesta competição mundial, precisamente, no jogo disputado pela equipa portuguesa com a turma coreana que aconteceram coisas do arco-da-velha que estão a dar a volta ao miolo de muita gente em Portugal e no estrangeiro.

Mas, afinal, o que houve no desafio com a Coreia?

Se as palavras podem expressar alguma coisa - e até ver, está por fazer prova em contrário - adianto que na minha avaliação, da qual assumo inteira responsabilidade, tudo o que ao caso diz respeito ou, emendando, tudo, neste caso, a que falta ordem e algum respeito, se resume a um conjunto de grandes equívocos…

Passo a descrever o cenário e a referir os comparsas para, com a colaboração dos leitores, chegarmos às interpretações ambíguas que estão em voga às escalas nacional e mundial.

O jogo decorria a meio campo. Num dado momento, eu vi - acreditem! – o João Pinto a rodopiar, como se dançasse o "Bailinho da Madeira", em volta dos adversários, à procura da bola que caprichava em fugir-lhe do alcance dos pés e da cabeça. Pareceu-me algo estonteado (aqui, posso testemunhar que é fácil isso acontecer a qualquer um, com a evocação das minhas experiências da juventude: sempre que dançava as valsas de Strauss ficava meio tonto). Certamente, João Pinto mostrava-se diligente e bem intencionado. Apesar de evidenciar algum esforço de contenção nas aborrecidas pausas a que o desenrolar do jogo obriga, instantes depois, correspondendo ao chamamento de um colega que o incitava a ir à bola e a mandar-lha, lançou-se em corrida desenfreada ao encontro do esférico. Então, andava por ali perdido um coreano que de frente para a bola e enfeitiçado por ela, não terá pressentido a aproximação, por detrás, do Pinto, nem entendido o apelo desesperado que este, em transe de aproximação e perante a iminência do choque, lhe gritava a pedir que se desviasse da trajectória que prosseguia.

Nas bancadas em redor, de vermelho tingidas e no centro do campo das operações futebolísticas, reinava a confusão, persistia o nervosismo, retumbava a gritaria. Portanto, não é de estranhar que o nosso João, impossibilitado de travar a corrida e, também ele, excitado e apressado em atingir o seu objectivo, não se tenha dado conta que o adversário não compreendia a língua portuguesa. Assim sendo, prescrito pelo destino, o João Pinto foi atropelar, em queda não livre, o desprevenido jogador da equipa da Coreia do Sul.

Infelizmente, como vivemos num "mundo cão", recheado de maldades e de segundas intenções logo o árbitro, bastante perturbado, num cenário de muita chateação, interpretou o acidente como manifestação de uma terceira intenção agressiva do Pinto, talvez, como resultante de algumas desconexas quarta e quinta ideias hostis (sabe-se lá o que passou por aquela cabeça…). Vai daí, o homem de negro vestido, possesso, correu na direcção do jogador luso mostrando-lhe, freneticamente, um cartão vermelho. Por sua vez, João Pinto em marcha rápida foi encontrar-se com o sujeito. Nestas circunstâncias, o que se poderia esperar?

É das leis da Física que dois corpos em movimentos uniformemente acelerados, avançando um contra outro, em rota de colisão, não podem suster-se repentinamente e muito dificilmente escaparão ao fenómeno da atracção recíproca de duas porções distintas de matéria corporal sujeitas às leis da cinemática e da relatividade formulada por Einstein... Como era inevitável, deu-se o acontecimento impetuoso.

Bem vista a situação, o sr. Angel Sanchez, que agitava o cartão vermelho acima da cabeça, num curtíssimo tempo, não tinha outra hipótese que não fosse a de oferecer o corpo para amortecer o embate. Para o efeito, a simpática criatura das pampas, inspirou fundo, fez peitaça como costumam fazer os moços de forcado portugueses em arena de lide de touros e dilatou a barriga, tanto quanto lhe foi possível, com o louvável - assaz prudente - tríplice propósito de reduzir a intensidade da colisão, de aguentar a carga do frágil Pinto e de se manter de pé.

Melhor apreciados os factos, João Pinto, no momento crucial, teve o reflexo instantâneo, de génio clarividente, de esticar o braço direito - aquele que lhe ofereceria maior segurança e confiança; e tendo, também, a extraordinária perspicácia de prever as terríveis consequências que adviriam do "choque elástico" para a integridade física do respeitável juiz da partida, achou por bem encolher as garras (os dedos) afim de evitar que elas, se apontadas em riste, pudessem - eventualmente - penetrar no tecido adiposo e perfurar o estômago do seu opositor. Isto foi tanto mais surpreendente e muito de enaltecer, porquanto o jovem português ainda terá sido empurrado. Com tal empurrão multiplicou-se, em João Pinto, a força da inércia decorrente do movimento do seu corpo impelido como se fosse um móvel em aceleração contínua.

Pois, fechando a mão, o jogador João Pinto, a meu ver, executou uma das mais escrupulosas jogadas da sua vida: ele revelou extremo cuidado em oferecer uma maior superfície de impacto e transformar o contacto físico com o árbitro argentino num efeito de pranchada amortecedora - o que fez com assinalável êxito, logo comprovado pelo facto do atingido, Angel Sanchez, não ter ido ao tapete de relva, posto KO, nem esboçado um gesto de atroz sofrimento; o que seria suposto acontecer se, acaso, tivesse havido um soco violento, intencional, desferido pelo português sobre uma das partes mais sensíveis da morfologia humana, como é a que engloba estômago e rins.

Claro, como a água cristalina brotando da nascente das termas do Agroal, em noite de luar: João Pinto, no limite descontrolado de variação da velocidade, com as mãos fechadas e o senhor da vestimenta negra, pasmado, com o ventre distendido, facilitaram-se - mutuamente - a coisa acontecida e conseguiram reduzir à expressão mais simples os danos físicos e mentais. Ao que parece, ínfimos os físicos; ainda assim, grandes e generalizados os de ordem psíquica.

Pormenor importante: há fotografias que comprovam a minha tese, acima exposta. Nomeadamente, foi publicada uma foto onde se vê a mão fechada de João encostada ao abdómen de Angel e, sublinhe-se, em posição estática a indiciar um apoio sustentado contra uma eventual queda do antagonista. E como não se registou trambolhão, nem grito ou nítido esgar de dor da parte do árbitro do jogo e porque tudo se passou em velocidade alucinante, assinalo quanto foi notável a rapidez de reflexos do jogador português e, obviamente, concluo que houve benefício físico para a suposta vítima (Angel Sanchez), recolhido no gesto providencial de João Pinto. Mentes perturbadas não o entenderam, nem souberam sobrepujar as falsas aparências impressas numa película…

Por regra e como no caso em apreço, as leituras não podem, nem devem, ser apressadas e demasiado superficiais. Aqui, nesta questão fulcral, tem o maior cabimento o estudo, a análise e a aplicabilidade dos princípios da Relatividade do Conhecimento, segundo os quais este depende da constituição da mente do ser que conhece ou que o mesmo se formaliza por uma variável, consoante o termo que se interpõe com a coisa a conhecer.

Se não se atentar com espírito de abertura e ânimo perscrutador no objecto e no significado do que está à vista e aqui fica explícito, certamente que nunca se chegará a conclusões plausíveis sobre a matéria em causa. O que constituirá um mau precedente. E mais complicado será, no futuro, apreciarem-se situações análogas.

É que, entretanto, pega a moda dos sumários processos de intenções e qualquer dia - só para dar um exemplo do exagero a que se poderá chegar - sempre que o Dr. Francisco Balsemão, conhecido dono da "SIC" e do semanário "Expresso", aparecer nas entrevistas, na sua pose habitual, com os membros superiores dobrados em L, a falar à cadência dos gestos das mãos semicerradas, colocadas ao nível da cintura, com os dedos encurvados, haverá indivíduos que, a seguir, vão clamar que o respeitado cidadão tentou fazer manguitos ou terá feito alguns gestos obscenos para os interlocutores, senão para o público em geral. Meditem nisto, senhores, falsos redentores da moral e dos bons costumes!

Aliás, não foi por acaso que o jogador Pinto e outras pessoas responsáveis se dirigiram ao árbitro Sanchez pedindo-lhe desculpas como mandam as boas regras da educação; não fosse ele julgar que houvera agressão ou intento de magoá-lo. Ademais, nestas situações, a parte mais fraca é sempre a mais vulnerável e a que mais fica à mercê dos julgamentos precipitados, pelo que se justificou a iniciativa.

Face ao exposto, perguntar-se-á: por que motivo o atleta luso correu para o homem do apito? Porque, sem margem para dúvidas, o João Pinto não gosta da cor vermelha. São histórias antigas com o Benfica. E não só…

Será fácil perceber que o rapaz não se revendo, ao que consta, na qualidade de comunista terá tido a impressão que o argentino lhe queria colocar o rótulo na testa. Impressão induzida pelo facto de Angel Sanchez levantar o cartão vermelho à altura da cabeça do jogador e o agitar constantemente como se dispusesse a fixá-lo nela. Se admitirmos que ninguém gosta de ser classificado por aquilo que não é, compreende-se o problema e a angústia de João Pinto ao ver-se guindado à condição de "vermelho" e ao julgar-se confundido com os vermelhos coreanos do norte comunista, da península coreana, perante milhões de pessoas dispersas por todo o mundo civilizado.

Por outro lado, o argentino, naturalmente desconhecedor da aversão do João Pinto à cor vermelha, foi apanhado em contramão e, surpreso, ficou confuso, sem atinar com toda aquela bagunçada. Depois, logo no local, transpareceu o incómodo do moço e as tentativas de explicações dos homens de qualquer dos lados em confronto (aparentemente, mais de ideias que de desforço) que, dadas as circunstâncias de tensão e alarido prevalecentes, não chegaram a concretizar-se…

Deste modo que descrevi, ficam assinalados vários equívocos que se geraram Outros desacertos pertinentes se poderiam aduzir se esta crónica já não estivesse tão longa; os quais tendo a ver com aquilo que se julgou ser a realidade das coisas e a intencionalidade das atitudes de uns e de outros envolvidos na complexa ocorrência. Geralmente, como no caso vertente, fazem-se apreciações a quente sem se atentar em pormenores de primordial importância para bem se ajuizar o que de mais profundo e substancial haverá que considerar…

Razão tinha o major valentão, digo, o major Valentim quando afirmou com aquele vozeirão e descontracção que se lhe conhecem que não tinha visto, a milhares de quilómetros de distância, qualquer agressão ou inofensivo soco perpetrados pelo João Pinto. E disse-o com certa autoridade que advém do facto de ser o distanciamento que permite a descomprometida visão da perspectiva da paisagem; e de esta constituir um factor decisivo para uma racional formalização da análise que se impõe fazer sobre o objecto em causa, em referência ao horizonte das coisas, face à ambiência dos meios físicos e relativamente aos parâmetros dos eventos.

Claro, que a interpretação dada àquele lance do jogo Coreia-Portugal por tudo que é comunicação social em Portugal e no Mundo é primária, superficial, tendenciosa, do género "Maria vai com as outras"… Também, desvirtuamento da minha explicação dos factos. Esta, fixada no plano da subjectividade auto-sustentada. Tanto uma como outra encaixando no espaço virtual, como hoje soe dizer-se…

Modéstia excluída… por inconveniente oportunidade, ouso prever que esta minha intervenção, ora lançada no centro da universal discussão, está condenada a ser a que, com mais isenção, superior inocência e apurado colorido, pinta o quadro do sucedido naquelas longínquas paragens do Extremo Oriente.

Enfim, que esta singela iniciativa contribua para amainar a presente tempestade que, a muita gente, dilacera a alma e oblitera a tola… Oxalá!

domingo, novembro 05, 2006

Um texto sem tabus…

NÃO MORTA… NÃO SOLTEIRA… NÃO VIRGEM…

SIMPLESMENTE, DIVORCIADA…

Por sentença do Tribunal.

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com)

Pois aconteceu! Ela andava por tudo quanto é sítio disfarçada. Quase sempre escondida. Apática, não reagia aos estímulos. Permanentemente envolvida por um manto de vergonha, mostrava-se sorumbática e hostil às aproximações das virtuosas almas que, normalmente, vivem num estado de pecado mortal. Assustadiça, não se mostrava de ânimo leve à luz do dia, nem na escuridão da noite. Muitos desconheciam o facto de existir. Bastantes, fingiam não a conhecer; sequer de nome. Gente melhor informada tinha uma vaga ideia da sua existência.

Neste ponto, decerto que o leitor interrogar-se-á: Que modo e sentido da presente escrita? Que existência?

Respondemos: Tal como faz o moço-de-forcado que na arena pega o touro pelos cornos, aqui escrevemos sobre a CULPA. Seja ela – como melhor soar aos ouvidos das pessoas sensíveis - a responsabilidade ou a causa da queda da Ponte de Entre-os-Rios, sobre o Rio Douro, no Município de Castelo de Paiva, Distrito de Aveiro.

E porque ela, CULPA, apesar da comprovada incomodidade em si imanente, se faz notar e sobressair pela sua esquiva natureza e gritante ausência, muitos de consciência pesada, dela se afastam como o Diabo costuma fugir da cruz - segundo rezam as lendas transmitidas de geração em geração. (Verdade, que ainda ninguém teve a lata de referir encontros com esse malfazejo ser. Pelo sim e pelo não, muitíssimos lorpas baralhados na incerteza, mas jogando na cautela e saboreando os caldos de galinha, dele querem distância…).

Exactamente, nos precisos termos, o que vem sucedendo à CULPA pelo funesto acontecimento de Entre-os-Rios. Tal e qual como os detentores do Poder encararam os esforços desencadeados, ao longo dos seus últimos anos de vida, pelo distinto mestre de engenharia de pontes e viadutos, engenheiro Edgar Cardoso, no sentido de serem inspeccionadas e reparadas as pontes e os viadutos das vias rodoviárias nacionais.

O professor engenheiro Edgar Cardoso porfiou ingloriamente em chamar a atenção dos governantes deste país para as graves situações de degradação já então existentes em numerosas obras de arte espalhadas por todo o território continental. Os ex-ministros das Obras Públicas e Comunicações, Engº. Ferreira do Amaral, Engº. João Cravinho e Dr. Jorge Coelho e os quadros superiores dos órgãos superintendentes nas estradas nacionais, não ligaram patavina aos alertas lançados pelo extraordinário técnico. Fizeram orelhas moucas. Assobiaram displicentemente para o lado. Como se o assunto não lhes dissesse directamente respeito.

Não foi preciso esperar muito tempo para se ajuizar das razões das insistências do Prof. Engº. Edgar Cardoso nos cuidados de manutenção e reparação das citadas obras de arte. Anota-se: intervenções que, objectivando as condições de segurança do tráfego rodoviário, jamais podem ser descuradas.

Até que se deu a tragédia da derrocada da Ponte de Entre-os-Rios; precedendo a queda de um viaduto de peões na região de Lisboa, no tempo do mandato ministerial do Engº. Carmona Rodrigues. Neste caso do viaduto o acidente ocorreu devido ao terrível efeito da colisão de uma borboleta destrambelhada que, estupidamente, se precipitou sobre o tabuleiro. Apesar do alvoroço causado no público, o acontecimento foi abafado e ainda hoje não se sabe se a malvada compareceu em juízo. Ou se o processo da ocorrência foi convenientemente arquivado…

Já no caso da desgraça de Entre-os-Rios as causas ainda estão indeterminadas por douta apreciação do tribunal que, recentemente, julgou o respectivo processo judicial. Contudo, atendendo á confirmada circunstância de ter derruído um dos pilares que provocou o desabamento do tabuleiro, em dada altura começou a esboçar-se a plausível teoria de terem sido as ratazanas - que há anos se entretinham (quiçá, alimentando-se dos resíduos granulares) a roer a sapata da fundação - as anónimas entidades responsáveis pelo que aconteceu naquela fatídica hora. Na actualidade, como parece não haver interesse nos meios geralmente bem acomodados em aprofundar a questão, está posta de parte a hipótese da conspirativa actuação dos roedores ser devidamente estudada, analisada, certificada ou rejeitada, pelos cientistas e atendida pelos agentes de investigação criminal. Uns e outros, agradecem não ser incomodados…

Quando se deu o infausto acontecimento o ministro das Obras Públicas e Comunicações, Dr. Jorge Coelho, demitiu-se proclamando que a CULPA não podia morrer solteira. Logo, houve quem estranhando a inquietação e a solicitude do governante pelo estado civil da criatura se interrogasse: Por que razão ou impedimento haveria ela de ser virgem ad perpetuam? Infelizmente, até hoje, a questão não foi esclarecida...

Não obstante, conservamos na memória a impressão sentida pela opinião pública. Ou seja: a inocente sensação de ter sido da parte da ministerial figura uma atitude que, embora ilusória, relevou ternura e inegável simpatia para com a CULPA. Ela, naquele transe, bem precisava de ser alentada. Viviam-se momentos dramáticos. A malta quase se deixou possuir pela comoção. Muita gente ficou enternecida… Porém, alguns parentes afastados do Zé-Povinho, “amigos da onça”, cínicos, incrédulos, não se coibiram de filosofar: Pois quê?... Pois, sim!... E à socapa, iam balbuciando: “Quando a esmola é grande o pobre desconfia”…

Agora, com o desfecho do processo no tribunal chega-se à conclusão que ela, a CULPA, casada (melhor dizendo: amancebada) que foi no momento da tragédia, não mais se pode considerar solteira. Muito menos, virgem imaculada…

O Dr. Jorge Coelho, naquela altura, enganou-se redondamente. Há dias, num programa televisivo, voltou a enganar-se. Com veemência declarou que a CULPA, afinal, morreu solteira. Confrange a falta de percepção do conhecido político. Daqui lhe confidenciamos Dr. Jorge Coelho: O senhor incorreu num clamoroso erro! A CULPA está vivinha da costa. Recomenda-se por muitos anos que ainda tem de vida à sua frente e aos olhos do Zé-Povinho. De facto e, surpreendentemente, de direito, ela está divorciada. Por decisão judicial o divórcio foi decretado. Uma desvinculação matrimonial colectiva, porque abrangendo os vários amantes que promiscuamente compartilharam vida comum. Entre eles, o destaque para os ex-ministros já aqui citados devido a serem, em diferentes épocas, os chefes do respectivo agregado familiar.

E ao Dr. Jorge Coelho talvez não ficasse mal elucidar-nos sobre o que representa isso da sua assunção de responsabilidades. Assumir responsabilidades só por se ter demitido? O cargo, o penacho, as mordomias, eram assim coisas tão valiosas, seguras, gostosas, queridas e rentáveis, que, abdicando delas, se possa admitir que o Dr. Coelho caiu no desemprego ou que houve prejuízos nos rendimentos pessoais e na sua carreira política? (Obviamente, que da profissional não vale a pena falar… certo ou errado?). Quais os danos morais? Dessa atitude de demissão qual foi a penalização dela decorrente? Que sacrifício expiatório? Que castigo cumpriu?

Porquê os ministros não hão-de ser penalizados pelas graves omissões que cometem? E qual a razão da Justiça se alhear da, por vezes, extrema gravidade das consequências da negligência dos governantes, como aconteceu com a tragédia da Ponte de Entre-os-Rios?

Insistimos: Mas que responsabilidades? Se no momento da demissão disse que assumia responsabilidades por que, desde logo, não se dispôs a enumerá-las, nem chegou a dar sua pessoal definição e um seu qualquer modo individual de as concretizar? Tão-pouco, uma indispensável e inequívoca afirmação de sua existência e enumeração?

Interpelamos: Das eventuais responsabilidades do Dr. Jorge Coelho o que ele nos transmitiu? Na prática, nada! De facto, coisa nenhuma!!!

Os portugueses ficaram contemplados com o gesto espectacular, mas inconsequente. Entretanto, o Dr. Jorge Coelho satisfeito consigo mesmo, provavelmente, dispôs-se a “dar uma volta ao bilhar grande”…

Outro aspecto a considerar no estado de separação da CULPA da tragédia de Entre-os-Rios é que ele se constitui como um gritante divórcio da realidade factual e da inapelável quota de responsabilidade de quantos, tendo sido advertidos dos perigos latentes, pela maior autoridade portuguesa no domínio da engenharia daquele específico tipo de obras de arte, se estiveram nas tintas para, em devido tempo, tomarem as medidas que se impunham para obstar à ocorrência de acidentes como o da Ponte de Entre-os-Rios.

Surpreende o “esquecimento” dos factos, dos ensinamentos, das críticas, dos “avisos” e das recomendações, por parte dos responsáveis da Administração Pública, dos serviços da Justiça, dos tribunais e dos órgãos de soberania. A dar crédito à conhecida observação popular, deve ser gente que come muito queijo no verão. Pelos vistos, hábito alimentar que provoca crises de amnésia de fixação nas horas cruciais…

As considerações expostas remetem-nos a outra pertinente questão: o quadro penal do nosso ordenamento jurídico não contempla a figura da negligência criminosa? Mesmo quando ela se sobrepõe aos inadiáveis cuidados de prevenção e ao atempado conhecimento ou informação das situações de risco?

Enfim, a CULPA não é virgem, Não se encontra solteira porque naquela fatídica hora da tragédia de Entre-os-Rios se amancebou com vários sujeitos. Agora, não tendo morrido, arrasta uma envergonhada e penosa existência de divorciada E como está viva a todo o tempo, tem de ser demandada em juízo. A CULPA tem de expiar a sua culpa…

Nota importante: Urge desmistificar as histórias mal contadas das rápidas e inconsistentes assunções de responsabilidades por parte dos vários governantes e políticos que, sobranceiros, se exibem no circo da politiquice e se passeiam na vastíssima área do “faz-de-conta”.

A presente crónica visa esse objectivo