Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

domingo, novembro 05, 2006

Um texto sem tabus…

NÃO MORTA… NÃO SOLTEIRA… NÃO VIRGEM…

SIMPLESMENTE, DIVORCIADA…

Por sentença do Tribunal.

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com)

Pois aconteceu! Ela andava por tudo quanto é sítio disfarçada. Quase sempre escondida. Apática, não reagia aos estímulos. Permanentemente envolvida por um manto de vergonha, mostrava-se sorumbática e hostil às aproximações das virtuosas almas que, normalmente, vivem num estado de pecado mortal. Assustadiça, não se mostrava de ânimo leve à luz do dia, nem na escuridão da noite. Muitos desconheciam o facto de existir. Bastantes, fingiam não a conhecer; sequer de nome. Gente melhor informada tinha uma vaga ideia da sua existência.

Neste ponto, decerto que o leitor interrogar-se-á: Que modo e sentido da presente escrita? Que existência?

Respondemos: Tal como faz o moço-de-forcado que na arena pega o touro pelos cornos, aqui escrevemos sobre a CULPA. Seja ela – como melhor soar aos ouvidos das pessoas sensíveis - a responsabilidade ou a causa da queda da Ponte de Entre-os-Rios, sobre o Rio Douro, no Município de Castelo de Paiva, Distrito de Aveiro.

E porque ela, CULPA, apesar da comprovada incomodidade em si imanente, se faz notar e sobressair pela sua esquiva natureza e gritante ausência, muitos de consciência pesada, dela se afastam como o Diabo costuma fugir da cruz - segundo rezam as lendas transmitidas de geração em geração. (Verdade, que ainda ninguém teve a lata de referir encontros com esse malfazejo ser. Pelo sim e pelo não, muitíssimos lorpas baralhados na incerteza, mas jogando na cautela e saboreando os caldos de galinha, dele querem distância…).

Exactamente, nos precisos termos, o que vem sucedendo à CULPA pelo funesto acontecimento de Entre-os-Rios. Tal e qual como os detentores do Poder encararam os esforços desencadeados, ao longo dos seus últimos anos de vida, pelo distinto mestre de engenharia de pontes e viadutos, engenheiro Edgar Cardoso, no sentido de serem inspeccionadas e reparadas as pontes e os viadutos das vias rodoviárias nacionais.

O professor engenheiro Edgar Cardoso porfiou ingloriamente em chamar a atenção dos governantes deste país para as graves situações de degradação já então existentes em numerosas obras de arte espalhadas por todo o território continental. Os ex-ministros das Obras Públicas e Comunicações, Engº. Ferreira do Amaral, Engº. João Cravinho e Dr. Jorge Coelho e os quadros superiores dos órgãos superintendentes nas estradas nacionais, não ligaram patavina aos alertas lançados pelo extraordinário técnico. Fizeram orelhas moucas. Assobiaram displicentemente para o lado. Como se o assunto não lhes dissesse directamente respeito.

Não foi preciso esperar muito tempo para se ajuizar das razões das insistências do Prof. Engº. Edgar Cardoso nos cuidados de manutenção e reparação das citadas obras de arte. Anota-se: intervenções que, objectivando as condições de segurança do tráfego rodoviário, jamais podem ser descuradas.

Até que se deu a tragédia da derrocada da Ponte de Entre-os-Rios; precedendo a queda de um viaduto de peões na região de Lisboa, no tempo do mandato ministerial do Engº. Carmona Rodrigues. Neste caso do viaduto o acidente ocorreu devido ao terrível efeito da colisão de uma borboleta destrambelhada que, estupidamente, se precipitou sobre o tabuleiro. Apesar do alvoroço causado no público, o acontecimento foi abafado e ainda hoje não se sabe se a malvada compareceu em juízo. Ou se o processo da ocorrência foi convenientemente arquivado…

Já no caso da desgraça de Entre-os-Rios as causas ainda estão indeterminadas por douta apreciação do tribunal que, recentemente, julgou o respectivo processo judicial. Contudo, atendendo á confirmada circunstância de ter derruído um dos pilares que provocou o desabamento do tabuleiro, em dada altura começou a esboçar-se a plausível teoria de terem sido as ratazanas - que há anos se entretinham (quiçá, alimentando-se dos resíduos granulares) a roer a sapata da fundação - as anónimas entidades responsáveis pelo que aconteceu naquela fatídica hora. Na actualidade, como parece não haver interesse nos meios geralmente bem acomodados em aprofundar a questão, está posta de parte a hipótese da conspirativa actuação dos roedores ser devidamente estudada, analisada, certificada ou rejeitada, pelos cientistas e atendida pelos agentes de investigação criminal. Uns e outros, agradecem não ser incomodados…

Quando se deu o infausto acontecimento o ministro das Obras Públicas e Comunicações, Dr. Jorge Coelho, demitiu-se proclamando que a CULPA não podia morrer solteira. Logo, houve quem estranhando a inquietação e a solicitude do governante pelo estado civil da criatura se interrogasse: Por que razão ou impedimento haveria ela de ser virgem ad perpetuam? Infelizmente, até hoje, a questão não foi esclarecida...

Não obstante, conservamos na memória a impressão sentida pela opinião pública. Ou seja: a inocente sensação de ter sido da parte da ministerial figura uma atitude que, embora ilusória, relevou ternura e inegável simpatia para com a CULPA. Ela, naquele transe, bem precisava de ser alentada. Viviam-se momentos dramáticos. A malta quase se deixou possuir pela comoção. Muita gente ficou enternecida… Porém, alguns parentes afastados do Zé-Povinho, “amigos da onça”, cínicos, incrédulos, não se coibiram de filosofar: Pois quê?... Pois, sim!... E à socapa, iam balbuciando: “Quando a esmola é grande o pobre desconfia”…

Agora, com o desfecho do processo no tribunal chega-se à conclusão que ela, a CULPA, casada (melhor dizendo: amancebada) que foi no momento da tragédia, não mais se pode considerar solteira. Muito menos, virgem imaculada…

O Dr. Jorge Coelho, naquela altura, enganou-se redondamente. Há dias, num programa televisivo, voltou a enganar-se. Com veemência declarou que a CULPA, afinal, morreu solteira. Confrange a falta de percepção do conhecido político. Daqui lhe confidenciamos Dr. Jorge Coelho: O senhor incorreu num clamoroso erro! A CULPA está vivinha da costa. Recomenda-se por muitos anos que ainda tem de vida à sua frente e aos olhos do Zé-Povinho. De facto e, surpreendentemente, de direito, ela está divorciada. Por decisão judicial o divórcio foi decretado. Uma desvinculação matrimonial colectiva, porque abrangendo os vários amantes que promiscuamente compartilharam vida comum. Entre eles, o destaque para os ex-ministros já aqui citados devido a serem, em diferentes épocas, os chefes do respectivo agregado familiar.

E ao Dr. Jorge Coelho talvez não ficasse mal elucidar-nos sobre o que representa isso da sua assunção de responsabilidades. Assumir responsabilidades só por se ter demitido? O cargo, o penacho, as mordomias, eram assim coisas tão valiosas, seguras, gostosas, queridas e rentáveis, que, abdicando delas, se possa admitir que o Dr. Coelho caiu no desemprego ou que houve prejuízos nos rendimentos pessoais e na sua carreira política? (Obviamente, que da profissional não vale a pena falar… certo ou errado?). Quais os danos morais? Dessa atitude de demissão qual foi a penalização dela decorrente? Que sacrifício expiatório? Que castigo cumpriu?

Porquê os ministros não hão-de ser penalizados pelas graves omissões que cometem? E qual a razão da Justiça se alhear da, por vezes, extrema gravidade das consequências da negligência dos governantes, como aconteceu com a tragédia da Ponte de Entre-os-Rios?

Insistimos: Mas que responsabilidades? Se no momento da demissão disse que assumia responsabilidades por que, desde logo, não se dispôs a enumerá-las, nem chegou a dar sua pessoal definição e um seu qualquer modo individual de as concretizar? Tão-pouco, uma indispensável e inequívoca afirmação de sua existência e enumeração?

Interpelamos: Das eventuais responsabilidades do Dr. Jorge Coelho o que ele nos transmitiu? Na prática, nada! De facto, coisa nenhuma!!!

Os portugueses ficaram contemplados com o gesto espectacular, mas inconsequente. Entretanto, o Dr. Jorge Coelho satisfeito consigo mesmo, provavelmente, dispôs-se a “dar uma volta ao bilhar grande”…

Outro aspecto a considerar no estado de separação da CULPA da tragédia de Entre-os-Rios é que ele se constitui como um gritante divórcio da realidade factual e da inapelável quota de responsabilidade de quantos, tendo sido advertidos dos perigos latentes, pela maior autoridade portuguesa no domínio da engenharia daquele específico tipo de obras de arte, se estiveram nas tintas para, em devido tempo, tomarem as medidas que se impunham para obstar à ocorrência de acidentes como o da Ponte de Entre-os-Rios.

Surpreende o “esquecimento” dos factos, dos ensinamentos, das críticas, dos “avisos” e das recomendações, por parte dos responsáveis da Administração Pública, dos serviços da Justiça, dos tribunais e dos órgãos de soberania. A dar crédito à conhecida observação popular, deve ser gente que come muito queijo no verão. Pelos vistos, hábito alimentar que provoca crises de amnésia de fixação nas horas cruciais…

As considerações expostas remetem-nos a outra pertinente questão: o quadro penal do nosso ordenamento jurídico não contempla a figura da negligência criminosa? Mesmo quando ela se sobrepõe aos inadiáveis cuidados de prevenção e ao atempado conhecimento ou informação das situações de risco?

Enfim, a CULPA não é virgem, Não se encontra solteira porque naquela fatídica hora da tragédia de Entre-os-Rios se amancebou com vários sujeitos. Agora, não tendo morrido, arrasta uma envergonhada e penosa existência de divorciada E como está viva a todo o tempo, tem de ser demandada em juízo. A CULPA tem de expiar a sua culpa…

Nota importante: Urge desmistificar as histórias mal contadas das rápidas e inconsistentes assunções de responsabilidades por parte dos vários governantes e políticos que, sobranceiros, se exibem no circo da politiquice e se passeiam na vastíssima área do “faz-de-conta”.

A presente crónica visa esse objectivo