Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sexta-feira, setembro 29, 2006

Um texto sem tabus…

Também, um breve ensaio sobre uma entrevista.

MÁRIO SOARES,

NA OCASIÃO E COMODIDADE DO VAU…

Parte I

De: Brasilino Godinho

http://quintalusitana.blogspot.com

Mário Soares, em data recente, foi entrevistado.

A quem houve conhecimento do facto logo lhe surgiu ao espírito as interrogações quanto à data, ao lugar onde, à identidade do jornalista entrevistador e ao órgão de comunicação social que publicou a entrevista. Para as ditas, tornou-se fácil encontrar as respostas e algumas até vieram a público no contexto da conversa reproduzida em letra de forma.

Vamos a elas.

Quando? – Na sexta-feira, dia 25 de Agosto de 2006.

Onde? O patrono do Partido Socialista foi “encontrado” – sorte do entrevistador?!... Sabe-se lá com que dificuldades ou facilidades… - por um conhecido jornalista da praça lisboeta, na situação de enconchado no seu retiro do Vau, a conhecida praia algarvia Por quem? Pelo jornalista António José Teixeira e o fotógrafo Leonardo Negrão.

Que órgão de comunicação social a inseriu? Face a esta interrogação apetece responder com uma singela inquirição: Qual haveria de ser? Certamente, pela força da tradição: o “Diário de Notícias”. Naturalmente, por imprescindível obrigação: o “Diário de Notícias”. Evidentemente, por latente recomendação dos bons e solidários cidadãos: o “Diário de Notícias”. Sempre ele, “Diário de Notícias” (não de todas que chegam à redacção, mas de algumas que passam na peneira da “conveniente” escolha), alinhado na primeira linha do combate pelas grandes causas universais… Aproveite-se a oportunidade para relembrar a ideia - insistentemente propalada pelos “abnegados” cidadãos que, em muitas ocasiões, se tornam autênticos “amigos da onça” - de os irmãos da complexa e distintiva fraternidade estarem, permanentemente, envolvidos num atribulado e especializado combate só acessível a seleccionada gente da nossa melhor sociedade…

A entrevista, muito extensa e abrangente, em si, é interessante e da mais alcançada consistência que conhecemos do conjunto das várias prestações jornalísticas e televisivas de Mário Soares.

A iniciar o diálogo com o jornalista o entrevistado diz que assumiu a derrota na última eleição presidencial e considerou “dever fazer uma pausa, de uns meses largos, para pensar”. Precisamente, adiantamos nós, uma coisa, relacionada com a higiene mental, que os espertalhões nem sequer tentam fazer. E que muitos, presunçosos, não sabem praticar. Só não percebemos o que será essa coisa dos meses largos. Haverá meses estreitos? E como os alargou se não demos pelo alargamento do calendário?...

A seguir dita: “Não queria ser candidato. Fui pressionado de vários lados. Não só do PS. Finalmente, convenci-me. Achei que tinha esse dever. Não voltei as costas. Mas hoje apercebo-me de que os jogos estavam feitos…”

Pois! Neste trecho, Mário Soares evidencia que não foi candidato por vontade própria. Já o sabíamos e temo-lo escrito várias vezes. Mas toda a comunicação social omite o facto. É um tabu que “todos os mundos” maquiavélico, temeroso e subordinado ao statu quo, receiam ou, deliberadamente, ocultam ao público. É inegável que Mário Soares na sua condição de mação teve de se curvar à vontade da Maçonaria. No Grande Oriente Lusitano estão localizados os “vários lados” do grande quadrilátero oblongo das pressões que “o convenceram”. Soares tinha que cumprir “esse dever” de que fala - enquadrável na fidelidade aos desígnios da Maçonaria. E como muito bem disse: “não voltou as costas”… Nem seria aconselhável…

Mas aquela tirada de: “Mas hoje apercebo-me de que os jogos estavam feitos… “ Essa não engolimos, naquele sentido que ele quer insinuar. Por uma razão simples: não acreditamos que Mário Soares nem soubesse dos caminhos que a Opus Dei vinha trilhando com o propósito de colocar Aníbal Cavaco Silva na presidência da República.

Mário Soares, agora, arma-se em vítima mas não convence ninguém. Aliás, ele perdeu as eleições no preciso momento em que, um ou dois anos antes, convidou Cavaco Silva para proferir uma conferência nas instalações da fundação Soares, em Cortes, concelho de Leiria e ali declarou aos jornalistas que ele, Cavaco, tinha qualidades para ser um bom presidente da República. Deu, de mão beijada (?), um grande empurrão a Cavaco Silva para prosseguir a caminhada que o levaria ao triunfo. Foi um fortíssimo tiro no pé. Queixe-se Soares de si próprio e da incoerência e disparate de, na campanha eleitoral para a presidência da República, ter afirmado o contrário: que o adversário era pessoa destituída de atributos para aquele cargo, então em disputa eleitoral. Essa contradição insanável de apreciações sobre a mesma personalidade e a deplorável incoerência nela representada, foi-lhe fatal. Os eleitores estão fartos de aturar os disparatados comportamentos dos políticos que, num dia, afirmam uma coisa e num outro dizem o inverso. Desacreditam-se e desrespeitam os concidadãos. Todavia, numa coisa Mário Soares acertou parcialmente quando admitiu: que “No espírito das pessoas havia uma ideia mais ou menos feita”. Sim, havia essa constatação de incoerência atrás assinalada. Mas também houve uma infame exploração que ainda hoje se vê por aí fazer relativamente à idade de um ou outro cidadão e a Mário Soares. Um expediente ignóbil de adversários que, em muitas ocasiões, à falta de poder de argumentação recorrem ao primário e detestável expediente de invocar o factor idade avançada como decisivo para invalidar as prestações das pessoas investidas em altos cargos ou desvalorizar-lhes a inteligência quando elas exprimem conceitos ou afirmações de grande impacto político-social. Engana-se quem assim cuida denegrir o próximo. Não obstante, trata-se de um procedimento indecente levado à prática por alguém que deseja colher efeito negativo para a entidade em causa, junto das camadas menos evoluídas da sociedade. Igualmente – acentue-se - sobressai a desonestidade intelectual, porque alicerçada no convencimento de o reparo ser assimilado pelos cidadãos da república e, assim, prejudicar deliberadamente a pessoa atingida e o legítimo interesse geral da comunidade Aqui, neste aspecto, como eventualmente noutros ancorados na mesma linha de perversão e de insanidade mental que venham a ser aflorados na análise que desenvolvemos, tem Mário Soares a nossa inteira solidariedade, manifesta na extrema repulsa que nos merecem tais comportamentos. Anotamos que, quando confrontados com semelhantes desconchavos, nos vem à lembrança os casos das respeitadas figuras de Konrad Adenauer, presidente do Partido Cristão-Democrata (CDU) e chanceler da República Federal da Alemanha, no período de 1949 a 1963, que terminou o mandato precisamente ao atingir os 87 anos de contagem de vida e o de Alessandro (Sandro) Pertini, eleito presidente da República de Itália aos 82 anos e que cessou o exercício das altas funções aos 89 anos de idade; qualquer deles ainda no pleno uso de faculdades da alma. Pormenor curioso e elucidativo, o de Mário Soares referir que “o partido também se decidiu tarde”. Assim, Mário Soares informa que não foi o PS que o indigitou candidato presidencial. Conjugando esta informação com as antecedentes declarações que encaixam perfeitamente, conclui-se que, deste modo indirecto, Soares levanta um pouco o véu que encobria a confusa questão e confirma o que sempre dissemos: A Maçonaria é que tomou a iniciativa e o empurrou para a candidatura à eleição para a presidência da República. Ou não fosse a Maçonaria a dar todas as orientações e a estabelecer, com rigor na aplicação e na fiscalização, todos os determinantes passos da nossa vida colectiva. Sem esquecer o protagonismo e a concorrência da Opus Dei que prossegue, sem desfalecimentos, na mesma senda da rival associação.

Estas são as verdades escondidas que a Comunicação Social e os ilustres analistas integrantes das capelinhas disseminadas por Lisboa e outros sítios da província, fingem ignorar ou não entender. Porquê? Está à vista - a olho nu - de toda a gente que não se limite a ver passar o comboio da estupidez e da ignorância que vai circulando… sem travões e, infelizmente, sem descarrilar de vez… Como diria o compadre alentejano…

Parte II

Continuando a apreciação à entrevista de Mário Soares, inserida no “Diário de Notícias”, edição de 31 de Agosto de 2006, tomamos um apontamento pitoresco: ele reconhece que não é uma anémona – planta (ou flor) que é cultivada para fins ornamentais. Pareceu-nos uma nota fora do contexto. Alguém estaria convencido de ele ser um indivíduo de natureza decorativa?...

Mais acrescentou que a experiência eleitoral teve muitos aspectos positivos que darão frutos no futuro. E, não disse quais; nem o entrevistador mostrou interesse em saber. Um enigma por decifrar a conta-gotas…

Quanto ao apoio do PS e de Sócrates o ex-candidato Mário Soares é peremptório: “O PS fez o que pôde, nomeadamente a sua direcção. Não me queixo de ninguém”.

E respondendo à pergunta: “Houve quem dissesse que o Governo não ajudou na criação de um ambiente propício”, Soares esclareceu: Não tenho nenhuma razão de queixa do Governo, nem, especialmente, de José Sócrates. Bem pelo contrário! Tudo aquilo em que acordámos, Sócrates cumpriu. Sem hesitações, foi muito além do que lhe pedi”.

Esta passagem da entrevista reveste-se de grande importância porque desmente categoricamente as interpretações abstrusas que, logo na noite do domingo da eleição presidencial, alguns comentadores de dúbios ofícios começaram a formular acerca da hipótese de o chefe do Governo, Sócrates, se ter interessado mais pela eleição de Cavaco Silva do que pela vitória de Mário Soares ou de Manuel Alegre. Desde então, foram-se sucedendo as repetições desses comentários que mais não almejam do que lançar poeira aos olhos dos indígenas e desviá-los da real natureza dos factos e das suas determinantes. Percebe-se a intenção e os expedientes do processo de desinformação em curso sobre a matéria em causa e outras que têm muito a ver com o dia-a-dia de todos nós, cidadãos deste País.

Mário Soares vai dizendo que, para si, é um capítulo encerrado “tudo o que diz respeito às eleições presidenciais”. Certo no que a ele, Soares, toca e à Maçonaria interessa. Mas para alguns com a vocação dos espectáculos da chicana política, qualquer pretexto serve para os promover e manter indefinidamente, desde que neles extravasem todo o ódio vesgo e intolerância que lhes vai na alma.

A entrevista, em dado ponto, aborda as actividades de Mário Soares interrompidas por causa do período eleitoral. Ao descrevê-las pormenorizadamente e, com habilidade de juntar o agradável e o útil – no que à publicidade diz respeito - deixa umas dicas sobre os próximos livros que vai lançar no mercado.

Daí parte para a enumeração das viagens que fez nos últimos meses; a que adiciona a referência às obras que tem andado a ler. Com algum interesse de ordem literária debruçamo-nos sobre o rol e verificamos que, na generalidade, fez uma boa escolha dos livros. Desde Um Império à Deriva, uma História do Brasil, A Arte da Política, L’Éspoir, de Malraux, Por Quem os Sinos Dobram, de Hemingway, até a Deus face à Ciência. Para nós, este último, é um livro de referência, no qual o autor Claude Allègre desenvolve o tema com grande sapiência, escrúpulo intelectual e profundidade. Concentramos a atenção nesta obra notável, escrita “sem tabus e sem preconceitos”, traduzida pelo Prof. Doutor Luís Serrano, editada pela Universidade de Aveiro em parceria com a Gradiva, no mês de Abril de 1998 e que lemos no ano de 2002 por, felizmente, termos sido presenteados com a agradável oferta de um exemplar por parte de um distinto ex-reitor da Universidade de Aveiro. E, agora, veio-nos a ideia de chamarmos a atenção de quem de direito para se considerar o aproveitamento deste livro como matéria de estudo nas cadeiras de Filosofia dos nossos estabelecimentos universitários. Permitimo-nos um reparo quanto ao facto de Soares dizer que “foi difícil de ler porque não tenho preparação matemática, nem em biologia, física quântica e questões assim, complicadas. Demorei duas semanas, mas li-o com muita atenção e utilidade”. Daqui, dizemos ao Dr. Mário Soares que nem outra coisa era de esperar dele quanto à sua leitura ter sido feita com muita atenção e utilidade, dada a qualidade excepcional do livro de Claude Allègre. Também nós não temos as preparações que descreve. Estamos em posições semelhantes nessas áreas. Porém, como simples curiosidade, anotamos que o suplantámos no tempo de leitura dessa obra. Fizemo-la em menos de uma semana… E não nos pareceu tão difícil assim… Tenhamos cuidado em não assustarmos os estudantes e os leitores eventualmente interessados na sua leitura… Extrapolando e parafraseando-o: “Deus face à Ciência” encheu-nos as medidas.

Depois, o jornalista fez ao Dr. Mário Soares a seguinte interpelação: “Que impressão lhe deixa o País nesta altura? Dando nota da sua descontracção, ele respondeu: “Tenho esperanças de que as coisas estejam a melhorar, ligeiramente. O Governo tem dado provas de estar em cima dos acontecimentos. Quanto aos incêndios e a tudo o mais. Decide rápido e normalmente bem. Será suficiente? Veremos o que a rentrée nos vai trazer”. O jornalista contrapõe: Mas há um clima de insatisfação… Na réplica, Mário Soares espalha-se ao comprido… Impõe-se uma correcção àquilo que disse. Assim, nem “o parque automóvel continua a renovar-se”; nem “bastantes pessoas continuam a passar as suas férias”. Tão pouco “muitos continuam a comprar casas no Brasil”. Pois, nos derradeiros anos, acentuaram-se as diferenças sociais entre os que muito têm e os outros que vão ficando mais pobres à medida que o tempo passa. Isto denota que Soares continua enfermando da visão deturpada das coisas dispostas além dos limites dos seus particulares domínios – a qual, deficiência, remonta ao tempo do seu governo em que na cidade de Setúbal grassava a fome e a miséria que arrastou algumas pessoas para o suicídio e ele e seus parentes mais chegados vinham à praça púbica declarar que havia muito exagero e grande deturpação naquilo que se dizia, se escrevia e as televisões mostravam quanto a essas desgraças. Inclusive, diziam que não havia fome. Assim, alguns membros da família Soares, se colocaram em oposição aos testemunhos de D. Manuel Martins, então Bispo de Setúbal, a viver angustiado os dramas que atormentavam muitos dos seus paroquianos.

Com estas afirmações o entrevistado mostra que está fora da realidade existente para além do chão que pisa na sua propriedade do Vau. A partir de lá, os horizontes são escassos… É uma coincidência ou fatalidade que ele esteja no Vau. Ou seja: instalado na comodidade. E a ocasião não será das melhores. Daí, o Dr. Soares, não conhecendo o que existe de facto, para além do quintal da sua residência no Vau, sonha com as esperanças de as coisas estarem a melhorar… Também, nota dissonante é a de não desistir da parolice da “rentrée”… vício de linguagem em voga na rasteira classe política e no novel jornalismo que, saliente-se, coincidem no prazer de se porem de cócoras perante tudo o que seja estrangeiro e no desprezo e abandono da língua portuguesa.

Igualmente, devemos notar que o Governo tem estado em baixo e não “em cima dos acontecimentos…” Tão-pouco conseguiu apagar os incêndios ao colocar-se por cima deles. Geralmente, atrasou-se na chegada e desacertou nas posições ao desmandar-se de pára-quedas sobre os ditos. Se não fora os bombeiros… teria ficado completamente estorricado. E quanto a decidir… nem sempre bem; quantas vezes, mal e tardiamente.

Parte III

Nesta terceira parte da apreciação que vimos fazendo sobre a entrevista de Mário Soares ao “Diário de Notícias” - inserida na edição do p. p. dia 31 de Agosto – detemo-nos, especialmente, na abordagem que nela é feita a várias áreas da política internacional.

Destacamos as considerações sobre a intervenção militar do Estado de Israel no Líbano e as consequências advindas para a instabilidade no Médio Oriente. Soares classifica como desastrosa a política agressiva de Israel para com os seus vizinhos, vaticina que ela trouxe como resultado a unidade libanesa à volta do Hezbollah e admite que “a Síria e o Irão ganharam novo fôlego com a invasão do Líbano”. E vai dizendo que a Europa não tem uma orientação política para desempenhar um papel apaziguador no conflito sempre latente no Médio Oriente, porque “a União Europeia, infelizmente, está sem líderes e parece ter perdido o golpe de asa e a alma…” Reflexões que correspondem a uma visão realista da situação.

Relativamente à resposta de Soares: “Acho que o ministro dos Negócios Estrangeiros fez declarações sensatas”, quando interpelado sobre como via a posição de Portugal face à crise no Líbano, ousamos questionar: qual sensatez de um governante que se pôs nos bicos dos pés a oferecer a colaboração de um contingente militar português integrado na força multinacional a posicionar no Líbano, junto à fronteira com Israel? Um país, Portugal, enfrentando enormes carências e dificuldades, que está na cauda da União Europeia, não pode ter veleidades de emparceirar com países ricos nessas iniciativas. Devemos remeter-nos à nossa condição e fragilidade de parente pobre e não comprometermos mais a situação que aflige todos os portugueses. Estamos na NATO, é certo. Mas importa termos a noção das nossas fraquezas. E o dever de instarmos pelo reconhecimento e compreensão dos parceiros da “aliança” para as extremas incapacidades que nos limitam nos esforços de cooperação e, forçosamente, nos devem isentar de bastantes obrigações inerentes à condição de país membro da organização. Já temos demasiados compromissos nessa área de intervenções militares em missões de Paz, dispersas pelo Mundo. Exceptuando as compreensíveis obrigações para com Timor, não podemos continuar a incorrer nesse tremendo erro. Nem devemos persistir nessa insustentável via que afecta, sobremodo, o Orçamento em nome de um disparatado prestígio internacional que pode revelar-se oportuno e útil para iludir muitos portugueses mas que, no estrangeiro, não colhe benefício e reconhecimento. Pelo contrário, os outros povos estão-se nas tintas para essa bacoquice do fascínio que isso cause na parolice nacional da lusa terra.

Por tudo isto, contrapomos a Soares que o envio de tropas portuguesas para integrar forças internacionais, em princípio ou taxativamente: NÃO! Nesse domínio, cumpre-nos o dever patriótico de pormo-nos à margem de tais missões – sejam elas de iniciativa europeia ou da ONU - como fazem outros estados da Europa com maiores recursos que o nosso.

E a propósito, insistimos em afirmar que, na actualidade, o Exército não tem sentido de existência. Aliás, uma força que, praticamente, só serve para desempenhar missões no estrangeiro. Basta-nos as forças armadas compostas pela Marinha e pela Força Aérea. A G.N.R. como força militarizada satisfará as necessidades operacionais do território nacional.

Em dado passo, Mário Soares recorda uma recente visita à Venezuela e tece uma avaliação benévola sobre a personalidade e as orientações de Hugo Chávez. Já depois da entrevista, Hugo Chávez declarou que vai alterar a Constituição no sentido de possibilitar a sua manutenção na chefia do Estado sem limitação temporal. O que, na prática, equivale a consagrar-se como um ditador por toda a vida. Aqui, a impressão de Soares sobre Chávez veio a ser prejudicada pela ultrapassagem que o presidente venezuelano fez dos seus poderes e dos propósitos que o animam – agora mais elucidativos para a opinião pública venezuelana.

Interrogado sobre o iberismo Mário Soares confessa-se um convicto iberista e europeísta. Sensatamente faz a reserva: “Sem pôr em causa, evidentemente, a independência de Portugal”. Mas engana-se quando diz que “entendemo-nos a falar português, castelhano, catalão, galego”. Se bem dialogamos com os galegos e se percebemos o castelhano, já não entendemos o catalão. E os espanhóis esforçam-se por mostrar que não percebem o português. Não obsta a que Portugal e Espanha “possam vir a ter um papel importante na Europa e no Mundo, se souberem articular as suas políticas”.

A parte final da entrevista de Mário Soares é preenchida com a descrição das particularidades da sua vida pessoal, dos seus ócios e prazeres e com a divulgação de uma singularidade: ele, Soares, “tem a sorte de ter bons genes”. E acentua: “Herdados dos meus pais”. Ninguém sabia desta riqueza pessoal configurada na pureza genética do conhecido fundador do Partido Socialista. Daí, a malta ter ficado encantada com a revelação. Louvavelmente, ele o disse com magnanimidade associada à sua proverbial desenvoltura. Foi uma atitude bonita e enternecedora. Para que todos saibam e sem nada escondido na manga, ao que supomos interpretar. Apesar disso e da nossa curiosidade quanto aos meios de que se serviu para chegar a essa lisonjeira convicção, apetece-nos reter e recomendar a ideia: Soares está feliz porque teve a sorte de ter bons genes… Portanto, com implícita exclusão dos maus, dos enfermos, dos inconvenientes, dos endiabrados e dos embaraçosos caracteres; quais unidades independentes que, certamente, se existissem, escapariam ao domínio da sua privilegiada mente… Atendendo ao seu currículo de dirigente político é caso para exclamarmos: Safa! Do que nos livrámos… Também, ele, ex-presidente da República, estará mais contente, porque obteve os genes em herança; esta, provavelmente, conseguida sem ter liquidado o imposto sucessório. Face a esta (imprudente?) revelação, prenhe de implicações fiscais, lançamos uma advertência: Soares que se cuide… Os homens das Finanças andam por aí desvairados à procura dos contribuintes que se esquivam aos pagamentos dos impostos…

Decerto seria uma lástima que, depois de um gesto tão bonito, ele fosse inquietado pelo Fisco…

Fim