Um texto sem tabus…
VENEZA – A AVEIRO ITALIANA
Alguma vez, da autoria de um italiano,
o leitor ouviu ou leu esta expressão?
Brasilino Godinho
(Colaborador,
brasilino.godinho@gmail.com)
Lemos na edição do “JORNAL DE NOTÍCIAS” do p.p. dia 23 de Julho, uma indesejável alusão a Aveiro que, não sendo inédita ou surpreendente, porque já ouvida de vez em quando, nos deixou um travo amargo de desilusão. Também, incómodo por experimentarmos a estranha sensação de que algo da alma aveirense se esvai numa descabida qualificação atribuída a Aveiro, sem as pessoas se darem conta de quanto isso é prejudicial para a imagem da cidade e quanto afecta a autolatria de cada aveirense amante da sua terra.
Em grande parangona (considere-se grande palavreado sem jeito) está escrita no JN esta nota de resignada e habitual inferioridade nacional perante o estrangeiro: Rota da Luz vai apostar na “Veneza portuguesa”.
Antes de outras pertinentes considerações pomos esta interrogação: alguém, admite que um organismo privado ou oficial de Veneza se proponha desenvolver uma campanha de promoção da sua cidade sob o slogan de: “Veneza – a Aveiro italiana”? Certamente, que não! Os italianos prezam o seu rico património, na globalidade de todas as suas componentes físicas e culturais. E respeitam-no… Não se lhes conhecem, neste domínio, desvios de rebaixamento…
Então, nós, aveirenses, já chegámos tão baixo na perda do sentido de dignidade que nos permitimos recorrer a um expediente de subserviência e de inferioridade ao ponto de, para valorizarmos alguma coisa que possuímos, temos de nos pôr de cócoras e servirmo-nos de algo semelhante e de pretensa maior qualidade do estrangeiro?
Esta infeliz evocação de Veneza é a pior mostra de recurso saloio e a mais ofensiva manifestação de tacanhez mental, que se estão a dar a Portugal e ao Mundo. Igualmente, uma rusticidade que deslustra Aveiro e que, inevitavelmente, associada aos aveirenses os sujeita ao ridículo e ao vexame de serem taxados de idiotas e pacóvios.
Veneza é uma cidade linda, monumental, com características muito próprias que bastante a valorizam. Aveiro é uma cidade que, não tendo monumentalidade, tem outra textura e atributos de beleza e qualidade que lhe garantem um importante lugar entre as principais urbes portuguesas e notória singularidade à escala mundial.
Aveiro é aquilo que é. Não deve colocar-se na estapafúrdica posição de usurpar uma identidade que não é a sua. Tão-pouco, oferecer-se à deplorável e humilhante condição de subalternidade relativamente a Veneza. A cidade aveirense não tem que se apropriar das riquezas e valores alheios para se afirmar no país e perante os turistas da estranja. E, sobretudo, atente-se que não sai diminuída num hipotético e, de todo, despropositado confronto com a referida cidade italiana.
Aveiro não deve, nem pode engalanar-se com o nome, a fama, o tecido urbano e as glórias de Veneza; quais predicados a servirem-lhe de muleta para se engrandecer e creditar perante o mercado turístico. Também não dar a ideia que o faria por inveja e complexo de inferioridade. Apreciando o caso, segundo o ângulo da sensatez e à face da lisura exigível, qualquer processo de promoção concebido em tais termos descambaria no resultado desastroso de Aveiro ficar desfocada e muitíssimo mal “na fotografia”.
Aliás, se por aberração inqualificável assim fizesse, os turistas mais depressa correriam para Veneza do que para Aveiro, visto que o maior chamariz vai sempre para o original e não para a suposta cópia.
Enfim, uma triste figura só ao alcance de quem tão impensadamente apregoa um tamanho disparate e assim, gratuitamente, se dispõe a publicitar a encantadora cidade capital da antiga República de Veneza.
AVEIRO É AVEIRO! TÃO SIMPLES E MAGNÍFICO QUANTO ESTA ESPLÊNDIDA REALIDADE!
Que nos deve orgulhar! E que devemos festejar!
UM VOTO: QUE POR FALTA DE BRIO, POR FORÇA DE BAIXA DO FERVOR BAIRRISTA E CONSEQUÊNCIA DA PERDA DO ORGULHO DE ALGUNS, NÃO SEJAM OS AVEIRENSES OBRIGADOS A SENTIR VERGONHA DESSA SUA QUALIDADE – O QUE SUCEDERÁ CASO PERSISTA O DISPARATE DE DESIGNAR AVEIRO COMO A VENEZA PORTUGUESA.
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