Um texto sem tabus…
ESTRANHO NUM FILÓSOFO… NÃO PENSAR.
VULGAR NUM POLITICO LUSO… FINGIR.
Brasilino Godinho
Manuel Maria Carrilho, se bem presumo, é professor de Filosofia. Também político, membro do Partido Socialista. Foi ministro da Cultura do governo chefiado por António Oliveira Guterres. Nas últimas eleições autárquicas, candidatou-se à presidência da Câmara Municipal de Lisboa. Desde o tempo quase imemorial… a perder-se da memória colectiva, do 25 de Abril de 1974, é parlamentar com assento na bancada do PS. E foi durante a campanha eleitoral para a escolha do novo presidente da edilidade lisbonense que Carrilho mais evidenciou as facetas negativas da sua personalidade: a arrogância, as faltas de tacto, a perca de discrição e o incrível aproveitamento dos membros da família em termos de publicidade eleiçoeira. Mas terá sido no final do debate na SIC, anterior à data do escrutínio, que ele deu nota inequívoca das suas fragilidades anímicas e educacionais ao recusar-se, ostensivamente, a apertar a mão do adversário, Carmona Rodrigues. Alguns dias passados, com um grande desplante, mostrou-se para as televisões muito sorridente e afável com o mesmo Carmona Rodrigues. Uma refinada fantochada a que ambos se prestaram. Que só serviu para desacreditar os dois protagonistas. Só que não foi novidade. Estamos habituados a estas deprimentes cenas.
Pior, ainda, quando mais tarde veio a público fazer esta afirmação que é um paradigma de insensatez: “Não pensei que estivesse a ser filmado, para gáudio de um espectáculo vergonhoso que a SIC NOTÍCIAS fez”.
Bem, vamos por partes.
Então, um “filósofo” que por inerência, habituação e ser suposto, deveria estar com o espírito alerta e mobilizado no exercício da mente, sem desfalecimentos e hiatos na concentração psíquica, distrai-se, perde inopinadamente a autoconsciência e esquece-se do lugar, do ambiente e do seu duplo estatuto de cidadão e político, em tudo aquilo que concerne à imagem e afirmação do seu ser e das responsabilidades cívicas que lhe incumbe em todas as circunstâncias? Como foi possível isso acontecer?
Claro que existe uma explicação. Ela assenta num padrão comportamental que se vem instalando no meio político. E Carrilho mostrou que o absorveu e, sem inibições, o exibe. Tal e qual a generalidade dos políticos portugueses. O fingimento. Hoje os deputados, os governantes e os membros dos grémios partidários, não têm pejo do disfarce, da hipocrisia e da insensatez, a que recorrem frequentemente na praça pública para iludir os cidadãos e os convencer de qualidades e aptidões que estão longe de possuir. É o próprio Manuel Maria Carrilho que ao proferir aquelas palavras veio insinuar que “se pensasse que estava a ser filmado” outro teria sido o seu comportamento. Talvez um sorriso rasgado e hipócrita acompanhado de um forte abraço ao seu rival para espectador ver. Apreciar. E elogiar...
Ademais, tratou-se de uma atitude que nem corresponde à verdade por duas ordens de razões a saber: a primeira razão porque - como os espectadores viram - ele, à saída do estúdio, foi acompanhado pelos jornalistas e os operadores de câmara (o que, igualmente, é procedimento habitual das televisões) e disso Carrilho se apercebeu ao fitar as câmaras de TV; a segunda razão porque não é nenhum mentecapto incapaz de ter a percepção do que se passa à sua volta.
Daqui se infere que Manuel Maria Carrilho tem duas personalidades e dois comportamentos antagónicos. Conforme ocorra a sua privacidade e a ausência de jornalistas ou aconteça a presença de circunstantes, assim Carrilho se desempenha das suas actividades e se mostra ou se esconde numa qualquer máscara de cinismo e desfaçatez.
Quanto ao “espectáculo vergonhoso” só pode haver um registo: quem o criou e desempenhou foi ele, Manuel Maria Carrilho. A SIC cumpriu a sua missão de o transmitir em directo como acontece normalmente em ocasiões semelhantes.
Para dar maior ênfase ao descrédito e à desorientação Manuel Maria Carrilho, recentemente, lançou um livro em que pretende salvar a face e atacar tudo e todos que o criticaram ou lhe negaram apoio. Um exercício de narcisismo inconsequente e lastimável. Muito delirantemente publicitado pela imprensa e pelas televisões que bastante se divertem e contemplam com estes tristes espectáculos.
Às vezes, interrogo-me: que espécie de filósofo é este famigerado senhor Carrilho? Qual é a sua cartilha? A fecundidade das suas lucubrações? E a raiz do seu pensamento?
Conclusão pertinente: são deste tipo e classe os ilustres políticos e governantes que representam medíocres papéis no nosso teatro político. Ou, se preferirem, no circo e na palhaçada em que se converteu a política à portuguesa.
Para terminar, reveste interesse - para todos - atermo-nos à pretensa ou real valia dos atributos de quem se apresenta ornado com a designação de cultor da Filosofia, inscrever precisos significados do termo e condição de filósofo. Ou seja: aquele que é versado em Filosofia; amigo da sabedoria, que se eleva acima das contingências e interesses do comum dos homens e se acha possuído de serenidade e fortaleza de ânimo. (Por acaso, lembram-se do saudoso professor Agostinho da Silva? Este português de rija têmpera preencheu requisitos inerentes à condição de filósofo).
E, assim considerando o que identifica e determina um cidadão a ser estudioso e praticante da ciência filosófica – aquela geral e insubstituível dos princípios e das causas - volto ao título da presente crónica para formular duas simples perguntas que deixo no ar:
Primeira, Manuel Maria Carrilho será um filósofo?... Qual o merecimento?!...
Segunda, como assim, filósofo, se ele nem sabe encarar os seus reveses com filosofia?...
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal