Carta Aberta
A um mação luso, algures no Brasil
De: Brasilino Godinho
Só hoje lhe respondo devido ao facto de, tendo lido apressadamente o seu exaustivo texto, nem me apercebi que se me dirigira. E no atendimento do correio e elaboração das respectivas respostas, venho seguindo a ordem cronológica das entradas na minha “caixa”.
Agora, ao reler o artigo “Ordem Maçónica, dê-me conta que me era dirigido.
Começo por lhe dizer que estou em total desacordo consigo… quando, de forma excessiva, minimiza as inegáveis qualidades da sua escrita. Escreve fluentemente, em português correcto e chega a ser brilhante na exposição das ideias e no discurso apologético da Maçonaria. Felicito-o! Não tenha complexos, porque é mesmo bom na arte de escrever. Importa, sempre, sermos justos e isentos (sublinho: justos e isentos) na apreciação que fazemos do próximo.
Também me convenceu ser uma pessoa digna. Fiquei a conhecê-lo como um místico profundo.
Teve uma atitude decente. Adiantou-se em defesa da sua “dama”. Enquanto outros se exibiram em espectáculos deploráveis, apresentando-se disfarçados, escondendo a qualidade de membros da Maçonaria e movendo, de enviesado jeito, sucessivos processos de intenção ao signatário desta mensagem. Tentaram colocar-me os mais variados rótulos. Atribuíram-me malévolos intentos. Só faltou admitir que o Brasilino Godinho classificava as maçonarias como associações de malfeitores ou de bandoleiros de estrada. Parece que ficaram satisfeitos. Desopilaram! Que lhes faça bom proveito! E que o Grande Arquitecto do Universo lhes perdoe… se tal entender apropriado. E a cujo desfecho de julgamento divino, me conservarei alheio.
O senhor teve a hombridade de surgir a descoberto, convicto e determinado. Assim, agem as pessoas civilizadas. Congratulo-me!
Em si, destaco uma faceta que muito aprecio na condição humana: o empenho no aperfeiçoamento das aptidões e qualidades, postas ao serviço da comunidade. No caso em apreço é de exaltar a vontade e a determinação de ultrapassar as circunstâncias adversas que mencionou e o afectaram em determinada fase da sua existência. Quando isso sucede o próprio fica enriquecido e a sociedade recolhe benefícios cotados ao nível do relacionamento cívico. Apreciei tomar informação.
Na quase totalidade da sua prosa ressalta a preocupação de valorizar a natureza e as especificidades da doutrina e instituição maçónicas. Esteve no seu papel de fervoroso devoto e inflexível seguidor da obediência. E desempenhou-se da tarefa com razoável comedimento nas sucessivas interpelações que, ao longo do texto, vai fazendo ao visado Brasilino Godinho. Todavia, quando entra nos últimos parágrafos, embalado na euforia da dissertação, descai um pouco no tom, na forma e no estilo, tornando-se desagradável e agressivo. Acaba por, sem disso se dar conta, confirmar uma inadmissível característica da Maçonaria – repito: aqui considerados todos os ramos da família maçónica, incluindo a Maçonaria Branca (Opus Dei) – a celebérrima intolerância maçónica.
O articulista, senhor Fernando Marques, dirigindo-se a quem não conhece de lado nenhum, permitiu-se insinuar intenções e qualificações de todo deslocadas, incorrectas e abusivas. Lamento!
A trilogia Liberdade, Igualdade e Fraternidade é-me muito cara. E a Maçonaria exibe-a como porta-estandarte do seu posicionamento na sociedade e no relacionamento entre “irmãos”, iniciados, mestres, etc.. Mas, frequentemente, não a pratica em relação aos profanos. A liberdade de pensamento, de expressão, de crítica relativamente à sua organização nem só não é aceite ou tolerada, como as intervenções críticas dos “infiéis” são censuradas e bloqueadas das mais diversas maneiras e se, possível, são, de todo, afastadas com agressividade. Se as maçonarias pudessem, cortavam a raiz ao pensamento (a tal, mencionada pelo inesquecível poeta António Gedeão). Estou a tocar num ponto que me é muito sensível, porque bastante tenho sido atingido na minha actividade de escritor e comentador da imprensa escrita. Sem prazer, anoto: isto, sei de cor e salteado. E já agora, informo que nunca tendo sido ou desejado ser “iniciado”, conheço alguma coisa das maçonarias e tenho experiência de vida que me leva a estar atento e a não me fiar nas aparências e superficialidades das coisas e loisas e nos encantos daqueloutras publicitadas belas fachadas de imponentes construções que, às vezes, ocultam sombrios interiores. Aliás, não fora dar-se essa particularidade (de algum saber na matéria), não faltaram oportunidades de actualização de conhecimentos, se isso se tornasse necessário - tendo em conta a quantidade de mensagens recebidas no meu correio, nas últimas semanas, que iam ao encontro de suprir eventuais lacunas sobre tal assunto. Todos acreditamos que os fraternos “irmãos” não estão desatentos… a ver passar os comboios. Algo que está à vista desarmada…
Espero não o incomodar; mas digo-lhe, com a maior franqueza: tudo o que escreveu já era do meu conhecimento, de anos.
Somente a título de curiosidade (porque não é meu feitio referir-me a aspectos da minha vida privada) – condescendendo, embora, porque de algum modo desafiado - e para avaliar o espírito de curiosidade deste sujeito que dialoga consigo: então, não é que o signatário desta mensagem, aos quinze anos, se deu ao desplante de ler um calhamaço de quinhentas e tal páginas de um tratado de filosofia tomista e, não obstante, decorridos escassos anos (antes de atingir os vinte), já tinha mandado às ortigas a etiqueta de católico que lhe tinha sido aplicada á beira da pia baptismal, ainda criança de colo.
Para terminar este “palavreado” que vai longo, dou um inequívoco esclarecimento: existe uma profunda divergência entre o Brasilino Godinho e o senhor Fernando Marques, assente na avaliação da influência da Maçonaria (incluída Opus Dei) na sociedade portuguesa, na verificação do imenso Poder que desfruta em Portugal e na comprovação das correlativas responsabilidades que ela, exactamente por esse decorrente e avassalador domínio temporal, tem na desastrada situação em que o país está mergulhado. Divergência extensiva à incompatibilidade de filosofias atinentes à definição do ser, das formas de viver e das maneiras de estar em comunidade, à luz da racionalidade, com activo recurso às faculdades de alma e constante aplicação da higiene mental.
Portanto: o senhor Fernando Marques fica abrigado nas suas convicções. O Brasilino Godinho prossegue motivado na luta por um mundo melhor em que os cidadãos se entendam fraternalmente sem subterfúgios, sem privações da Liberdade, usufruindo a Igualdade e praticando a Fraternidade. Enfim, no integral respeito dos princípios consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Esta, a minha Bíblia!!!
Brasilino Godinho
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