Um texto sem tabus…
“A BRINCAR É QUE A GENTE SE ENTENDE...” SERÁ?
Brasilino Godinho
O sinónimo de brincar é bem expressivo: divertir-se à maneira das crianças. Na idade da infância é uma prática benéfica, importante para a aquisição do equilíbrio emocional e para a aprendizagem do relacionamento ético-social. Do mesmo modo, com implicação relevante na formação moral, na criação de laços fraternos com o semelhante e no conhecimento das matérias culturais. Para os adolescentes e adultos as brincadeiras, nas suas variadas manifestações, constituem-se formas de lazer e de desanuviar tensões não só necessárias como adjuvantes do bem-estar físico e da estabilidade do espírito.
Muitas vezes, é por causa da pluralidade das brincadeiras e dos diferentes estados de alma gerados espontaneamente nos praticantes envolvidos que ocorrem as impensáveis grandes complicações. Lembramo-nos que já na idade infantil e nos recreios da escola os jogos e as folias começavam bem e com alegria, mas nunca estava garantido que acabassem em harmonia. É que, de repente, surgiam os desentendimentos logo seguidos de pontapés, lambadas e, nalguns casos, dos choros convulsivos. Em muitas ocasiões, as zombarias de mau gosto feriam gravemente a sensibilidade dos atingidos provocando danos psicológicos que custavam imenso a ultrapassar. Assim acontecia nos tempos da nossa infância. Como se veio repetindo ao longo dos anos com os nossos filhos, com os netos e vai suceder com os descendentes na continuidade dos tempos. Isto dito para realçar que não obstante o homem ser um animal racional possui a característica da agressividade que, sendo genética, a qualquer instante, pode manifestar-se com maior ou menor ímpeto; consoante a força anímica que tiver disponível no subconsciente para conter os seus ímpetos. Logo, as reacções mais ou menos violentas podem acontecer durante uma simples brincadeira.
Por outro lado, brincar pode ter outras significações nada inocentes e, até, algo condenáveis pelo senso comum. Por exemplo: se dissermos que alguém está a brincar com o fogo insinuamos que não toma a sério coisas dignas de ponderação e perigosas ou que não tem o sentido das responsabilidades. Esta expressão aplica-se, geralmente, aos políticos e governantes deste país. Também a quantos nos órgãos de Comunicação Social manipulam a opinião pública, agindo como encapotados agentes de obscuros interesses.
Quando se entra nesse vasto campo abrangente das brincadeiras de mau gosto e das práticas anti-sociais são inevitáveis as consequências nocivas e evidentes os malefícios que advêm quer para o sujeito passivo, quer para a comunidade.
Daqui se infere que a abordagem analítica, serena, objectiva, consciente dos assuntos e a resolução dos problemas suscitados no quotidiano das pessoas e da sociedade, não serão conseguidas mediante o recurso às brincadeiras ou a expedientes menos sérios. As provas estão feitas. Nem precisamos recuar no tempo. Sequer citar acontecimentos e protagonistas.
Verdade reconhecida e frequentemente comprovada: a brincar ou a enganar os cidadãos não nos entenderemos no essencial das questões que tenhamos de enfrentar.
Aliás, se dúvidas tivéssemos recalcadas no subconsciente, quanto a este tema, elas rapidamente se dissipariam ao reflectirmos sobre a natureza animal do homem, as implicações comportamentais dos indivíduos, as normas de funcionamento da sociedade, as imposições de ordem ética e cívica que determinam a vivência da cidadania; enfim, ponderando e relacionando as múltiplas e diversificadas envolventes físicas e espirituais do meio em que nos inserimos; as quais, nos enformam a sensibilidade e, acentuadamente, nos condicionam os estados de alma e os comportamentos.
Determinantes como são o ser e o acontecer, a lógica e a visão realista e objectiva da vida, desde que a elas receptivos, teremos assente a consciencialização das coisas, tornada firme pela prática da higiene da alma. Um estado de espírito, certamente, amparo da mente e agente propulsor da fortaleza do pensamento. Este, assim colocado ao abrigo da confusão, da superficialidade, da estupidez e da vacuidade. Enquanto refúgio de fontes das quais brotam a inspiração, as ideias, as motivações e os actos, manifestações essenciais e relevantes na existência da humana criatura.
Tal considerando, não se admitem atropelos e entraves na marcha da vida colectiva da nação portuguesa. Ela tem de prosseguir com verdade e transparência. Igualmente, com o indispensável repúdio da falácia de ser com brincadeiras, fingimentos, distracções, incompetências e oportunismos que nos acertaremos em relação às vivências dos cidadãos, às contingências e necessidades da comunidade e ao melhor devir de Portugal.
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