Um texto sem tabus…
SÓCRATES,
NA CASA DA MÚSICA… A DAR-NOS MÚSICA?...
Brasilino Godinho
(Colaborador.
1 - O chefe do governo, Sócrates, transmite-nos regularmente a sensação que está num estado de graça consigo próprio, desde a eleição que o guindou ao poleiro do Palácio de S. Bento. O homem passeia-se pelo país, entusiasmado e confiante no futuro pessoal. Acreditando no seu – porque no de Portugal não estará tão crédulo. O destino de Portugal é bastante nebuloso. Ele não ignora isso. Os portugueses sentem-no na pele e na carteira…
Mas, bem-estar de alguns versus desgraça de muitos. Por exemplo: o engenheiro Sócrates está feliz. Tem bom aspecto de português suave. Bem vestido. Melhor ajanotado. Sorriso permanente estampado no rosto. Com a aparência de estar alimentado sem restrições de dietas. Palavroso para além do que bastaria. Mostra leveza no andar – já recuperado da cambalhota com os esquis nos Alpes suíços. Evidencia determinação nos objectivos que traçou para as actividades governativas; embora com o registo de alguns falhanços embaraçosos de más consequências para as debilitadas bolsas dos contribuintes e para as esfomeadas bocas de muitos portugueses. De ventura e prosperidade como parece ser o seu estado de espírito e a realidade do seu dia-a-dia, as coisas más que atormentam a maioria dos portugueses passam-lhe ao lado.
Devido às suas ideias optimistas, vivendo sem dificuldades económico-financeiras e, pela certa, movendo-se a um diferenciado ritmo noutros recatados ambientes muito distantes dos lugares frequentados pelos humildes e desfavorecidos – os quais são sistematicamente vítimas de humilhações e de ofensas - não ajuíza das extremas dificuldades que se deparam aos seus compatriotas. Também, dá-se ao despudor de luxos e extravagâncias que - nem estando abrangidos por algum entrave legal que, eventualmente, o contivesse nos exageros dos gastos e da exposição mediática – marcam um aberrante contraste entre a opulência do dirigente e a miséria dos dirigidos e subordinados. Igualmente, maneiras de estar que transmitem à opinião pública uma chocante imagem de displicência, de indiferença e de sobranceria, face às degradantes condições de vida de muitíssimas famílias portuguesas.
Por isso, foi complicado, incómodo e desagradável vê-lo em férias no Quénia, enquanto no país alastrava a calamidade dos fogos florestais e os compatriotas do rincão pátrio iam amargurando na lufa-lufa da precária existência, comendo o pão que o Diabo amassou. E não só. Sem dúvida, também, sonhando e vislumbrando as inacessíveis férias por um estreito e afunilado canudo incluso num mundo de fantasias naturalmente acessível à mente de cada um dos indígenas lusos, quando tudo lhes falta nas confrangedoras existências. Aí a grande e terrível diferença. O chefe do governo: feliz, rico e gastador. Os indígenas: angustiados, pobres, sem uns míseros euros para adquirir o pão como mínimo sustento. Este antagonismo de situações é gritante exemplo das profundas desigualdades sociais que existem
Mais tarde, em Dezembro de 2005, José Sócrates meteu curtas férias de Natal e ao jeito acintoso, repetiu a gracinha: deu uma escapadela à Suíça deixando o povoléu num estado de aperto do cinto. Aperto imposto aos patrícios que os levava a dar tratos à imaginação no sentido de descobrirem decentes formas de aquisição das pequenas vitualhas com que animassem as tradicionais ceias familiares. De novo, digo, de antiga e contumaz a idêntica desigualdade antes assinalada. Estas ideias e práticas indecentes de os governantes e os políticos se permitirem todos os excessos, os maiores aumentos de rendimentos e abundâncias de mordomias enquanto, abusando dos poderes e influências que têm ao alcance, exigem à maioria dos portugueses os continuados e progressivos sacrifícios e frustrações nos seus legítimos anseios de melhor qualidade de vida, devem acabar sem tardança. JÁ! Todos, sem excepção, devem ter a sua quota-parte de renúncias e de sacrifícios. Os políticos que dêem o exemplo: aufiram menores ordenados, cortem nas regalias e sejam menos esbanjadores. Isto é legítimo! Necessário! E coincidente com a melhor doutrina social e as determinantes de um Estado de direito. E não sendo este o caso de Portugal, comece-se por aí a convergência imprescindível.
2 - Entretanto, o engenheiro José Sócrates vai percorrendo o território continental numa cruzada de propaganda de amanhãs radiosos.
Há dias visitou uma escola do ensino básico. As reportagens das televisões mostraram-no radiante – e os jornais deram disso nota e realce – a ouvir, embevecido, as criancinhas a cantarem em inglês uma canção de encantar o senhor chefe do governo. O governante estava eufórico. Sim senhor! Os meninos de uma escola portuguesa a dar-lhe as boas vindas
Ele, eufórico, insinuando: ponham os olhos nisto… É assim que estamos a criar as bases do desenvolvimento e do porvir de Portugal. Com o devido respeito ao primeiro-ministro do governo português, daqui lhe digo: bem podem os actuais governantes limparem as mãos à parede!
Naturalmente, interroguei-me: preocupou-se o chefe do governo de Portugal em se informar se as criancinhas estavam a aprender bem o Português? Com que graus de interesse e aproveitamento? Não! Deu para entender que o chefe do governo de Portugal nem pensou nisso! Sócrates, lamentavelmente, esquecendo os ensinamentos da escola do seu homónimo grego e desmerecendo no apelido socrático, não esteve para aí virado. Ó! Como é frustrante chamar Sócrates a este engenheiro José… Arrepia!
Tão baixo se chegou na defesa, no usufruto e na avaliação dos nossos valores que nem se viu ninguém a fazer qualquer reparo de censura à elucidativa (também, demasiado ostensiva e arrogante) omissão do primeiro-ministro. Os portugueses que tão mal falam e escrevem o Português – o que resultou das desastradas políticas de ensino dos sucessivos governos, ao longo dos últimos trinta e dois anos - certamente podem desesperar de alguma vez se renderem ao encanto da sua bela língua e ao prazer de a utilizar com o rigor de expressão e a eficácia de compreensão desejável e necessária a um salutar relacionamento entre todos que dela fazem aplicação.
Por esta condenável via do desleixo e negação da língua pátria, tão do obsceno agrado dos nossos incríveis governantes, em data próxima estaremos a falar um reles dialecto. Se, entrementes, este não for substituído pelo Inglês…
Valha-nos o empenho dos irmãos brasileiros nos cuidados de defesa e expansão da língua que herdaram dos portugueses. Tudo o que se está passando em Portugal leva a crer que a preservação do Português esteja dependente dos políticos e dirigentes da nação brasileira.
3 - O chefe do governo tem vindo a anunciar contratos de grandes investimentos com diversas entidades internacionais. Às vezes, isso é feito com demasiado espalhafato e pouco sentido de dignidade do Estado. O que aconteceu com a visita de Bill Gates constituiu um mau exemplo de actuação pública. Para a posteridade, ficou aquela inacreditável cena de subserviência de seis ministros postos em fila ao redor de uma mesa a assinar os documentos do contrato perante o magnate americano e José Sócrates; estes, assentando os respectivos traseiros nos cadeirões e assumindo empoladas poses de reis magnificamente expostos nos seus imponentes tronos. Impunha-se: mais discrição; menos servilismo. Igualmente, se exigia uma mínima consciência do ridículo.
Agora, foi na Casa da Música. Ali houve aparato excessivo no anúncio de vários empreendimentos de bastante importância para a recuperação económica – a tal, tantas ocasiões prometida e que, sempre, tarda em chegar.
Tudo bem naquilo que nos encaminhe para a recuperação da economia nacional. Sobretudo, que esteja perspectivado no sentido do desenvolvimento e da criação de melhores condições de vida deste atormentado povo.
Porém, há qualquer coisa no ar susceptível de tolher a esperança do Zé Povinho. Não estará o engenheiro José Sócrates a transmitir-nos música? Aquela ideia de anunciar medidas de largo alcance na Casa da Música não terá uma valência psicológica escondida no imo do governante? Sim! A observação é pertinente… A suspeita tem alguma lógica… Pelo menos, a escolha da Casa da Música, presta-se à confusão… Será algo premonitório?
Repito: Sócrates estará a dar-nos música?...
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