Um texto sem tabus…
Marcelo e Soares, tal e qual o peixe…
1 - Diz o ditado: “Pela boca morre o peixe”.
E Marcelo Rebelo de Sousa, à semelhança do peixe, suspenso do anzol, estrebuchando até ao estonteamento, frenético, vai perdendo forças e equilíbrios…
Embora nalgumas ocasiões fale menos do que devia… se no cumprimento da ética, em muitas ocasiões conversa de mais, principalmente nas intervenções aos domingos na TVI e, recentemente, nos tempos de antena concedidos pela RTP. Se em tempo passado perdeu a chefia do PSD, no dia 22 de Janeiro de 2006, não tendo perdido a eleição e tendo ganho o seu candidato, cantou vitória pessoal. Ou não tivesse sido a pessoa que mais promoveu o candidato Cavaco Silva. Mas com um preço exorbitante: o descrédito que advém da abrangente incoerência que vem evidenciando com alguma regularidade.
Vejamos: Para só nos cingirmos à questão Cavaco Silva, o professor Marcelo Rebelo de Sousa foi, no congresso do PSD realizado na Figueira da Foz, o militante que mais manobrou nos bastidores para ser conseguida a eleição de Cavaco como novo chefe do partido. Certamente, no pressuposto de ele ser o mais credenciado e competente entre os concorrentes propostos na agenda eleitoral.
Mais tarde, em Maio de 1995, pós saída de Cavaco Silva da chefia do governo português, num tom peremptório, classificou-o de medíocre e inculto – o que provocou um enorme estardalhaço. Nessa altura, os portugueses, atónitos, deduziram que Marcelo se precipitara e enganara na escolha que fizera anos antes no casino da Figueira da Foz. Com o gravame de ter arrastado bastantes correligionários no engano.
Há três anos propôs o lançamento da candidatura de Aníbal Cavaco Silva à presidência da República. Perplexos, interrogámo-nos: Como assim? Ele, Marcelo Rebelo de Sousa, primeiro, na Figueira da Foz, considerou Cavaco Silva “bestial”; depois, quando este seu companheiro de partido saiu do governo, classificou-o de “besta”; e a seguir, há três anos, volta a recuperá-lo como “bestial” (socorrendo-nos dos termos futebolísticos que estão em voga).
Desde então (2003), o conhecido “criador de factos políticos” foi desenvolvendo de forma continuada, obsessiva, a promoção do “seu” candidato. Todo este percurso de Marcelo representa um contínuo ziguezague de incoerências que não é susceptível de ser iludido. Digam-nos: onde está o fio condutor de coerência, de ética e de objectividade, de Marcelo Rebelo de Sousa?
Assim, o professor doutor Marcelo Rebelo de Sousa tem vindo a perder credibilidade. Na actualidade, as suas opiniões valem aquilo que valem… e os factos demonstram. Sem margens para dúvidas ou desculpas de mau pagador de promessas…
2 - Mário Soares que perdeu a eleição presidencial de 22 de Janeiro 2006, por vários motivos, teve na boca a causa primeira, de ordem pessoal, desse desaire. Por duas vezes, no espaço dum ano, em momentos cruciais, falou demais. Melhor teria sido se estivesse calado.
A primeira vez que tal aconteceu foi quando do jantar de celebração dos seus oitentas anos afirmou que ali acabava, irrevogavelmente, a sua actividade política. Disse: Basta! A segunda vez em que meteu o pé na argola aconteceu com aquele gesto de convidar Cavaco Silva a proferir uma palestra sobre política nas instalações da Fundação Mário Soares no lugar de Cortes, concelho de Leiria. Ali, sem meias-medidas ou contenção na língua, afirmou que Cavaco Silva tinha qualificação para ser um bom presidente da República. O que foi um espanto. Deixou os portugueses de boca aberta.
Se quanto à decisão de pôr termo à carreira política houve um generalizado consenso sobre a sua certeza e oportunidade, já a apreciação elogiosa a Cavaco causou estranheza a muita gente, visto que ainda se mantinham vivas as recordações das críticas depreciativas que Soares e os socialistas sempre fizeram à governação cavaquista e à personalidade do antigo dirigente do PSD. Também em vários sectores da população portuguesa havia a opinião de que Cavaco Silva tinha falhado como político e governante. Aliás, como asseverava o seu insuspeito correligionário, antigo presidente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa.
Com estas duas atitudes Mário Soares ficou irremediavelmente condenado à definitiva reforma política.
Posteriormente, esqueceu-se disso. Há meses quando anunciou a sua candidatura à presidência da República no claro intuito de contrapor-se a Cavaco Silva por julgá-lo inapto para o cargo, Mário Soares não terá feito uma avaliação correcta das circunstâncias que o condicionariam na campanha eleitoral. Pese, embora, o espírito combativo e a determinação no objectivo, ele não se compreendeu a si próprio. Desapercebeu-se das suas fragilidades política e ética, decorrentes do rompimento da voluntária promessa de abandono do combate político e da previsível contradição insanável entre o rasgado elogio do bom candidato Aníbal Cavaco Silva e os posteriores e inevitáveis reparos que viria a formular sobre o adversário, apontados no sentido de dizer aos eleitores que, afinal, o seu antagonista mais directo deixara de ser bom para passar a mau – quiçá, por ele, Soares, agora estar na liça.
Pelo que se viu durante o ciclo da intensiva campanha eleitoral Soares não se ficou pelos lapsos de linguagem; igualmente deu tiros nos pés. Daí, fraquejar-lhe o “pio” de habilidoso passarão habituado a pairar nas nuvens do nosso espaço político. Exactamente por não ter a autoridade moral - que lhe escapou na (referida) segunda emissão de voz - para desacreditar Cavaco molestando-o nos seus pontos fracos e vulneráveis, destacados pelo Prof. Marcelo Rebelo de Sousa: “a incultura política e não só” e aquele que foi “o triunfo da vulgaridade” no exercício da função de chefe do governo. Neste aspecto, Mário Soares ficou manco. A partir desta constatação percepcionada pela maioria dos portugueses Soares foi-se atrasando na marcha rumo ao palácio de Belém. A derrota terá que assumi-la como expiação dos pecados da renegada promessa e da descabida, imprevidente e incómoda exaltação do futuro concorrente. É caso para nos interrogarmos: onde Soares tinha a cabeça?... Na Lua? Ou enterrada na areia, imitando a avestruz?
3 - Quaisquer que sejam os ângulos de apreciação das discrepantes, antagónicas, atitudes do ex-chefe do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa e das incontinências verbais do patriarca do PS, Mário Soares, ressalta a característica comum de muitos políticos e governantes portugueses – qual marca negativa de identificação no seio da nossa sociedade - que se resume em três palavras: falta de coerência.
Acontece ser a coerência aquela insubstituível qualidade do ajuste dos nexos entre as ideias ou entre os factos. Também, da conexão lógica entre umas e outros. Se todos temos a obrigação de ser coerentes, dos políticos e dos governantes se espera que estejam na primeira linha dos que se preocupam em respeitar esse grande valor da cidadania. E nem será por mera casualidade. A eles cabem muitas responsabilidades decorrentes de actuarem como agentes operacionais e mentores da gestão da política nacional em representação do colectivo de cidadãos. Igualmente, a estes devem proporcionar exemplos enriquecedores de ordem pedagógica conducentes ao enraizamento de mais qualificadas formas de estar em sociedade.
Retendo este dado, vamos um pouco além: tomemos consciência do respeito que nos devemos a nós próprios e aos concidadãos. O qual se manifesta pela aplicação que damos aos princípios e pela transparente e objectiva aceitação dos valores que regulam o nosso viver quotidiano e o normal funcionamento da vida colectiva.
E agora, a inevitável observação: sendo os políticos e os governantes tão relapsos no incumprimento da coerência é desejável que sempre que “ponham o pé na poça” haja uma reprovação geral que, de algum modo, lhes faça mossa e os leve a baixar a emproada crista de capões de muitos altos poleiros que uns se arrogam de ser e a pôr no seu apropriado lugar os garnisés insignificantes que outros são.
Um texto de Brasilino Godinho
(Autor de: “A QUINTA LUSITANA”)
(brasilino.godinho@netvisao.pt
http://quintalusitana.blogspot.com/
Nota informativa - Exemplares deste texto serão distribuídos pela seguinte ordem:
1 – fiéis leitores das obras do autor;
2 – amigos e conhecidos do autor;
3 – cidadãos sensíveis aos problemas que afectam a comunidade portuguesa.
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