Um texto sem tabus…
D. AMBRÓSIA, APETECE-ME ALGO…
Brasilino Godinho
brasilino.godinho@netvisao.pt)
http//quintalusitana.blogspot.com/
Não é o chocolate apresentado pelo mordomo Ambrósio da publicidade que me apetece.
O que estou desejando é trocar algumas impressões com a popular D. Ambrósia.
Nunca os nossos passos se cruzaram. A D. Ambrósia não me conhece. Enquanto eu a conheço de ginjeira. Espero que ela, não sendo dada a leituras, venha a tomar conhecimento deste palavreado.
Comecei a reparar nela desde os recuados tempos do início dos mandatos presidenciais do Dr. Jorge Sampaio - aqueles que tiveram duração e visibilidade nos salões do palácio de Belém.
A D. Ambrósia despertou a minha atenção logo que o Dr. Jorge Sampaio se meteu a caminho de vários lugares, em jeito de peregrinação, ao encontro de desvairadas gentes que o aplaudiam freneticamente, agitando bandeirinhas, lançando-lhe confeitos e, muitas vezes, brindando-o enternecidamente com engraçados piropos e algumas beijocas à mistura; sempre que ele, diligente e compenetrado do seu papel, se deliciava nas representações das presidências mais ou menos abertas conforme as circunstâncias de local, de clima e de categorias sociais das maltas alinhadas nas praças da República profusamente espalhadas pelos cantos desta encantadora e intrigante região ocidental da Europa. Presidências assim designadas para não se confundirem com as presidências fechadas… Diferenças que são perfeitamente conhecidas por quem paira ao redor do Poder e por outros cidadãos que conseguem discernir aquilo que vai acontecendo por aí… mas, em contraponto, totalmente desentendidas por todos os Anjos, Zés, Angélicas e Marias Papoilas - assíduos figurantes uns ou interessadas espectadoras outras, quer dos espectáculos folclóricos do Portugal profundo e das sessões de fado do Bairro Alto, Alfama, Mouraria e doutros mal afamados sítios da zona saloia de Lisboa; quer das novelas, sejam elas presidenciais, governamentais ou as dos desamores e traições produzidas em Portugal e no Brasil. Todas, inevitavelmente emitidas pelas televisões e relatadas pelos jornais.
Voltando à D. Ambrósia, as televisões mostravam-na divertida e exuberante, próximo do “seu presidente” a qualquer momento que ele se apresentasse ao respeitável público durante todas aquelas andanças pelos 308 concelhos de Portugal. Foi uma estafa para ele e para a D. Ambrósia que tanto se esforçava por acompanhar e festejar o “seu presidente”. Claro que ele e ela não se lamentavam das respectivas canseiras. Quem corre por gosto não cansa…
O que se conhece da D. Ambrósia não é de grande monta nem valerá a pena haver cuidados de esmiuçar as suas especificidades. Até para não termos surpresas desagradáveis melhor será jogarmos pelo seguro da contenção no rebuscar o passado. Mas sabe-se ou intui-se o suficiente por aquilo que se viu a olho nu nas televisões. Ela aparenta meia-idade. Tem genica. Evidenciou ser uma sampaísta determinada.
Com preocupações de elogiar o incansável turista e exemplar chefe de família, o senhor Sampaio. Mostrando incontida ânsia de festejar o cidadão Dr. Jorge Sampaio. E fazendo profissão de fé e de amizade lá ia exibindo desregrados impulsos que, infalivelmente, a levavam a apaparicar o senhor presidente. Não veio mal ao mundo com o sucesso de tais brejeirices…
Quanto às presidências abertas digamos que se desenrolavam segundo a rotina maduramente congeminada, a que correspondia o enfado de alguns, o embaraço dos acólitos e oficiantes do ritual quando assistiam perplexos às derrapagens verbais do Dr. Sampaio. Igualmente, sobre elas incidiu a indiferença geral da multidão que não vai nessas ondas de conversa fiada para entreter e entusiasmar basbaques perdidos sem eira nem beira, confinados nos seus lugares do interior e aturdidos nas margens do pântano de que falava o Guterres de recente era socialista.
Agora, prestes a desocupar o palácio de Belém, o Dr. Jorge Sampaio e a D. Ambrósia preparam-se para irem às suas vidas; as quais, se prevêem repartidas em torno de cada uma das suas respectivas lojas: o Dr. Sampaio ocupado nos absorventes lançamentos de “pranchas” nalguma incógnita e sofisticada grande loja da Fraternidade Escondida, sita ali no Pátio dos Cânticos Entoados em Surdina e a D. Ambrósia, finalmente, retornada à pacatez das voltas na sua loja de mercearia do bairro popular onde reside, entretida a atender a clientela e a rememorar as suas incríveis aventuras nas excursões presidenciais.
Aqui, neste preciso ponto, apetece-me algo… Ou seja: dizer à D. Ambrósia e aos seus inúmeros parceiros dessas fantásticas jornadas turísticas, que aqui e acolá se integraram nas festejadas celebrações presidenciais tão enriquecedoras do arraial da República e do folclore nacional, que é chegado o momento de se fazer o balanço dos proveitos alcançados de tudo isso. Sem esquecer ou menosprezar a obrigação do apuro da sublime arte do Dr. Jorge Sampaio: aquela de viajar. Mais o engenho da criatura em despertar nos outros os sentimentos de que sua excelência esteve possuído nos oito anos de exercício das atribuladas funções de respeitável supremo magistrado da Nação.
Para isso, imaginemos um limão. Apertemo-lo. Se não está seco larga sumo. Logo, na apreciação dos resultados de oito anos de digressões do Dr. Sampaio por 308 concelhos de Portugal e das inumeráveis viagens de Estado ao estrangeiro, se espremermos o limão ele não deitará substância. Somente escorrem algumas gotas.
Em Portugal que empreendimentos, projectos, alterações de estados de pobreza nas populações, de melhorias efectivamente processadas na nossa vida colectiva e na esfera individual de cada cidadão português se processaram ao abrigo ou por benefício recolhido das peregrinações do senhor presidente? Alguém viu o presidente arregaçar as mangas e ajudar os concidadãos a reparar uma estrada, podar uma vinha, sachar um milheiral, fazer uma safra de azeitona, sachar uma terra de cultivo, apanhar batatas, ajudar numa ordenha de vacas, servir uma refeição num abrigo da terceira idade, pegar numa mangueira e combater o fogo auxiliando os incansáveis e sacrificados bombeiros ou durante um dia de greve de transportes públicos oferecer-se para conduzir um autocarro da Carris de Lisboa? O que, efectivamente, os portugueses lucraram com as visitas do presidente da República aos 308 concelhos?
E quais as vantagens para Portugal e os portugueses decorrentes das centenas de viagens de Estado ao estrangeiro? Onde estão os relatórios dessas actividades de turismo oficial, através dos quais se facultasse aos portugueses a avaliação dos resultados? Eles não existem. Mas nada nos inibe de considerar que pouco se aproveitou! Uma mão cheia de nada…
Em época de profunda crise económico-financeira e de degradação geral das condições de vida do Zé Povinho o Estado gastou um balúrdio com as ocupações turísticas do presidente Jorge Sampaio. O País não pode dar-se a tais luxos.
Poupar nos gastos do Estado e dos seus agentes, importa muito mais que divertir o público com iniciativas e acontecimentos inconsequentes. Ainda por cima, peregrinações - sem finalidades objectivas - absolutamente dispensáveis.
Finalmente, dois reparos.
Primeiro, não despiciendo: nas últimas semanas o presidente andou numa roda-viva a distribuir condecorações por amigos e confrades. Disseram os jornais e as televisões que, em bastantes casos, às escondidas do público. Por mim, nem me custa admitir que se houvera mais um mandato do actual presidente não restaria nenhum mestre ou irmão da grande fraternidade de Lisboa, Coimbra e Porto a queixar-se de não ter sido contemplado com uma qualquer insígnia. Foi um azar. Por certo, devido a distracção no tempo útil e (ou) incapacidade da fábrica das medalhas em dispor de meios para “curar” a febre da distribuição das ditas que, à derradeira hora, se apoderou da presidencial criatura…
Segundo: Não houve notícia de a D. Ambrósia ter sido agraciada pelo Dr. Jorge Sampaio… Ela até merecia uma recompensa por tanta dedicação e entusiasmo contagiante…
Este, o recado que desejo mandar à D. Ambrósia…
Também, daqui lhe lanço o repto: D. AMBRÓSIA, DEIXE-SE DE TRETAS!…
ABRA OS OLHOS, MULHER!
Brasilino Godinho
(Autor de “A QUINTA LUSITANA”)
Escreve no “Diário de Aveiro”,
semanalmente, às terças-feiras.
Nota informativa: Exemplares deste texto serão distribuídos pela seguinte ordem:
1 – fiéis leitores das obras do autor;
2 – amigos e conhecidos do autor;
3 – cidadãos sensíveis aos problemas que afectam a comunidade portuguesa.
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal