Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Um texto sem tabus…

SOU PORTUGUÊS! ESTOU EM PORTUGAL. QUERO FALAR, LER, OUVIR E ESCREVER PORTUGUÊS.
SERÁ QUE ME VÃO IMPEDIR?...
Brasilino Godinho
brasilino.godinho@netvisao.pt
http://quintalusitana.blogspot.com/

Nasci português. Corria a terceira década do século passado. Era uma noite fria de Outubro. Ali, no primeiro andar de uma casa com fachada pintada de amarelo suave, à Rua da Judiaria, cerca da Sinagoga, onde o Rei D. Manuel I mandou concentrar os judeus que, obrigados a renegar a fé judaica para salvarem as suas vidas e os seus haveres, se sujeitaram a residência fixa e a serem classificados como os “cristãos- novos”, num preciso momento aconteceu uma multiplicidade de sucessos: “vi à luz” que iluminava o aposento; “vi à mão” dos familiares; “vi a ser” o ser de gente; “vi a talhe de foice” dos desejos paternais; “vi a tempo” de chegada oportuna; “vi de carrinho” não enganando ninguém e “vi ao mundo” chorando e berrando por “vir nas horas de estalar” a toda a pressa, sem fazer-me rogado. Sucessos que mais tarde, já adolescente, “vieram à baila” nas conversas de família. Isto ocorreu na bela e monumental cidade dos Templários, Tomar, terra ribatejana banhada pelo Rio Nabão. O meu nome é originário do Brasil - país a que me sinto ligado por fortes laços de estima. Atrevo-me a admitir que terei sido uma partícula brasileira que vinda dependurada no bico da cegonha caiu de pára-quedas em Portugal. Por aqui ficou, cresceu e se tornou maior à escala permitida pela específica natureza humana. Bem considerando: um “brasil” em configuração infinitamente pequena relativamente à dimensão do Brasil. Também, um caso de objectiva dupla nacionalidade; assim a modos da pescada… que antes de o ser já o era.
Complemento anotando que desde 1963 estou naturalizado aveirense. O que se deve ao determinismo inerente às contingências da vida profissional. Também, condição alcançada por natural e amadurecida afeição à esplêndida urbe dos canais.
Os anos foram-se sucedendo na minha vida no desfrute de uma reconfortante juventude de espírito; este, sempre fiel a valores humanísticos e permanentemente aberto à evolução dos tempos, ao revigoramento das mentalidades e ao progresso das sociedades. Igualmente, cumprindo resguardo de contradições no pensamento e na acção, tenho conservado a nacionalidade. O que vem acontecendo de modo natural sem esforços de acomodação e sem sobressaltos de consciência. Quero mantê-la! Sinto orgulho de ser português.
E há boas razões para assim considerar a minha inserção no mundo. Em primeiro lugar, motivações ditadas pela assimilação da alma lusitana, pelo conhecimento cultural relacionado à história pátria e pela avaliação do relevante papel de Portugal e dos portugueses na evolução da Humanidade. Depois, uma ideia de fascínio enraizada pelos sentimentos de respeito e até de veneração por tantas grandes personalidades que, por obras valorosas ou capacidades invulgares, prestaram relevantes serviços e se elevaram a altos cumes de prestígio e de reconhecimento à escala mundial. Também um estado de percepção onde radica uma disposição de partilha, de fraternidade e de comunhão relativa a certas maneiras de estar em sociedade e sentir em solidariedade colectiva; as quais, certamente, foram a base de sustentação dos feitos sublimes que delinearam o percurso histórico dos portugueses na construção do país e na difusão da cultura por outras paragens estranhas e distantes do seu território.
Localizadas nos mais diversos espaços geográficos do seu rectângulo continental ou noutros locais do planeta Terra, os portugueses edificaram obras de interesse universal. Percorrendo todas as áreas de actividade, do saber, das artes e de relacionamento entre povos e culturas distintas, séculos após séculos, encontram-se marcas indeléveis, identificadoras e exultantes do esforço, da tenacidade, do conhecimento e das qualidades dos portugueses. Sobrelevando tão valioso património cultural a gesta gloriosa dos Descobrimentos e as suas consequências; com excepcional relevo para a expansão da língua e cultura lusíadas por todos os continentes. Claro, toda esta dimensão ciclópica, épica e universal, dos desempenhos das gentes portuguesas ao longo dos séculos, constitui-se como essência da incontestável e preponderante grandeza lusíada. A obra imortal de Luís de Camões celebra esse extraordinário fulgor dos portugueses.
O apego à terra onde se nasceu, a ligação dos afectos às pessoas e aos lugares percorridos ao longo da vida, o clima, o encanto das paisagens, a magnificência do património arquitectónico, a variedade e importância dos legados culturais, são dados objectivos que, associados a factores subjectivos, conferem identidade singular a cada nativo luso – a qual assimilo e me engrandece como ser pensante nativo de Portugal. Outrossim, me responsabiliza no encontro comigo mesmo e no respeito para com os meus concidadãos.
Por de tudo isso ter notícia, percepção e entendimento, naturalmente, me considero português de alma e coração.
Assim consciente e sem quaisquer objecções à aceitação do primado da verdade acerca dos acontecimentos e dos seus protagonistas não escamoteio nem desvalorizo as páginas negras da história portuguesa merecedoras de reprovação e condenação. Elas são o reverso da medalha que na sua frente emblemática nos cativa e fortalece o ego, pelo brilho e grandeza da sua opulenta composição. Sem dúvida, matéria deplorável, incómoda e deslustrosa, essa negrura inserida na narrativa histórica de Portugal desencadeada desde a fundação da nacionalidade e prosseguida no tempo que passa. Mas inevitável que ela exista porque dependente das díspares, variáveis e complexas faculdades de alma das humanas criaturas que, muitas vezes, são causas e factores de acções e comportamentos dissonantes dos valores da cidadania e atentatórios da dignidade pessoal. Porque sendo a História reportada às intervenções dos homens na evolução dos tempos, os actos dos protagonistas reflectem as suas qualidades e os seus defeitos. E reconhecer-se esta alternância, entre o bem exercitado por distintos indivíduos e o mal da lavra de alguns outros, assinalada no historial da nação portuguesa, não implica desonra nacional definitiva ou irreparável, nem significa desconsiderar o homem português ao ponto de o classificar como o patinho feio, pecaminoso, envergonhado e proscrito da comunidade internacional. Assim como valorizar os feitos dos portugueses não envolve a ideia de sermos os melhores do mundo no domínio do conhecimento, na prática das artes e ofícios, na realização de grandes obras, no relacionamento entre os povos e culturas diferentes ou mesmo nas diversas manifestações a que dê azo a inventiva humana. Também não os abençoados e irrepreensíveis detentores únicos dos eternos valores e princípios que engrandecem e dão sentido de vida ao indivíduo e possibilitam harmonioso e qualificado funcionamento às sociedades.
Não obstante, há momentos em que aflora um sentimento de vergonha derivado dos comportamentos infelizes de certa gente com grandes responsabilidades nos destinos da nossa pátria. Mais que vergonha chega a ser indignação o que se sente quando surgem notícias ou ecos de acontecimentos que lesam gravemente os interesses dos cidadãos, comprometem o desenvolvimento do país ou denigrem a imagem de Portugal no conjunto das nações civilizadas.
Entre os factores que mais põem em risco o futuro de Portugal como nação distinta e milenária, destaca-se o desprezo que os governantes dedicam à língua portuguesa. E não só. Os maus tratos à Língua começam na escola do ensino básico. Continuam no ensino secundário e prolongam-se no ensino superior. Os programas são deficientes. Muitos professores não se empenham. Os alunos não são estimulados para a apreciação e uso correcto do idioma nacional. Não se incentivam os estudantes a lerem persistentemente as boas obras da literatura portuguesa e a fazê-lo, sempre, na companhia do dicionário. Seguramente que a leitura dos clássicos é a melhor forma de aquisição de vocabulário, de apreensão da construção gramatical e de aquisição do sentido estrutural do pensamento – aquisição melhor conseguida se acompanhada pelos estudos da filosofia e da matemática.
Nos estabelecimentos escolares, nos jornais, nas rádios, nas televisões, nos diálogos dos cidadãos, instalou-se o hábito de tudo facilitar sincronizado com o repúdio dum mínimo grau de exigência e de rigor. Há por aí instalado um desarranjo intelectual que comporta a tara da condescendência absurda pelas asneiras gramaticais; a tácita aceitação dos erros ortográficos; a mania da exaltação (ao que chegámos!) da praga dos vocábulos sincopados introduzida pelo uso dos telemóveis; o uso desenfreado da aberração linguística representada pelos neologismos e estrangeirismos; a petulância idiota de certa gente em misturar termos estrangeiros (sobretudo, ingleses) nos títulos, nos textos publicados e nas falas; a descabida e insensata utilização das denominações inglesas das empresas, dos produtos e dos equipamentos.
Se a tudo isto juntarmos a inércia dos governantes que, falando mal e escrevendo pior, nada fazem no sentido de incrementar o bom uso da Língua e de dar forte impulso à sua expansão nos países lusófonos e pelo Mundo, fica definida uma situação que bem podemos classificar de descalabro total.
Certamente que fere a sensibilidade de qualquer português apegado aos valores pátrios ver, por exemplo, a palavra “Welcome” impressa nos tapetes (de fabrico português) das entradas das habitações. Arrepia ouvir um ministro afirmar que os portugueses “hadem” de fazer. Dá para entristecer e desalentar ouvir um professor universitário, mestre de Direito, ex-chefe de partido e comentador celebérrimo de televisão, repetir a todos os instantes: “última da hora”. Torna-se insuportável escutar as banais intervenções, em mau português, de ministros e de outras figuras públicas recheadas de termos ingleses e franceses. Chega a ser ultrajante ver e ouvir o presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, em Portugal, a pronunciar discursos em inglês. Ainda recentemente tal aconteceu no palácio de Belém no acto de condecoração de Bill Gates.
Entretanto, desencadeiam-se programas e acções de aprendizagem do inglês nas escolas de todos os graus de ensino. Simultaneamente, o Ministério da Educação toma a iniciativa de arredar os estudos da língua e literatura portuguesas dalguns escalões dos currículos escolares. Pior, ainda, faz-se de forma idiota e subserviente a apologia da língua inglesa ao ponto de a consagrar como opção prioritária abrangente dos diferentes níveis escolares. A evolução da informática serve de pretexto. Mas, aqui, é preciso dizer que se perderam oportunidades e se descurou a importância do Português como linguagem de programação de computadores. Nem sequer houve a lucidez de atender à circunstância de a nossa língua ser falada por aproximadamente duzentos e cinco milhões de indivíduos. Tão-pouco existiu o cuidado de atender ao previsível aproveitamento de um tão vasto mercado internacional certamente induzido pelo uso do português à escala planetária.
Por este caminho de apatia, de desleixo, de desvalorização da Língua e de abastardamento do orgulho nacional, não tardará muito que percamos a nossa autêntica identidade de portugueses. Depreende-se das intervenções da classe política que está traçada (melhor dizendo: decretada) a preponderância do Inglês na sociedade portuguesa. Logo, o Português tenderá a tornar-se uma língua de segunda escolha ou um adulterado dialecto regional.
Pressinto que, nessa altura, ninguém me entenderá quando falar ou escrever Português. Para já, em plena degenerescência.
A situação é preocupante.
SERÁ QUE, DAQUI A INSTANTES, ME VÃO IMPEDIR DE USAR A LÍNGUA PÁTRIA?...
OU SE INSISTIR NO PROPÓSITO IREI TER QUE PAGAR IMPOSTO?... (Como castigo por não dar apreço ao automatismo do Dr. Jorge Sampaio se expressar em língua inglesa… E por sábia e profiláctica decisão de espertalhaços membros do (des)governo com visão oportunista de longo alcance…).

P.S. - Aqui deixo esta observação: já vou recebendo por correio electrónico mensagens redigidas em inglês de portugueses residentes no país. Verdade que nem dou resposta. Valha a consolação de dois franceses me enviarem de França correspondência escrita em… português! A que acresce a satisfação de ter tido conhecimento que um casal inglês em viagem de turismo a Portugal, mal “arranhando” algumas palavras de Português, ter, numa livraria de Aveiro, feito questão de adquirir a minha obra “A QUINTA LUSITANA”.
Brasilino Godinho
Escreve semanalmente, às terças-feiras, no “Diário de Aveiro”

Nota informativa: Exemplares deste texto serão distribuídos pela seguinte ordem:
1 – fiéis leitores das obras do autor;
2 – amigos e conhecidos do autor:
3 – cidadãos sensíveis aos problemas que afectam a comunidade portuguesa.