Um texto sem tabus…
“OVO DE COLOMBO” TIRADO DA CARTOLA DE EDUARDO PRADO COELHO?
OU A “COISA” ESTÁ MESMO PRETA?...
Por: Brasilino Godinho
http//quintalusitana.blogspot.com
Bravo!
Finalmente, o famoso colunista Eduardo Prado Coelho, professor universitário, detentor de diversificados títulos, ajeitou os óculos de pequeno alcance, arregalou os olhos, mandou às urtigas a sonolência que, pelos vistos, lhe entorpecia o pensamento, sobreergueu-se, limpou algumas teias de aranha do sótão e… de mansinho, assim como quem não quer passar por raposa matreira da selva urbana da alfacinha cidade, entreabriu-se um pouquinho ao mundo da região saloia que o assedia. Certo que não foi um gesto fantástico, incisivo, largo, franco, completo, abrangente e objectivo quanto bastasse para satisfazer a curiosidade e completar a autognose dos indígenas; mas já foi alguma coisinha… Ao jeito de um prestidigitador que saca um coelho da cartola perante a plateia aparvalhada e seduzida pelo encanto pessoal e pelas falinhas mansas do artista. Só que, neste caso, a personagem em actuação no palco é, ela própria, um coelho a inverter os papéis da representação. Isto é: ela é o agente activo e não o sujeito passivo. De tal modo, que da cartola o coelho tira um ovo. Aqui, o fenómeno… Pois que, habitualmente, são as galinhas que põem os ditos. Dele, se julgará ser um “ovo de Colombo”. É sempre altura de nos surpreendermos com os fenómenos da Natureza. Adiante…
Numa recente mensagem à Nação, com aquela pompa que costuma imprimir às suas incursões nos jornais, o intelectual lisboeta informou os indígenas portugueses dos muitos defeitos que os caracterizam e… aparentemente, algo incomodado com isso resolveu “procurar o responsável pela matéria-prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos” e que constitui “empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação”. À cautela, não vá o Diabo tecê-las, foi-nos prevenindo que: “Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo (nossa observação: prudente… o doutor Eduardo), senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido”. Em seguida, conclui, num arroubo de pretensiosa grandura: “Sim, decidi procurar o responsável e estou seguro que o encontrarei quando me olhar ao espelho”. (Um aparte de estupefacção: quem diria que o povo é “matéria-prima defeituosa” e… ainda por cima, gerada, parida e conservada sob a responsabilidade de Eduardo Prado Coelho… Fantástico! Ele reconhece ser o maior empecilho do desenvolvimento da Nação porque assume-se como o responsável pela famigerada “matéria-prima defeituosa” – embora, receoso, faça depender a responsabilização da consulta ao espelho…).
Porque, Eduardo Prado Coelho, usou o primário expediente de colar a todos os portugueses, não políticos, nem lacaios do Poder, o rótulo de “matéria-prima defeituosa”, importa tecer alguns comentários oportunos e apropriados.
Comecemos pela promessa de se olhar ao espelho.
Ninguém tem a certeza que o faça. É que Prado Coelho põe a condição de “quando” não sendo líquido que alguma vez se disponha a tal verificação. Por essa via corre-se o risco de lhe minguar a vontade e ficarmos sem o identificado responsável na pessoa de Eduardo Prado Coelho. Aliás, ele não estava muito convicto de concretizar o propósito ao sentir a necessidade de usar o termo “francamente” para nos informar que iria procurar o tal responsável; por sinal, ele próprio. O que releva alguma presunção e precipitação de julgamento – anota-se! De facto, se os portugueses têm tantos defeitos como os que enunciou, o Dr. Eduardo Prado Coelho não será o único responsável mesmo dando de barato o sentido metafórico da conversa fiada… Todavia, indo ao encontro do juízo que ele faz do seu posicionamento na sociedade, admitimos que tem grandes responsabilidades no actual estado da Nação.
Também um desprevenido cidadão ficará baralhado com a observação feita por Eduardo Prado Coelho de a “matéria-prima defeituosa” (o conjunto dos portugueses com todas as inúmeras imperfeições que apontou exaustivamente) ser “empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento”. Sabendo-se que possibilidade é qualidade do que é possível; ou pode significar: oportunidade; posses; rendimento; – ficamos sem perceber se a “matéria-prima defeituosa” interferirá na qualidade; se inviabiliza a oportunidade; se lesa os rendimentos; se bloqueia a posse do desenvolvimento. Ou se, “empecilho”, impossibilita ou prejudica o desenvolvimento. Porém, se afecta ou infecta a qualidade do desenvolvimento significará que, não obstante, vai havendo desenvolvimento; talvez mal cheiroso devido à, por Eduardo Prado Coelho, identificada “defeituosa matéria-prima”, propensa à degenerescência dos elementos que a constituem. Outrossim, supomos que “matéria-prima defeituosa” empecilho das possibilidades que não do desenvolvimento…
Eduardo Prado Coelho vai desculpar a nossa franqueza. Mas a mensagem que nos trouxe é bastante confusa e representa-se como uma charada. Desvirtua a realidade do país em múltiplos aspectos. Ademais, a análise do âmago da questão posta, é feita com total falta de rigor e de objectividade. E porque se baseia em premissas desajustadas ao quadro da situação e às condicionantes da nossa vida colectiva, o seu estudo também releva a preocupação de ilibar a classe política das grandes responsabilidades na decadência de Portugal. Nesta área, são confrangedores os esforços de natureza corporativa que Eduardo Prado Coelho, ex-adido cultural da Embaixada de Portugal em Paris, alardeia em poupar e desresponsabilizar os governantes, os políticos e o sistema que alimenta as enormidades conhecidas e… sofridas pela arraia-miúda. Até parece obra encomendada pelos donos da QUINTA LUSITANA.
E a este ponto chegados vem à verificação a olho nu o tal “ovo de Colombo” da lavra de Eduardo Prado Coelho. No seu exagerado entendimento, os portugueses têm imensos defeitos (o que é uma parcial verdade, dada a pecaminosa circunstância de humanos); apregoam a estúpida crença que o “trapalhão Santana Lopes”, Cavaco, Durão, Guterres não serviam e a “farsa Sócrates” não serve. Começa a suspeitar e mais adiante no texto, já tem a certeza que o problema não está neles mas, sim, em nós, como povo, “matéria-prima de um país”, que subentendemos ser o nosso… Lendo todo o extenso rol de defeitos dos portugueses percebe-se que para Eduardo Prado Coelho os governantes e os políticos (só por uma vez, num assento de insensibilidade, se escrevem, na mensagem, as palavras governantes e políticos) serão a emanação do povo e por tal condição deverão ser desculpabilizados; para além de no meio da maralha se constituírem como vítimas e não como fautores do descalabro nacional.
O “ovo de Colombo” está consubstanciado nas descobertas de Eduardo Prado Coelho a seguir discriminadas:
1 - o problema da governação é que Sócrates ou outro que vier (cuida-te, Sócrates!) “terá que continuar trabalhando com a mesma matéria-prima defeituosa”. (Azar de Sócrates! Porque anomalia genética do povo… Será maldição que nos caiu em cima?... Seguramente: aborrecimento e desespero de Prado Coelho… );
2 - que ele, Eduardo Prado Coelho, “não tem nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor”. (Que pena… E desperdício da subentendida boa-vontade de Prado Coelho);
3 - que o necessário “é que se faça cumprir a lei”. (Ó doce ilusão: homens de “havemos de fazer” nunca farão coisa nenhuma…);
4 - que, na sua opinião, “é muito bom ser português (Mesmo com tantos inerentes defeitos? - perguntamos);
5 – “mas quando essa portugalidade começa a ser empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda…”
Em vista disso, como nos entendemos? Se ser português “é muito bom”, será possível que essa qualidade se torne “empecilho” seja para o desenvolvimento ou para outra qualquer coisa de interesse nacional? Porquê essa redundância de “portugalidade autóctone”? Eduardo Prado Coelho poderá explicar-nos o que será a portugalidade – a dita qualidade de “muito bom ser português” se não for autóctone?
Depois, quando escreve “tudo muda…” o que deseja significar? Muda o quê? Como? Quando? Intrigante, esta expressão, logo acrescentada com a afirmação de “não esperar acender uma vela a todos os santos a ver se nos mandam um Messias”.
Igualmente, de imediato, surge expressa a suprema coisa que está acima de todas as descobertas de Eduardo Prado Coelho. Digamos, o corolário de toda a charada: “Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.”:
E esta!... Branco é, coelho o põe… Diz o ditado: “Para grandes males, grandes remédios”
Eduardo Prado Coelho encontrou a solução para a grave situação de Portugal. Vamos acabar com a mania de criticar os governantes e os políticos. Cessem os reparos idiotas à incompetência de uns e outros. Deixem-se os indígenas - estes portugueses tão viciosos e imperfeitos sob o ponto de vista moral, bastante destituídos da inteligência que é apanágio dos intelectuais das Avenidas Novas de Lisboa - das veleidades de julgarem que têm direitos de exigir seriedade, rigor, sapiência de governar e justiça aos detentores do Poder.
E uma vez que isso de críticas e exigências não é recomendável… mudem-se os indesejáveis portugueses. Fora com eles! Vão para as profundezas dos infernos! Deixem o País à mercê dos frenéticos políticos, dos “sacrificados” deputados, dos incompetentes governantes, dos desonestos assessores, das esculturais secretárias, dos seus discretos motoristas, do inefável professor doutor. Eduardo Prado Coelho (mesmo que ele não desista de se ver ao espelho), dos “inteligentes” figurões da capital, dos incríveis “amigos da onça” do Porto, de alguns seleccionados doutores da mula ruça de Coimbra, dos indispensáveis censuradores da comunicação social, dos grandes manhosos das televisões, dos “veneráveis” irmãos “de bons costumes” membros das várias irmandades e sociedades secretas espalhadas pelo país, de bastantes clérigos de apregoadas virtudes, das piedosas ratas de sacristia, dos emproados senhores nostálgicos do monarquismo, de uns tantos destemidos capitalistas da nossa excelente sociedade, das respectivas famílias, dos úteis amigos e das belas amigas de toda essa gente fixe. Que todos, comodamente instalados na QUINTA LUSITANA lhe chamem um figo. Divirtam-se! Sobretudo, governem-se! Certamente, mais à-vontade - porque não contrariados - para melhor se festejarem reciprocamente…
Entretanto… O Zé-Povinho, bonacheirão, crédulo, paz-de-alma, faminto, de tanga esfarrapada a cobrir-lhe a nudez, tornado irreflexivo, a designada “matéria-prima defeituosa” e infecta que suscita a repulsa de Eduardo Prado Coelho, que se lixe! Que vá à vida…
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal