Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

terça-feira, agosto 22, 2006

Um texto sem tabus…

É ISSO! FALTA-LHES O CONHECIMENTO OFICIAL…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

1 – As duras realidades do Estado e da Nação são conhecidas, muito mal suportadas e bastante sofridas. Os portugueses têm a noção de o Estado estar desacreditado e a percepção de ele nem ser pessoa de bem. A culpa assenta inteirinha sobre a classe política. Por sua vez, a Nação está enferma, desiludida, pesarosa. E os cidadãos que a constituem agrupam-se por categorias e núcleos que sentem de modos diferentes a crise que, reforce-se, atinge mais o numeroso grupo dos desfavorecidos e a classe média. O Zé-Povinho, coitado, anda à vela. Mas, duma forma aguda ou doutra mais suave, todos estão insatisfeitos. O crucial problema centra-se no sistema político, aprisionado entre faixas partidárias obcecadas pelo Poder; nas quais, pontifica gente imatura e muito mal preparada para exercitar a acção política. Também lhes falta saber, competência, seriedade, determinação e, muitas vezes, uma sincera dedicação à Pátria e aos valores democráticos. O País não progride; retrocede. A população não vislumbra melhores condições de vida. Inexistente uma salutar, autêntica, tolerante convivência entre os cidadãos. Os políticos e os governantes empenham-se em jogos de promoção pessoal e do respectivo partido, de disfarces e de confusões, para iludirem os problemas e mais facilmente baralharem os indígenas. Até recorrem a destrambelhados expedientes para alijarem responsabilidades. Nisso são imitados em todos os sectores da Administração Pública. Quando os maus exemplos partem dos escalões cimeiros da hierarquia não se estranhem as imitações que se entranham nos patamares inferiores…

2 – O “Diário de Aveiro”, edição de 17 de Agosto corrente, insere uma notícia sob o título de “Cheiro a esgoto indigna utente”, reportada ao novo Serviço de Urgência do Hospital de Aveiro. Consta da reportagem: que houve entupimento de esgotos; que durante algum tempo se sentiu um cheiro insuportável; que após reclamação de uma senhora e da ordem para se calar veio um indivíduo que procedeu ao desentupimento da câmara de visita num espaço contíguo à sala de espera. Igualmente, dá-se nota que tais trabalhos incomodaram os utentes não só pelo cheiro nauseabundo mas porque efectuados à vista de todos os presentes. A referida senhora, bastante agastada, terá manifestado estranheza pela ocorrência num serviço de urgência inaugurado há pouco tempo. Depois, o administrador do hospital interpelado pela jornalista admitiuter conhecimento não oficial do episódio” e informou que, a ter havido “despejo de bidons com dejectos naquele momento, frente aos utentes que aguardavam na sala de espera, não seria muito cordial isso acontecer” (os sublinhados são nossos).

Esta notícia, na sua aparente singeleza e oportuna referência a delgado acto de produção linguística, envolve aspectos de considerável importância e de surpreendente revelação de um segredo bem guardado no território nacional, que devem ser comentados.

3 – Primeiro aspecto - o seu objecto.

De realçar o facto de uma obra recentíssima efectuada no hospital de Aveiro já apresentar a deplorável mazela do mau funcionamento dos esgotos. Causas: fraca qualidade do projecto ou falta dele? Incorrecto dimensionamento da rede? Má execução da obra? Inexistência ou deficiência de fiscalização? Lacuna da aprovação dos trabalhos? Negligência ou facilidades na recepção provisória da empreitada? Quanto à apreciação de cordial para o despejo dos bidons, decerto que nem afectuoso; tão-pouco amistoso… Se o administrador queria dizer curial, mesmo nesta hipótese, temos de convir que a acção nem própria; muito menos conveniente…

4 - Segundo aspecto - o administrador “admite ter conhecimento não oficial do episódio”.

Vejamos. É facilmente suposto por gente bem intencionada que o administrador exerça, num enquadramento oficial, as respectivas funções intramuros do hospital. O episódio ocorreu nas instalações do estabelecimento. Estando ele, responsável executivo, no exercício do cargo, não lhe bastava o seu conhecimento obtido através da informação dos serviços ou pela verificação pessoal, para o caso ser considerado oficial? Há sentido de oportunidade, perguntar: o que é isso do “conhecimento oficial”? Como se processa? Pela apresentação de uma queixa de algum utente? Em papel timbrado com assinatura reconhecida pelo notário? Pela declaração formalizada em auto lavrado perante o senhor administrador, devidamente testemunhada por pessoas idóneas credenciadas por informação confidencial do presidente da Junta de Freguesia ou por agentes da autoridade policial convenientemente uniformizados e quando em serviço feito por turnos ou escala? Então não é pela observação pessoal, pelo conhecimento directo dos factos ou pelas informações dos serviços internos, que o administrador toma “conhecimento oficial” do que se passa no seu hospital? E considerando que o administrador tinha tido o designado “conhecimento oficial” em que consistiriam as consequências daí decorrentes? O que se alterava no quadro da situação, da sua incongruência e nos devidos efeitos das acções a desenvolver para que tais ocorrências não voltem a repetir-se? Será porque o senhor administrador não tomou “conhecimento oficial” tudo vai continuar como dantes? Como decorre a gestão normal do hospital se o senhor administrador não toma “conhecimento oficial” – seja lá isso o que for – dos acontecimentos, acidentes, transtornos, avarias, incidentes e quaisquer anomalias e irregularidades que afectem o normal funcionamento da unidade hospitalar sob sua administração? Vaticina-se que o administrador não age quando tem conhecimento não oficial dos acontecimentos, devido à desmotivação, à lógica do sistema, à falha da chancela e à falta do selo branco, no indispensável embrulho do famigerado “conhecimento oficial”. Dado por adquirido o facto de nem lhe chegar “o conhecimento oficial” – algo chato, incómodo, complicado, difícil de conseguir e perdível no emaranhado das vontades, no labirinto dos espaços do estabelecimento e no desconhecimento e na dispersão (presumida) dos meios de acesso – pondera-se que, eventualmente, os resultados, os benefícios e os êxitos da gerência, estão condenados a sumirem nas brumas da ineficácia e da displicência.

Todas estas interrogações são pertinentes com uma única ressalva que deixamos em fórmula interrogativa: e se o administrador tem o conhecimento não oficial das coisas porque, talvez, ele próprio exerce as funções de administrador na situação de desempenho não oficial, de praticante à experiência, de amador, interinamente provido no lugar, sem o adorno das dragonas, do anel inerente à dignidade do cargo, da capa flamejante, da chancela, do bastão de comando e do pergaminho onde constem as inerentes responsabilidades? Sendo esse o caso, está justificado que ele só disponha do “conhecimento não oficial” de qualquer ocorrência no hospital. Assim, igualmente, se compreendem as suas limitações de ordem funcional… – o que, diga-se, vai em desabono das respectivas tutelas.

5 - Terceiro aspecto extrapolado para o todo nacional.

Este, estupendo! Um segredo desvendado em Aveiro. Tal e qual à semelhança da atitude de uma falsa virgem que em determinado dia, num ajustado momento, decide levantar a vestidura e mostrar a nudez, para evidenciar o manifesto deslumbramento e… materializar os almejados efeitos.

Até agora todo o mundo da lusa gente se interrogava quanto às razões porque os nossos políticos e governantes persistiam nos erros, nos disparates e na desgovernação, apesar das constantes críticas de que são alvo e de se julgar que alguma coisa lhes devia chegar aos ouvidos, ser objecto de leitura ou de observação pessoal. E ninguém atinava na interpretação a dar a esta problemática. Também nós nos confrontávamos com as dúvidas, os embaraços das questões levantadas no enredado das confusões habilmente urdidas pelos grandes artistas da paródia nacional em que está convertida a política à portuguesa. Faltava-nos identificar o expediente, o artifício, a manha, o álibi - qual escudo protector - a que recorriam os governantes para tranquilizarem as próprias sobressaltadas consciências sempre que eram apanhados com o pé na poça, a boca na botija ou a mamar desalmadamente, às escondidas, nas tetas das vacas leiteiras dos pastios oficiais.

6 - Pois bem! Está encontrada a explicação. Da maneira mais simplória que se poderia conjecturar. Todavia, em conformidade com o mais atrevido e singular expediente só concebível por super dotadas mentes altamente evoluídas na matéria e deveras sofisticadas… E foi aqui, em Aveiro, precisamente no seu estabelecimento hospitalar de referência oficial, que alguém deu luz à escuridão que nos deixava atordoados e indecisos.

Os políticos e os governantes portugueses não acertam no rumo a dar ao País simplesmente porque, estando-se nas tintas para zelar o interesse nacional em detrimento das vantagens ou lucros pessoais, das conveniências dos partidos e dos objectivos prosseguidos pelas seitas do maior secretismo… são extremamente selectivos e precavidos: só tomam conhecimento não oficial das situações das coisas, das loisas e do estado da Nação.

É isso! Falta-lhes o conhecimento oficial. E, apropriadamente, dele se desinteressam…

7 - Querem exemplos? Eis alguns: O Alberto João Jardim todos os anos na festa do seu partido regional, no Chão da Lagoa, insulta com acinte desrespeitoso e verrina inaudita, os governantes de Portugal (incluindo presidentes da República). Nunca foi processado judicialmente. O Instituto de Meteorologia admitiu, para lugares de especialistas, indivíduos com o 9.º ano de escolaridade, quando as funções exigem consistente formação em Matemática e Física – o disparate vai em frente. Faltam verbas para os guardas-florestais, para a Educação, para a Saúde, para os equipamentos das Polícias, para combater os fogos eficazmente e para um rol imenso de necessidades – não há volta a dar. Há anos muitos deputados fartaram-se de viajar à volta do mundo sem saírem de Lisboa e, frequentemente, cometem outras tropelias não menos graves e desprestigiantes – nem há problemas de introspecção e os processos de averiguações perdem-se nos esconsos do Palácio de S. Bento. Há dias, Sócrates foi ao Brasil; levou, a reboque, sessenta jornalistas e numerosa comitiva, segundo o que foi noticiado. Uma grossa maquia do Orçamento, gasta na viagem, foi à vela. Como se Portugal pudesse comportar despesas com extravagantes jornadas turísticas. Inquirimos: esta peripécia luso-brasileira aconteceu porquê? Damos a resposta: porque, obviamente, Sócrates não tomou conhecimento oficial da sua viagem e em nenhum momento se apercebeu da companhia dos figurantes e dos gastos; estes, passaram-lhe ao lado em trânsito directo e apressado para as bolsas dos contribuintes... E penas que não se vêem, que não se sentem, nem se conhecem, é como se não existissem… Certo, engenheiro Sócrates?

Uma vez que assim vai sucedendo… temos de acrescentar: infelizmente, o primeiro-ministro, Sócrates, contempla-se no conhecimento não oficial de todos esses acontecimentos…

8 - Ficaríamos horas a elaborar a elucidativa lista dos desmandos da Administração Pública e outras mais coisas. Mas não vale a pena.

Importa reter a acabrunhante certeza: Tudo isto existe! Tudo isto é triste! Tudo isto é nosso incrível e molesto fado.

A suprema desgraça! Tudo acontece neste País porque os nossos distintos políticos e governantes disso não tomam conhecimento oficial. Ficam-se pelo conhecimento não oficial

Aí, está a gaita (coisa nenhuma)…

Notícia de última hora – Os diários de Lisboa, de 20 de Agosto p.p., relatam que o governo da marca Sócrates, seguindo na esteira dos anteriores de Durão Barroso e de Santana Lopes, está a contratar uns desenrascados “bons rapazes” - excelentemente cunhados com o selo de garantia das veneráveis sociedades que ”zelam pelos bons costumes” - através da “porta do cavalo”, com dispensa de publicação dos respectivos despachos de nomeação no “Diário da República”. O que, diga-se, representa uma providência cautelar… uma vez que ele está mais acessível, na Internet. Perguntará o leitor: Há problema? Respondemos: Para o governo deles, nenhum!

O grémio governamental tem do caso o reconfortante conhecimento não oficial,,.