Um texto sem tabus…
“SOL” ENCOBERTO – UMA RECRIA APÓCRIFA E “MAL AMANHADA”…
Brasilino Godinho
O SOL foi um título criado pelo tenente-coronel Lello Portela, corria o ano de 1946.
No princípio do ano corrente, seis décadas depois, começaram a surgir notícias sobre o relançamento do SOL.
Confesso que perante o anúncio de recriação do SOL fiquei com grande interesse em lhe conhecer o novo formato e os conteúdos. Também, avaliar da orientação editorial. Igualmente, latente a curiosidade de saber se este SOL seria primaveril, se fiel ao espírito de independência e sentido de seriedade do seu antecessor. Outrossim, com vontade de saudar o seu reaparecimento.
Talvez por influência da enorme publicidade que precedeu o seu lançamento e pelo conhecimento da valia profissional das figuras marcantes do respectivo quadro editorial, tinha a esperança do que o produto fosse tudo aquilo que era o saudoso SOL e… mais qualquer coisa de excepcional.
Feita a primeira edição, postos os jornais nas bancas e adquirido um exemplar, logo senti uma profunda decepção. Afinal - depois das várias entrevistas do seu director, arquitecto José António Saraiva, dadas às televisões, de proferidas tantas declarações e escritas inúmeras laudas de exaltação do jornal que se dizia ir marcar uma posição de inegável superioridade sobre os semanários existentes e, sobretudo, “esmagar” o rival Expresso - o SOL outoniço, que segurava nas mãos, apresentava-se demasiado inexpressivo e com uma figuração tão vulgar, comum à espécie, que não resisti a comentar com um amigo, expressando-me com um apropriado lugar-comum: “a montanha pariu um rato”.
Entretanto, as edições que se têm sucedido conservam o mesmo padrão de banalidade.
Mas não é só este aspecto negativo que caracteriza o SOL como órgão de comunicação social.
Para doutros aspectos menos conseguidos dar referência, nada melhor que evidenciar o desencanto que senti ao folhear e ler o SOL de Outono que nos calhou em desacerto de sorte malvada. Assim, julgo dever expressar em letra de forma quais foram as sentidas desilusões.
A primeira, grande, cingida à ética e à deontologia jornalística, foi a circunstância de a nova versão do SOL não inserir qualquer referência ao SOL original; nem ao facto deste semanário ter sido concebido, fundado e dirigido pelo excepcional jornalista, distinto militar, tenente-coronel Lello Portela. Considero um "esquecimento" deplorável. Quer relativamente a uma coisa, quer à outra. Com uma agravante: os mentores do recriado SOL pretendem fazer passar a falsa ideia de que são os criadores de novo título. Claro que tudo isto é elucidativo da "alma" que orienta o actual SOL – insisto: um título recuperado sessenta anos depois da sua primeira aparição em 1946.
A segunda, por causa do grafismo da primeira página e do pequeníssimo destaque do logótipo SOL. Um e outro de uma pobreza franciscana. Sem esplendor. Insignificantes. Opacos. Cinzentos. Não irradiam brilho. Não despertam, nem cativam a atenção do eventual comprador. Não fascinam. Quase se tornam repulsivos quando este SOL (por sua natureza, "encoberto") está enquadrado com outros jornais expostos nas prateleiras dos quiosques. Tanto quanto consigo lembrar-me, muito abaixo do primor gráfico do semanário SOL, fundado por Lello Portela que, à época, foi um achado de modernidade, de independência e sageza política. Realço!
A terceira, porque o SOL, se apresenta contrafeito, dissimulado no manto diáfano da fantasia de, hipoteticamente, ser um jornal independente; e de tal forma determinado na omissão da realidade de ser, de facto, sob condição de dependência, o órgão da Opus Dei que a esta faltava para preencher lacunas de divulgação, influência e poder, que não inspira a confiança do leitor exigente naquilo tudo concernente a isenção, a liberdade de expressão, a independência, a rigor e a transparência. Demais, o SOL é financiado pela Opus Dei através dos seus instrumentos financeiros e por gente que lhe está associada De que resulta estar totalmente submetido às conveniências dessa associação secreta. Aliás, como ignorar as implicações de a quase totalidade da célula da Opus Dei, a operar no Expresso, se ter transferido com armas e bagagens para o SOL? Quem no actual SOL pontifica? Respondo: À vista de toda a gente - que não ignorante, nem esteja sonolenta ou emparvecida - está omnipresente a fina-flor do ramo português da referida "venerável" seita de confissão católica.
Tenho a impressão que vai ser interessante acompanhar as disputas entre os semanários mais empenhados na supremacia do mercado, travadas com punhos de renda no quadro da “guerra”, feita em silêncio, entre a Maçonaria e a Opus Dei. *
Quanto à "abertura" do SOL creio firmemente que jamais lerei nesse semanário quaisquer textos críticos e irónicos verberando a Opus Dei ou dando a imprescindível nota de independência.
E no que toca a considerações sobre a Opus Dei… estamos conversados. É um dos vários tabus do SOL – semanário que, admito, vai creditar-se como o jornal dos tabus.
Sob outro ângulo, faço uma chamada de atenção para a circunstância de não ser por acaso que a revista se designa por "Tabu". A escolha foi acertada! Feliz! Verdadeira! Não engana o leitor. Este, assim advertido, logo se escuda na indispensável reserva mental a ter em conta face às matérias nela contidas. Parabéns ao autor da ideia! Eles, tabus, estão subjacentes ao projecto e firmemente inculcados no espírito de cada um dos membros da equipa dirigente. A começar no subconsciente do director do SOL.
Aqui, também vale uma observação oportuna: é evidente que o mano Portas, do famigerado "bloco" à esquerda do espectro político, dá aquele tom de conveniente disfarce e aquela vaga e útil ideia da pluralidade…
A quarta, porque se intui que no SOL vai ter continuidade a prática da censura que o seu director, Arqº. José António Saraiva permitiu ou exerceu no "Expresso"; e, nessa vertente, o director do SOL, agora, conta com uma importante mais-valia: o inestimável contributo, alicerçado no saber e na superior experiência de mestre da matéria, do Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa.
Também, no SOL, se apresenta uma insinuante "abertura" proclamada pelo arquitecto Saraiva, nos seguintes termos: "A nossa perspectiva é ter em cada leitor um colaborador. Cada leitor do SOL será, potencialmente, um repórter do jornal". Bonito!... Quiçá, económico… E lá que tem graça… tem!
A este ponto chegado o leitor interrogar-se-á: Então se o semanário SOL enferma de tantas deficiências, aqui apontadas, como se explica que haja esgotado a primeira edição e, presumivelmente, continue a vender bastante? A explicação é muito simples, fácil de explanar e sem custo de entender. Ele foi objecto de imensa publicidade nas vias públicas, na imprensa e, principalmente, nas televisões. Estas, têm uma extraordinária influência sobre os cidadãos levando-os ao engodo. Até possuem o condão de dar a proveitosa vista aos cegos… de espírito. Dizia o Emídio Rangel: “Apresentem-me um vulgar cidadão e dele farei um presidente da república portuguesa”. E já houve um caso que confirma a afirmação do conhecido ex-director de programas da RTP e da SIC. Precisamente, o da ascensão de Collor de Melo à presidência da República do Brasil, devida à promoção da TV Globo junto das massas populares. E o actual presidente Lula só à terceira tentativa conseguiu a meta da presidência porque, finalmente, contou com o apoio e a intervenção da TV Globo. E mesmo aqui, em Portugal, a que se deveu o triunfo eleitoral de Cavaco Silva? Sem dúvida, às hábeis, sistemáticas e subtis promoções da cavacal figura, efectuadas nos canais televisivos. Sem esquecermos o papel da imprensa.
Mais a acrescentar que o factor novidade foi um estímulo à aquisição dos exemplares do SOL; que o mais baixo preço de venda ao público, tendente a arrasar a concorrência e a denotar o desafogo financeiro da empresa tutelada pela endinheirada Opus Dei, constituiu um importante e tentador aliciante; que os elevados meios financeiros postos à disposição da respectiva administração facilitam o alcance dos instrumentos e sustentáculos necessários para se atingirem os altaneiros patamares das festejadas vendas; e que muitas pessoas facilmente se acomodam à superficialidade e nem cultivam o rigor na análise e o bom gosto nas escolhas. Tão-pouco, os leitores privilegiam a exigência de qualidade do produto que lhes é fornecido. No conjunto, há a considerar que são factores que convergem na ilusão de um êxito jornalístico e sucesso editorial.
Apesar disso, quero mencionar o meu agrado por algumas secções e rubricas do caderno principal e notar que o suplemento "Confidencial" não desmerece no confronto com os similares dos outros jornais concorrentes. Pois, fiquemos cientes que nem tudo é medíocre ou lastimável no SOL…
Concluindo: aquela celebrada estrela que desponta aos sábados e que José António Saraiva previa ser o centro do nosso sistema de comunicação social, mais não é que o SOL frouxo, qual ser empalidecido, prestes a cair desmaiado.
Definitivamente, o SOL está encoberto, é apócrifo, pressente-se comprometido e apresenta-se “mal amanhado” - como diria o compadre açoriano, da linda cidade de Ponta Delgada, localizada na bela Ilha de S. Miguel…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Nota: O presente texto foi escrito no p.p. dia 5 de Outubro, distribuído na Internet a partir de sexta-feira, 6 de Outubro e hoje, sábado, dia 7 de Outubro, colocado neste blog.
· Relativamente ao que escrevi sobre a “guerra” entre a Opus Dei e a Maçonaria não tardou a confirmação do que pressentimos.
Ela aí está! Esta específica abertura de hostilidades entre as duas associações secretas, relacionada com o duelo entre o SOL e o EXPRESSO, concretizou-se através da publicação do artigo de fundo do director, José António Saraiva, na edição de hoje do SOL; no qual a Maçonaria é apontada com tendo participado activamente na luta contra o procurador-geral da República, Souto de Moura e interferido na evolução do processo da Casa Pia. Também, não terá sido desprovida de sentido procedente da realidade a inserção na edição do SOL, de 30 de Setembro p.p., de uma entrevista ao Dr. Souto de Moura.
Assinalo que compartilho da referida opinião, do director do SOL, sobre as intervenções da Maçonaria. Aliás, já várias vezes expressa nas minhas crónicas.
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