Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

segunda-feira, janeiro 29, 2007

UM APONTAMENTO SOBRE O PREDESTINADO PRÉMIO NOBEL – JOSÉ ANTÓNIO SARAIVA

Brasilino Godinho

Eu mantenho desde 1950 uma relação virtual (palavra muito em voga) com a família Saraiva. Nessa época, jovem interessado pela Literatura e pela Filosofia, li com muito interesse a “HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA” da autoria do Prof. Doutor António José Saraiva. Gostei da obra. Fixei o nome do autor. Passei a acompanhar, de longe, o seu percurso de vida e as intervenções públicas que ia tendo em Portugal, no exílio em Paris e, mais tarde, após o seu regresso à Pátria, ao tempo do 25 de Abril de 1974.

Entretanto, ainda em pleno regime da ditadura do Estado Novo, surge na ribalta política o Dr. José Hermano Saraiva investido nas funções de ministro da Educação de um governo chefiado pelo Prof. Doutor António Oliveira Salazar. Lembro-me de o ver e ouvir, indignado, no Telejornal da RTP, por causa da intervenção do estudante Alberto Martins (hoje chefe do grupo parlamentar do PS), numa sessão realizada na universidade coimbrã presidida pelo “venerando” (assim tratado pelo jargão oficial do regime) Chefe do Estado, Américo Tomás. E desde que iniciou as palestras na RTP sigo, com alguma regularidade, os seus programas de divulgação da história pátria.

Entretanto, leitor assíduo do “Expresso”, desde o primeiro número, numa determinada altura, já lá vão largos anos, deparei com o nome do arquitecto José António Saraiva (filho do Prof. Doutor António José Saraiva e sobrinho do Dr. José Hermano Saraiva) assinalado no cabeçalho do semanário na qualidade de director.

Nunca tive qualquer contacto pessoal com nenhuma das pessoas citadas. Mas, relativamente ao arquitecto José António Saraiva, deixo o registo que chegámos a trocar correspondência a propósito da censura que exerceu ou que consentiu sobre a minha obra “A QUINTA LUSITANA”, uns tempos antes de sair do “Expresso”. Anoto que numa missiva o arquitecto Saraiva, em termos correctos, tentava refutar a acusação que lhe fizera de censor do meu livro que, em devido tempo, lhe fora presente.

Aqui inserido este apontamento de divergência pessoal, refiro que ao longo dos anos sucessivos da direcção de José António Saraiva e, agora, na orientação do “SOL” venho lendo atentamente os editoriais e outros escritos do conhecido jornalista. Nalgumas ocasiões tenho tido ensejo de acerca deles tecer apreciações críticas nas minhas crónicas publicadas na imprensa diária e no meu blog pessoal. E sempre pela mesma razão: na escrita do Arqº. Saraiva encontro, com frequência, um indefinível sentido de livre arbítrio, a expressão de uma perturbante ambiguidade e um elevado teor de vacuidades e contradições naquilo que é um discurso amorfo que, às vezes, chega a ser pilhérico. O mais engraçado nas intervenções do arquitecto Saraiva é que ele se leva a si próprio muito a sério. E alcança esse inolvidável estado de êxtase e de deslumbramento pessoal sem nunca se rir de si mesmo – o que é um feito notável de autoconfiança e de flexibilidade de espírito… Com uma vantagem adicional: diverte quem o lê...

Por isso, igualmente pela circunstância de em Lisboa se ter concentrado a inteligência (…) que resta no país e na capital se “fabricarem” os ilustres autores e as grandes obras da literatura nacional (muitas delas apresentadas pelos jornais e televisões como garantidos rotundos sucessos, creditados por milhares de vendas, antes dos exemplares serem postos nas bancas e se conhecer a reacção do público) e ainda porque o arquitecto Saraiva é uma figura permanentemente exposta na montra do semanário que dirige e, acima de tudo, por em tempo oportuno, de uma forma cativante, fantástica, surpreendente, ter informado “urbi et orbi”, no decorrer de uma entrevista dada a Maria João Avilez, transmitida pela “SIC”, que qualquer dia vai conquistar o Prémio Nobel (insinuou que será o da Literatura), importa não perder de vista a evolução dos acontecimentos e acompanhar com desvelo as prestações literárias do consagrado intelectual. Daí decorre que vou manter-me atento e iniciar uma série de comentários e análises aos escritos de Saraiva - o vidente - que designaremos por SARAIVADAS OU AS CONFISSÕES DO ARQº. SARAIVA; as quais, serão regularmente inseridas no blog http://quintalusitana.blogspot.com. Aliás, a série de textos agora iniciada foi precedida da minha recente crónica sobre as relações de cordialidade entre Saraiva e o Paco (por mim considerado… a figura pública do ano de 2006) entretanto publicada na imprensa, divulgada na Internet e inserida no meu blog, atrás referido.

Um texto sem tabus…

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arqº. Saraiva…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

Tema: O equívoco de Saraiva sobre o feminismo.

O Arqº. José António Saraiva quando em 1974 tomou mal distinto conhecimento de um encontro de feministas no alto do Parque Eduardo VII, cidade de Lisboa, não deu grande importância ao facto. Andava um pouco distraído… Quem sabe se a pensar na morte da bezerra. Mas, agora, provavelmente espicaçado pelo frenesim do referendo sobre o aborto e tacteando através do labirinto das confusões que determinam os desabafos que verte ao jeito de viver para contar ou talvez pela inversa de contar para viver sob um Sol acolhedor, ainda que condicionado por obscuro tabu – porventura, andando passo a passo absorto no mundo da criação de automatismos psíquicos que parece ser tanto do seu agrado; quiçá, formulação de tendências fantasiosas só ao alcance de mentes elevadas como será a sua, própria de consagrada figura da comunicação social de Lisboa – veio informar os distantes indígenas (somos todos os que não beneficiam da sua companhia) que, nessa época, “não reflectiu muito sobre o tema”, embora lhe tenha parecido haver algo confuso nessa história do feminismo e das suas manifestações. Escrito isto, ufano, contemplando-se generosamente no subsequente esclarecimento, acrescenta: “só mais tarde percebi o porquê”. Sem mais explicações e com ênfase, algo misteriosa, a seguir indica que “o feminismo assentava num equívoco”. É motivo para perguntar: Qual? Quando Saraiva percebeu? Assentava? Então já não assenta? Todavia…

Heureca! O Arqº. Saraiva levou trinta e três anos - uma eternidade de uma vida de congeminações e de incertezas, certamente, angustiantes - ocupado num processo de elaboração de uma teoria que, concluída em Janeiro de 2007, lhe permite proclamar, com nítido triunfalismo, o seguinte: “percebo melhor por que tinha a intuição de que o feminismo assentava sobre um erro”. E diz isto porque tinha a intuição, já que, finalmente, percebeu melhor e, pelos vistos, anteriormente percebia pior… Um sarilho de todo o tamanho!

Mas, neste ponto, face aos dois assentamentos, o Arqº. Saraiva deixa-me completamente baralhado Enquanto no parágrafo anterior considera que “o feminismo assentava num equívoco” ou seja na interpretação ambígua, no sentido malicioso, no sofisma, naquilo que não é nítido e que dificilmente se pode classificar, logo, um pouco à frente, afirma que “o feminismo assentava sobre um erro”. Ora quando há erro, na verdade, existe desacerto, logro, inexactidão ou pecado. Com esta divergência semântica ficou estabelecida a confusão. Potenciado o engano. Comprometida a interpretação da ideia de Saraiva sobre o feminismo. Do mesmo modo, permanecem as incómodas dúvidas cépticas: Onde assentava o feminismo? E hoje, onde assentará ele? Pena que o Arqº. Saraiva no seu escrito nem ofereça pistas que conduzam o leitor à resolução do imbróglio. (Talvez, por impossibilidade… e o caso vertente, sob a inspiração de Saraiva, se equiparar ao problema da quadratura do círculo…).

Porém, José António Saraiva, num tom descontraído e como se não tivesse apercebido a charada que criou, seguiu resolutamente em frente. Num ápice, exercitando um expediente pedagógico dirigido a quem não saiba com quantas tábuas se faz uma canoa, Saraiva explicita: “As feministas queriam que homens e mulheres fossem o mesmo, (?...) vestissem as mesmas roupas, tivessem as mesmas conversas, lessem os mesmos livros, sentissem da mesma maneira, tivessem os mesmos gostos, reagissem da mesma maneira”. Quem imaginaria um quadro tão tenebroso? Faltou dizer que, tal como os homens, não usassem soutiens… e outras peças íntimas.

A propósito, relevo o facto (sublinhado no seu discurso) de Saraiva ”ter reflectido muito sobre o tema”… Assinalo que lhe terá valido ter latente, no longo interregno entre 1974 e 2007, a intuição providencial da marosca do feminismo. Interrogo-me: O que teria acontecido se a Saraiva faltasse a intuição? E sem essa longa e profunda reflexão sobre o tema?... Safa!

Mas a nota mais interessante e deveras transcendente do texto de Saraiva encontramo-la quando ele, convicto, peremptório, radiante, qual achador de matéria não revelada, nos elucida: “Isto explica a militância das feministas e suas herdeiras a favor do aborto” Vou esquecer a petulância da apressada conclusão. Simplesmente, observo: Quem não sabia, ficou a saber… Saraiva disse… Antigamente havia feministas. Na actualidade, existem as herdeiras das feministas. Realço as interrogações: Estas, herdeiras, de maus-olhados e dúbias intenções, na visão de Saraiva, serão feministas? Genuínas? Autênticas? Impostoras? Oportunistas? Equivocadas? Ou errantes? Qual a natureza do legado? Saraiva não aprofundou estas questões da autenticidade e da conformidade ao erro que aponta. Limitou-se à simplória conclusão que as desaparecidas feministas agora ressuscitadas (talvez por obra e graça do Divino Espírito Santo), vindas apressadamente do Além e as antigas e actuais herdeiras, militam a favor do aborto. Neste ponto, dou a óbvia nota de confiança dos leitores: Espera-se que, no seu desvario, umas e outras não se atropelem e se amachuquem…

Além disso, também se depreende que o Arqº. Saraiva considera que, elas, masoquistas, se lançam deliberadamente nas malhas do sofrimento, da dor e dos traumas causados pela interrupção da gravidez. Acalentadas com a volúpia da clandestinidade… Para chateação de Saraiva e dos seus companheiros de cruzada.

Claro que está dito por José António Saraiva o que, de importante, faltava para abrilhantar a campanha do referendo sobre a despenalização do aborto até às dez semanas… Palmas para o Arqº. Saraiva!

Enfim, a pairar no ar ficam as perturbadoras incertezas: Erro ou equívoco do feminismo antigo? Equívoco ou erro do feminismo herdado, seja isso o que for? Ou o equívoco de Saraiva - o arquitecto incipiente que terá sido, de pequeno currículo profissional; o festejado director de jornal durante dezenas de anos; o editor que foi recuperar um título prestigiado (SOL) dos anos quarenta, fundado pelo tenente-coronel Lello Portela, sem disso dar notícia ao respeitável público; e, acreditando nele, o provável detentor do Prémio Nobel de Literatura (...). Por enquanto, uma láurea sem data marcada, pela Academia Sueca, para a putativa atribuição… Eventualmente, à espera do planeamento e da indicação datal a fornecer pelo interessado (o Arqº. José António Saraiva).

terça-feira, janeiro 23, 2007

Um texto sem tabus…

ESTE PAÍS DE TRISTES FIGURAS

FICA MAL NO RETRATO DA EUROPA…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

Os portugueses, forçosamente, estão deprimidos. Eles têm consciência de Portugal estar atravessando um período difícil. São muitas as dificuldades. Enormes as carências. Sentem-nas nos corpos. Atormentam-lhes as almas. Todos os grandes valores e princípios que dão suporte à vida em sociedade estão em crise de aplicação. A Política falha na concepção e na prática. A Administração está de rastos. Não há mística, ideal, desígnio que se imponha à consciência colectiva e constitua factor galvanizador de progresso colectivo e aperfeiçoamento das condutas dos indivíduos. Os partidos estão desorientados. Sem dúvida, por algum abandono da essência ideológica. Muito por falta de apego ao Bem Comum. Também, porque decorrente da ignorância ou recusa da indagação filosófica por parte dos dirigentes partidários. A que acresce o desvario a que os conduziu a cegueira dos respectivos aparelhos e a sedução pelo autoritarismo e pelo ansiado aproveitamento do exercício da governança e da oportunista satisfação das clientelas ávidas de se banquetearam à mesa do Orçamento.

A Educação, o Ensino e a Investigação não têm sido as prioridades dos governos. Houve negligência da tutela. Sobremodo, desvalorizou-se o estudo do Português, da Matemática e da Filosofia; as três disciplinas basilares da formação intelectual dos homens de amanhã. Estamos a pagar a factura da deficiente preparação para a vida das novas gerações. Causa acrescida pelo estúpido desaproveitamento dos saberes e experiências dos idosos.

A língua portuguesa vem sendo tratada com desprezo e abandalhamento em Portugal. É esquecida e abandonada na Diáspora. O culto do Português esvaiu-se e a sua prática está cada vez mais dificultada pelo mau uso. O qual se deve aos deficientes programas do ensino oficial. E também resulta dos péssimos exemplos de políticos e governantes que parecem fazer gala em exprimirem-se mal e escreverem pior, com o parolo adorno de termos anglo-saxónicos entremeados no discurso. Assim prossegue a degradação da nossa língua, enquanto a aprendizagem do inglês é acarinhada e incentivada de forma desmedida. Para abreviar e facilitar essa vergonhosa via de liquidação da identidade nacional, há anos, o Ministério da Educação retirou dos programas escolares o estudo da Literatura – matéria essencial para a aquisição do sentido prático do saber linguístico Entretanto, a ministra da Educação do governo chefiado por Santana Lopes abriu caminho para o surgimento desse monstro que dá pela designação de TLEBS (Terminologia Linguística dos Ensinos Básico e Secundário) em substituição da Gramática. Se já era difícil e algo cansativo estudar a gramática portuguesa, mais complicada e repulsiva é a aprendizagem da TLEBS por ser uma confusa e prolixa charada de complexas terminologias. Sem aprofundar o tema estabeleça-se a comparação entre a designação unívoca de Gramática e a longa expressão “Terminologia Linguística dos Ensinos Básico e Secundário”. Ambas se referem a uma disciplina que estuda a organização e o funcionamento da Língua. Mas enquanto numa única palavra “gramática” se condensa o seu objecto e a formulação de normas e convenções que regulam a fala e a escrita, na “TELEBS há uma superabundância de termos e uma acentuada redundância de preceitos que não facilitam a compreensão do respectivo conteúdo semântico. Se nos ativermos à Morfologia então ficamos perplexos com as voltas e reviravoltas que acontecem com pronomes, substantivos, adjectivos e advérbios. Exemplo: a palavra cão era um substantivo comum masculino; pela TELEBS passa a ser um nome comum, contável, animado e não humano. Uma transformação bonita e… animada. Humana? Da parte de gente com os pés bem fincados na Terra? Provavelmente da lavra de extraterrestres… Em todo o caso, elucidativo da tendência obsessiva de certos iluminados em se tornarem vanguardeiros… e tudo subverterem em nome de um saber linguístico que, por fatalidade, não fora absorvido pelos especialistas que os antecederam no exercício do múnus mas que, afinal, estava reservado algures num éden científico à espera deles e das manifestações prolixas das suas invulgares inteligências…

Está generalizada uma mentalidade de egoísmo e ganância em prejuízo do nobre sentimento da Solidariedade. Tal estado de espírito apoia-se num descabelado cinismo. Outras circunstâncias agravam a situação. Fenece a Liberdade. Esconjura-se a Igualdade. É, por demais, evidente, a hipocrisia reinante em certos meios sociais e no seio da confissão religiosa predominante em Portugal. Aliás, isso nota-se na vergonhosa campanha em curso sobre a despenalização do aborto até às dez semanas. Vale tudo do mais sórdido para atingir o fim de continuar a penalização das mulheres que, certamente, são compelidas a praticá-lo, com risco de vida, na clandestinidade. Num assunto que diz respeito às mulheres, os homens nem deveriam meter as suas colheradas. E a muitos, por elementar dever ético, impunha-se-lhes a abstenção de dar palpites sobre o assunto. É uma desonestidade intelectual e uma grande hipocrisia que qualquer padre, bispo, cardeal e fiel católico demasiado fanático e conservador, alinhem em nojentas campanhas em prol do intitulado direito à vida de um feto. Classificar de criminosa a mulher que aborta até às dez semanas é uma grave ofensa à dignidade da cidadã. Estes indivíduos, arvorados julgadores de vidas alheias, não têm moral e nenhuma autoridade para assumirem esse posicionamento condenatório. Exactamente por causa dos chamados rabos-de-palha e dos telhados de vidro frágil que, no meio eclesiástico, até serão numerosos e variados. Aqui, arrisco uma pergunta: entre os mais intolerantes clérigos que se manifestam indecorosamente contra a nova lei da despenalização do aborto até às dez semanas, não haverá nenhum deles que tenha estado envolvido numa interrupção de gravidez da sua concubina? Sobretudo, há que lembrar a essa “piedosa” gente os atentados à vida praticados pela Inquisição sob sentenças do seu Tribunal do Santo Ofício (diga-se: instância muito arredada do conceito de santidade…). A Igreja prendeu, torturou e lançou na fogueira, queimando-as vivas, milhares de pessoas. Se ela não se lembra, haja quem lhe faça chegar a lembrança. E assim, recordada, talvez passe a ter algum tento na língua e a ser mais comedida nas acções obscenas que por aí se vão desenrolando. A nós cumpre-nos reter isso em memória. Do mesmo modo, não esquecer os atentados à integridade física das humanas criaturas que ocorreram nos diversos conflitos religiosos e as violações sexuais praticadas pelos sacerdotes, bispos e cardeais norte-americanos e de outras nacionalidades, nas pessoas de menores – o que vem acarretando o dispêndio de milhões de dólares de indemnizações às vítimas pagas pela igreja católica. Estas atrocidades – mulheres e homens mortos nas fogueiras e violações de menores - não serão atentados às vidas das pessoas? Por uma vez, a Igreja tenha algum pudor e faça o óbvio: penitencie-se! Seja, no tempo actual, prudente: Cale-se! Quanto mais briga, pior! Muito se afunda. Por esta via obscurante vai acumulando percas de respeitabilidade. Entretanto, não confunda e engane os portugueses.

Em Portugal também de forma irresponsável se cultiva a facilidade e a permissividade. Dir-se-ia que as pessoas não têm deveres a cumprir. E agem como se só estivessem usufruindo direitos inalienáveis a reclamar, a usufruir e a disputar regalias e benesses. A indústria e o comércio decaem e com as sucessivas falências lançam milhares de pessoas no desemprego e na miséria. No nosso país a cada dia que passa cresce o fosso entre os ricos e os pobres. A classe média está em vias de extinção. Aos mais carenciados impõem-se grandes e persistentes sacrifícios. Enquanto aos detentores do capital tudo é permitido nas mordomias, nas complacências fiscais, na obscenidade do exibicionismo dos gastos e dos esbanjamentos e na impunidade das transgressões às leis e aos regulamentos. Neste campo privativo da classe abastada não se discutem, nem afloram preocupações de solidariedade. Tão-pouco, se ouvem palavras de assentimento em compartilharem nas privações exigidas à maioria dos portugueses. Em contraposição desenvolve-se avassaladoramente o culto da superficialidade, bem patente nas inúmeras revistas de futilidades e fofocas que proliferam em Lisboa e nos programas do lixo televisivo.

Está em decadência o sentido crítico dos cidadãos. Instalou-se a resignação e a apatia face às contrariedades e sujeições que os governantes impõem aos concidadãos. Assiste-se aos desregramentos e às velhacarias dos políticos e dos partidos e as populações não reagem e a todos os excessos da governação se submetem com tamanha indiferença que roça a estupidez. Para o enraizamento de tal estado de espírito dão o seu contributo certos agentes que, conservando-se ocultos e recorrendo a mecanismos de censura instalados na Comunicação Social e noutros sectores de divulgação cultural, tudo fazem para silenciarem as vozes que se erguem contra os desmandos e as arbitrariedades dos poderes instalados na sociedade portuguesa. Hoje, as carreiras dos políticos e dos governantes são determinadas e promovidas por poderosas e sombrias entidades que se refugiam na sombra. Destas, aqueles se constituem “testas-de-ferro”.

Igualmente, a esmagadora maioria de artistas, de literatos e até de cientistas, alcançam patamares cimeiros de preponderância nas artes, nas letras e nas ciências, porque agregados a uma qualquer seita e capelinha que os promove e os consagra, ao jeito de produtos pré-fabricados. Também, os prémios, que por aí se distribuem, pataca a ti, pataca a mim, são resultantes desses envolvimentos fraternos. O que equivale a considerar que a Arte, a Literatura e a Ciência, em Portugal, cada uma por si só, é um embuste e objecto de manipulação feita por gente sem escrúpulos e, inexoravelmente, acaba por ser aquilo que tais grupelhos querem que seja. E o público, sem se dar conta, vai na onda. Esta situação vergonhosa de a Arte e a Literatura serem manobradas e postas em funcionamento e progressão num círculo fechado de compadrios e de harmonização de obscuros interesses, deve estar presente no espírito dos cidadãos que se preocupam com o brilho e o desenvolvimento destas áreas específicas do conhecimento

A corrupção alastra e está instalada nos sectores vitais da sociedade sem se vislumbrar vontade dos agentes do Poder em enfrentá-la com determinação e rigor. Atentemos nas atribulações do engenheiro Cravinho para, nesta data, fazer vingar na Assembleia da República as suas propostas de medidas contra esse flagelo. O tráfico de influências e o compadrio estão entranhados nos órgãos da Administração Pública e na esfera privada a formarem um polvo que, tendo por cabeça a Maçonaria e a Opus Dei, estende os seus tentáculos asfixiantes aos jornais, rádios e televisões e às parcelas instrumentais das componentes de natureza económica e cultural da nação portuguesa. Com a agravante de tal cabeçorra subverter o poder do Estado e dele se apoderar em proveito próprio.

A Justiça está acorrentada, desarticulada nas suas complexas estruturas e desprestigiada. As leis e os códigos existem, mas a sua aplicação não se estende por igual, visto existirem diferentes categorias de cidadãos; os quais, estão enquadrados segundo os seus rendimentos, estatuto social ou projecção mediática. Precisamente, Justiça e Magistratura Judicial que, formando um todo homogéneo, deveriam ser a reserva moral da Nação.

Enfim, nesta crónica, delineado em breves pinceladas, o sombrio quadro composto de tristes figuras de um País (Portugal) que fica mal no retrato da Europa. Igualmente, um painel feio. Mas que existe de verdade. Que havemos de conhecer em detalhe para melhor, mais rapidamente e com a maior veemência, o rejeitarmos…

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Um texto sem tabus…


SEM PUDOR,

MAS COM DESCARAMENTO…

Brasilino Godinho

Impressiona a desfaçatez e a falta de ética existentes na Comunicação Social deste país. Dir-se-ia que a ética e a deontologia profissional estão banidas. No clima anárquico reinante na imprensa e nas televisões vale tudo. Especula-se com o domínio das audiências e não se olha a meios para atingir os fins. Seja na busca da maior quota do mercado publicitário e obtenção dos lucros de exploração. Seja nos expedientes de promoção pessoal de certos figurões propensos à contemplação dos próprios umbigos…

Ainda no p.p. dia 07 de Janeiro de 2007 assistimos a uma destrambelhada ocorrência que nos deixou atónitos perante tanta falta de senso. Foi o caso da peça referente à escolha das 7 maravilhas de Portugal que integrava o telejornal das 20 horas. Neste serviço noticioso passaram algumas imagens de monumentos e surgiu o Dr. Fernando Seara a prestar uma declaração enaltecedora do Palácio da Pena e do Palácio Nacional de Sintra. Para além do reduzido número de monumentos reportados deu-se a “coincidência”, com notória sombra de pecado, de o único declarante, presidente da Câmara Municipal de Sintra, ser o esposo da D. Judite de Sousa – a apresentadora daquele telejornal. Ficou a impressão que a referência às 7 maravilhas de Portugal foi o pretexto para o marido da senhora locutora de serviço, juntar imagem e voz à cara-metade e, inopinadamente, mostrar-se ao público a propagandear Sintra, enquanto os outros monumentos foram acintosamente esquecidos. Nem associados às presenças dos autarcas das suas áreas de localização; que, certamente, estariam empenhados a promovê-los como sucedeu no caso de Sintra. Um abuso praticado assim como nem quer a coisa. Talvez no convencimento que os portugueses são uns parolos que nem percebem estas espertezas saloias. Todavia, sem margem de tolerância para tanta impudência e consentida discriminação. Tratou-se de um aproveitamento indecente e oportunista do casal que protagonizou o despautério.

Mas casos semelhantes a este são frequentes na RTP e noutras televisões. Por exemplo: Quem é que ainda não reparou naquilo que se passa com o apresentador do telejornal da RTP, José Rodrigues dos Santos? Quando lança um livro lá o temos nos telejornais das 20 horas, eufórico, sorridente, como se estivesse gozando com a malta, a dar as notícias ao mesmo tempo que vão correndo em notas de rodapé as informações de mais um livro de José Rodrigues dos Santos “ir ser”, “ser hoje”, “ter sido ontem” lançado, “de ser já um assinalado êxito de vendas”, “de ir ser traduzido e vendido em vários países”. Uma repetitiva, escandalosa, publicidade que, provavelmente, sendo gratuita para o interessado, é paga por todos os contribuintes. Um autêntico festival de insensatez e desprezo pelos mais elementares valores que deviam nortear com seriedade a acção jornalística. Também sobressai a falta de rigor e de acompanhamento regular dos temas, das formas e dos comportamentos dos profissionais, por parte dos administradores da casa. Parece que os locutores têm roda livre para apresentarem o que entenderem e que reverta em benefício ou promoção pessoal. A RTP estará assim ao serviço das Sousas e dos Santos da casa e não a servir o público. A menos que se confundam os interesses pessoais com os da entidade patronal (:RTP). O que – se assim for – escapa ao nosso entendimento… Embora, saibamos que tais abusos não têm desculpa. Sobretudo, porque constituem uma grande falta de respeito pelos cidadãos.

Regista-se que a Alta Autoridade para a Comunicação Social está distraída e não toma conhecimento destas manigâncias. E autoridade que não vê e não sabe… fica-se no seu cantinho, satisfeita com a sua cegueira e repousada na sua ignorância…

terça-feira, janeiro 09, 2007

Um texto sem tabus…

ESTÁ AÍ O ANO NOVO.

SAUDEMOS A INOVADORA UTILIZAÇÃO

DOS COMBOIOS DA CP…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

Começamos por notar que na história mal contada dos recentes encerramentos das maternidades o Grande Engenheiro do Universo (há quem o designe por “Grande Arquitecto do Universo”) também ele soberbamente imprevisível e soberanamente “discreto”, terá decidido pôr a fortalecida mão por debaixo do conceituado indivíduo que não sendo menino, nem borracho, é aquele Grande Ministro que dir-se-ia ser dos campos da Saúde; o qual, ruborizado quanto baste, docemente, com angélica candura, a muito e muito de continuados esforços e solavancos, nos vai empurrando, sem cerimónia, para venturosos espaços, onde gente da sua confiança e sob a sua batuta de improvisado regente de orquestra a tocar músicas que soam desafinadas aos ouvidos dos médicos, dos enfermeiros e dos doentes dos estabelecimentos hospitalares, se ocupa a destratar da saúde dos idosos, dos reformados, dos desfavorecidos e de todos os desgraçados indígenas que integram a classe média.

Então, não é que, por milagre ardilosamente concebido e de rápido manejo consumado, a função das maternidades que “nem facultavam as melhores condições de funcionamento”, tão-pouco facilidades de esterilização dos gérmenes deletérios e a disponibilidade de cuidados primários de higiene foi, em alternativa, substituída “vantajosamente” pelos voluntários e ocasionais serviços ambulatórios de geração espontânea prestados em automóveis particulares, ambulâncias dos bombeiros e, sobretudo, nas carruagens dos comboios da CP?

É verdade! Com a CP a disponibilizar, imprevistamente, nos comboios, pequenas áreas de operacionalidade obstétrica todos estamos de parabéns! Em primeiro lugar: O Grande Ministro da Doença e da Extinção do Indígena Desprotegido (termos mais apropriados à consignada Política de Retrocesso Maciço, em curso) rejubila e entra em folga de chatices dos protestos da malta ingrata, rebelde e inconformista, que se opõe à política de pôr termo às maternidades, rotuladas de infecto-contagiosas. Em segundo lugar: As parturientes que - circulando acamadas nas ambulâncias, estendidas ao comprido nos assentos dos carros ou confortavelmente sentadas nos bancos dos comboios e beneficiando das trepidações entremeadas de paragens e arranques dos veículos motorizados – entram, rapidamente em força, no trabalho de parto (o que até lhes pode atenuar o sofrimento). Em terceiro lugar: Os profanos, induzidos assistentes dos partos, num ápice enriquecem os seus conhecimentos ao depararem com as aulas práticas de obstetrícia - gratuitas, sublinhe-se!

Caso para alertar os médicos: Ponham-se a pau!... Bem se cuidem… Mas não se queixem! O ministro da Doença não gosta de queixumes. Embirra com isso. E, pragmático, não alinha nessa idiotice da saúde para todos. Nesta linha de pensamento, o ministro da Doença estará convicto que aos médicos cabe o papel de destratar da Saúde os cidadãos mais desfavorecidos, segundo os modernos preceitos da doutrina governamental… Acima de tudo importa reduzir drasticamente as despesas atinentes aos tratamentos e valorizar a conservação da doença por forma a gerar mecanismos biológicos auto-reguladores e mantê-los em funcionamento até ao limite de validade da vida do enfermo; cujo prazo será estabelecido através de normativo fixado numa portaria do Grande Ministro da Doença e da Extinção do Indígena Desprotegido.

Igualmente, há a impressão que quando o Grande Ministro da Doença e Extinção do Indígena Desprotegido é tentado por algumas incertezas sobre a validade dos conceitos em que assentam a teoria da sua política e o cabimento das medidas que decreta logo, de forma célere, recupera as ideias fixas que não lhe proporcionam descanso à inconformada mente. Tal recuperação desviante, porquê? Porque o ânimo se lhe fortalece com o inebriante bálsamo que absorve do chefe socrático, quando este, com falinhas mansas ou voz estridente, esforçando-se por imitar os balidos de inocente cordeiro pascal, exige os maiores sacrifícios a todos os portugueses. Ao ministro da Doença, nessas alturas, provavelmente, nem lhe desagrada, de todo, que alguns espertalhaços bem fornecidos do vil metal se esquivem à exigência.

Considerando noutra perspectiva economicista: as despesas com os serviços dos partos até se reduzem. Simplesmente, tendo lugar nos comboios, podem corresponder ao preço do bilhete da viagem. Note-se que também é de prever que, no futuro, com o aperfeiçoamento do sistema, as parturientes sigam directamente da próxima estação da CP para os seus domicílios, sem passagem pelas urgências dos hospitais. Aliás, - repare-se no nosso descuido… - esses serviços de necessidades imediatas, perderam-se… abocanhados pelos maus espíritos e destruídos pela fúria dos elementos que se empenham na formação em Portugal do GRANDE PARAÍSO DOS BEM INSTALADOS NA VIDA… Esclareça-se: Com natural exclusão ou eliminação dos indesejáveis…

Para além disso, estas ocorrências nas carruagens dos comboios, têm o enquadramento de boas condições ambientais em esplêndido e arejado cenário, que não sendo intimista é, geralmente, composto e enriquecido com a presença de curiosos que, ou prestam a necessária assistência à parturiente ou se limitam a assistir enternecidos ao fantástico espectáculo do nascimento, em glória, de um ser que, pela graça do Grande Ministro da Doença e da Extinção do Indígena Desprotegido e o altíssimo patrocínio do Grande Engenheiro (ou Arquitecto?) do Universo, veio ao mundo são e salvo. Excepto naqueles fatídicos casos em que o resultado equivale a providencial ajuda ao Grande (des)Governo que agradece à divina entidade, Grande Engenheiro do Universo, a mercê de se ver livre de mais uma boca a alimentar; factor que - atendendo à sujeição de cada vez mais importamos aquilo que comemos - pesará favoravelmente na balança comercial do país a braços com o défice do comércio externo. Com outra vantagem adicional: porque quase não havendo agricultura nacional também nem são necessários mais campesinos para trabalhar a terra. Além disso, os reclamantes e indignados são muitos e ao Grande Governo do Faz-de-Conta não interessa o aumento do número dos párias e dos desiludidos. Logo, cada vida que se vá desta para melhor pousar no outro mundo etéreo concretiza uma dádiva aos Grandes Governantes que ficam mais aliviados de preocupações e trabalhos. É nestes alívios que o Grande (des)Governo se revê em comodidade, sossego, eficácia, prosperidade e afirmação do seu poder...

Face a esta nova modalidade de maternidades ambulantes espontâneas que vão funcionar nas estradas, nas ruas e nas linhas dos caminhos de ferro deste país há, igualmente, que saudar o Grande Ministro da Doença e da Extinção do Indígena Desprotegido pela sorte de, inopinadamente, terem surgido as alternativas dos veículos locomóveis e, sobretudo, dos comboios, que asseguram as melhores condições funcionais às parturientes, associadas às eficientes assistências dos parteiros improvisados, disponíveis nas ocasiões dos partos. As mulheres envolvidas em trabalhos de parto, ficam irremediavelmente rendidas aos prazeres da comodidade e benefício dos tremeliques provocados pelas velocidades do equipamento móvel circulante. Já nem é preciso ir a Badajoz transferir a nacionalidade dos nascituros portugueses. Nestas circunstâncias, provou-se o acerto de um ditado popular a condizer com os resultados que vão surgindo. A seguir à tempestade da extinção das maternidades de modelo convencional vem a bonança das maternidades ambulatórias. Sim! É a evolução… da esperteza, que terá sido saloia e que hoje será o quê?

Nem se tratando de aplicação de lei do mercado, prevalece a lei da boa sobrevivência dos predestinados à bem-aventurança do “GRANDE PARAÍSO DOS BEM INSTALADOS NA VIDA” em que se vai transformar Portugal - conforme as sábias previsões dos nossos iluminados Grandes Ministros do não menos Grande (des)Governo de Portugal. Demais a mais, nesse sentido convergem os esforçados passos dados por essas excelentíssimas criaturas.

Atendendo à importância do facto, reveste-se de interesse assinalar que no p.p. dia 27 de Dezembro, na Linha do Norte, da CP, por alturas de Gaia, ocorreu o parto inaugural do novo sistema de maternidades ambulatórias de ocasião. Por aquilo que se deduz da pormenorizada reportagem inserta, com o devido relevo gráfico, na última página do “Jornal de Notícias”, edição de 28 de Dezembro de 2006, o feliz evento teve um êxito retumbante. Sucesso que deve ser considerado em abono da fantástica ideia do Grande Ministro da Doença e Extinção do Indígena Desprotegido. Outrossim, um marco a assinalar no currículo deste Grande Ministro. Porque serviu de comprovação da eficiência do novo sistema idealizado por Sua Excelência. Igualmente, um acontecimento que representará um extraordinário incentivo para a ministerial figura prosseguir com arreganho e firme determinação a sua tarefa… de poupar nessa coisa dos cuidados de saúde, antes prestados pelo Serviço Nacional de Saúde que o Grande Engenheiro do Universo haja e que, agora, é tida como supérflua e indesejável numa sociedade que se quer devidamente seleccionada e expurgada de idosos, desempregados, reformados, desfavorecidos, inválidos, deficientes, pobres, remediados, desalinhados – todos eles excrescências sociais… (os mendigos não se mencionam porque há dezenas de anos foram extintos por decreto de Oliveira Salazar…).

Pois, atentemos e reconheça o Grande Ministro da Doença que daqui para a frente, sempre que uma maternidade fechar, haverá uma janela ou porta de carruagem de comboio da CP que se abre.

Enfim, sejamos realistas. Fixemos a evidência indesmentível: Um parto num comboio da CP é:

- Uma solução barata para a parturiente…

- Um espectáculo grátis para o pagode…

- Um evento excitante e enternecedor…

- Uma hipótese, não desprezível, de fatalidade propensa à extinção das classes pobre e média e, consequentemente, à criação do GRANDE PARAÍSO DOS BEM INSTALADOS NA VIDA.

E, claro: a traduzir redução do Orçamento…

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Um texto sem tabus…

DRAMÁTICO!

TANTOS COM O CORPO MALTREITO

E A ALMA DILACERADA…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

Ao iniciar-se a contagem do ano de 2007 Portugal e os portugueses estão em maus lençóis. Estes, assentes sobre colchões infestados de parasitas. Mais a terrível desgraça: estendidos sob mantas de feios retalhos que exalam odores nauseabundos. Também notória a falta nas horrorosas camas dos indispensáveis cobertores, fortes e quentes, que proporcionassem bons agasalhos às lusas gentes. Para agravar a situação aquelas peças (lençóis) de fraca textura apresentam-se bastantes sujas e fedorentas e empestam o inteiro ambiente; para não se dizer o ambiente do meio; o que desvirtuaria a realidade que pretendemos demonstrar aos pacientes e enfermos do repulsivo mal contagioso advindo da grande desgovernação; os quais, cidadãos infelizes, desiludidos e revoltados, constituem a maioria dos portugueses. Precisamente aqueles europeus, refugo da agregada comunidade da Europa, que estão cada vez mais pobres, doridos, sufocados, sem voz e em acelerada marcha para o jardim das tabuletas. Por sinal, um espaço de tranquilo repouso bastante estimado pelo Grande (des)Governo que temos.

Assim estamos postos em estado de transe, por causa das poluídas atmosferas que nos toldam as monas, nos vão enfraquecendo o físico e prestes nos aniquilam. Como ainda no p.p. dia 24 de Dezembro, na aldeia de Sabrosa, concelho de Mortágua, esteve quase acontecendo a uma família de dezoito pessoas que, reunidas na adega da habitação a consoarem, nem se aperceberam do adormecimento que se ia apoderando de cada uma, devido aos efeitos do monóxido de carbono acumulado pelas emanações das brasas da lareira.

Depois, quem devia tratar das respectivas lavagens e desinfecções está-se nas tintas para o desempenho dessas tarefas profilácticas.

Antes de mais mencionarmos a título de desabafo e em nota de repúdio, há que fazer referência ao contingente avantajado de pessoal dirigente que se considera mal pago, enquanto anda por aí entretido a empanturrar-se à mesa do Orçamento, a excursionar através do país e pela estranja, a proferir sermões aos peixinhos das águas turvas acumuladas nas depressões das suas quintas dispersas pelo território nacional e, lá fora, na Bélgica, a lançar milho bafiento aos pardais de Bruxelas que não vão lá muito à bola com as jogadas dos grandes figurões, lusitanos de meia-tigela, acantonados no reduto lisboeta.

Também paira no ar a dúvida se haverá água limpa em quantidade e da melhor qualidade para se fazerem as muitíssimas barrelas necessárias para o êxito da desinfecção geral. Para além destas preocupações que nos tiram o sono, está latente a suspeita de haver gente que descarta essa esmerada miragem ou esperançosa hipótese porque, num excesso de zelo ou por subtil impostura, insinua temer o esgotamento das reservas aquíferas onde, eventualmente, se poderia ir buscar o precioso líquido que todos sabemos não ser inesgotável. Escudados nestas inquietantes suposições que se apresentam como previsões trágicas apontadas a um tenebroso futuro da grei, ousamos perguntar: quantos se esquivam aos indispensáveis trabalhos de salubridade geral e abrangente a todos os sectores da nossa desconexa sociedade? Adiantamos a óbvia resposta: o apuramento é difícil, senão impossível… Quem souber, contraponha!

Entre o conjunto de ambíguos, improcedentes e obscuros procedimentos e a amplitude das situações geradas pelo actual estado calamitoso de podridão, sujidade e penúria e a servir-lhe de pano de fundo e assinalável expressão, avultam as políticas e as acções dos Grandes Governantes. Distintos senhores, de “veneráveis” fraternidades que, falhos de ambições cívicas, limitados de competências, desprovidos de consciência, avessos ao sentido da responsabilidade e sem recursos do Erário esbanjados à-tripa-forra, vêm tomando decisões segundo linhas de força explícitas na lei do menor esforço; sempre determinadas pela mais imediatista e primária inspiração, quando não subordinadas a interesses pouco claros sem nenhuma transparência.

Considerando por outro ângulo cívico-social o conjunto dos expedientes sem nexo e a abundância das medidas intempestivas e desconcertantes a que recorrem os Grandes Homens e as Grandes Damas que nos desgovernam alegremente, saltam à vista os encerramentos das escolas, dos centros de saúde, dos serviços hospitalares, das maternidades e dos consulados. Logo a seguir, alinhados no vasto e controverso campo da bestice e da irracional desconformidade, vêm os indecentes aumentos repartidos: pelos impostos; pelas taxas que moderam os ímpetos de sobrevivência dos malteses que ainda têm veleidades de ser gente; pelos custos da escolaridade entendida como algo nocivo à brandura dos costumes de subserviência; pelos preços dos combustíveis, da electricidade, do gás, do pão, dos alimentos cada vez mais indisponíveis para o pagode; pelas tarifas dos transportes que devem tornar-se mais inacessíveis para os idosos e enfermos porquanto, não devendo exporem-se ao público mais susceptível, cumpre-lhes a obrigação de se aquietarem nos seus cantos e não andarem por aí a fazerem ondas que sobressaltem a consciência de qualquer desprevenido cidadão bem nutrido, melhor enfarpelado e bastante próspero que, graças aos imponderáveis desígnios do “Grande Arquitecto do Universo”, sente aconchegada no bolso interior do casaco, juntinho ao empedernido coração, a agradável “leveza” da carteira bem recheada de notas.

Depois, perfilam-se: a pobreza envergonhada, a miséria de maior visibilidade, os saldos de liquidação da classe média, o fatídico desemprego, o autoritário poder dos chefes políticos, o desprezo e abandalhamento da língua portuguesa, a sujeição aos interesses dos potentados económicos, a preservação dos privilégios dos grandes gestores das instituições públicas e dos grandes governantes, a liberalização das práticas corruptas, os apertos dos cintos dos aparentados do Zé-Povinho, as colagens de adesivos nas bocas mais inquietas, a censura na comunicação social, a atrofia funcional da Justiça que, decidida a tirar a “venda” dos olhos, passa a ter visão abrangente, generosa e compreensiva face aos excessos, pecadilhos e razoáveis crimes dos grandes prevaricadores que se limitam a tratar das suas ricas vidinhas…

De tudo isto sucintamente enunciado se extrai uma conclusão deprimente: Portugal atingiu altos patamares de degradação moral, de impostura cívica, de abandono social e de estagnação no desenvolvimento. A população dos menos favorecidos vegeta. A esperança de evolução favorável do nível de vida da maioria dos lusitanos seres perdeu-se. O fosso entre os pobres e os ricos atinge valores inacreditáveis. Na Europa circula documento que aponta Portugal como um mau modelo de execução político-administrativa e péssimo exemplo daquilo que os novos países aderentes devem rejeitar nas suas políticas de integração na comunidade.

Certo é que os anos se vão sucedendo e o país prossegue em queda livre. Os governos das várias cores partidárias revezam-se. Os ministros entram e saem na dança das cadeiras. Os políticos ora estão no poleiro do Poder, ora hibernam na oposição à espreita da próxima oportunidade do assalto de tomada do Governo. O povoléu barafusta contra os partidos; invectiva os governantes e indigna-se com os deputados e outros espécimes da fauna política. Tende a revoltar-se. Porém, resignado e temeroso, acomoda-se. Talvez mais grave: não identifica os maiores responsáveis e não lhes pede contas.

De permeio, a entidade que – dir-se-ia imutável - verdadeiramente permanece dentro do sistema, escondida, actuante, influente, impávida, sempre com seus elementos integrados em todos os escalões e a níveis cimeiros da hierarquia do Estado e das estruturas da sociedade portuguesa, continua a existir despercebida, incólume, sem minimamente ser beliscada ou forçada a assumir as responsabilidades, que até são muito grandes. Estamos confrontados com um inaceitável tabu. Tal apatia e silêncio, porquê? Que dizer do alheamento deste assunto por parte dos jornalistas, dos comentadores, dos jornais, das rádios e das televisões, de Lisboa? Mistério! “Discrição”! Secretismo! Lei da rolha! Mistério!... Mistério!... Mistério!... Ou talvez não… Há que pensar! E abrir os olhos à realidade!...

Até quando a Maçonaria é conservada numa redoma de vidro espesso e opaco, como se fosse delicada flor de estufa, permanentemente cuidada com todos os requintes? E poupada à crítica e à firme reprovação geral dos portugueses pelas inerentes responsabilidades no actual estado de coisas; visto que – conforme é reconhecido e declarado pelos seus grão-mestres - há muitas e muitas décadas, desde os fins do século XIX, cavalga, ininterruptamente, o Poder? Discretamente… como se sabe e os grandes maçons, destacados em serviço ao exterior das lojas, não se cansam de nos lembrar e acentuar com ênfase… e arrogância.

Como afirmava o fraterno e “grande” Vitorino do PS: “Habituem-se”… os portugueses a exigir responsabilidades à Maçonaria. E à Opus Dei! Isso, habituem-se!!!


MENSAGEM ENVIADA À COMUNICAÇÃO SOCIAL

Aveiro,03 de Janeiro de 2007

Estimadas senhoras,

Caros senhores

Neste dealbar de 2007 e prestando a devida vénia a Vossências, distintas damas e grandes senhores da Comunicação Social, ilustres individualidades da vossa mui credenciada linhagem político-social, que sois, inegavelmente, almas de eleição sempre zelosas do Bem Comum, muito bem acolhidas e extremosamente mimadas nas televisões e melhor publicitadas nas revistas cor-de-rosa dos bons e desencontrados costumes da alfacinha capital, Lisboa - cidade de todos os nossos maiores encantos e dos grandes desenganos que afligem os indígenas, em cujo número me incluo - venho junto de vós meter uma fortíssima cunha no sentido de, nos periódicos e nas redes televisivas, RTP, SIC e TVI, que dirigem ou influenciam, conseguirem despertar a atenção para o crucial problema que afecta a paz de espírito a que, legitimamente, têm direito as ilustres pessoas, ex-ministros Dr. Jorge Coelho, Engº. João Cravinho e Engº. Ferreira do Amaral.

O problema cinge-se ao apuramento de responsabilidades pela queda da Ponte de Entre-os-Rios, no concelho de Castelo de Paiva.

Aliás, se Vosselências trouxerem o assunto à baila facilmente concluirão que, para além de manifestarem apreço, compreensão e respeito pelos sentimentos de angústia que, decerto, estão inculcados nas mentes dos citados políticos (antigos governantes) – igualmente, estarão a remirem-se dos pecados implícitos nos vossos detestáveis hábitos de fazerem muito alarido nas datas das tragédias para venderem papel ou aumentar audiências e depois, rapidamente, se “esquecerem” das mesmas e das suas terríveis consequências…

Por isso, em prol da Justiça, do Bem Comum e em desagravo das famílias das vítimas atingidas pelo infausto acontecimento, façam a mercê de uma forcinha para manter viva a chama bruxuleante da lembrança da tragédia e da urgência em ser aplicada a Justiça. Vale?...

E para nem dar azo a falatórios que ponham em xeque a vontade do signatário em colaborar na meritória tarefa, permito-me juntar uma crónica sobre o assunto que, certamente, vos ajudará a recuperar a memória das lamentáveis ocorrências relacionadas com o acidente de Entre-os-Rios.

Agradecendo o bom acolhimento que se dignarem prestar a esta mensagem, apresento-vos os melhores cumprimentos.

Brasilino Godinho

P.S. Esta mensagem também será endereçada a grande número de pessoas que, não tendo qualquer ligação aos órgãos de comunicação social, já evidenciaram interesse pelos graves problemas e más situações que afectam a sociedade portuguesa. O caso focado concita as preocupações dos cidadãos mais atentos à realidade nacional. De modo especial, as gentes do concelho de Castelo de Paiva e do distrito de Aveiro. O que justifica o propósito de ser atingida a maior divulgação para esta iniciativa.

Um texto sem tabus…

NÃO MORTA… NÃO SOLTEIRA… NÃO VIRGEM…

SIMPLESMENTE, DIVORCIADA…

Por sentença do Tribunal.

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

Pois aconteceu! Ela andava por tudo quanto é sítio disfarçada. Quase sempre escondida. Apática, não reagia aos estímulos. Permanentemente envolvida por um manto de vergonha, mostrava-se sorumbática e hostil às aproximações das virtuosas almas que, normalmente, vivem num estado de pecado mortal. Assustadiça, não se mostrava de ânimo leve à luz do dia, nem na escuridão da noite. Muitos desconheciam o facto de existir. Bastantes, fingiam não a conhecer; sequer de nome. Gente melhor informada tinha uma vaga ideia da sua existência.

Neste ponto, decerto que o leitor interrogar-se-á: Que modo e sentido da presente escrita? Que existência?

Respondemos: Tal como faz o moço-de-forcado que na arena pega o touro pelos cornos, aqui escrevemos sobre a CULPA. Seja ela – como melhor soar aos ouvidos das pessoas sensíveis - a responsabilidade ou a causa da queda da Ponte de Entre-os-Rios, sobre o Rio Douro, no Município de Castelo de Paiva, Distrito de Aveiro.

E porque ela, CULPA, apesar da comprovada incomodidade em si imanente, se faz notar e sobressair pela sua esquiva natureza e gritante ausência, muitos de consciência pesada, dela se afastam como o Diabo costuma fugir da cruz - segundo rezam as lendas transmitidas de geração em geração. (Verdade, que ainda ninguém teve a lata de referir encontros com esse malfazejo ser. Pelo sim e pelo não, muitíssimos lorpas baralhados na incerteza, mas jogando na cautela e saboreando os caldos de galinha, dele querem distância…).

Exactamente, nos precisos termos, o que vem sucedendo à CULPA pelo funesto acontecimento de Entre-os-Rios. Tal e qual como os detentores do Poder encararam os esforços desencadeados, ao longo dos seus últimos anos de vida, pelo distinto mestre de engenharia de pontes e viadutos, engenheiro Edgar Cardoso, no sentido de serem inspeccionadas e reparadas as pontes e os viadutos das vias rodoviárias nacionais.

O professor engenheiro Edgar Cardoso porfiou ingloriamente em chamar a atenção dos governantes deste país para as graves situações de degradação já então existentes em numerosas obras de arte espalhadas por todo o território continental. Os ex-ministros das Obras Públicas e Comunicações, Engº. Ferreira do Amaral, Engº. João Cravinho e Dr. Jorge Coelho e os quadros superiores dos órgãos superintendentes nas estradas nacionais, não ligaram patavina aos alertas lançados pelo extraordinário técnico. Fizeram orelhas moucas. Assobiaram displicentemente para o lado. Como se o assunto não lhes dissesse directamente respeito.

Não foi preciso esperar muito tempo para se ajuizar das razões das insistências do Prof. Engº. Edgar Cardoso nos cuidados de manutenção e reparação das citadas obras de arte. Anota-se: intervenções que, objectivando as condições de segurança do tráfego rodoviário, jamais podem ser descuradas.

Até que se deu a tragédia da derrocada da Ponte de Entre-os-Rios; precedendo a queda de um viaduto de peões na região de Lisboa, no tempo do mandato ministerial do Engº. Carmona Rodrigues. Neste caso do viaduto o acidente ocorreu devido ao terrível efeito da colisão de uma borboleta destrambelhada que, estupidamente, se precipitou sobre o tabuleiro. Apesar do alvoroço causado no público, o acontecimento foi abafado e ainda hoje não se sabe se a malvada compareceu em juízo. Ou se o processo da ocorrência foi convenientemente arquivado…

Já no caso da desgraça de Entre-os-Rios as causas ainda estão indeterminadas por douta apreciação do tribunal que, recentemente, julgou o respectivo processo judicial. Contudo, atendendo á confirmada circunstância de ter derruído um dos pilares que provocou o desabamento do tabuleiro, em dada altura começou a esboçar-se a plausível teoria de terem sido as ratazanas - que há anos se entretinham (quiçá, alimentando-se dos resíduos granulares) a roer a sapata da fundação - as anónimas entidades responsáveis pelo que aconteceu naquela fatídica hora. Na actualidade, como parece não haver interesse nos meios geralmente bem acomodados em aprofundar a questão, está posta de parte a hipótese da conspirativa actuação dos roedores ser devidamente estudada, analisada, certificada ou rejeitada, pelos cientistas e atendida pelos agentes de investigação criminal. Uns e outros, agradecem não ser incomodados…

Quando se deu o infausto acontecimento o ministro das Obras Públicas e Comunicações, Dr. Jorge Coelho, demitiu-se proclamando que a CULPA não podia morrer solteira. Logo, houve quem estranhando a inquietação e a solicitude do governante pelo estado civil da criatura se interrogasse: Por que razão ou impedimento haveria ela de ser virgem ad perpetuam? Infelizmente, até hoje, a questão não foi esclarecida...

Não obstante, conservamos na memória a impressão sentida pela opinião pública. Ou seja: a inocente sensação de ter sido da parte da ministerial figura uma atitude que, embora ilusória, relevou ternura e inegável simpatia para com a CULPA. Ela, naquele transe, bem precisava de ser alentada. Viviam-se momentos dramáticos. A malta quase se deixou possuir pela comoção. Muita gente ficou enternecida… Porém, alguns parentes afastados do Zé-Povinho, “amigos da onça”, cínicos, incrédulos, não se coibiram de filosofar: Pois quê?... Pois, sim!... E à socapa, iam balbuciando: “Quando a esmola é grande o pobre desconfia”…

Agora, com o desfecho do processo no tribunal chega-se à conclusão que ela, a CULPA, casada (melhor dizendo: amancebada) que foi no momento da tragédia, não mais se pode considerar solteira. Muito menos, virgem imaculada…

O Dr. Jorge Coelho, naquela altura, enganou-se redondamente. Há dias, num programa televisivo, voltou a enganar-se. Com veemência declarou que a CULPA, afinal, morreu solteira. Confrange a falta de percepção do conhecido político. Daqui lhe confidenciamos Dr. Jorge Coelho: O senhor incorreu num clamoroso erro! A CULPA está vivinha da costa. Recomenda-se por muitos anos que ainda tem de vida à sua frente e aos olhos do Zé-Povinho. De facto e, surpreendentemente, de direito, ela está divorciada. Por decisão judicial o divórcio foi decretado. Uma desvinculação matrimonial colectiva, porque abrangendo os vários amantes que promiscuamente compartilharam vida comum. Entre eles, o destaque para os ex-ministros já aqui citados devido a serem, em diferentes épocas, os chefes do respectivo agregado familiar.

E ao Dr. Jorge Coelho talvez não ficasse mal elucidar-nos sobre o que representa isso da sua assunção de responsabilidades. Assumir responsabilidades só por se ter demitido? O cargo, o penacho, as mordomias, eram assim coisas tão valiosas, seguras, gostosas, queridas e rentáveis, que, abdicando delas, se possa admitir que o Dr. Coelho caiu no desemprego ou que houve prejuízos nos rendimentos pessoais e na sua carreira política? (Obviamente, que da profissional não vale a pena falar… certo ou errado?). Quais os danos morais? Dessa atitude de demissão qual foi a penalização dela decorrente? Que sacrifício expiatório? Que castigo cumpriu?

Porquê os ministros não hão-de ser penalizados pelas graves omissões que cometem? E qual a razão da Justiça se alhear da, por vezes, extrema gravidade das consequências da negligência dos governantes, como aconteceu com a tragédia da Ponte de Entre-os-Rios?

Insistimos: Mas que responsabilidades? Se no momento da demissão disse que assumia responsabilidades por que, desde logo, não se dispôs a enumerá-las, nem chegou a dar sua pessoal definição e um seu qualquer modo individual de as concretizar? Tão-pouco, uma indispensável e inequívoca afirmação de sua existência e enumeração?

Interpelamos: Das eventuais responsabilidades do Dr. Jorge Coelho o que ele nos transmitiu? Na prática, nada! De facto, coisa nenhuma!!!

Os portugueses ficaram contemplados com o gesto espectacular, mas inconsequente. Entretanto, o Dr. Jorge Coelho satisfeito consigo mesmo, provavelmente, dispôs-se a “dar uma volta ao bilhar grande”…

Outro aspecto a considerar no estado de separação da CULPA da tragédia de Entre-os-Rios é que ele se constitui como um gritante divórcio da realidade factual e da inapelável quota de responsabilidade de quantos, tendo sido advertidos dos perigos latentes, pela maior autoridade portuguesa no domínio da engenharia daquele específico tipo de obras de arte, se estiveram nas tintas para, em devido tempo, tomarem as medidas que se impunham para obstar à ocorrência de acidentes como o da Ponte de Entre-os-Rios.

Surpreende o “esquecimento” dos factos, dos ensinamentos, das críticas, dos “avisos” e das recomendações, por parte dos responsáveis da Administração Pública, dos serviços da Justiça, dos tribunais e dos órgãos de soberania. A dar crédito à conhecida observação popular, deve ser gente que come muito queijo no verão. Pelos vistos, hábito alimentar que provoca crises de amnésia de fixação nas horas cruciais…

As considerações expostas remetem-nos a outra pertinente questão: o quadro penal do nosso ordenamento jurídico não contempla a figura da negligência criminosa? Mesmo quando ela se sobrepõe aos inadiáveis cuidados de prevenção e ao atempado conhecimento ou informação das situações de risco?

Enfim, a CULPA não é virgem, Não se encontra solteira porque naquela fatídica hora da tragédia de Entre-os-Rios se amancebou com vários sujeitos. Agora, não tendo morrido, arrasta uma envergonhada e penosa existência de divorciada E como está viva a todo o tempo, tem de ser demandada em juízo. A CULPA tem de expiar a sua culpa…

Nota importante: Urge desmistificar as histórias mal contadas das rápidas e inconsistentes assunções de responsabilidades por parte dos vários governantes e políticos que, sobranceiros, se exibem no circo da politiquice e se passeiam na vastíssima área do “faz-de-conta”.

A presente crónica visa esse objectivo.

http://quintalusitana.blogspot.com