Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

segunda-feira, janeiro 29, 2007

UM APONTAMENTO SOBRE O PREDESTINADO PRÉMIO NOBEL – JOSÉ ANTÓNIO SARAIVA

Brasilino Godinho

Eu mantenho desde 1950 uma relação virtual (palavra muito em voga) com a família Saraiva. Nessa época, jovem interessado pela Literatura e pela Filosofia, li com muito interesse a “HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA” da autoria do Prof. Doutor António José Saraiva. Gostei da obra. Fixei o nome do autor. Passei a acompanhar, de longe, o seu percurso de vida e as intervenções públicas que ia tendo em Portugal, no exílio em Paris e, mais tarde, após o seu regresso à Pátria, ao tempo do 25 de Abril de 1974.

Entretanto, ainda em pleno regime da ditadura do Estado Novo, surge na ribalta política o Dr. José Hermano Saraiva investido nas funções de ministro da Educação de um governo chefiado pelo Prof. Doutor António Oliveira Salazar. Lembro-me de o ver e ouvir, indignado, no Telejornal da RTP, por causa da intervenção do estudante Alberto Martins (hoje chefe do grupo parlamentar do PS), numa sessão realizada na universidade coimbrã presidida pelo “venerando” (assim tratado pelo jargão oficial do regime) Chefe do Estado, Américo Tomás. E desde que iniciou as palestras na RTP sigo, com alguma regularidade, os seus programas de divulgação da história pátria.

Entretanto, leitor assíduo do “Expresso”, desde o primeiro número, numa determinada altura, já lá vão largos anos, deparei com o nome do arquitecto José António Saraiva (filho do Prof. Doutor António José Saraiva e sobrinho do Dr. José Hermano Saraiva) assinalado no cabeçalho do semanário na qualidade de director.

Nunca tive qualquer contacto pessoal com nenhuma das pessoas citadas. Mas, relativamente ao arquitecto José António Saraiva, deixo o registo que chegámos a trocar correspondência a propósito da censura que exerceu ou que consentiu sobre a minha obra “A QUINTA LUSITANA”, uns tempos antes de sair do “Expresso”. Anoto que numa missiva o arquitecto Saraiva, em termos correctos, tentava refutar a acusação que lhe fizera de censor do meu livro que, em devido tempo, lhe fora presente.

Aqui inserido este apontamento de divergência pessoal, refiro que ao longo dos anos sucessivos da direcção de José António Saraiva e, agora, na orientação do “SOL” venho lendo atentamente os editoriais e outros escritos do conhecido jornalista. Nalgumas ocasiões tenho tido ensejo de acerca deles tecer apreciações críticas nas minhas crónicas publicadas na imprensa diária e no meu blog pessoal. E sempre pela mesma razão: na escrita do Arqº. Saraiva encontro, com frequência, um indefinível sentido de livre arbítrio, a expressão de uma perturbante ambiguidade e um elevado teor de vacuidades e contradições naquilo que é um discurso amorfo que, às vezes, chega a ser pilhérico. O mais engraçado nas intervenções do arquitecto Saraiva é que ele se leva a si próprio muito a sério. E alcança esse inolvidável estado de êxtase e de deslumbramento pessoal sem nunca se rir de si mesmo – o que é um feito notável de autoconfiança e de flexibilidade de espírito… Com uma vantagem adicional: diverte quem o lê...

Por isso, igualmente pela circunstância de em Lisboa se ter concentrado a inteligência (…) que resta no país e na capital se “fabricarem” os ilustres autores e as grandes obras da literatura nacional (muitas delas apresentadas pelos jornais e televisões como garantidos rotundos sucessos, creditados por milhares de vendas, antes dos exemplares serem postos nas bancas e se conhecer a reacção do público) e ainda porque o arquitecto Saraiva é uma figura permanentemente exposta na montra do semanário que dirige e, acima de tudo, por em tempo oportuno, de uma forma cativante, fantástica, surpreendente, ter informado “urbi et orbi”, no decorrer de uma entrevista dada a Maria João Avilez, transmitida pela “SIC”, que qualquer dia vai conquistar o Prémio Nobel (insinuou que será o da Literatura), importa não perder de vista a evolução dos acontecimentos e acompanhar com desvelo as prestações literárias do consagrado intelectual. Daí decorre que vou manter-me atento e iniciar uma série de comentários e análises aos escritos de Saraiva - o vidente - que designaremos por SARAIVADAS OU AS CONFISSÕES DO ARQº. SARAIVA; as quais, serão regularmente inseridas no blog http://quintalusitana.blogspot.com. Aliás, a série de textos agora iniciada foi precedida da minha recente crónica sobre as relações de cordialidade entre Saraiva e o Paco (por mim considerado… a figura pública do ano de 2006) entretanto publicada na imprensa, divulgada na Internet e inserida no meu blog, atrás referido.

Um texto sem tabus…

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arqº. Saraiva…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

Tema: O equívoco de Saraiva sobre o feminismo.

O Arqº. José António Saraiva quando em 1974 tomou mal distinto conhecimento de um encontro de feministas no alto do Parque Eduardo VII, cidade de Lisboa, não deu grande importância ao facto. Andava um pouco distraído… Quem sabe se a pensar na morte da bezerra. Mas, agora, provavelmente espicaçado pelo frenesim do referendo sobre o aborto e tacteando através do labirinto das confusões que determinam os desabafos que verte ao jeito de viver para contar ou talvez pela inversa de contar para viver sob um Sol acolhedor, ainda que condicionado por obscuro tabu – porventura, andando passo a passo absorto no mundo da criação de automatismos psíquicos que parece ser tanto do seu agrado; quiçá, formulação de tendências fantasiosas só ao alcance de mentes elevadas como será a sua, própria de consagrada figura da comunicação social de Lisboa – veio informar os distantes indígenas (somos todos os que não beneficiam da sua companhia) que, nessa época, “não reflectiu muito sobre o tema”, embora lhe tenha parecido haver algo confuso nessa história do feminismo e das suas manifestações. Escrito isto, ufano, contemplando-se generosamente no subsequente esclarecimento, acrescenta: “só mais tarde percebi o porquê”. Sem mais explicações e com ênfase, algo misteriosa, a seguir indica que “o feminismo assentava num equívoco”. É motivo para perguntar: Qual? Quando Saraiva percebeu? Assentava? Então já não assenta? Todavia…

Heureca! O Arqº. Saraiva levou trinta e três anos - uma eternidade de uma vida de congeminações e de incertezas, certamente, angustiantes - ocupado num processo de elaboração de uma teoria que, concluída em Janeiro de 2007, lhe permite proclamar, com nítido triunfalismo, o seguinte: “percebo melhor por que tinha a intuição de que o feminismo assentava sobre um erro”. E diz isto porque tinha a intuição, já que, finalmente, percebeu melhor e, pelos vistos, anteriormente percebia pior… Um sarilho de todo o tamanho!

Mas, neste ponto, face aos dois assentamentos, o Arqº. Saraiva deixa-me completamente baralhado Enquanto no parágrafo anterior considera que “o feminismo assentava num equívoco” ou seja na interpretação ambígua, no sentido malicioso, no sofisma, naquilo que não é nítido e que dificilmente se pode classificar, logo, um pouco à frente, afirma que “o feminismo assentava sobre um erro”. Ora quando há erro, na verdade, existe desacerto, logro, inexactidão ou pecado. Com esta divergência semântica ficou estabelecida a confusão. Potenciado o engano. Comprometida a interpretação da ideia de Saraiva sobre o feminismo. Do mesmo modo, permanecem as incómodas dúvidas cépticas: Onde assentava o feminismo? E hoje, onde assentará ele? Pena que o Arqº. Saraiva no seu escrito nem ofereça pistas que conduzam o leitor à resolução do imbróglio. (Talvez, por impossibilidade… e o caso vertente, sob a inspiração de Saraiva, se equiparar ao problema da quadratura do círculo…).

Porém, José António Saraiva, num tom descontraído e como se não tivesse apercebido a charada que criou, seguiu resolutamente em frente. Num ápice, exercitando um expediente pedagógico dirigido a quem não saiba com quantas tábuas se faz uma canoa, Saraiva explicita: “As feministas queriam que homens e mulheres fossem o mesmo, (?...) vestissem as mesmas roupas, tivessem as mesmas conversas, lessem os mesmos livros, sentissem da mesma maneira, tivessem os mesmos gostos, reagissem da mesma maneira”. Quem imaginaria um quadro tão tenebroso? Faltou dizer que, tal como os homens, não usassem soutiens… e outras peças íntimas.

A propósito, relevo o facto (sublinhado no seu discurso) de Saraiva ”ter reflectido muito sobre o tema”… Assinalo que lhe terá valido ter latente, no longo interregno entre 1974 e 2007, a intuição providencial da marosca do feminismo. Interrogo-me: O que teria acontecido se a Saraiva faltasse a intuição? E sem essa longa e profunda reflexão sobre o tema?... Safa!

Mas a nota mais interessante e deveras transcendente do texto de Saraiva encontramo-la quando ele, convicto, peremptório, radiante, qual achador de matéria não revelada, nos elucida: “Isto explica a militância das feministas e suas herdeiras a favor do aborto” Vou esquecer a petulância da apressada conclusão. Simplesmente, observo: Quem não sabia, ficou a saber… Saraiva disse… Antigamente havia feministas. Na actualidade, existem as herdeiras das feministas. Realço as interrogações: Estas, herdeiras, de maus-olhados e dúbias intenções, na visão de Saraiva, serão feministas? Genuínas? Autênticas? Impostoras? Oportunistas? Equivocadas? Ou errantes? Qual a natureza do legado? Saraiva não aprofundou estas questões da autenticidade e da conformidade ao erro que aponta. Limitou-se à simplória conclusão que as desaparecidas feministas agora ressuscitadas (talvez por obra e graça do Divino Espírito Santo), vindas apressadamente do Além e as antigas e actuais herdeiras, militam a favor do aborto. Neste ponto, dou a óbvia nota de confiança dos leitores: Espera-se que, no seu desvario, umas e outras não se atropelem e se amachuquem…

Além disso, também se depreende que o Arqº. Saraiva considera que, elas, masoquistas, se lançam deliberadamente nas malhas do sofrimento, da dor e dos traumas causados pela interrupção da gravidez. Acalentadas com a volúpia da clandestinidade… Para chateação de Saraiva e dos seus companheiros de cruzada.

Claro que está dito por José António Saraiva o que, de importante, faltava para abrilhantar a campanha do referendo sobre a despenalização do aborto até às dez semanas… Palmas para o Arqº. Saraiva!

Enfim, a pairar no ar ficam as perturbadoras incertezas: Erro ou equívoco do feminismo antigo? Equívoco ou erro do feminismo herdado, seja isso o que for? Ou o equívoco de Saraiva - o arquitecto incipiente que terá sido, de pequeno currículo profissional; o festejado director de jornal durante dezenas de anos; o editor que foi recuperar um título prestigiado (SOL) dos anos quarenta, fundado pelo tenente-coronel Lello Portela, sem disso dar notícia ao respeitável público; e, acreditando nele, o provável detentor do Prémio Nobel de Literatura (...). Por enquanto, uma láurea sem data marcada, pela Academia Sueca, para a putativa atribuição… Eventualmente, à espera do planeamento e da indicação datal a fornecer pelo interessado (o Arqº. José António Saraiva).