Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

segunda-feira, dezembro 11, 2006


Um texto sem tabus…

UM DUQUE “ALEGRE”

E O ALEGRE “DUQUE”…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

Portugal é um país de muitas singularidades. Entre elas, a de ser uma República que parece carregar uma síndrome monárquica. No regime ditatorial de Salazar a República tinha a peculiar característica de ser governada pelos monárquicos. Na actual terceira república existe activo um pequeno grupo de “republicanos” assimilados que aparentam grande apreço pelas ideias monárquicas. A que se associa um desassossegado cidadão, Duarte Pio de Bragança, que se intitula (e recebe algum acolhimento no meio republicano) pretendente à Coroa, ao Trono e ao Reino de Portugal. É reconhecido pelo designativo de duque e antepõe o termo Dom ao nome Duarte – o que é outra singularidade portuguesa. Imprestável, nos tempos que correm.

Não deixa de ser curioso e intrigante o facto de tendo a Monarquia sido extinta em 1910 e, por arrastamento, anuladas e tornadas ilegais todas as suas formulações de organização, de títulos honoríficos e de nomenclaturas, persistam por aí espalhadas as designações de “dom”, “duque”, “marquês”, barão, “conde” e “pretendente”. Títulos que não existem á face da Lei. (Vem a propósito a observação: se “dom” quer dizer dádiva e, no caso vertente, isso ser entendido como a “entrega” da pessoa Duarte Pio à República que somos é caso para se dizer que esta bem o dispensa de tão atrevida e interesseira liberalidade… a qual, um dia, se aceite, seria paga pelo Zé-Povinho com língua de palmo.).

Aliás e não descurando o alcance das pretensões de realeza do Sr. Duarte Pio por que não estendê-las a outros espaços lusófonos? Nesta ordem de ideias e atendendo aos seus ilimitados laços familiares ancestrais (constantemente apregoados) por que não ser pretendente ao trono imperial do Brasil? Pretendente a titular do Reino do Congo e Cabinda? E promotor da criação do Reino de Timor, desde que a titularidade lhe venha a pertencer?

Ainda no que toca a Portugal e ao Brasil, porque ousado pretendente de causas perdidas, Duarte Pio deve reivindicar a posse das áreas dos territórios dos dois países que foram cedidas pelos reis ao clero, aos nobres e às ordens religiosas? Igualmente, por que não exige a restituição das vilas, castelos, palácios e mosteiros? Em Portugal – do mesmo modo no Brasil - tudo era pertença dos monarcas. O pretendente não deve descuidar-se Há que reverter esses patrimónios para a sua desejada ardentemente Corte Imperial do Brasil e Portugal (estados e nações assim de novo ligados na unidade de um império luso-brasileiro). Dir-se-ia que, absolutamente, tudo isso fora perdido. Ao passo que agora D. Duarte Pio vislumbra a possibilidade de as coisas e as loisas da sua predilecção serem recuperáveis e incluídas no acervo da herança. Decerto, por mérito dos bons ofícios e melhores desempenhos promocionais do interessado, famoso pretendente. Apesar das facilidades que se concede importa a D. Duarte não esmorecer no intento. Nem se ficar pelo Trono. E se quer recuperar o Reino (ou os dois reinos: Portugal e Brasil) então não exclua todas as suas componentes e os patrimónios de antigamente.

Mais descabida foi a tentativa perpetrada há uns anos pelo poeta Alegre e o ex-presidente da Assembleia da República, Dr. Mota Amaral, de ao senhor Duarte Pio atribuir honras de posição destacada no protocolo do Estado que, no entender do interessado, deveria ser precedente na hierarquia da República, relativamente aos membros do Governo. Há dias queixou-se numa entrevista que: “Muitas vezes é embaraçoso ficar atrás de ministros e outros governantes na lista de precedências do protocolo”. Que grande chatice! Comentamos. Vejam só: numa República não se dar primazia a um monárquico com pretensões a ser rei. Que ingratidão… de gente tacanha… Sem visão de longo alcance… Uma decadência de vida nacional… Ou atraso de uma singular vida?

Esta história de um “pretendente” a uma coisa inexistente, de natureza monárquica, usufruir de especial atenção e grande reverência num estado republicano é uma anedota que nem lembraria a um diabrete por mais atrevido que ele fosse e não tem equivalente nos países civilizados com regime republicano. Nem, ao contrário, na monarquia espanhola; a qual não privilegia qualquer representante da extinta República de Espanha. Neste caso, bem! São regimes diferentes e antagónicos em que na representatividade oficial os respectivos dirigentes se excluem uns aos outros. Com manifesta naturalidade! Decência! Lógica! E sentido de Estado!

Mas sendo esta uma extravagância portuguesa e visto que o ilustre senhor Duarte Pio se move com desenvoltura nas águas profundas da república portuguesa que, às vezes, generosa, insensata e sofrida, parece tomar as suas dores, vamos falar dele e citá-lo com o apelativo “dom”. Para não sermos acusados de desmancha-prazeres.

E reportando-nos ao citado poeta Manuel Alegre que, frequentemente, se tem associado às iniciativas da real figura, assinalamos a impressão generalizada na opinião pública de que, em correspondência à anunciada ascendência fidalga, o conhecido vate e parlamentar aspira a ser investido como membro da nobreza na categoria de Duque de Águeda. E, nessa perspectiva, possui um requisito não despiciendo: já tem estátua erguida algures no centro de Portugal.

Assim é, que nos decursos das suas vidas mediáticas e de vez em quando, o duque “alegre”, Duarte, se cruza com o alegre “duque”, seu homónimo Duarte. Quando isso acontece, os dois entendem-se às mil maravilhas. Segundo as aparências, atraem-se mutuamente. Então, saltam algumas chispas amistosas e fraternas. E a malta acha uma gracinha

Recentemente, num evento social, isso voltou a acontecer. De pronto, o alegre “duque”. ex-candidato à presidência da República, sentindo um qualquer fervor monárquico e indo ao encontro dos veementes desejos do D. Duarte Pio, admitiu a realização de um referendo para o povo se decidir pela República ou pela Monarquia. Um gesto gracioso entre dois duques… alegres. Comovente! Mas que nos leva à inquietante dúvida: O que teria sucedido à República se o alegre “duque” tivesse ganho a eleição para a Presidência da República? Safa!...

Talvez animado com esse incentivo o D. Duarte Pio nas duas últimas semanas tem desenvolvido uma frenética actividade propagandística. Através dela evidenciou-se o apoio logístico que lhe é dispensado pelos confrades colocados nos vários órgãos de comunicação social: jornais, revistas e televisões, abriram-lhe as portas e em todos o real senhor multiplicou declarações.

Ao recordá-las, comecemos pelas de tom mais sério. D. Duarte Pio na entrevista ao “Diário de Notícias”, edição de 3 de Dezembro, do ano corrente, afirmou que “(…) o problema principal é a falta de liberdade de expressão em Portugal”. Devemos rectificar: se é certo que há censura não é este o problema principal que os portugueses enfrentam. Porém, nesse aspecto de liberdade de expressão ele não é atingido, nem deve lamentar-se – como o provam as suas múltiplas intervenções num curto espaço de tempo. É que D. Duarte tem uma mãozinha que lhe dá o amparo… a fazer-nos lembrar aquele ditado: “Ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo…” Note-se que D. Duarte não é menino, mas para algumas damas até será um borrachinho. Quanto a Deus, nem estará interessado. Embora os sacerdotes do templo lhe dispensem apoio e fortaleza. E em vez da mão por baixo, terá uma manápula terráquea por cima que o segura e mantém à tona das águas turvas da República…

Em dada altura, o pio duque que está normalmente alegre, transmitiu ao entrevistador a preciosa e oportuníssima informação que reproduzimos: a Constituição da República Portuguesa “garante que o País tem um presidente em vez de ter um rei”. Depreende-se que isto além de óbvio é algo profundo, muito chato, bastante confuso para um pretendente a uma grande chefia de monarquia inexistente...

Noutro passo da mesma entrevista D. Duarte Pio dá um fortíssimo pontapé na lógica e na coerência que se exigem a um ser pensante. Ele disse: “Se os portugueses achassem que a alternativa monarquia-república era a mais importante para eles, teriam votado mais no PPM (Partido Popular Monárquico). Não o fizeram, não vale a pena insistir numa fórmula esgotada”. É isso! Se os portugueses não mostram apreço pela causa monárquica porquê o espectáculo grotesco e a farsa mediática de um pretendente a um reino que era e na actualidade não é coisa nenhuma?

Em declarações prestadas à revista “Sábado” D. Duarte Pio fez-nos uma extraordinária revelação: “Até aos seis anos pensava que as crianças nasciam como cogumelos. Talvez fosse romântico”. Estranhamos: as crianças nascerem como cogumelos? E porque fosse romântico? Que ideia e afectação românticas mais esquisitas na cabecinha de uma criança de seis anos Aqui entre nós, num frente-a-frente virtual e porque foi omisso na declaração, diga-nos D. Duarte Pio: e hoje, ainda “pensa” que as crianças nascem como cogumelos?...

Ao longo dos tempos D. Duarte Pio tem vindo a divulgar facetas da sua vida pessoal e íntima, ao estilo de quem descreve uma novela. Agora, à revista “Sábado” acrescentou mais um episódio que completa narrativa anterior; na qual, informara o público apreciador de fofocas, que no decurso da sua vida de solteiro levara várias “tampas” aos seus pedidos de namoro; inclusive da mãe da sua actual esposa. Transcrevemos da “Sábado” a seguinte “boca” de D. Duarte Pio: “Fui ter com a Isabel ao Brasil e pedi-a em casamento num barco. Disse-lhe: “Ou me dás a resposta ou atiro-te à água”. Assim, sem papas na língua… Só de a ler, esta ameaça causa calafrios… Ali, num barco – realce-se - à mão de atirar pela borda fora. Gaita!

A real criatura não esclareceu se a ameaça à donzela, ora sua esposa, foi feita em tom sério ou ao jeito de brincadeira - de muito mau gosto, acrescentamos. Claro que tendo em conta o insólito facto de D. Duarte se ter prevalecido do ascendente físico e da manifestação de força, com recurso à chantagem exercida sobre uma frágil, indefesa e confiada jovem e que, mesmo brincando, ela ficaria perplexa, constrangida e temerosa, é caso para nos interrogarmos: que outra poderia ser a resposta, senão um contrafeito sim? E na “fotografia” o senhor duque não ficou bem Certamente, a imagem está embaciada

Resta anotar que D. Duarte Pio também na semana transacta promoveu a realização de um “jantar de conjurados”, em celebração da data do 1º. De Dezembro. E, como nem podia deixar de ser, voltou a perorar sobre os encantos da sua monarquia. Na ocasião, tais enternecedoras maravilhas foram apropriadamente sublinhadas com os tons vibrantes dos fados castiços entoados por um conceituado fadista monárquico, da alfacinha cidade. Uma encenação a lembrar os serões da corte que, talvez, Deus conserve na sua infinita e bondosa memória; enquanto o Diabo se extasia com a lembrança das demoníacas noitadas promovidas pelo círculo de adoradores dos monarcas reinantes e havidas nos paços de Suas Altezas.

Enfim, focámos uma figura pública que é um cidadão original. Agrega a denominação retrocedente de duque e quase sempre está alegre de si para si. Sobreleva, ser respeitável chefe de família. Nele sobressai a condição de refém das suas fantasias…