Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

terça-feira, janeiro 23, 2007

Um texto sem tabus…

ESTE PAÍS DE TRISTES FIGURAS

FICA MAL NO RETRATO DA EUROPA…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

Os portugueses, forçosamente, estão deprimidos. Eles têm consciência de Portugal estar atravessando um período difícil. São muitas as dificuldades. Enormes as carências. Sentem-nas nos corpos. Atormentam-lhes as almas. Todos os grandes valores e princípios que dão suporte à vida em sociedade estão em crise de aplicação. A Política falha na concepção e na prática. A Administração está de rastos. Não há mística, ideal, desígnio que se imponha à consciência colectiva e constitua factor galvanizador de progresso colectivo e aperfeiçoamento das condutas dos indivíduos. Os partidos estão desorientados. Sem dúvida, por algum abandono da essência ideológica. Muito por falta de apego ao Bem Comum. Também, porque decorrente da ignorância ou recusa da indagação filosófica por parte dos dirigentes partidários. A que acresce o desvario a que os conduziu a cegueira dos respectivos aparelhos e a sedução pelo autoritarismo e pelo ansiado aproveitamento do exercício da governança e da oportunista satisfação das clientelas ávidas de se banquetearam à mesa do Orçamento.

A Educação, o Ensino e a Investigação não têm sido as prioridades dos governos. Houve negligência da tutela. Sobremodo, desvalorizou-se o estudo do Português, da Matemática e da Filosofia; as três disciplinas basilares da formação intelectual dos homens de amanhã. Estamos a pagar a factura da deficiente preparação para a vida das novas gerações. Causa acrescida pelo estúpido desaproveitamento dos saberes e experiências dos idosos.

A língua portuguesa vem sendo tratada com desprezo e abandalhamento em Portugal. É esquecida e abandonada na Diáspora. O culto do Português esvaiu-se e a sua prática está cada vez mais dificultada pelo mau uso. O qual se deve aos deficientes programas do ensino oficial. E também resulta dos péssimos exemplos de políticos e governantes que parecem fazer gala em exprimirem-se mal e escreverem pior, com o parolo adorno de termos anglo-saxónicos entremeados no discurso. Assim prossegue a degradação da nossa língua, enquanto a aprendizagem do inglês é acarinhada e incentivada de forma desmedida. Para abreviar e facilitar essa vergonhosa via de liquidação da identidade nacional, há anos, o Ministério da Educação retirou dos programas escolares o estudo da Literatura – matéria essencial para a aquisição do sentido prático do saber linguístico Entretanto, a ministra da Educação do governo chefiado por Santana Lopes abriu caminho para o surgimento desse monstro que dá pela designação de TLEBS (Terminologia Linguística dos Ensinos Básico e Secundário) em substituição da Gramática. Se já era difícil e algo cansativo estudar a gramática portuguesa, mais complicada e repulsiva é a aprendizagem da TLEBS por ser uma confusa e prolixa charada de complexas terminologias. Sem aprofundar o tema estabeleça-se a comparação entre a designação unívoca de Gramática e a longa expressão “Terminologia Linguística dos Ensinos Básico e Secundário”. Ambas se referem a uma disciplina que estuda a organização e o funcionamento da Língua. Mas enquanto numa única palavra “gramática” se condensa o seu objecto e a formulação de normas e convenções que regulam a fala e a escrita, na “TELEBS há uma superabundância de termos e uma acentuada redundância de preceitos que não facilitam a compreensão do respectivo conteúdo semântico. Se nos ativermos à Morfologia então ficamos perplexos com as voltas e reviravoltas que acontecem com pronomes, substantivos, adjectivos e advérbios. Exemplo: a palavra cão era um substantivo comum masculino; pela TELEBS passa a ser um nome comum, contável, animado e não humano. Uma transformação bonita e… animada. Humana? Da parte de gente com os pés bem fincados na Terra? Provavelmente da lavra de extraterrestres… Em todo o caso, elucidativo da tendência obsessiva de certos iluminados em se tornarem vanguardeiros… e tudo subverterem em nome de um saber linguístico que, por fatalidade, não fora absorvido pelos especialistas que os antecederam no exercício do múnus mas que, afinal, estava reservado algures num éden científico à espera deles e das manifestações prolixas das suas invulgares inteligências…

Está generalizada uma mentalidade de egoísmo e ganância em prejuízo do nobre sentimento da Solidariedade. Tal estado de espírito apoia-se num descabelado cinismo. Outras circunstâncias agravam a situação. Fenece a Liberdade. Esconjura-se a Igualdade. É, por demais, evidente, a hipocrisia reinante em certos meios sociais e no seio da confissão religiosa predominante em Portugal. Aliás, isso nota-se na vergonhosa campanha em curso sobre a despenalização do aborto até às dez semanas. Vale tudo do mais sórdido para atingir o fim de continuar a penalização das mulheres que, certamente, são compelidas a praticá-lo, com risco de vida, na clandestinidade. Num assunto que diz respeito às mulheres, os homens nem deveriam meter as suas colheradas. E a muitos, por elementar dever ético, impunha-se-lhes a abstenção de dar palpites sobre o assunto. É uma desonestidade intelectual e uma grande hipocrisia que qualquer padre, bispo, cardeal e fiel católico demasiado fanático e conservador, alinhem em nojentas campanhas em prol do intitulado direito à vida de um feto. Classificar de criminosa a mulher que aborta até às dez semanas é uma grave ofensa à dignidade da cidadã. Estes indivíduos, arvorados julgadores de vidas alheias, não têm moral e nenhuma autoridade para assumirem esse posicionamento condenatório. Exactamente por causa dos chamados rabos-de-palha e dos telhados de vidro frágil que, no meio eclesiástico, até serão numerosos e variados. Aqui, arrisco uma pergunta: entre os mais intolerantes clérigos que se manifestam indecorosamente contra a nova lei da despenalização do aborto até às dez semanas, não haverá nenhum deles que tenha estado envolvido numa interrupção de gravidez da sua concubina? Sobretudo, há que lembrar a essa “piedosa” gente os atentados à vida praticados pela Inquisição sob sentenças do seu Tribunal do Santo Ofício (diga-se: instância muito arredada do conceito de santidade…). A Igreja prendeu, torturou e lançou na fogueira, queimando-as vivas, milhares de pessoas. Se ela não se lembra, haja quem lhe faça chegar a lembrança. E assim, recordada, talvez passe a ter algum tento na língua e a ser mais comedida nas acções obscenas que por aí se vão desenrolando. A nós cumpre-nos reter isso em memória. Do mesmo modo, não esquecer os atentados à integridade física das humanas criaturas que ocorreram nos diversos conflitos religiosos e as violações sexuais praticadas pelos sacerdotes, bispos e cardeais norte-americanos e de outras nacionalidades, nas pessoas de menores – o que vem acarretando o dispêndio de milhões de dólares de indemnizações às vítimas pagas pela igreja católica. Estas atrocidades – mulheres e homens mortos nas fogueiras e violações de menores - não serão atentados às vidas das pessoas? Por uma vez, a Igreja tenha algum pudor e faça o óbvio: penitencie-se! Seja, no tempo actual, prudente: Cale-se! Quanto mais briga, pior! Muito se afunda. Por esta via obscurante vai acumulando percas de respeitabilidade. Entretanto, não confunda e engane os portugueses.

Em Portugal também de forma irresponsável se cultiva a facilidade e a permissividade. Dir-se-ia que as pessoas não têm deveres a cumprir. E agem como se só estivessem usufruindo direitos inalienáveis a reclamar, a usufruir e a disputar regalias e benesses. A indústria e o comércio decaem e com as sucessivas falências lançam milhares de pessoas no desemprego e na miséria. No nosso país a cada dia que passa cresce o fosso entre os ricos e os pobres. A classe média está em vias de extinção. Aos mais carenciados impõem-se grandes e persistentes sacrifícios. Enquanto aos detentores do capital tudo é permitido nas mordomias, nas complacências fiscais, na obscenidade do exibicionismo dos gastos e dos esbanjamentos e na impunidade das transgressões às leis e aos regulamentos. Neste campo privativo da classe abastada não se discutem, nem afloram preocupações de solidariedade. Tão-pouco, se ouvem palavras de assentimento em compartilharem nas privações exigidas à maioria dos portugueses. Em contraposição desenvolve-se avassaladoramente o culto da superficialidade, bem patente nas inúmeras revistas de futilidades e fofocas que proliferam em Lisboa e nos programas do lixo televisivo.

Está em decadência o sentido crítico dos cidadãos. Instalou-se a resignação e a apatia face às contrariedades e sujeições que os governantes impõem aos concidadãos. Assiste-se aos desregramentos e às velhacarias dos políticos e dos partidos e as populações não reagem e a todos os excessos da governação se submetem com tamanha indiferença que roça a estupidez. Para o enraizamento de tal estado de espírito dão o seu contributo certos agentes que, conservando-se ocultos e recorrendo a mecanismos de censura instalados na Comunicação Social e noutros sectores de divulgação cultural, tudo fazem para silenciarem as vozes que se erguem contra os desmandos e as arbitrariedades dos poderes instalados na sociedade portuguesa. Hoje, as carreiras dos políticos e dos governantes são determinadas e promovidas por poderosas e sombrias entidades que se refugiam na sombra. Destas, aqueles se constituem “testas-de-ferro”.

Igualmente, a esmagadora maioria de artistas, de literatos e até de cientistas, alcançam patamares cimeiros de preponderância nas artes, nas letras e nas ciências, porque agregados a uma qualquer seita e capelinha que os promove e os consagra, ao jeito de produtos pré-fabricados. Também, os prémios, que por aí se distribuem, pataca a ti, pataca a mim, são resultantes desses envolvimentos fraternos. O que equivale a considerar que a Arte, a Literatura e a Ciência, em Portugal, cada uma por si só, é um embuste e objecto de manipulação feita por gente sem escrúpulos e, inexoravelmente, acaba por ser aquilo que tais grupelhos querem que seja. E o público, sem se dar conta, vai na onda. Esta situação vergonhosa de a Arte e a Literatura serem manobradas e postas em funcionamento e progressão num círculo fechado de compadrios e de harmonização de obscuros interesses, deve estar presente no espírito dos cidadãos que se preocupam com o brilho e o desenvolvimento destas áreas específicas do conhecimento

A corrupção alastra e está instalada nos sectores vitais da sociedade sem se vislumbrar vontade dos agentes do Poder em enfrentá-la com determinação e rigor. Atentemos nas atribulações do engenheiro Cravinho para, nesta data, fazer vingar na Assembleia da República as suas propostas de medidas contra esse flagelo. O tráfico de influências e o compadrio estão entranhados nos órgãos da Administração Pública e na esfera privada a formarem um polvo que, tendo por cabeça a Maçonaria e a Opus Dei, estende os seus tentáculos asfixiantes aos jornais, rádios e televisões e às parcelas instrumentais das componentes de natureza económica e cultural da nação portuguesa. Com a agravante de tal cabeçorra subverter o poder do Estado e dele se apoderar em proveito próprio.

A Justiça está acorrentada, desarticulada nas suas complexas estruturas e desprestigiada. As leis e os códigos existem, mas a sua aplicação não se estende por igual, visto existirem diferentes categorias de cidadãos; os quais, estão enquadrados segundo os seus rendimentos, estatuto social ou projecção mediática. Precisamente, Justiça e Magistratura Judicial que, formando um todo homogéneo, deveriam ser a reserva moral da Nação.

Enfim, nesta crónica, delineado em breves pinceladas, o sombrio quadro composto de tristes figuras de um País (Portugal) que fica mal no retrato da Europa. Igualmente, um painel feio. Mas que existe de verdade. Que havemos de conhecer em detalhe para melhor, mais rapidamente e com a maior veemência, o rejeitarmos…