Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

terça-feira, setembro 22, 2009

Ao compasso do tempo…

ELEIÇÕES (27 DE SETEMBRO).

VAMOS CONTEMPLÁ-LOS NAS SUAS INSIGNIFICÂNCIAS E PERVERSIDADES…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

A classe política de Portugal, numa apreciação global, caracteriza-se pelas facetas de mediocridade, oportunismo, mentira, populismo, corrupção, despudor e pelos constantes abusos, frequentes ofensas e prolongadas agressões à pessoa do Zé-Povinho, sem o mínimo respeito pela sua boa-fé, candura extrema e inteligência.

Claro que há pessoas, quais marginais da corriqueira política que, com maior ou menor grau de sinceridade e coerência de atitudes, fazem a diferença para melhor, porque nelas releva o carácter e os sentimentos de apego ao Bem Comum e de solidariedade com o próximo mais desfavorecido pelas contingências da vida ou pelos advindos malefícios carreados por sombrias veredas existentes numa sociedade inteiramente à mercê de malfeitores e exploradores que não olham a meios para atingirem os seus tenebrosos fins.

Escrita esta referência às boas consciências que, excepcionalmente, sobressaem no execrável pântano em que chafurdam a política e a governação nacionais, vamos debruçar-nos sobre a candente questão das eleições para deputados que estão marcadas para o p. f. dia 27 de Setembro.

Nesse dia, apresentam-se ao eleitorado várias listas enfermando de um pecado original. Isto é: os candidatos foram escolhidos pelos critérios da fidelidade ao partido ou ao chefe, com total exclusão de preocupações correlativas com a seriedade, a competência e a adesão aos deveres cívicos, que determinassem as selectivas escolhas dos mais aptos e honestos cidadãos.

Mas, além ou acima das candidaturas, por mais sonantes que sejam os nomes dos arrebanhados pelos aparelhos partidários, está o significante acto eleitoral, em si, de valor específico. Único! Objectivo! Ele, sim, efectivado à boca da urna, determinante de uma escolha que o eleitor deve concretizar face à transcendência do objecto: o voto.

E o voto, sendo um direito, é uma obrigação do indivíduo consciente e responsável. Ele terá de corresponder à eleição dos melhores segundo o conceito gizado no foro íntimo de cada votante. Se tal nem for o caso, então comete-se uma farsa, altamente comprometedora da finalidade última da eleição e do futuro da grei.

Porém, essa determinante opcional (o voto) está irremediavelmente comprometida. Melhor dizendo: anulada pelo circunstancialismo antes enunciado de a urdidura das candidaturas estar, logo à partida, viciada na formulação e nas composições finais das listagens dos candidatos. Com raras excepções, as candidaturas repartem-se entre os compadres, amigos e correligionários, que vão acumulando os lugares e as mordomias na sucessão dos tempos e das legislaturas, com os maus resultados que se conhecem e a multidão dos indígenas vai suportando. Acresce que “os nossos políticos, de Políticos têm muito pouco ou nada” – como, há dias, muito bem observava o professor universitário J. Peralta. E não só. Também fingem desconhecer o que é a Política como ciência ou arte de governar. Pior: chegam à desfaçatez de lhe negar a dimensão ética – o que releva de desonestidade intelectual.

Aliás, como os melhores não foram seleccionados e, na generalidade, os rapazes, as raparigas, os “tubarões” e os senadores, permanecem indefinidamente nos lugares, não haverá renovação nos quadros dos operadores políticos. Não há que iludir a dramática realidade: todos, partidos e políticos, figurantes do painel eleitoral, são farinha do mesmo saco; moleiros da mesma moagem.

Fácil é intuir que esta gente não respeita compromissos. Nem cultiva a seriedade. Tão-pouco convive com a verdade. É manifestamente incompetente. Deveras repulsiva.

Daqui se infere uma conclusão: os eleitores não têm alternativas nas suas escolhas, se inteiramente subordinados à ideia de que, nalgum dos partidos, hão de assinalar com uma cruz a sua preferência. Esta ressalva de insinuada obrigação opcional, faz sentido na medida em que é necessário não perder a noção essencial do que é uma eleição: a escolha dos cidadãos mais aptos e recomendáveis para nos governarem.

Face à actual pantanosa situação tenha-se bem presente o factor de responsabilidade acrescida que recai sobre muitos portugueses que, constantemente, nos cafés, nas esquinas das ruas, nas tertúlias, nos jornais, por tudo que é sítio, em conversas de amigos e conhecidos, lamentam o estado de degradação a que se chegou em Portugal e criticam a classe política de meia-tigela; a qual, nele está altamente comprometida. Responsabilidade dos cidadãos que, necessariamente, deve arrastar inerentes consequências. O que equivale a dizer o seguinte: Agora, será elementar acto de coerência e dever cívico que todos - humilhados, ofendidos e maltratados - condenem a classe política, do nosso descontentamento, pela forma que, nas próximas eleições, está aí ao alcance: votar em branco ou votar nulo.

Todos nós – quantos, indignados, não se conformam com o pântano e a podridão vigentes – ao votarmos branco ou nulo, estamos destacando, nas listas postas a sufrágio, a inexistência de gente que, na governação e no parlamento, mereça confiança para o encetar de um novo rumo para o País. Também mostrando a nossa repulsa pela podridão que grassa pelo País. Sobrelevando quaisquer outras considerações: dando a essa desqualificada gente o nosso desprezo. Outrossim, realçando que as candidaturas partidárias mencionadas nos impressos da votação, são destituídas de intrínseca verdade e de um propenso compromisso para com o eleitorado. E por isso nem merecem o nosso voto.

Para finalizar, fazemos uma apreciação global das figuras mais conhecidas do painel eleitoral.

O José é a desgraça que todos conhecemos, que se passeia pelo território nacional, que ameaça deixar o povoléu sem pão e com pouca água e o país transformado num deserto e num couto de caça tornado apetecível pelos abastados lavradores andaluzes...

A Manuela foi calamidade ainda lembrada. E, no tempo presente, quanto a credibilidade estamos conversados. Também, sabedores das suas sofredoras asfixias democráticas no continente e das magníficas aragens democráticas que, há dia, respirou na ilha atlântica do caudilho madeirense... Apresenta-se no esplendor de veterana actriz do teatro cavaquista de outras eras, por sinal, mui tristes; que, à época, sofreu fortes pateadas por desastradas intervenções nos cenários ministeriais das Finanças e da Educação; a quem, um dia, alguns estudantes universitários expuseram os traseiros em clara manifestação de desagrado pelas representações da taciturna senhora

O Paulo, palavroso moço, actor possuído de nervoso miudinho que o faz rir compulsivamente a todos os instantes e que um dia descobriu a vocação para, no circo político e nas praças e mercados da parvónia, ser beijoqueiro de peixeiras e de vendedeiras, ao serviço do CDS-PP...

O Jerónimo tropeça com os fantasmas da ortodoxia e das crónicas e desgastantes vitórias nas sucessivas pugnas eleitorais; as quais, tornaram o seu partido um vencedor nato intransponívelAssim a modos de uma coisa que antes do ser já o é

O Francisco, o jovem loução avermelhado, atrevidote q.b., actor frenético que vai a todas as festanças e andanças para partir louça de uso doméstico

Enfim, um grupo de artistas de primeiro plano do circo político, que se não estivessem entretidos com a política da nossa chateação até, eventualmente, com as suas desafinadas intervenções folclóricas, animariam as rusgas das noites minhotas

O que poderá acontecer Se milhões de portugueses derem a essa rapaziada esse benemérito despacho, através do (agora recomendado e necessário) correspondente voto útil:

VOTO EM BRANCO ou VOTO NULO.

P.S. – Informo os leitores que, por motivos da minha vida particular, vou estar ausente do vosso convívio, por largos meses. Eventualmente, poderei - numa ou noutra ocasião - vir ao vosso encontro.

Um voto: Que a vida vos corra de feição e maior agrado!

Cordiais saudações. Brasilino Godinho

sábado, setembro 12, 2009

Ao compasso do tempo…

DUAS MANUELAS.

UMA “ESTÁ NO PAPO” DA OUTRA…

QUAL DELAS É A DO PAPO?

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

O grande momento, solene, fantástico, transcendente, expressivo, arrebatador, sobretudo convincente, do debate televisivo da noite do p.p. dia 10 de Setembro, entre a sorumbática dama D. Manuela Ferreira Leite e a frenética criatura Paulo Portas, aconteceu no final, quando a deslumbrada chefe do Partido Social-Democrata instou a jornalista D. Judite de Sousa a dar emprego na RTP à enternecedora (…) D. Manuela Moura Guedes, tão do agrado da dirigente do PSD…

A coisa nem estará mal vista de todo; porquanto assenta, que nem uma luva, no corporizado triângulo (Leite, Judite, Guedes) de conhecidas afinidades ideológicas.

Todavia, muitos portugueses terão ficado surpreendidos pelo insólito facto de D. Manuela Ferreira Leite, publicamente, se denunciar como activa angariadora de emprego da (também) irrequieta D. Manuela Moura Guedes, até agora ao serviço da TVI. Caso para aventarmos que se ela fosse mais generosa e generalizasse a tarefa de angariação de empregos, relativamente a bastantes indígenas, talvez diminuísse o número de desempregados, enquanto o diabo esfregava um olho…

Mas tal ocorrência, protagonizada pela D. Ferreira Leite, leva-nos a pensar que as duas Manuelas, tradicionais e delicadas peças ornamentais dos campos alaranjados, eventualmente, estarão numa situação de dependência mútua; correspondendo a uma delas a posição de estar no papo da outra. Não tanto para o que der e vier, mas sim e para já, na agradável perspectiva da D. Moura Guedes vir a aterrar de pára-quedas (para não se magoar…) na RTP, se a homónima e não menos ilustre D. Ferreira Leite ganhar o poleiro do mal cheiroso galinheiro onde assenta a desgraçada governança do País.

Claro que neste quadro já não terá importância a questão do papo ser de uma ou da outra…

É que, se isso acontecesse, então, assistiríamos a uma grande reinação… superiormente dirigida pelo grande maestro Moniz (por sinal, dedicado consorte da D. Manuela Moura Guedes) …

terça-feira, setembro 08, 2009

Estimadas senhoras,

Caros senhores,

Anexamos nossa crónica de terça-feira, 08 de Setembro de 2009. Nela se comenta o foleiro espectáculo de folclore político que, nesta altura do campeonato eleitoral, decorre em Lisboa. A peça em exibição - a que, apropriadamente, se poderia chamar ‘O fim da macacada na sexta-feira televisiva de Queluz’ - muito apreciada no meio citadino, tem por protagonista a espevitada comediante, senhora D. Manuela Moura Guedes, ilustre personalidade da melhor sociedade audiovisual lisbonense, com habitual pouso de exposição na TVI, da alfacinha capital. À ilustre dama, lhe acresce a valorativa circunstância de ser esposa do conhecido astro da Televisão, senhor José Eduardo Moniz que, por sinal, também goza de invejável representatividade no fino, especializado, fraterno e influente sector da Comunicação Social.

Com as cordiais saudações de

Brasilino Godinho

Ao compasso do tempo…

ANTANHO, FIZ EU (PSD); ATACASTE TU (PS)!

AGORA FIZESTE TU (PS); ATACO EU (PSD)!

Brasilino Godinho

Neste período de maior agitação eleitoral sucedem-se os eventos que, iniludivelmente, demonstram a podridão político-social existente no território alfacinha – o pequenino e rasteiro Portugal de Lisboa. Podridão que, por contágio epidémico, alastrou à paisagem de aquém, a tal ponto exagerado que bem se considera estar enraizada por tudo que é sítio activo na sociedade portuguesa. Diga-se que esta componente da Pátria, em muitos casos esquisitos e situações invulgares, nem se apercebe dessa execrável chaga do tecido social, tais são firmes as rotinas que se estabeleceram, geradoras da resignação e indiferença das gentes.

Ainda há dias tivemos prova desse estado doentio, amórfico e alienante que dilacera a alma colectiva da Nação.

A prova remete-nos para a historieta do fim do jornal televisivo da sexta-feira da TVI, apresentado pela irrequieta Manuela Moura Guedes, que provocou um grande alvoroço na comunicação social, sempre ávida de sensacionalismos que favorecem a venda do papel e as grandes audiências – o que proporciona esplêndidas receitas de publicidade.

Desde logo se atribuiu ao PS a responsabilidade de estar na origem da resolução da administração da PRISA, proprietária da TVI. Daí, que todos os numerosos rostos pálidos e de outras cores, que pairam no campo político, quais imagináveis virgens pudicas e histéricas, tivessem perdido as estribeiras da decência, da coerência, da seriedade, da contenção e da ética e viessem, desabridamente, protestar contra o “grave atentado à liberdade de expressão e agressiva ofensa à Democracia” - a qual, por sinal, há mais de trinta anos tem andado muitíssimo maltratada pelos agentes políticos da praça de S. Bento e espaços afins… sem ninguém se importar com o papel que os mesmos desempenham no processo revolucionário em curso de desagregação e aniquilamento das veneráveis entidades, Democracia, Portugal e Língua Portuguesa, que desejaríamos deixar em herança aos nossos descendentes… Muito menos o Zé-Povinho. Coitado dele! Bonacheirão, por natureza e feitio, nem disso se dando conta e deixando que, continuamente, os politiqueiros, espertalhões de serviço ao Mal Comum (tudo farinha do mesmo saco e moleiros da mesma moagem), lhe estejam enfiando o barrete…

Quando tivemos conhecimento desta historieta, que mais sugere ser parte da literatura de cordel, veio-nos à lembrança a intervenção do ministro do governo PSD, chefiado por Santana Lopes, que forçou o fim na TVI das palestras do Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, ex-chefe do PSD, porque os governantes estavam ficando agastados com as críticas do seu correligionário. O facto foi aproveitado pelos adversários socialistas para desancarem no governo alaranjado. Grande curiosidade foi o professor Marcelo, eventualmente por ser da família social-democrata e possuir telhados de vidro na sua ´casa’, ter sido comedido, abstendo-se de levantar ondas alterosas. Tal não invalida que se imagine o que ele não teria barafustado se o expediente tivesse autoria com origem no campo socialista.

Aliás, vem a propósito anotar que, na presente circunstância, o PSD e o professor Marcelo, dados os seus precedentes usos e costumes, deviam remeter-se ao silêncio. Reforço a nota apontando que o Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa talvez seja o mais hábil, dissimulado e inteligente censor português de todos os tempos.

E para que não se diga que estamos a exagerar, acrescentaremos algo que nunca divulgámos. O professor Marcelo foi uma das pessoas que ‘censurou’ a minha obra ‘A QUINTA LUSITANA’ e que depois de o termos acusado dessa lamentável acção teve a gentileza(…) de nos deixar duas vezes, às duas e meia da madrugada, mensagens orais gravadas no nosso telemóvel, a tentar (digamos que ingloriamente e dessa percepção nos deu conhecimento) justificar o injustificável. Claro que lhe transmitimos quanto deplorávamos que uma personalidade de altos méritos e conceituado mestre de Direito tivesse tido uma atitude deselegante e imprópria da sua condição e que, certamente, o desprestigiaria junto dos seus alunos e no meio universitário. Então, lhe transmitimos esta apreciação E hoje aqui a mantemos! Para que não se julgue que escrevemos sem nos basearmos no conhecimento dos factos, das causas e das matérias.

Retomando o fia da meada, diremos que a tal historieta, embora de contornos obscuros, não pode deixar de ser enquadrada com as formas de domínio que os partidos procuram exercer sobre os jornais, as rádios e as televisões. Meios de Comunicação Social que, actualmente, estão na posse de poderosas entidades nacionais e, também, internacionais, - como é o caso da PRISA, grande empresa espanhola. Uma preponderância de interligação entre o Poder e a Comunicação Social que releva a terrível promiscuidade, sempre danosa para a transparência das actividades e atitudes e para o respeito e fidelidade aos princípios da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, emblemáticos da Democracia. Democracia que, de facto, não temos.

Daqui se infere que o caso da Manuela Moura Guedes foi e continua sendo um espectáculo indecoroso que deslustra todos os participantes directos e indirectos. Apesar de, provavelmente, a Manuela e o marido, Moniz, recolhidos na intimidade do lar, estarem a pular de contentamento, festejando exuberantemente o protagonismo e a promoção que lhe está sendo prodigalizada no arraial da farra lisboeta.

Também, de facto, o caso da Manuela Moura Guedes não representou nada de novo. Afinal, foi, simplesmente, mais uma espaventosa repetição das práticas de censura que acontecem, repetidamente, em Portugal, nos interiores das redacções, exercidas pelos directores e, igualmente, pelos chefes de departamentos de várias instituições públicas e privadas.

De certeza, tratou-se de algo que sem esforço, podemos classificar como um fantochada eleitoralista.

Em tempo de eleições, apetece formular um voto.

Que o povo repita connosco: VÃO BUGIAR!

terça-feira, setembro 01, 2009

Ao compasso do tempo…

UM MILAGRE SCALABITANO…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

Face a ele, numa reacção imediata, poder-se-ia dizer: Moita-carrasco! Mas tal expressão nem teria sentidos de oportunidade e de objectividade. Desde logo, porque não se justifica o silêncio. Tão-pouco pensar que o autarca Moita, com flores ou sem flores, não responde aos estímulos

E tratando-se de um milagre valerá a pena reconhecê-lo e divulgá-lo num país que tem grandes tradições milagreiras e bastantes cultos e devoções

E por falar em milagres e tradições recordamos o acontecimento milagroso atribuído à Rainha Santa Isabel, que um dia, levando no regaço bastante ouro para distribuir pelos pobres, foi interpelada pelo Rei D. Dinis sobre o que levava consigo. Então, ela, serena, digna, mostrou-lhe o regaço, dizendo-lhe: “Rosas, senhor!”.

Agora, sete séculos depois, desta vez em Santarém, tendo por protagonista sua senhoria Moita Flores, presidente da Câmara Municipal de Santarém, sem interpelações, mas, decerto, com grande fervor na devoção, dá-se um duplo milagre à vista de toda a gente, sem margem para dúvidas ou dúbias interpretações. A multidão dos fiéis e dos ímpios - ou profanos, conforme melhor soar aos ouvidos de gentes mais susceptíveis… – tomou conhecimento ou viu como, num ápice, de inexpressivas, quiçá inexplicáveis, flores da moita criatura, derivaram duas medalhas de ouro – quais douradas flores.

As semelhanças e diferenças entre o duplo milagre de sua senhoria Moita e o de sua majestade a Rainha Isabel, ressalvando as abissais distinções de temporalidade e de importância das personalidades, são as seguintes: Enquanto a Santa recatava a intenção e o gesto, o milagreiro aqui em causa, fez gala em se exibir sem pudor e com a maior espectaculosidade. Também outra diferente transformação: no caso da Santa o ouro transformou-se em rosas, enquanto que com Moita as suas específicas, incaracterísticas, flores se metamorfosearam em medalhas de ouro. Depois, os ouros medalhados não foram destinados aos pobres; mas sim entregues a Cavaco Silva e a José Sócrates, pessoas de condição abastada e grandes figuras decorativas da política nacional.

Dito isto, convém assinalar o carácter invulgar do fenómeno ocorrido em Santarém, com origem nos respectivos Paços do Concelho.

O milagre representa-se no singular facto de - num país de pelintrice, sem dinheiro (nem vontade dos governantes), para satisfazer necessidades básicas da população e em que as médias e superiores entidades públicas, normalmente, não reconhecem o trabalho, a dedicação às causas, a competência, a integridade de carácter dos cidadãos, o apego das pessoas aos deveres da cidadania, nem enaltecem as manifestações de inteligência e os melhores desempenhos dos indivíduos; mas, em contraposição, elogiam, premeiam, condecoram e festejam a mediocridade, a incompetência, a estupidez, a corrupção, a vigarice, sob a capa do compadrio, das amizades, do tráfico de influências e de interesses obscuros e, ainda, das comprometidas solidariedades - o autarca de Santarém se ter apercebido dos grandes e cansativos esforços, das surpreendentes aptidões e dos altíssimos préstimos, demonstrados pelos dois senhores da política nacional (Cavaco e Sócrates), que, certamente, com bastantes sacrifícios, se empenharam nas tarefas transcendentes de: o primeiro mencionado, escolher a cidade Santarém para palco das cerimónias do 10 de Junho; e o segundo (recolhendo os louros do governo por si chefiado), ter dado o aval à entrega do Convento de S. Francisco à Câmara Municipal de Santarém. Todos concordarão que tais gestos magnânimos atinentes a tarefas hercúleas, só ao alcance de predestinados, justificam as medalhas de ouro que, em momento de feliz inspiração sob os auspícios do Divino Criador, o presidente da edilidade da capital do Ribatejo, entendeu por bem e relevante significância atribuir aos dois abnegados dirigentes da República. Ter o intrépido Moita compreendido toda a abrangência dos casos Cavaco e Sócrates releva da sua perspicácia e do dom que lhe é adstrito por mercê do espírito sobrenatural que o protege e o determinou no extraordinário milagre. É que para recompensar tamanhas façanhas (a cavacal e a socrática), naturalmente, só - ajustadas, merecedoras e proveitosas - tão ricas recompensas. Bem assim, dadas e entregues em mão com as recomendáveis pompa e oportunidade Por certo, em ambas as circunstâncias, algum conspícuo sacerdote ou fascinante sacerdotisa do templo mais à mão de semear, terá aproveitado a ocasião para, em estado de êxtase, lançar a bênção e exclamar: AMEN!

Para ultimar este nosso apontamento, uma referência com toque sentimental. Os jornais deram a informação que o chefe do governo, Sócrates (o português da Beira interior), sem aquele desprendimento e fortaleza de ânimo do seu homónimo da antiguidade grega, durante a solene cerimónia de entrega da medalha de ouro teve um momento de alguma fragilidade de natureza emotiva, do género lágrima ao canto do olho, talvez devido ao cansaço provocado pelo excessivo e persistente trabalho eleitoral que o tem ocupado todos os dias, nos últimos anos. E tal desfalecimento ou alvoroço psíquico compreende-se: se um homem (Sócrates ou Cavaco) nem é de pau, também não é de ouro, mesmo na ocasião em que (Sócrates ou Cavaco) dele está possuído, a título gracioso

Aliás, a malta também se comoveuA bem dizer, todos devemos estar comovidos e agradecidos a suas excelentíssimas excelências, integrantes do assombroso milagre de Santarém. Sobretudo, pelo irresistível encantamento suscitado pelo brilhante metal precioso, pelos espectáculos e pela beleza formal, sofisticada e (in)consistente das explicações do impagável e devoto Moita – coisas e loisas que por todos foram pagas através da expedita via do Erário que, sofregamente, se alimenta dos dinheiros dos contribuintes.

Em todo o caso, tendo em atenção os rombos no Orçamento e os assaltos às bolsas dos cidadãos visados pelo Fisco, será desejável que não pegue a moda dos milagres camarários – do tipo aqui referido - de proveito ocasional e segundo a inspiração do desembaraçado, experto, famoso e mui fraterno Moita Flores (pelos vistos, possuidor de um sentimento de fraternidade mui relativa e bastante selectiva, na medida em que dela, escandalosamente exclui a sofredora, compungida, determinada, senhora titular de todos os, ora recordados, desencantos dos mal-assombrados tempos de ministerial figura dos governos cavacais - de sua simplificada graça, Drª. Manuela Ferreira Leite).