Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

domingo, outubro 30, 2011

Uma preciosidade

do discurso governativo,

em passos de coelhal figura,

recolhida algures em Brasília;

afinal, repisando a frouxa relva

de Miguel – o risonho e inelástico

ministro da borda-d’água nabantina.

Através da Internet chegou-nos a preciosidade citada em epígrafe, inserida num texto que transcrevemos:

O ESPLENDOR DA HIPOCRISIA

Passos Coelho escolheu Brasília para corroborar a doutrina do seu ministro da Propaganda: Muitos países europeus, em vez de 14, pagam 12 vencimentos. Não excluo que isso possa vir a acontecer em Portugal.

A hipocrisia em todo o seu esplendor.

O que o primeiro-ministro não disse foi que os subsídios de férias e de Natal fazem parte do rendimento anual bruto dos trabalhadores do sector privado, dos trabalhadores do sector empresarial do Estado, dos funcionários públicos e, naturalmente, do montante indexado às pensões de reforma e aposentação.

Dito de outro modo, o patronato e o Estado arrecadam por antecipação dois catorze avos do rendimento anual bruto dos trabalhadores do sector privado, dos trabalhadores do sector empresarial do Estado, dos funcionários públicos e dos pensionistas.

Se fosse um homem de carácter, o primeiro-ministro teria dito o que disse no Parlamento português, sujeitando-se a contraditório.

Nunca no estrangeiro.

Em qualquer dos casos, tratar o tema ao nível da gorjeta é indigno de uma democracia.

Comentário de Brasilino Godinho

É importante assinalar que nos “muitos países europeus” - da lembrança da coelhal figura máxima da governação portuguesa - outras mais favoráveis são as condições, os níveis e a qualidade de vida dos trabalhadores e dos cidadãos autóctones. Acresce que nesses países ricos, os vencimentos também são mais elevados e não têm comparação com os míseros que são praticados na função pública e nos sectores correlativos às massas trabalhadoras e à classe média, em Portugal - país com uma população cada vez mais empobrecida, mais sofredora e explorada e onde os poderosos e os gestores auferem salários, mordomias e rendimentos, escandalosamente superiores aos dos seus homólogos da estranja (incluindo Europa e Estados Unidos da América); esta, trazida agora à colação sem qualquer nexo de objectividade e seriedade.

Tal “preciosidade” de oratória balofa e inconsistente, do grande chefe do grémio governamental, é uma falácia acintosamente inepta e oportunista que hemos obrigação moral e cívica de repudiar com o maior vigor.

sábado, outubro 29, 2011

O engenheiro Mira Amaral

escreveu uma carta aberta…

Porque não fechada e em vista disso: mirem-na…

(A partir da Internet e com a devida vénia, transcrevemo-la).

Exmo. Senhor António Sérgio Azenha,

Estou verdadeiramente chocado com a inclusão do meu nome no livro que acabou de escrever.

É que a sua análise sofre dum grave erro metodológico. Com efeito, a sua análise sobre rendimentos

deveria incidir sobre a totalidade da vida profissional, antes e depois do governo e não apenas a

comparação entre o que se recebia no governo e depois do governo. Comparar o magro vencimento

que tinha no governo em 1994 com um vencimento perfeitamente “normal” num grupo privado em

2001 é comparar alhos com bugalhos. Recordo-me aliás do meu colega Engº Alves Monteiro no dia

em que saiu comigo do governo e regressar ao Banco de Fomento como Director duplicar o

vencimento em relação ao que ganhava como meu Secretário de Estado da Indústria!

É que eu trabalhava antes de ir para o governo. Fui quadro da EDP e do Banco de Fomento e

quando cheguei ao governo tinha 16 anos de vida profissional. E toda a gente sabe que no

governo se ganha menos do que na vida empresarial, onde já estava antes de ter tido essa infeliz

ideia.

Se tivesse feito uma análise dinâmica desse tipo, começando pela minha vida profissional antes do

governo, concluiria facilmente que só perdi dinheiro com a passagem pelo governo.

Se tivesse comparado a minha posição profissional antes de entrar no governo com a de outros

colegas meus nessa altura e depois verificasse a evolução deles, concluiria facilmente que aquilo que

auferi depois do governo teve um atraso e no fundo foi inferior ao desses colegas. A dinâmica

profissional que tive depois do governo não se deveu pois apenas a este mas sim às minhas

competências e, como referido, nem sequer consegui obter posições idênticas às desses colegas que

tiveram o bom senso de não aceitarem cargos políticos.

Ao sair do governo, regressei ao meu banco de origem, aquele em que estava antes, o qual foi

depois comprado pelo Grupo BPI e onde cheguei a Administrador. Não andei pois como gestor

público em empresas públicas.

Tive depois a infeliz ideia de ir ajudar o governo na CGD, onde perdi dinheiro em relação ao pacote

financeiro que tinha no BPI, tendo sido enxovalhado e vigarizado pelos governos PSD/PP.

nesses dois anos como gestor público ganhava menos do que auferia no sector privado.

Reformei!me da CGD, ao abrigo do regime de pensão unificada, para o qual contaram as

contribuições que fiz ao longo de 38 anos de carreira contributiva para a Segurança Social e para a

Caixa Geral de Aposentações. Esse é o erro factual do seu texto pois a minha reforma não é devida

apenas aos dois anos da CGD mas sim aos 38 anos de carreira contributiva para a qual contam

obviamente os dois anos da CGD.

Infelizmente, a minha reforma não é de 18 000 euros como diz mas sim de 11 000 euros. Se não

tivesse ido para a CGD, ter!me!ia reformado como Administrador do BPI com 10 000 euros, apenas

menos 1 000 euros! Como vê, fui mais uma vítima duma especulação e de uma pulhice

inqualificável desse senhor Bagão Félix.

Ao contrário de outros, alguns referidos no livro, eu não conheci a banca e a energia depois do

governo. Já lá estava antes.

Ao contrário do que o inqualificável pulha Bagão Félix diz, a minha reforma, pelos factos que lhe

expliquei, não é pornográfica mas serão pornográficas duas situações de dois amigos dele:

A do jovem Paulo Teixeira Pinto que se reformou do BCP aos 49 anos com cerca de 35 000

euros mês (!) tendo recebido de indemnização, ao que dizem, 10 milhões de euros.

conheceu a banca depois do governo…

A de Vitor Martins, amigo do Bagão Félix que este colocou como Presidente da CGD, sem

nunca antes ter trabalhado num banco, e que saiu de lá ao fim de um ano com 900 mil euros

de indemnização, como o DN noticiou na altura!!

Em suma, aquilo que diz sobre mim é factualmente correcto com excepção da explicação da minha

reforma, obtida pela legislação aplicável a qualquer cidadão nas minhas condições, mas enferma do

grande erro metodológico de não ter começado a análise antes da minha ida para o governo, e de

não fazer uma comparação com as dinâmicas profissionais de colegas meus que não tiveram o azar

de ir para o governo.

Não sou rico, sempre vivi do meu trabalho, não enriqueci com a passagem pela política, antes pelo

contrário, mas obviamente que com o seu livro sou mais uma vez metido muito injustamente na

classe dos que enriqueceram com a política. Cada dia que passa, mais me arrependo de ter

passado. Não sou um político mas sim um quadro técnico que serviu transitoriamente o país em

funções políticas.

É também sistematicamente esquecido que fui eu que ao fim de dois anos de trabalho difícil e

esgotante, sem receber um cêntimo em troca, resolvi o problema de Cahora!Bassa fazendo entrar

no Tesouro Português 900 milhões de dólares quando antes se pensava que iriamos entregar a

preço zero Cahora!Bassa a Moçambique.

Espero que compreenda este desabafo de quem nunca se serviu dos cargos públicos, antes pelo

contrário, mas que, como não foi servil nem “yes!man” do cavaquismo e do bloco central político!

financeiro que manda no país desde o governo Guterres, foi enganado, enxovalhado e vítima duma

vil e infame campanha com vista ao seu assassinato mediático por parte do Bagão Félix, do

cavaquismo e desse bloco central político!financeiro. Infelizmente não sou rico, apenas pertenço a

uma classe média que sempre viveu do seu trabalho.

Lisboa, 13 de Outubro de 2011

LUÍS MIRA AMARAL

quarta-feira, outubro 26, 2011

Leitor atento enviou-nos um pertinente texto que merece profunda atenção; o qual, transcrevemos na íntegra.

Há que ler e meditar

“Salvas as devidas distâncias, este texto não deixa de ser oportuno por ser polémico. Na realidade, há coincidências que estão longe de serem felizes, sobretudo para aqueles como Portugal e os países do Sul da Europa que dificilmente sobreviverão numa união com indicadores tão díspares como a economia, finanças, cultura e modos de vida. Sem dúvida alguma que nesta UE prevalecerá a lei do mais forte e os restantes terão que submeter às regras que lhes forem impostas. Como sair disto é a questão que se coloca.

EU JÁ VIVI O VOSSO FUTURO !

Assunto: Declarações do escritor e dissidente soviético, Vladimir Bukovsky, sobre o Tratado de Lisboa

"É surpreendente que, após ter enterrado um monstro, a URSS, se tenha construído outro semelhante: a União Europeia (UE).
O que é, exactamente a União Europeia? Talvez fiquemos a sabe-lo examinando a sua versão soviética.

A URSS era governada por quinze pessoas não eleitas que se cooptavam mutuamente e não tinham que responder perante ninguém. A UE é governada por duas dúzias de pessoas que se reúnem à porta fechada e, também não têm que responder perante ninguém, sendo politicamente impunes.
Poderá dizer-se que a UE tem um Parlamento. A URSS também tinha uma espécie de Parlamento, o Soviete Supremo. Nós, (na URSS) aprovámos, sem discussão, as decisões do Politburo, como na prática acontece no Parlamento Europeu, em que o uso da palavra concedido a cada grupo está limitado, frequentemente, a um minuto por cada interveniente.
Na UE há centenas de milhares de eurocratas com vencimentos muito elevados, com prémios e privilégios enormes e, com imunidade judicial vitalícia, sendo apenas transferidos de um posto para outro, façam bem ou façam mal. Não é a URSS escarrada?
A URSS foi criada sob coacção, muitas vezes pela via da ocupação militar. No caso da Europa está a criar-se uma UE, não sob a força das armas, mas pelo constrangimento e pelo terror económicos.
Para poder continuar a existir, a URSS expandiu-se de forma crescente. Desde que deixou de crescer, começou a desabar. Suspeito que venha a acontecer o mesmo com a UE. Proclamou-se que o objectivo da URSS era criar uma nova entidade histórica: o Povo Soviético. Era necessário esquecer as nacionalidades, as tradições e os costumes. O mesmo acontece com a UE parece. A UE não quer que sejais ingleses ou franceses, pretende dar-vos uma nova identidade: ser «europeus», reprimindo os vossos sentimentos nacionais e, forçar-vos a viver numa comunidade multinacional. Setenta e três anos deste sistema na URSS acabaram em mais conflitos étnicos, como não aconteceu em nenhuma outra parte do mundo.
Um dos objectivos «grandiosos» da URSS era destruir os estados-nação. É exactamente isso que vemos na Europa, hoje. Bruxelas tem a intenção de fagocitar os estados-nação para que deixem de existir.
O sistema soviético era corrupto de alto a baixo. Acontece a mesma coisa na UE. Os procedimentos antidemocráticos que víamos na URSS florescem na UE. Os que se lhe opõem ou os denunciam são amordaçados ou punidos. Nada mudou. Na URSS tínhamos o «goulag». Creio que ele também existe na UE. Um goulag intelectual, designado por «politicamente correcto».. Experimentai dizer o que pensais sobre questões como a raça e a sexualidade. Se as vossas opiniões não forem «boas», «politicamente correctas», sereis ostracizados. É o começo do «goulag». É o princípio da perda da vossa liberdade. Na URSS pensava-se que só um estado federal evitaria a guerra. Dizem-nos exactamente a mesma coisa na UE. Em resumo, é a mesma ideologia em ambos os sistemas. A UE é o velho modelo soviético vestido à moda ocidental. Mas, como a URSS, a UE traz consigo os germes da sua própria destruição. Desgraçadamente, quando ela desabar, porque irá desabar, deixará atrás de si um imenso descalabro e enormes problemas económicos e étnicos. O antigo sistema soviético era irreformável. Do mesmo modo, a UE também o é. (...)
Eu já vivi o vosso «futuro»..."

 

sexta-feira, outubro 21, 2011

QUANTO MAIS CEDO
A DESOBEDIÊNCIA,
MENOR SERÁ O DESASTRE.
Com a devida vénia transcrevemos da revista Visão o seguinte texto de
Boaventura Sousa Santos

Está em curso o processo de subdesenvolvimento do País. As medidas que o anunciam, longe de serem transitórias, são estruturantes e os seus efeitos vão sentir-se por décadas. As crises criam oportunidades para redistribuir riqueza. Consoante as forças políticas que as controlam, a redistribuição irá num sentido ou noutro. Imaginemos que a redução de 15% do rendimento aplicada aos funcionários públicos, por via do corte dos subsídios de Natal e de férias, era aplicada às grandes fortunas, a Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos, Belmiro de Azevedo, famílias Mello, etc. Recolher-se-ia muito mais dinheiro e afetar-se-ia imensamente menos o bem-estar dos portugueses. À partida, a invocação de uma emergência nacional aponta para sacrifícios extraordinários que devem ser impostos aos que estão em melhores condições de os suportar. Por isso se convocam os jovens para a guerra, e não os velhos. Não estariam os superricos em melhores condições de responder à emergência nacional?

Esta é uma das perplexidades que leva os indignados a manifestarem-se nas ruas. Mas há muito mais. Perguntam-se muitos cidadãos: as medidas de austeridade vão dar resultado e permitir ver luz ao fundo do túnel daqui a dois anos? Suspeitam que não porque, para além de irem conhecendo a tragédia grega, vão sabendo que as receitas do FMI, agora adotadas pela UE, não deram resultado em nenhum país em que foram aplicadas - do México à Tanzânia, da Indonésia à Argentina, do Brasil ao Equador - e terminaram sempre em desobediência e desastre social e económico. Quanto mais cedo a desobediência, menor o desastre.

Em todos esses países foi sempre usado o argumento do desvio das contas superior ao previsto para justificar cortes mais drásticos. Como é possível que as forças políticas não saibam isto e não se perguntem por que é que o FMI, apesar de ter sido criado para regular as contas dos países subdesenvolvidos, tenha sido expulso de quase todos eles e os seus créditos se confinem hoje à Europa. Porquê a cegueira do FMI e por que é que a UE a segue cegamente? O FMI é um clube de credores dominado por meia dúzia de instituições financeiras, à frente das quais a Goldman Sachs, que pretendem manter os países endividados a fim de poderem extorquir deles as suas riquezas e de fazê-lo nas melhores condições, sob a forma de pagamento de juros extorsionários e das privatizações das empresas públicas vendidas sob pressão a preços de saldo, empresas que acabam por cair nas mãos das multinacionais que atuam à sua sombra.

Assim, a privatização da água pode cair nas mãos de uma subsidiária da Bechtel (tal como aconteceu em Cochabamba, após a intervenção do FMI na Bolívia), e destinos semelhantes terão a privatização da TAP, dos Correios ou da RTP. O back-office do FMI são os representantes de multinacionais que, quais abutres, esperam que as presas lhes caiam nas mãos. Como há que tirar lições mesmo do mais lúgubre evento, os europeus do Sul suspeitam hoje, por dura experiência, quanta pilhagem não terão sofrido os países ditos do Terceiro Mundo sob a cruel fachada da ajuda ao desenvolvimento.
Mas a maior perplexidade dos cidadãos indignados reside na pergunta: que democracia é esta que transforma um ato de rendição numa afirmação dramática de coragem em nome do bem comum? É uma democracia pós-institucional, quer porque quem controla as instituições as subverte (instituições criadas para obedecer aos cidadãos passam a obedecer a banqueiros e mercados) quer porque os cidadãos vão reconhecendo, à medida que passam da resignação e do choque à indignação e à revolta, que esta forma de democracia partidocrática está esgotada e deve ser substituída por uma outra mais deliberativa e participativa, com partidos mas pós-partidária, que blinde o Estado contra os mercados, e os cidadãos contra o autoritarismo estatal e não estatal. Está aberto um novo processo constituinte. A reivindicação de uma nova Assembleia Constituinte, com forte participação popular, não deverá tardar.

sábado, outubro 15, 2011


Em tempo de indignação…
Um indignado reconhecimento
expresso na crónica que se segue.


Ao compasso do tempo…
HUMANOIDES QUE SOMOS,
ARREIGADOS NO DESERTO
QUE HÁ NOME PORTUGAL…
Brasilino Godinho
Os portugueses, na sua maioria de milhões de seres mais ou menos racionais, mamíferos, primatas, quaisquer que sejam as suas raças, os seus traços fisionómicos, compleições físicas, cores de cabelos e de olhos, habilitações literárias, credos, profissões, conservam características comuns às espécies humanas de outros lugares da Terra, mormente as que habitam a Europa. Porventura, nem dos europeus se diferenciarão muito nas práticas de procriação, nos hábitos alimentares, no vestir, no calçar, na maneira de andar, nas rotinas de comportamentos civilizacionais, nas artes e nos ofícios. Todavia, hemos que exceptuar alguns maus costumes e retrógradas mentalidades, que constituem as suas desinteressantes imagens de marca, tais como: acérrimos maldizentes nos convívios das tertúlias; obstinados, mas inconsequentes acusadores dos governantes; grandes invejosos dos vizinhos; inveterados cuspidores na via pública; serem falhos de pontualidade; desprezarem, abandonarem e desvalorizarem, os idosos; vangloriarem-se da esperteza saloia; praticarem a subserviência perante o estrangeiro; e darem-se, servilmente, à obediência e veneração face ao senhor abade da paróquia que - diga-se - regra geral, é solteiro, não constitui família, nem suporta encargos com o sustento e educação de filharada própria ou alheia (factor importante nestes tempos de crise e de misérias) e tem o gozo da fama de ser “bom rapaz”, embora pouco virtuoso e assaz pecador
Mas, nas últimas décadas reportadas ao fim do século XIX e com realce desmesurado para o que se vai passando na actualidade do regime pomposamente rotulado de democrático, assistimos à progressiva desertificação de Portugal e à consequente passagem regressiva da superior qualidade de humanos para a baixa condição de humanóides; aqueles classificados como seres de 1.ª classe e estes últimos catalogados em duas subcategorias: a dos animais de 2.ª classe (quais resquícios da classe média) e os restantes, pobretanas, como animalejos de 3.ª classe.
Sem olvidar a transfiguração física do território continental nas regiões algarvia e alentejana, temos de reconhecer que o país mais ocidental da Europa é um deserto - lugar onde não vive gente. Dito de outra maneira: neste canto ocidental europeu não vive multidão de pessoas; gente, que como tal se sinta. Estamos num deserto de almas. Num ermo onde, dificilmente, dramaticamente, sobrevivem os humanóides lusos. Assim estabelecidos num estádio de menoridade, de perene sofrimento e humanóides que somos a maioria dos seres vivos arreigados no rincão lusitano, permanecemos condenados a vegetar como seres supérfluos ou a fenecer conforme a um destino que se pretende como solução final da crise instalada no seio de uma sociedade que se revê num capitalismo selvagem e opressor que tudo subverte ou aniquila. Isto processado em Portugal, enquanto todos, figurantes e vítimas do sistema, se contemplam displicentemente nessa triste e desumana situação. Assim, na desoladora condição de humanóides, com semelhanças às criaturas de outras atrasadas paragens, que - para além de vegetarem ou por essa razão - não pensam, nem reagem às adversidades e aos estímulos. Desgraçadamente perdidos num turbilhão de perigos, de transtornos, de aberrantes carências e submetidos a inúmeros atropelos à dignidade do ser humano. Imensos indígenas não lêem, não se cultivam. Tão-pouco percebem o que ouvem, o que vêem e o pouquíssimo que vão soletrando com extrema dificuldade. É aterrador o quadro dos três analfabetismos crónicos instalados no seio da comunidade dos humanóides lusos: o terrível analfabetismo primário, o desastroso analfabetismo funcional e o funesto analfabetismo cultural. Tudo conjugado, deu nisto: os humanóides portugueses estão abúlicos! Conservam-se pasmados. E, simplesmente, como seres amorfos que são, amocham! O panorama em que se enquadram é desolador. A Nação sucumbe a cada dia que passa e os indígenas, postergados os seus direitos de cidadania, permanecem indiferentes. Inclusive, estão perdendo a sua identidade que lhes é concernente através da linguagem escrita e falada. O Português está sendo, gradualmente, substituído pelo Inglês, por tudo que é sítio (por exemplo: Allgarve), estabelecimento, escola, universidade, colóquio, documento, livro, meio de comunicação social. Os governantes promovem a língua inglesa. Alguém os vê a incentivarem a aprendizagem e o uso correcto do Português? Será um expediente para se desculpabilizarem da má prática que fazem da Língua Portuguesa? Uma vergonha nacional! Um cataclismo social e identitário!
É justo referir que aos humanóides portugueses não se lhes podem assacar as maiores culpas pelas deploráveis situações que os demarcam, vergonhosamente, no mundo contemporâneo. Eles são vítimas dos sistemas políticos que se foram sucedendo e dos predomínios de forças e interesses ocultos que os cercam, os dominam, os manipulam, os atrofiam e os bloqueiam nas débeis tentativas de se libertarem das amarras das sujeições que os exploram e martirizam.
Entretanto, num ou noutros pequenos e selectos espaços que, significativamente, se designam por oásis, encontram-se acantonados alguns mamíferos (os tais seres de 1.ª classe) a gozarem, regaladamente, das bem-aventuranças, decerto conferidas por Deuses mal-intencionados, velhacos e pouco afeitos aos sentimentos humanos.
Todos sabemos que oásis é lugar onde existe água, que é fonte de vida, vegetação e culturas, que fornecem alimentação com que se nutrem os corpos e onde, também, se cria gado que serve de instrumento de trabalho e de nutrição aos donos. Ao fim e ao cabo, falamos de coisas agradáveis (de cujas referências vamos rapidamente perdendo memória) agora só ao alcance de privilegiados que se estão marimbando para as carências e sofrimentos dos humanóides que desgraçadamente, cada vez mais se vêm afastados das abastanças existentes nos poucos, selectos, oásis acintosamente parcializados e repartidos pelo espaço nacional.
Porém, há um importante detalhe que devemos ponderar: esses oásis mais não são que lodaçais; os quais, considerados no conjunto, formam o tal famoso pântano guterreano (lembram-se?). E nele chafurdam, desenvoltos e satisfeitos, vários animais asquerosos.
Também não esqueçamos que nas margens dos referidos oásis pousam aves raras compenetradas das suas prerrogativas e obrigações inerentes à espécie – o que, de certo modo, dá outro colorido à paisagem e contribui para algum ligeiro desanuviamento do mau ambiente circundante…
Não obstante, elas mesmas correm perigo. Trata-se de uma espécie animal em vias de extinção.
Por todas as razões, que nos afligem, dissonantes da condição humana a que temos direito a aceder, a qual é incompatível com a falta de qualidade de vida de humanóides que somos (nunca é demais persistir na afirmativa desta incómoda referência), insistimos que haverá urgência em pôr ordem no sistema e, rapidamente, desbravar caminho até chegarmos aos famigerados oásis de algumas opulências, ora estranhas e indecentes, com localizações conhecidas e dispersas no imenso pântano de que falava o célebre António de Oliveira Guterres… Afinal, como antes acentuámos, são áreas onde existe e se regala uma fauna mal cheirosa e repelente…
Fim



Declarações de D. Manuel Martins, antigo Bispo de Setúbal, aos microfones da Antena1, em Junho de 2011.
«Vejo esta crise com muita apreensão, com muito desgosto, com alguma vergonha. Estou convicto que esta crise era evitável se à frente do país estivessem pessoas competentes, isentas, pessoas que não se considerassem responsáveis por clubes, mas que se considerassem responsáveis por todo um povo, cuja sorte depende muito deles. E fico muito irritado quando, por parte desses senhores, que nós escolhemos e a quem pagamos generosamente, vejo justificar que esta crise impensável por que estamos a passar, é resultante de uma crise mundial. Há pontas de verdade nesta justificação. Esta crise, embora agravada por situações internacionais, é uma crise que já podia ter sido debelada por nós há muito tempo, se nós não andássemos a estragar o dinheiro que precisávamos para o pão de cada dia.
(...) Estas situações, da maneira como estão a ser agravadas e, sobretudo, da maneira como estão a ser mal resolvidas, podem ser focos muito perigosos de um incêndio que em qualquer momento pode surgir e conduzir a uma confrontação e a uma desobediência civil generalizadas.
(...) Mete-me uma raiva especial quando vejo o governo a justificar as suas políticas e as suas preocupações de manter e conservar e valorizar o estado social do país. Pois se há alguém que esteja a destruir o estado social do país, é o governo, com o que se passa a nível da saúde, a nível da educação, a nível da vida das famílias, dos impostos, dos remédios, mas que tem só atingido as pessoas menos capazes, enfim as pessoas que andam no chão, as pessoas que estão cada vez com mais dificuldades em viverem o dia-a-dia, precisamente por causa destas medidas do governo.»

domingo, outubro 02, 2011

Um texto sem tabus…

Grande, cinzento-escuro,

foguetório de artifício em Oeiras…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

Grande espectáculo de fogo de artifício se desencadeou na transacta quinta-feira, dia 29 de Setembro, ao fim da tarde, lá para as bandas de Oeiras e Lisboa.

E a funçanata, apesar de só ter durado pouco menos de 24 horas, também envolveu um grande alvoroço; principalmente, junto de quantos procuravam com afã recolher as canas dos foguetes ou os que assustadiços e receosos de serem atingidos pela fumarada, se esforçavam para se acolher a qualquer abrigo que os livrassem dos incómodos e nefastos gazes tóxicos…

Considere-se espectáculo ou função, tudo se consagrou com o atributo de grande, como é próprio da grandeza que, a todos intervenientes, lhes é inerente.

Desde logo, a grande personalidade e robusta envergadura física do protagonista: presidente da Câmara Municipal de Oeiras. Veio a seguir, o estatuto da magistratura judicial. Seguiram-se na fileira, os renomados advogados do grande chefe do município de Oeiras. Acompanharam, quais irrequietos meninos de coro infantil, as televisões e os jornais. Na galeria, a malta aparvalhada, nem adiantou nada ao espectáculo, mas distraiu-se com ele, embora não tenha ditado uma para a caixa. E por último, emergiu, subtil, discreta, influente, abençoada, a espiritual e messiânica bem-aventurança do Venerado Senhor e Mui Grande Arquitecto do Universo (de que a isaltinada figura é entusiasta admirador e fidelíssimo crente – neste ponto, fazemo-nos eco do que rezam as crónicas dos muito informados comentadores e dos melhores bisbilhoteiros sabichosos da região saloia alfacinha).

Eventualmente, por graças conjugadas de Satanás (o tenebroso espírito das trevas) e do Altíssimo Senhor, Grande Arquitecto do Universo, tudo se desenrolou harmoniosamente em três singelos episódios: o Tiro disparado pela juíza de Oeiras, através da arma do mandato de captura; a Queda da criatura, de Morais, estatelada na detenção e de pronto remetida a depósito no hotel de algumas estrelas (3 ou 4, segundo consta nos meios mal afamados de Lisboa), designado prisão, existente na sede da Polícia Judiciária; a Ressurreição, em menos de 24 horas após o disparo certeiro; a qual, ocorreu pela via de um despacho salvador da mesma juíza e que teve o condão de o levar de volta aos seus privativos domínios.

Como diria o falecido almirante Azevedo: Que ninguém se aflija: É só fumaça!

Todavia, perante todos os fantásticos acontecimentos que todos os dias festejamos neste país, que havemos de fazer?

Pois, suprema ventura, beneficiários de… tantas competências, sabedorias, virtudes e fraternidades a esmo espalhadas por tudo que é espaço lusitano, também agradecidos, reconfortados, satisfeitos em alto grau de insatisfação (passe a antinomia) e devidamente indignados, tenhamos a ousadia de nos contemplarmos - enquanto nos deixarem e não pagarmos impostos pelas oportunidades e pelos tempos usufruídos - no beneplácito(…) de todas as nossas predisposições, certezas, dúvidas, inquietações e amarguras quotidianas. Esta a paradigmática determinação e o necessário, estimulante, passo para irmos, todos, dormir descansados…

Quando, finalmente, acordarmos e nos confrontarmos com a realidade, valha-nos a ideia de que a Justiça se contempla no espelho de si própria. Tendo em atenção que, por arrastamento, a Pátria, sem o dito espelho da Justiça, também ela, amargamente, se refugia na ilusão de estar redimida…

Fim