Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

quinta-feira, junho 21, 2007

Estimadas senhoras,

Caros senhores,

Trago-vos mais umas SARAIVADAS. Estas, abordam a cadente questão da depilação masculina. Pelos vistos – e segundo o recente ensaio de Saraiva - mais uma chateação que tira o sono a algumas criaturas da nossa melhor sociedade lisbonense.

Se bem interpretamos, também será um grande problema que atormenta as privilegiadas mentes de bastantes machos da estirpe fadista dos Marialvas que frequentam os retiros da Severa em Alfama e as tasquinhas da Mariquinhas sitas no Bairro Alto e excita freneticamente as brilhantes cabecinhas loiras das espampanantes e invulgares damas de fina linhagem que saltitam na linha de Cascais e se expõem nos estúdios das televisões.

Cordialmente,

Brasilino Godinho

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arq.º Saraiva…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

Tema: Saraiva dissertou sobre depilação masculina…

No p.p. dia 09 de Junho, do corrente ano (2007), José António Saraiva publicou na sua revista um artigo sobre esse problema da depilação masculina que, observador perspicaz, numa dada altura, entendeu ser de transcendente importância para o bem estar do indivíduo, para a captação do interesse estético feminino e para a tranquilidade da sociedade portuguesa. E, talvez, para a boa convivência e melhor harmonia entre as várias espécies nativas do território nacional

Daquilo que foi escrito depreende-se que o conceituado arquitecto-jornalista terá feito as suas pesquisas e logrado chegar a resultados surpreendentes. E dá-nos conta de alguns deles.

Por exemplo: a depilação masculina é feita, algumas vezes, a par com a depilação feminina, “em que a moça se deita numa marquesa, o namorado na marquesa ao lado e são depilados ao mesmo tempo” - segundo a explicação que colheu numa revista de sociedade; na qual, era referida uma confidência que a Saraiva “pareceu estranha”. Confidência a que reporta a citação que atrás fizemos das circunstâncias em que uma apresentadora de televisão e seu cavaleiro andante, perdão, seu cavalheiro andante se sujeitam à depilação num estabelecimento de tratamentos de beleza unissexo. Naturalmente, surgem-nos as interrogações: Marquesa será móvel? Ou haverá poucas-vergonhas a quatro? Quem depila? Um macho? Dois machos? Uma fêmea? Duas fêmeas? Um robot? Ou dois? Saraiva contempla-se nestas omissões

Claro que, igualmente, o conhecido jornalista não explica a sua estranheza. Valha a consideração de esse “lapso” nem ser relevante. Para nós, importa mais compreender o parágrafo em que Saraiva, depois de evocar a ideia expressa pela moça de “que os homens também têm direito a querer ser bonitos”, diz que “este raciocínio, politicamente correcto e aparentemente inatacável, enferma, porém de um vício que o compromete”. Melhor dizendo: desejaríamos matar a charada.

Lê-se e fica-se atónito: “Raciocínio politicamente correcto”? No caso em apreço o que será essa coisa do “politicamente correcto”? Porquê chamar a política à colação? Onde está a correlação de uma preferência estética ou gosto pessoal com a política? Daqui lançamos a Saraiva este desabafo: já se torna insuportável esta moda de por tudo e por nada se falar e escrever no que será ou deixará de ser “politicamente correcto”. Decerto, que a política está abandalhada; mas apesar desta sua condição, em Portugal, ser hoje intrínseca, não se exagere ao ponto de com ela se fazerem todas as saladas russas e apreciações descabidas ou idiotas. Por outro lado, como compatibilizar o discurso do politicamente correcto com a dúvida do aparentemente inatacável e pior, ainda, com a afirmação de “enfermar, porém, de um vício que o compromete”? Se enferma de um vício que o compromete não poderá ser correcto. E se é correcto torna-se inadmissível e, de certo modo, redundante admiti-lo “aparentemente inatacável”.

Ademais, isto exposto por não nos acomodarmos a semelhantes desacertos de conceitos e às manifestas contradições em que muitos se contemplam impunemente.

Em seguida, Saraiva dá-nos conta de duas descobertas.

A primeira, algo constrangedora, que deixa o leitor arrepiado(…) perante a referência à infelicidade de “um jovem que ainda não aderiu à depilação e confessa que se sente um estranho nas piscinas públicas”. Saraiva regista o deprimente facto. Coitado do moço. Decerto prendado. Estupidamente desprendido Mas nem uma palavra nos dá sobre se está na mesma condição do jovem; não depilado ou se, pelo contrário, aderiu à depilação e se sem pêlos está satisfeito ou desconfortável. Também o vulgar leitor, propenso a curiosidades e bisbilhotices, se interrogará: Saraiva, uma vez depilado, sentir-se-á estranho nas piscinas públicas e, vamos lá, igualmente, nos tanques de natação privados? Mesmo depois de “com o andar do tempo ter percebido que a falta de pêlos no corpo resultava de um desequilíbrio hormonal”?

Íamos a dizer de novo, mas temos de rectificar: de velho hábito, Saraiva, realça que precisa do “andar do tempo” para chegar a conclusões que parecem óbvias ou de aquisição rápida. Claro que estas características de lentidão na actividade mental e imprecisão nos descritivos das reacções e dos factos têm o condão de nos colocar na desagradável situação de ficarmos a ver navios Por exemplo: Saraiva diz que com o andar do tempo ter percebido(…). E nós, ficando a chuchar no dedo, interrogamo-nos: Mas se o tempo não tivesse andado? Ele, jornalista de primeira água, teria chegado a perceber? De que maneira andou o tempo? De tal jeito que abriu os horizontes de Saraiva? E se o tempo, por birra e hostil a Saraiva, houvesse ficado indefinidamente parado? Igualmente, Saraiva ter-se-ia, refém de si próprio, submetido a um estado de pasmo? Felizmente, que o tempo andou e, maior felicidade, o jovem de espírito, Saraiva, percebeu o que representava a falta de pêlos no corpo do homem – sem cair em exageradas (e perigosas) generalizações. Haja em vista a confusão em que José António Saraiva se viu envolvido quando era miúdo acerca da palavra eunuco.

A segunda descoberta tem mais a ver com uma atenta constatação. Ou seja: o Arq.º Saraiva entende que “Quando os sexos começam a indiferenciar-se, tende a diminuir a atracção que está na origem da reprodução da espécie”. Evidente que - aplicando a regra das evidências à senhor De La Palice – nesta desconformidade a Lei da Atracção Universal vai à vela e a matéria já não atrai a matéria na razão directa das massas e na inversa do quadrado das distâncias

A partir desta anotação; Saraiva desenvolve uma série de exaustivas considerações que relevam de interesse na abordagem da bondade e natureza dos processos de depilação e na apreciação da vertente sociológica - nomeadamente quanto a padrões comportamentais e a critérios distintivos concernentes ao relacionamento entre os sexos.

José António Saraiva termina o artigo com uma indicação enigmática que dá a impressão de ali ter caído em pára-quedas. Escreveu: “E agora paga-se um bom preço por uma depilação”. Porquê? Dantes pagava-se um mau preço? O que é um bom e um mau preço por uma depilação?

O autor não se explica. Nós temos de adivinhar. Sorte malvada!

É sempre este desconsolo com o “discurso” de Saraiva