Estimadas senhoras,
Caros senhores
Se ela tem alguma parcela de verdade, então temos de reconhecer que:
- “andámos a dormir na forma”;
- seremos parolos…
Portanto, esperto é Saraiva. Quem disser o contrário, mente…
Tão frequentes têm sido nossos contactos que hoje quero agradecer-vos o generoso acolhimento e endereçar-vos saudações amistosas.
Brasilino Godinho
SARAIVADAS…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Tema:
Saraiva mete o pé na poça das liberdades…
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Confesso: andava intrigado com a imagem de José António Saraiva indiciadora de um qualquer tabu que o mantém inquieto. Aquela foto em mangas de camisa, ar triste, olhar inexpressivo, semblante carregado, barba mal cuidada, aspecto desprendido de irresolução e algum acanhamento, toca a sensibilidade mais empedernida e leva as pessoas a rapidamente virarem o olhar para as margens onde se insere o palavreado que subscreve e, dessa maneira expedita, libertarem-se da desagradável impressão.
Interrogava-me sobre o que determinaria a angústia do conhecido arquitecto-jornalista. Invariavelmente, talvez sugestionado pela forma como José António Saraiva se representa, cruzando os braços, chegava à elementar conclusão de ele trazer alguma coisa escondida sob a manga ou quaisquer loisas enfiadas debaixo das duas mangas. Decerto, bem as agarra para elas não se lhe escaparem…
Acontece que, na devida altura, passando em revista a sua revista de 26 de Maio p.p. deparei com aquilo que julgo ser a demonstração do enigma (ou um dos mistérios) da foto de Saraiva. Quiçá, a coisa encoberta na manga…
Creio que José António Saraiva tendo chegado a determinada conclusão sobre o regime do Estado Novo, ao arrepio da convicção geral da população portuguesa, receou transmiti-la aos leitores das publicações que dirige.
Mas naquela data ter-se-á possuído de coragem e zás: brindou-nos com uma revelação bombástica. Sem dúvida, susceptível de abalar profundamente as ideias evocadas pelos revolucionários de 25 de Abril de 1974 e, mais do que isso, desacreditando o que se tem proclamado sobre uma das principais justificações do golpe de estado. Talvez receando o clamor que poderia suscitar, o conhecido jornalista-arquitecto Saraiva foi comedido na expressão introduzida nessa crónica de 26 de Maio. A qual - repare-se - é publicada na antevéspera da data do 28 de Maio comemorativa da Revolução Nacional de 1926 e indicia que teve algum cuidado e sentido de oportunidade.
Sobretudo, a afirmação de Saraiva é uma extraordinária parcela de antologia discursiva. Foi introduzida, no contexto do artigo, de uma forma subtil. Sintética. Quase passa despercebida. Uma linha de sete palavras bastou para exprimir a convicção, a argúcia, a profundidade do pensamento e a superior visão de pequeno alcance circunscrito à sua paróquia e de grande projecção sobre o vasto horizonte da vida colectiva em Portugal.
Um feito literário condizente com a especial qualidade de candidato recomendado – por ele próprio, em conformidade com os modernos conceitos éticos e as evoluídas normas de afirmação pessoal em voga - para o Prémio Nobel da Literatura.
O que escreveu José António Saraiva?
Simplesmente isto: “Deu-se o 25 de Abril, as liberdades aumentaram (…)
Ora só se aumenta algo que existe… Branco é galinha o põe…
Portanto, Saraiva está convicto que existiam liberdades em Portugal nos tempos do Estado Novo de Oliveira Salazar e de Marcelo Caetano.
Quem diria? Pelos vistos só o jornalista-arquitecto Saraiva, o mago das grandes descobertas, nos pode abrir os olhos… para a “sua realidade”.
Afinal, vivemos distraídos nos anos transcorridos entre 1926 e 1974. Também, falhos de entendimento, nem nos demos conta das liberdades concedidas por Salazar e Caetano; aliás, expeditamente subentendidas pelo famoso jornalista. Igualmente, as novas gerações que estavam confiantes de ter existido um regime ditatorial que não concedia liberdades estão, agora, confrontadas com a embaraçosa insinuação de Saraiva. Grande gaita! Só nos faltava esta…
E sendo assim e se todos nos fiarmos na conversa do jornalista José António Saraiva, lá vão para os caixotes do lixo da História as memórias, que vêm sendo transmitidas, de total falta de liberdade em Portugal no tempo da longa ditadura do Estado Novo.
Igualmente, resultará trabalho redobrado para os historiadores que terão de desconsiderar as proclamações dos revolucionários do 25 de Abril de 1974. Ficam já com a tarefa de rever a História, encomendada por José António Saraiva. Não percam tempo: Agradeçam-lhe as contrariedades, os trabalhos e as canseiras que os esperam…
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