Duas
grandes tretas,
ambas
repulsivas!
Brasilino Godinho
Ontem,
sábado, pelas 16h:50', o SAPO inseriu notícias referentes a duas
tretas que são com frequência apresentadas ao público.
A
primeira, foi denunciada por Silva Peneda: “A
ideia de autoregulação do mercado é uma
treta”.
Depois do
colapso financeiro e, por arrasto, do descalabro da economia,
ocorridos nos últimos tempos, há a convicção de que não faz
sentido insistir-se no que já é considerado um erro crasso:
manter o modelo de funcionamento dos mercados financeiros que vem
causando devastadoras consequências em diversos países, incluindo
Portugal.
Silva
Peneda, social-democrata de rija têmpera e com imagem de político
sensato, está certo na oportuna avaliação abrangente (nacional e
internacional) que faz na presente conjuntura.
A
segunda, refere-se à deprimente mania da regionalização
que, ciclicamente, quando se avizinham eleições, o Partido
Socialista, exercitando uma deplorável continuidade obsessiva, traz
à colação e que constitui uma séria ameaça de desconformidade
político/administrativa muito onerosa e prejudicial ao País.
A seguir,
transcrevemos trechos (que numeramos, para melhor incidência dos
nossos comentários) da notícia da RENASCENÇA, inserta no portal
SAPO.
António Costa defende descentralização
17-01-2015
- Líder socialista quer alteração da lei eleitoral. A descentralização é fundamental para o bom funcionamento da democracia. Palavras de António Costa este sábado numa conferência em Leça da Palmeira.
- O secretário-geral do PS considera que só uma política de maior proximidade pode garantir um melhor funcionamento do Estado.
- "Grande instrumento do Estado deve ser a política de descentralização", que "permitirá maior proximidade, que é garantia de transparência e de maior eficiência do gasto público".
4. Para avançar com a regionalização é, contudo, necessário
"evoluir e desbloquear o impasse constitucional",
sublinhou.
5. António Costa disse que o "reforço da democracia passa por
aumentar o poder do cidadão", bem como "reforçar a
confiança do cidadão no exercício da actividade politica".
6. É a "proximidade que reforça a transparência, a qualidade
da democracia", concluiu.
Vejamos:
Ao lermos as declarações de
António Costa, secretário-geral do PS, ficámos perplexos.
Então António Costa ainda não
atingiu o Poder e já avança com a estapafúrdica ideia da
Regionalização?
Neste atribulado tempo de múltiplas
desgraças, Portugal está confrontado com várias crises de grandes
dimensões e a esmagadora maioria da população portuguesa
enfrentando tremendas dificuldades. No entanto, pasme-se! O putativo
novo chefe do executivo não apresenta um convincente e bem
estruturado programa; e, ao invés, contempla-se, muito empenhado, em
promover a regionalização do país. Parece que para ele não há
outras grandíssimas prioridades. Essa (a da regionalização) -
imagine-se! quem nos diria tal avassaladora necessidade? - é a
prioridade do futuro, hipotético, órgão executivo. Começa
bastante mal António Costa a caminhada em direcção ao Palácio de
S. Bento. Muito mau prenúncio do que seria o seu exercício de
governação. Será que há, da sua parte, disponibilidade para se
prosseguirem as desastradas (diremos mesmo, horríveis) políticas de
Passos Coelho?
A manter-se António Costa neste
rumo e com recurso a uma retórica oca, recheada de fantasiosos
lugares-comuns da politiquice caseira e sem sentido objectivo de
reconstrução de um país destroçado, não se vislumbra a
famigerada luz ao fundo do túnel, nem o rumo certo do
desenvolvimento e de um melhor futuro para o empobrecido, sacrificado
e ofendido povo português.
À cadência de síntese, analisemos
ao pormenor:
1. Para satisfazer o capricho de
António Costa aí está o espantalho da revisão da Constituição.
A descentralização é fundamental
para bem funcionar a democracia, disse António Costa. Por feliz
acaso, faz sentido!
Só que os dispositivos
constitucionais e legais existentes facultam a descentralização.
Aliás, foi já no século XIX, que
Alexandre Herculano – bem secundado por Antero de Quental –
propôs de forma vigorosa e descomprometida (assinalamos
descomprometida) a descentralização focada no municipalismo.
Portanto, os novos arautos da descentralização não descobriram o
“ovo de Colombo” neste domínio político/administrativo, nem se
apresentam tão isentos na opção como pode ser sugerido à primeira
vista.
2. A história da proximidade é um
chavão habitualmente apregoado que já incomoda e fere os tímpanos
do pacato cidadão, minimamente consciente. E realce-se: não
resiste ou subsiste a uma serena abordagem crítica.
Trata-se, também, de uma falácia.
Desde logo, não se percebe o que seja: “só uma política de maior
proximidade pode garantir um melhor funcionamento do Estado”.
Repare-se que não se fala de proximidade. Sim, da maior. As câmaras
municipais e juntas de freguesia não são instituições de
proximidade? Que maior proximidade poderá existir? Qual será a
caracterização da terminologia de “maior proximidade”. Porém,
se nos alhearmos das autarquias e nos detivermos na abstracção “de
só uma política de maior proximidade”, interroguemo-nos sobre o
que se representa ou se compreende numa tal política de “maior
proximidade”? Então o governo, as autarquias têm desenvolvido
políticas de não proximidade ou de fantasmagórica menor
proximidade aos cidadãos e às povoações? Por outro lado, será
que política de “maior proximidade” se traduza numa excessiva e
violenta aplicação de medidas agressivas do ambiente, do tecido
urbano e da sobrevivência do ser humano?
Que política de maior (nem de
regular ou de menor, mas de maior, note-se!) proximidade pode
garantir p melhor funcionamento do Estado? Como neste restrito âmbito
equacionar os termos inerentes ao funcionamento do Estado:
Mau? Regular? Bom? Melhor? Garantia do melhor funcionamento do
Estado decorrer da hipotética “maior proximidade”, seja lá isso
o que for em termos práticos, congeminado na cabeça de António
Costa? Como poderia ela (falseada, abstrusa, até inexistente
garantia) subsistir ou sobrepor-se à verdadeira garantia que
sempre decorre do excelente desempenho dos cidadãos investidos nos
exercícios das funções oficiais? As políticas e as instituições
valem pelo contributo que lhes é dado pelo Homem. O que não se
compadece com o desvirtuado jogo de palavras vãs e a abstracção
dum inconsequente discurso vazio.
Outra ideia de incrível desajuste à
realidade é a de “maior proximidade pode garantir um melhor
funcionamento do Estado”. Os agentes da nossa praça política têm
a singular preocupação de iludir as massas populares falando de
tudo e de nada, sempre acenando com a expressão garantia. Os
factos desmentem-nos a toda a hora. E as garantias leva-as o
vento para o caixote do lixo da História.
3. “Garantias de transparência e
de maior eficiência do gasto público”? Risível tal observação.
Atente-se nas enormes dívidas de muito numerosas câmaras municipais
contraídas num invejável estado de proximidade (aqui, parece
insinuar-se a hipótese de não ser da famigerada “maior
proximidade”...) de transparência e, provavelmente, de maior
eficiência do gasto público... Certamente, segundo a congeminação
de António Costa, tudo obra e (des)graça decorrente de uma exemplar
funcionalidade à vista desarmada de cada munícipe, ali - no terreno
local - colocado e respeitador das recomendadas e utilitárias
aproximações visuais e legais... E claro, de pouco e assaz
comprometido beneficio para a comunidade decorrente das apregoadas
garantias da maior proximidade de que falam António
Costa e seus camaradas de partido.
Enfim, sobressai nesta inexpressiva
linguagem superficial e de nula objectividade de António Costa o
aspecto de charada que confunde o indígena.
4. 5. e 6. Para animar a rapaziada
socialista só faltava ao secretário-geral do PS voltar ao tema da
regionalização. A regionalização é um embuste. Seria uma divisão
político/administrativa do continente português sem qualquer
sentido de interesse público e de vantagem para o cidadão comum.
Ademais, denotando uma deplorável
tendência de gratuita subserviência perante o estrangeiro.
Igualmente, a mostrar nociva predisposição ou arreigado vício para
imitar e plagiar tudo o que são modas, usos e práticas de outros
países.
Os partidos estão, na
regionalização aportuguesada, empenhados por razões de
oportunismo, de hegemonia territorial e pela circunstância, em
aberto, de proporcionar existência duma reserva de acolhimento - nos
lugares a criar - das rapaziadas das jotas e dos barões que se
encontram em filas de espera espreitando, cobiçosos, os inúmeros
tachos que se criariam no disperso espaço continental.
António Costa diz: “para
avançar com a regionalização é, contudo, necessário evoluir
e
desbloquear o impasse constitucional”. Com preconcebida ressalva de
cortesia para com o declarante diremos que é conversa de chacha. Bem
pode o secretário-geral do PS tirar o cavalinho
da chuva.
Pela simples razão de que tal avanço com a regionalização
concretizaria, sim, o regredir e o passe para desvirtuar a
Constituição na parte substantiva de melhor estabelecer a estrutura
funcional do Estado de Direito que, infelizmente não vigora em
Portugal. Aliás, o propósito de António Costa dá disso prova
concludente, na medida em que para se concretizarem obscuras
iniciativas pensa-se logo em introduzir alterações na Constituição,
ao arrepio do povo. Este instrumento de soberania nacional só
prevalece na firmeza dos seus proncípios e determinações enquanto
não representa estorvo na aplicação das ideias de certos mentores
da política nacional.
Os portugueses devem ter consciência
que Portugal continental, no quadro europeu, tem configuração, bem
delineada, de uma pequena (média, na melhor das suposições) região
da comunidade. Na Europa há países como a Alemanha e a Espanha
(basta citarmos estes dois) que têm regiões com dimensões
superiores à de Portugal continental.
Portugal continental que,
afinal, bem se pode considerar uma relativamente pequena região
marginal existente no campo dilatado das muitas regiões europeias,
precisa de subdividir-se em diminutas regiões para, segundo
alguns dos políticos portugueses, haver maior aproximação aos
cidadãos e se darem as famosas garantias(...) - de coisa
nenhuma - no que concerne a transparência, a boa aplicação dos
dinheiros do Erário e à abençoada “maior proximidade” dos
cidadãos? Onde? Quando? E como se faz inequívoca demonstração do
acerto de tais apregoadas virtualidades das ambicionadas pequeninas
regiões portuguesas?
Reparem os leitores: Na Alemanha, em
Espanha e noutros países europeus, onde existem regiões com a maior
dimensão que a região Portugal continental, os povos dessas
regiões devem estar muito deficientemente servidos por, nas suas
avantajadas regiões, não usufruírem dos poderes dos cidadãos, não
haver reforço da democracia, não haver a tal “maior proximidade”,
nem a maior eficiência do gasto público, nem, sequer, o fantástico
aumento do poder do cidadão – os preciosos ditames de António
Costa para a região Portugal continental. Coitadas e
distraídas gentes. Espertos e vivaços são certos políticos
portugueses...
Caso para nos interrogarmos por que
razão misteriosa aquelas regiões europeias, maiores que
Portugal, não se regionalizam à sublime maneira
portuguesa e nem se dignam seguir as recomendações que,
neste domínio, alguns dos nossos políticos querem impor a Portugal?
Ainda no que concerne à União
Europeia justificam-se as regiões. Elas correspondem a específicas
caracterizações de Estados que se formaram geralmente no século
XIX, pela aglutinação de nações ou povos possuídos de distintas
diferenciações de variadas naturezas: étnicas, linguísticas,
culturais, históricas, tradicionais, geográficas.
Tome-se na devida conta que aquilo
que é aproveitável e justificado na Europa não nos obriga a
considerar como moda que devemos seguir no nosso país - que é
secularmente estruturado num operoso municipalismo onde, afinal, se
depara uma verdadeira proximidade dos cidadãos ao Poder. Mas que
mesmo beneficiário dessa prerrogativa de vizinhança nos espaços
concelhios não evita os desmandos dos gestores da Administração
Local. Prova evidente que é nos homens que está o enorme problema
correlativo ao mau funcionamento dos órgãos de soberania:
Presidência da República, Assembleia da República e Governo. E.
outrossim, no modus faciendi dos detentores dos poderes
central e autárquico.
Com objectividade se poderá dizer
que a União Europeia é uma União de Nações ou União de Regiões,
incluindo as três regiões portuguesas (continente português,
Madeira e Açores) já legalmente constituídas.
Pois que em Portugal, um dos quatro
países mais antigos da Europa, algumas das referidas diferenciações
identitárias só existem na Madeira e nos Açores. Por isso temos,
acertadamente, de facto e de direito, três regiões: Portugal
(região continental) Madeira e Açores (chamadas regiões
autónomas).
Para concluir, um alerta dirigido
aos portugueses: compenetrem-se dos elevados custos de uma
regionalização à portuguesa espécie que iria contribuir para um
descabido e enorme agravamento do défice orçamental, e aumento da
dívida do Estado e, ainda, para a continuada desgraça que atinge o
povo português. Aos propagandistas da regionalização portuguesa
não bastam as existências (e as exigências...) de Presidência da
República, Assembleia da República, ministérios, autarquias e de
numerosos institutos, fundações, empresas municipais, laboratórios
de variadíssimas observações, para se atingir o exorbitante e
insuportável somatório de despesas do Estado que de ano para ano
vai agravando a dívida pública?
Haja bom senso! Um país endividado
como Portugal não se deve dar ao luxo de condescender com os
cânticos de sereia dos fanáticos adoradores do bezerro de ouro; o
qual, os mesmos, com sofreguidão e deslumbramento vislumbram na
regionalização que paira no estreito horizonte de alguns iluminados
políticos que gravitam em redor do arco do Poder instalado neste
maltratado país. Tão-pouco, os portugueses se devem permitir
aceitar o despautério do Estado (melhor explicitando: o governo)
esbanjar ingloriamente, estupidamente, os fracos recursos financeiros
de que o País vai dispondo com enormes dificuldades. E tenhamos
presente o estádio de miserabilismo do povo português.
Definitivamente:
O que é a
Regionalização?
Um detestável
embuste! Uma grande falácia! Uma repulsiva treta! Uma descabida
formulação político/administrativa. Uma pretensiosa iniciativa de
mau agouro! Uma forma escandalosa de desperdício dos dinheiros dos
contribuintes!
Mas de festejada
oportunidade e grande benefício para muitos - alegremente e zombando
dos crédulos eleitores - “meterem as mãos no pote”.
Fim
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