Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sábado, fevereiro 17, 2007

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arqº. Saraiva…

Brasilino Godinho

http://quintalusitana.blogspot.com

Tema I: A caixa de Saraiva

Esta semana o Arqº. Saraiva evocando “A caixa de Pandora” abriu a sua caixa: A caixa de Saraiva.

E se bem comparado, à semelhança de um prestidigitador que habitualmente tira um coelho da cartola, o Arqº. Saraiva dessa caixa retirou um livro de recordações que abriu para nos transmitir alguns dados interessantes sobre a sua vida de menino e moço e acerca de um grande fenómeno da natureza que testemunhou, aparentemente sem surpresa.

O famoso arquitecto-jornalista no desempenho da sua normal actividade de cronista é propenso a divagações, sempre baseadas no pretexto evocado, na circunstância da ocorrência e, sobremodo, na tendência narcisista para se contemplar, embevecidamente, a si mesmo. Tudo isso condimentado com fantasiosos desvios e impresso nas composições escritas em que as palavras se atropelam entre si na amálgama das formulações e dos conceitos, num estranho desencontro com as ideias vertidas em letra de forma nuns casos, insinuadas noutros ou, simplesmente, não intuídas quer pelo autor, quer pelos leitores. Sendo esta a típica escrita de Saraiva, não há volta a dar. Há que aceitar a situação e dela extrairmos as mais valias da boa disposição e do conhecimento, por mais insólito que ele se represente nas ditas “saraivadas”.

Desta vez, José António Saraiva para não fugir à sua regra, no relato de ocorrências do seu passado infantil, juntou-lhe mais algumas apreciações sobre a questão colocada no referendo do p.p. dia 11 de Fevereiro de 2007. Em primeiro lugar, como se preocupado em tomar embalagem na “corrida” descritiva, informa-nos que desde a data do nascimento até casar viveu numa casa “de dois andares com uma certa dignidade” com frente para o Jardim Colonial, em Lisboa

Em vista disso… impõe-se um parêntesis nesta crónica e formular o seguinte reparo: Uma das curiosas facetas da escrita de Saraiva é a de ela se identificar com a sua expressão corporal e natureza anímica, de pessoa taciturna, semblante triste revelador de timidez, insegurança e preocupação, olhar vago, distante, braços cruzados, dando a ideia de quem está em guarda, à defesa, resignado e, talvez por isso, envergando camisa branca de condenado prestes a ser conduzido à cadeira eléctrica… Também dir-se-ia que ele carrega um qualquer mistério e muito se esforça por mantê-lo ao abrigo da curiosidade alheia. Precisamente, reserva misteriosa perceptível quando, após a afirmação de existência de uma certa dignidade nos dois andares, nada acrescenta - que nos elucide - sobre o que é e como se evidencia a dignidade desses andares especiais. Mais, ainda, o facto relevante de ambos a possuírem. Não se detendo na definição deixou-nos com uma grande curiosidade sobre o que se entenderá como a “certa dignidade” em contraposição à - verosímil - incerta dignidade dos demais andares conhecidos e desconhecidos… Naturalmente, nos interrogamos: Quais as características da “certa dignidade” dos andares? O que a diferenciava das dignidades de outros seres indeterminados?

Saraiva também nos dá notícia que, nessa época da sua vida, a família tinha duas criadas de servir, vulgo sopeiras. Aconteceu que um dia “uma delas caiu doente”. Que grande queda! Teria sido de cabeça, em queda livre? Digamos, em voo picado? Uma aflição! O resultado foi que a moça fez um desmancho mal sucedido. Uma carga de trabalhos. Daí adveio um problema que Saraiva descreve sem se importar de o envolver num ar de mistério permanente. Ao referir que mais tarde teve a explícita referência ao facto, assevera que a explicação lhe foi dada “no meio de silêncios”. Circunstância espantosa. Mais não disse. E pronto! O leitor que se lixe… E dei tratos à imaginação. Neste particular caso, quem tudo quer saber da vida alheia, bastante acabará por perder… Leitor abelhudo, nalgum tempo, chegará à conclusão de como teria sido possível fazer-se a explicação do desmancho “no meio de silêncios”? Estranho que não tivesse sido dada em pleno silêncio. Porquê “no meio de silêncios”? E não nas bordas do conjunto de silêncios? Tantos silêncios juntos não fizeram um barulho ensurdecedor? Provavelmente por deficiência nossa nem conseguimos imaginar como no meio de vários silêncios (muitos? poucos?) se possa ouvir algum som. Caramba! Logo naquela altura da atribulada explicação haveria de acontecer aquele desencontro de tantos silêncios… Convenhamos: terá sido um grande azar. Resta considerar a hipótese de ter sido utilizada a linguagem gestual. Mas porquê? Saraiva nada esclarece. Enigma por decifrar… Igualmente, do maior interesse no âmbito da aquisição de saberes é a questão de, perante um cenário localizado “no meio de silêncios”, se aprender como localizar as bordas de um qualquer silêncio ou as beiras do conjunto dos vários silêncios; estes, possivelmente, naquela altura da “explicação” quanto “à queda” e ao “desmancho”, reunidos em conclave patético e silencioso…

De registar o hábito de Saraiva de aplaudir não com uma das mãos mas - segundo se depreende da anotação sobre um hipotético aplauso da despenalização do aborto - com as duas mãos. O que representa uma achega importante para melhor conhecermos a personalidade em causa.

No contexto do escrito do Arqº. Saraiva sobre “A caixa de Pandora” - que melhor seria chamar-se “A caixa de Saraiva” (designação que, eventualmente, por modéstia, omitiu) – está incluso um grande mistério a que nos referimos na parte inicial deste texto Vejamos o que Saraiva escreveu. Preto no branco, lê-se que o referido prédio tinha “um quintal murado, onde pontificavam duas imponentes palmeiras”. Aqui, ficámos completamente baralhados. As palmeiras pontificavam no quintal? O ambiente conferia-lhes a faculdade de pontificar? Por serem imponentes é que elas pontificavam? Pontificavam para dentro ou para fora do quintal? Ou para inglês ver, se passante na Calçada do Galvão? Por acaso, com o fausto que lhes advinha da condição de seres imponentes, teriam celebrado missas pontificais? Há memórias, certamente enriquecedoras da cultura nacional, das suas intervenções orais e escritas feitas com autoridade sobre específicos assuntos? Qual e onde se encontra o acervo das leis que as inconfundíveis palmeiras ditaram?

Urge que o Arqº. Saraiva forneça respostas a estas interrogações porque haverá que perseverar a memória de tão extraordinário fenómeno: a pontificação exercida por duas palmeiras. Sem motivos para não acreditar na informação do Arqº. Saraiva, porque pessoa da maior respeitabilidade, registamos que elas, as duas imponentes palmeiras do quintal murado da família Saraiva, superiormente dotadas, se dedicavam às nobres actividades da pontificação.

Aliás, se nos é permitida a sugestão, os surpreendentes actos de pontificar das invulgares palmeiras deveriam ser detalhadamente descritos em documentos a depositar na Torre do Tombo e ao Arqº. Saraiva não escasseia talento para se dedicar a essa nobre tarefa. Nesse arquivo nacional estariam