Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Estimadas senhoras,
Caros senhores

Junto uma crónica sobre um tema aliciante: SARAIVADAS.
Ao tomar esta iniciativa quero exprimir a seguinte opinião: se elas não existissem teriam que ser inventadas. Porquê? Porque distraem. E na presente conjuntura de tantas tristezas, preocupações e maldades, elas cumprem esse inestimável serviço à comunidade. Ajudam a desanuviar o ambiente soturno que nos envolve a todos - os indígenas deste país.
Fico esperançado que concordem com esta minha apreciação acerca do valor "terapêutico" das SARAVAIDAS.
Deixo uma palavra de consideração pela pessoa que lhe empresta a designação.
Saúda-vos cordialmente,
Brasilino Godinho


SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arqº. Saraiva…

Brasilino Godinho

Tema: O país de Saraiva

É convicção geral, óbvia e indesmentível, arreigada nos indígenas que conseguem enxergar um palmo à frente do nariz que Portugal é um país pequeno. Em contraposição a esta realidade, na capital, muitos tubarões, melgas, camaleões, parasitas e mostrengos, sem os pés bem assentes na terra que habitam, julgam-se no centro do Mundo. Os grandes senhores que na capital da alface-do-mar têm poder e influência estão convencidos que Lisboa é Portugal. O resto, Província, é a paisagem circundante a servir de moldura ao quadro resplandecente da grande cidade da região saloia. A qual agrega outra peculiar característica mal concebida, bem aceite nos costumes lisboetas e muito explorada de forma maquiavélica pelos intelectuais das avenidas novas, pelas rapaziadas das televisões, pelos aprendizes do feiticismo anichados nos jornais e pelos infiéis depositários da cultura nacional integrantes do círculo onde encaixa o quinzenário JL: a de, no seu meio ambiente, ter concentrada a inteligência dita portuguesa…

Para nós, párias e mentecaptos que - segundo as doutas lucubrações de tais indivíduos superabundantes de jactância - seremos por causa indeterminada atribuível a Deuses mal intencionados, restar-nos-ia o desconsolo e a amargura de vivermos na horrível e desconfortável “paisagem” que se espraia para além da área da república alfacinha. Por fatalidade nossa, uns desinfelizes, teríamos de nos acomodar a esse tristíssimo estado de coisas. Também, darmos graças ao Altíssimo, o “Grande Arquitecto do Universo”, pela consolação da proximidade; senão pela glória inerente à vizinhança de tão deslumbrante lugar de culto das grandezas de Portugal; consubstanciadas nos procedimentos das fantásticas celebridades que orientam, governam e marcam posição de destaque em todos os campos de actividade no Portugal de José António Saraiva. O que exercitam, geralmente, com pouco engenho, alguma disfarçada arte, folgado aproveitamento pessoal e grande satisfação dos respectivos grémios e irmandades. A que acresce o falso préstimo de se constituírem seleccionado escol da comunidade lisbonense do país saraiveiro.

Claro que tais criaturas porque entretidas nas suas actividades profissionais e de lazer, dir-se-ia que estarão condicionadas pela rotina citadina e pelo limitado horizonte definido pelo perímetro da grande urbe. Porém, reconheça-se que isso não as perturba. Se não têm o rei na barriga porque ele se perdeu na voragem do tempo, no entanto conservam a soberba, o distanciamento dos semelhantes das áreas periféricas e a contemplação dos próprios umbigos, não lhes restando vagar, pachorra e entendimento para se abalançarem a virem arejar as ideias e alargar as vistas nos “matagais” em que os provincianos se encontram instalados. Decerto, estáticas e dormentes por comodismo. E, também, por várias motivações higiénicas e calculistas que, nada tendo a ver com a higiene da alma, terão em conta os cuidados repartidos pelas nutrições das barriguinhas, pelas fatiotas e pelos riscos de desalinho nas posturas e movimentações…

Portugal, para além de ser um pequeno território mal conservado e pior organizado; um Estado navegando à deriva num mar encapelado de dificuldades suscitadas por tráficos de incompetências, de ambições e de oportunismos; uma Nação pobretana, dispersa, sem rumo, perdida num labirinto de contradições, de maus hábitos seculares e de reminiscências de um passado de obscurantismo e de atraso que se aprofunda ao compasso do tempo; é, também, aquilo que fica descrito na antecedente breve síntese: o agora famigerado “país de Saraiva”.

Todavia, depois de lermos o escrito de “VIVER PARA CONTAR” em que o autor José António Saraiva nos conta as sensações que experimentou no último concerto promovido pela Associação Portuguesa. Contra a Leucemia que teve lugar no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, ficou-nos um amargo de boca… É que parece, a acreditarmos em Saraiva, que Portugal ainda é mais pequeno do que julgávamos.

Mestre jornalista, Arqº. Saraiva, no uso do direito de gozar da autoridade que lhe confere o estatuto de quem vive para contar histórias - se bem apreendemos a significação do seu título “VIVER PARA CONTAR” - com a maior solicitude e invulgar destreza mental, veio informar-nos que “o país em peso que se deslocou ao Pavilhão Atlântico” era aquele mesmo bastante sentido por si, dir-se-ia quase à sua posse chegado, quiçá absorvido sofregamente na sua alma de cidadão devotado às grandes causas, onde “estava toda a gente: os representantes do Estado (desde o Presidente da República e o primeiro-ministro aos presidentes dos tribunais) os partidos, a alta finança, o empresariado, as artes e os media”.

Em vista disso, ficámos cientes das quatro certezas do Arqº. Saraiva. A primeira, que o país é Lisboa. O que nem constitui realidade desconhecida.

A segunda, que “o país em peso” (óbvio, que na totalidade; esta, composta por “toda a gente” de Lisboa, naturalmente dotada do peso e da medida de importância facilmente compatíveis com os padrões de Saraiva) coube no Pavilhão Atlântico. Aqui, a surpresa: por muito grande que seja o pavilhão, muitíssimo pequeno é o Portugal no qual se revê o cronista Saraiva e que já qualificámos como o país do Arqº. Saraiva.

A terceira, que no país do Arqº. Saraiva não há lugar para a média e baixa finanças. Evidente que nos confrontamos com uma manifesta segregação social e… capitalista.

A quarta, que o Zé-Povinho nascido, criado e residente na capital não é gente. Tal e qual acontece com o irmão gémeo da Província. No país do Arqº. Saraiva não existe um cantinho aprazível e decente para eles ou para a arraia-miúda.

Não deixemos passar a oportunidade sem fazer reparo que a terceira e a quarta certeza de Saraiva assentam na desqualificação de alguns sectores da sociedade portuguesa, em nítida violação dos preceitos constitucionais.

Tudo isto em sintonia com a estranha conclusão do Arqº. Saraiva: “Porque é preciso estabelecer uma pirâmide social”… Face a este propósito de Saraiva cumpre-nos parafrasear o Zeca Afonso. Porque, igualmente, é preciso avisar a malta… para que ela saiba pôr-se no lugar que lhe está reservado pelo famoso arquitecto, logo que projectada e erguida a “pirâmide social”. Ou seja: posição suficientemente afastada da “pirâmide social” congeminada pela rica mente de Saraiva. Todo o cuidado será pouco. Para já, depreende-se que o arquitecto Saraiva tem o projecto em mãos…

Inexplicavelmente, o articulista Saraiva esqueceu-se de mencionar que os representantes da Igreja, da Maçonaria, da Opus Dei e das Forças Armadas terão marcado presença no Pavilhão Atlântico. Nem é de crer que o distinto jornalista os exclua daquele compacto e selecto núcleo designado por “toda a gente”. Não obstante, a omissão é intrigante visto que o Arqº. Saraiva se entreteve a observar detalhadamente o amplo cenário ao ponto de ter registado que “na quarta fila alinhavam-se personalidades avulsas”. Note-se que sem distinguir: se anónimas, se isoladas, se não autênticas (a propósito: o que será uma personalidade não autêntica?). Realce-se o pormenor interessante de as personalidades, apesar de avulsas, estarem alinhadas. Felizmente! Seria deselegante, incómodo e aborrecido que estivessem desalinhadas… A tal ponto que poder-se-ia considerar um desaforo… lesivo da bela e cuidada imagem do país do Arqº. Saraiva. Ufa!

Outros dois aspectos pitorescos do descritivo de Saraiva são aqueles em que dá nota do seu interesse na identificação dos luxuosos automóveis Mercedes do actual presidente da República e na satisfação de, naquela noite, Cavaco Silva não “ter de ir para a bicha”.

Além destas particularidades indiciadoras de atenção aos detalhes, o Arqº. Saraiva, às vezes, tem apetite. Por exemplo, na ocasião, se bem o sentiu, melhor o disse: “perante aquela plateia, apetecia perguntar: Quem é que não está?”. Então apetecia-lhe fazer tão extravagante pergunta? Com que justificação? Se afirmou que “estava toda a gente” no Pavilhão do Atlântico e que a ele se deslocou “o país em peso” qual o sentido de pretender ajuizar “quem é que não está”? Sim ou não estava “toda a gente” e o “país em peso” (o Portugal de Saraiva, claro!)? Qual é a versão credível?

Depois, num singular parágrafo, dando mostras de ter encontrado a resposta que ciosamente guardou para si, desabafa: “Talvez nenhum acontecimento tenha reunido até hoje tanta gente importante como este concerto”. Ao leitor, naturalmente surge a curiosidade e as correspondentes interrogações: “nenhum(?-nulo) acontecimento tenha reunido…”? E onde? Em Portugal? Aqui à ilharga, na Espanha? Do outro lado do Atlântico, no Brasil? A Norte, num país escandinavo? Em qualquer parte do Mundo? Na Lua? Noutra galáxia do universo de Saraiva, nossa desconhecida? Como saber?

Também se compreende a razão de ser daquele desabafo. O que seria o “acontecimento” se em vez de “tanta gente importante” tivesse reunido gente sem importância aferida pelo exigente critério selectivo do autor da crónica? Mas, atenção! Anda por aí gente que, futuramente, não deverá descurar a simpatia e os laços afectivos e sociais com Saraiva. Para acautelar sua inestimável condição de “gente importante” conforme o figurino saraiveiro.

Daqui se conclui que José António Saraiva considera que é um fascínio de Lisboa a possibilidade de reunir tanta “gente importante”. Mais ainda, que está atento e empenhado na elaboração de estatísticas. Provavelmente para ilustrar as crónicas que vai escrevendo com entusiasmo e desenvoltura; embora de quando em quando tropece na confusão das ideias e no emaranhado dos termos do discurso.

Para rematar Saraiva meteu o pé na poça quando escreveu: “Duarte Lima arranjou um ajudante de primeira: José Cura”. Uma lástima! Sem cura possível…

José Cura, o grande tenor argentino, ajudante de Duarte Lima? Só lido…

Apesar das reservas quanto aos anjos maus instalados em Lisboa porque entendemos que se empenham em complicar as vidas das gentes, sem importância, da Província, custa-nos admitir que algum deles se lembrasse de erguer Cura à condição de ajudante de Lima… Que grande saraivada!

Verdade seja dita: Tem cabimento a conjectura de quanto são imprevisíveis as formas de contar para viver ou as condicionantes de “VIVER PARA CONTAR”… Outrossim, interrogamo-nos: E se houver lugar a viver para descontar qualquer coisinha? No viver? Decerto, no contar – entenda-se…

P: S. - Se gostar da presente crónica, passe-a aos seus amigos e compartilhe com eles a boa disposição alcançada pela leitura das SARAIVADAS…

Ou dê-lhes a informação que as SARAIVADAS estão inseridas no blog http://quintalusitana,blogspot.com