SARAIVADAS…
Ou as confissões do Arqº. Saraiva…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot
Tema: As mulheres sob a mira de Saraiva…
Falando de "POLÍTICA A SÉRIO" e como se isso correspondesse à prática do sistema vigente em Portugal, o Arqº. Saraiva, na semana transacta, brindou-nos com um estudo sobre as mulheres.
Saraiva escreveu:
- "Alguns partidos metem as mulheres "a martelo" nas listas – porque isso cai bem e é politicamente correcto".
Bem, perguntar-se-á: porquê meter mulheres a martelo e não de outra forma mais delicada? Nas listas? Quais? Isso cai bem? Por que não considerar que isso levanta-se mal? "Politicamente correcto"? Ó malfada expressão! Já te tornaram insuportável! Então é correcto aquilo que se faz de forma incorrecta à força, à bruta e a golpes de martelo? Ou a política já caiu tanto no lodaçal, talvez num abismo sem retorno, ao ponto de se considerar que, desde que praticada com falta de ética e duvidosa seriedade, ela é genuinamente correcta na medida em que a letra será condizente com a careta do embuste, do oportunismo, da falcatrua, ao arrepio da autenticidade da Política (com letra maiúscula)? Bonita vai esta paródia da inversão gratuita de valores civilizacionais. Pelos vistos, aceite e aplaudida pelo Arqº. Saraiva.
Contudo, apesar desse infortúnio as mulheres podem dar graças ao Altíssimo. Porque se os partidos e alguns outros elementos activos não quebradiços, os chamados inteiros, as empurrassem para outros sítios também inconvenientes, seria uma lástima. Provavelmente, teriam que se haver com experiências piores, mais sofridas. De modo que… as damas da política, melhor ponderadas as situações reais e previsíveis, estão com sorte. Parabéns!...
- "Quando o assunto lhes interessa, as mulheres envolvem-se.
Todos os dias, nos debates, nas sessões de propaganda, nos passeios pelas cidades, vimos mulheres".
As mulheres envolvem-se no assunto? Ou em quê? Como? Entusiasmadas? De livre iniciativa? Ou fazendo o frete, a contragosto? Todos os dias envolvidas nos debates e nas sessões de propaganda? Nem ao domingo ficam em casa a descansar? E se o assunto não der ar de sua graça e presença as mulheres desistem dos passeios pela cidade? Nessas circunstâncias… gaita! Nem por um canudo as veremos... O Arqº. Saraiva admira-se de ver as mulheres por tudo que é sítio? Esqueceu-se de mencionar outros lugares por onde elas se passeiam: cafés, jardins, espectáculos, igrejas, hipermercados, estádios de futebol e outros mais. Mas, aqui entre nós, admirados ficamos com a admiração do inspirado cronista.
- "Quando o assunto as toca, as mulheres participam e empenham-se".
As mulheres serão assim tão amorfas que tenham de ser tocadas pelo assunto para participarem em qualquer coisa? De que jeito terá de ser o toque do assunto? Participam onde e como? Empenham-se em quê? O que dão em penhor? Quando o assunto as toca, esse atrevido arrasta-as para os endividamentos? Sorte malvada! E se o assunto não lhes toca, o que acontece?
Qual a razão de tanto espanto pelo espírito de entrega das mulheres? Porventura, é desconhecido que quando o amor ou um gesto carinhoso as toca, mesmo que leve, levemente, elas participam e comprometem-se, geralmente, com ternura e entusiasmo? Pudera! Onde estão a novidade e a estranheza?
- "Quando o tema as motiva, as mulheres saem para a rua, gritam, barafustam e são capazes de se sacrificar".
Por esta é que ninguém esperaria. As mulheres quando se interessam por um tema não ficam em casa ou nos serviços onde trabalham? Saem para a rua desatinadas? Tornam-se desordeiras e perdem a compostura? Para entrarem numa farra de diversão e escândalo? Francamente! Quem julgaria que o Arqº. Saraiva alguma vez cometesse um deslize deste tamanho? Se repetisse no toque e no motivo? E se pusesse a escrever no molhado?
- "Porque aqui (na campanha do referendo) sentiu-se o crepitar da sociedade civil". Bolas! Vá lá entender-se… A sociedade civil crepitou? Como sucedeu essa coisa inconcebível? A sociedade civil a estralejar? A sociedade civil com estados patológicos das vias respiratórias? Com estalidos? A tiritar? A tremer de frio? De medo? De quem?
Também de referir que a Saraiva se lhe afigura que o primeiro-ministro ousa imitar o "lobo mau". Assim, tomámos conhecimento que Saraiva dividiu os lobos em duas classes: lobos maus e lobos bons. Só nos faltava esta chateação… O que é um lobo bom? Quem põe o rótulo no focinho do lobo mau? Porquê? De Saraiva, nem uma palavra esclarecedora… Prevalece o silêncio… Desponta a inquietação da malta…
Quanto a Sócrates que se cuide… Nem se exponha aos caçadores furtivos… Trate de se conhecer melhor… às tantas é lobisomem, sem se aperceber…
Visto, lido, respigado e ora aqui comentado, vale a pena assinalar que ler os artigos do Arqº. Saraiva é uma útil ocupação propícia à prática da higiene mental. Outrossim, um entretimento sucedâneo da resolução de charadas e de palavras cruzadas.
É que na escrita de Saraiva as palavras não sendo cruzadas, estão dispersas, perdidas, nalgumas vezes, enredadas na trama e isoladas do contexto. Assim, é posta à prova a capacidade de apreensão dos indígenas.
Afinal, com ela, escrita enigmática de Saraiva, dá-se o encontro de duas artes: a do autor, traduzida na concepção, na novidade e na explanação dos temas e a do leitor, expressa no engenho da leitura e, portanto, mais virada para a descoberta dos sentidos e das subtilezas da linguagem do articulista, Arqº. Saraiva.
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