A Quinta Lusitana
Entre nesta "quinta"! Atente na sua beleza formal! Apodere-se do seu "recheio"! Pondere... Divirta-se com as paródias e os "artistas" do circo... Resista à tentação de chorar face aos quadros mais tristes... E recupere a auto-estima!... Visto, lido e respigado: Vai gostar!... Também, no seu interior, conheça de quantos irão detestar a QUINTA LUSITANA... Do mesmo modo, vai saber porquê...
Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!
SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA
SE FIXOU TODINHA EM LISBOA
NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...
Motivo: A "QUINTA LUSITANA "
ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...
QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...
e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho
22/11/2013 - 07:42
Manuel Sobrinho Simões é um dos cientistas mais conhecidos do país. Há quase 25 anos que o instituto que dirige, e fundou, é uma referência na investigação do cancro em Portugal.
Sobrinho Simões dirige o Ipatimup, onde trabalham 130 cientistas.
Fernando Veludo/NFactos
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!
SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA
SE FIXOU TODINHA EM LISBOA
NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...
Motivo: A "QUINTA LUSITANA "
ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...
QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...
e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho
sábado, janeiro 31, 2015
PAUL
KRUGMAN, SABEDOR E REALISTA, PÕE O DEDO NA FERIDA GREGA...
Com
a devida vénia transcrevemos do site do jornal NEGÓCIOS o seguinte
texto
Paul
Krugman fala em “fim do pesadelo da Grécia”
26 Janeiro 2015, 13:59
por David Santiago | dsantiago@negocios.pt
Paul
Krugman: “Se a troika tivesse sido verdadeiramente realista, teria
reconhecido que estava a exigir o impossível”. Foto de Lou Gold
O economista Paul Krugman considera
que o problema da Grécia deriva das más opções feitas pelos
credores internacionais e classifica os planos do Syriza como
“realistas.”
Para o antigo Nobel da Economia, a
Europa deveria dar uma oportunidade [a Tsipras] para acabar com o
pesadelo do país”.
Na habitual coluna de opinião de
Paul Krugman no New York Times, o prémio Nobel começa por realçar
que Alex Tsipras, líder do Syriza, "que está em vias de se
tornar primeiro-ministro da Grécia", "será o primeiro
líder europeu a ser eleito sob a promessa de desafiar as políticas
de austeridade".
No artigo publicado esta
segunda-feira no jornal norte-americano, o conhecido economista
alerta que "haverá muita gente, certamente, a avisá-lo
[Tsipras] para abandonar essa promessa e comportar-se
‘responsavelmente’".
No entender de Paul Krugman, todo o
processo grego, que culminou agora na vitória do Syriza nas eleições
parlamentares deste domingo, teve início em 2010 com o primeiro
memorando de entendimento, "um documento assinalável, no pior
dos sentidos". Krugman recorda que a troika acreditava que a
"Grécia poderia aplicar duras medidas de austeridade com
pequenos efeitos no crescimento e emprego", isto numa altura em
que o país "já estava em recessão".
"A Grécia tem pago o preço
por essas ilusões", sustenta o colunista do New York Times.
Conhecido pelas fortes críticas dirigidas aos dirigentes europeus
pela forma como tentaram combater a crise das dívidas soberanas que
sucedeu à crise financeira internacional, Krugman conclui que aquilo
a que se assistiu na Grécia desde então foi "um pesadelo
económico e humano".
No entender do economista
norte-americano, "nada está mais longe da verdade" do que
a ideia de que o que falhou na Grécia foi a incapacidade de Atenas
"para efectuar os cortes prometidos". Até porque o
Executivo helénico "cortou a despesa pública muito mais do que
se poderia prever".
O problema derivou do facto de tanto
"a Comissão Europeia como o Banco Central Europeu terem
decidido acreditar no conto de fadas da confiança – defender que
os efeitos directos da destruição de emprego provocados pelos
cortes na despesa seriam mais do que compensados por um surto de
optimismo no sector privado".
Portanto, agora que "Tsipras
venceu com estrondo", Paul Krugman não acredita que o líder do
Syriza possa ser demovido pelos líderes europeus até porque "eles
não têm credibilidade". Krugman vai mais longe e antecipa que
a coligação de esquerda radical possa até nem ter um programa
suficientemente diferente face ao até agora seguido.
"O problema com os planos do
Syriza poderá ser que não sejam suficientemente radicais".
Porque "um alívio da dívida e uma redução da austeridade
podem diminuir a angústia económica, mas é duvidoso que seja
suficiente para garantir uma forte recuperação", defende Paul
Krugman.
Portanto, clamar "por uma
grande mudança" como fez Tsipras "é bem mais realista"
do que as alternativas defendidas pelas instituições europeias. Por
esse motivo, Krugman acredita que "o resto da Europa deveria dar
uma oportunidade [a Tsipras] para acabar com o pesadelo do país".
sexta-feira, janeiro 30, 2015
Com
a devida vénia transcrevemos da Esquerda.net, através do Facebook,
a seguinte Carta Aberta do novo chefe don governo grego.
nício
/ Artigo / Notícias
internacional / Carta
Aberta de Alexis Tsipras aos cidadãos alemães
A 13 de janeiro deste
ano, Alexis Tsipras dirigiu a todos os cidadãos alemães uma carta
aberta, publicada no jornal económico Handelsblatt, em que explica
a posição do Syriza sobre a dívida grega e defende que a atual
tática “adiar e fingir” aplicada pela Europa será muito
onerosa para o contribuinte alemão e condenará uma orgulhosa nação
europeia à indignidade permanente. A tradução é do Aventar, a
cujos responsáveis o Esquerda.net agradece.
30 de Janeiro, 2015 -
12:34h
Tsipras: está a nascer na Grécia uma grande
oportunidade para a Europa. Foto de FrangiscoDer -
A maior parte de vós, caros leitores do
Handelsblatt, terá já uma ideia preconcebida acerca do
tema deste artigo, mesmo antes da leitura. Rogo que não cedais a
preconceitos. O preconceito nunca foi bom conselheiro,
principalmente durante períodos em que uma crise económica reforça
estereótipos e gera fanatismo, nacionalismos e até violência.
Em 2010, a Grécia deixou de conseguir pagar os
juros da sua dívida. Infelizmente, as autoridades europeias
decidiram fingir que o problema poderia ser ultrapassado através do
maior empréstimo de sempre, sob condição de austeridade
orçamental, que iria, com uma precisão matemática, diminuir
drasticamente o rendimento nacional, que serve para pagar
empréstimos novos e antigos. Um problema de insolvência foi
tratado como se fosse um problema de falta de liquidez.
Dito de outro modo, a Europa adoptou a táctica
dos banqueiros com pior reputação, que não reconhecem maus
empréstimos, preferindo conceder novos empréstimos à entidade
insolvente, tentando fingir que o empréstimo original está a obter
bons resultados, adiando a bancarrota. Bastava bom senso para se
perceber que a adopção da táctica “adiar e fingir” levaria o
meu país a uma situação trágica. Em vez da estabilização da
Grécia, a Europa estava a criar as condições para uma crise
auto-sustentada que põe em causa as fundações da própria Europa.
Bastava bom senso para se perceber que a adopção da táctica “adiar e fingir” levaria o meu país a uma situação trágica.
O meu partido e eu próprio discordamos
veementemente do acordo de Maio de 2010 sobre o empréstimo, não
por vós, cidadãos alemães, nos terdes dado pouco dinheiro, mas
por nos terdes dado dinheiro em demasia, muito mais do que devíeis
ter dado e do que o nosso governo devia ter aceitado, muito mais do
que aquilo a que tinha direito. Dinheiro que não iria, fosse como
fosse, nem ajudar o povo grego (pois estava a ser atirado para o
buraco negro de uma dívida insustentável), nem sequer evitar o
drástico aumento da dívida do governo grego, às custas dos
contribuintes gregos e alemães.
Efectivamente, passado menos de um ano, a partir
de 2011, as nossas previsões confirmaram-se. A combinação de
novos empréstimos gigantescos e rigorosos cortes na despesa
governamental diminuíram drasticamente os rendimentos e, não só
não conseguiram conter a dívida, como também castigaram os
cidadãos mais frágeis, transformando pessoas que, até então,
haviam tido uma vida comedida e modesta em pobres e mendigos,
negando-lhes, acima de tudo, a dignidade. O colapso nos rendimentos
conduziu milhares de empresas à falência, dando um impulso ao
poder oligopolista das grandes empresas sobreviventes. Assim, os
preços têm caído, mas mais lentamente do que ordenados e
salários, reduzindo a procura global de bens e serviços e
esmagando rendimentos nominais, enquanto as dívidas continuam a sua
ascensão inexorável. Neste contexto, o défice de esperança
acelerou de forma descontrolada e, antes que déssemos por ela, o
“ovo da serpente” chocou – consequentemente, os neo-nazis
começaram a patrulhar a vizinhança, disseminando a sua mensagem de
ódio.
A lógica “adiar e fingir” continua a ser
aplicada, apesar do seu evidente fracasso. O segundo “resgate”
grego, executado na Primavera de 2012, sobrecarregou com um novo
empréstimo os frágeis ombros dos contribuintes gregos, acrescentou
uma margem de avaliação aos nossos fundos de segurança social e
financiou uma nova cleptocracia implacável.
O recente e modesto aumento do PIB real, ao ritmo de 0,7%, não indica (como tem sido aventado) o fim da recessão, mas a sua continuação.
Recentemente, comentadores respeitados têm
mencionado a estabilização da Grécia e até sinais de
crescimento. Infelizmente, a ‘recuperação grega’ é
tão-somente uma miragem que devemos ignorar o mais rapidamente
possível. O recente e modesto aumento do PIB real, ao ritmo de
0,7%, não indica (como tem sido aventado) o fim da recessão, mas a
sua continuação. Pensai nisto: as mesmas fontes oficiais
comunicam, para o mesmo trimestre, uma taxa de inflação de -1,80%,
i.e., deflação. Isto significa que o aumento de 0,7% do PIB real
se deveu a uma taxa de crescimento negativo do PIB nominal! Dito de
outro modo, aquilo que aconteceu foi uma redução mais rápida dos
preços do que do rendimento nacional nominal. Não é exactamente
motivo para anunciar o fim de seis anos de recessão!
Permiti-me dizer-vos que esta lamentável
tentativa de apresentar uma nova versão das “estatísticas
gregas”, para declarar que a crise grega acabou, é um insulto a
todos os europeus que, há muito, merecem conhecer a verdade sobre a
Grécia e sobre a Europa. Com toda a frontalidade: actualmente, a
dívida grega é insustentável e os juros não conseguirão ser
pagos, principalmente enquanto a Grécia continua a ser sujeita a um
contínuo afogamento simulado orçamental. A insistência nestas
políticas de beco sem saída, e em negação relativamente a
simples operações aritméticas, é muito onerosa para o
contribuinte alemão e, simultaneamente, condena uma orgulhosa nação
europeia a indignidade permanente. Pior ainda: desta forma, em
breve, os alemães virar-se-ão contra os gregos, os gregos contra
os alemães e, obviamente, o ideal europeu sofrerá perdas
catastróficas.
Quanto a uma vitória do SYRIZA, a Alemanha e, em
particular, os diligentes trabalhadores alemães nada têm a temer.
A nossa tarefa não é a de criar conflitos com os nossos parceiros.
Nem sequer a de assegurar maiores empréstimos ou, o equivalente, o
direito a défices mais elevados. Pelo contrário, o nosso objectivo
é conseguir a estabilização do país, orçamentos equilibrados e,
evidentemente, o fim do grande aperto dos contribuintes gregos mais
frágeis, no contexto de um acordo de empréstimo pura e
simplesmente inexequível. Estamos empenhados em acabar com a lógica
“adiar e fingir”, não contra os cidadãos alemães, mas
pretendendo vantagens mútuas para todos os europeus.
Caros leitores, percebo que, subjacente à vossa
“exigência” de que o nosso governo honre todas as suas
“obrigações contratuais” se esconda o medo de que, se nos
derem espaço para respirar, iremos regressar aos nossos maus e
velhos hábitos. Compreendo essa ansiedade. Contudo, devo dizer-vos
que não foi o SYRIZA que incubou a cleptocracia que hoje finge
lutar por ‘reformas’, desde que estas ‘reformas’ não
afectem os seus privilégios ilicitamente obtidos. Estamos dispostos
a introduzir reformas importantes e, para tal, procuramos um mandato
do povo grego e, claro, a cooperação dos nossos parceiros
europeus, para podermos executá-las.
A nossa tarefa é a de obter um New Deal europeu,
através do qual o nosso povo possa respirar, criar e viver com
dignidade.
No dia 25 de Janeiro, estará a nascer na Grécia
uma grande oportunidade para a Europa. Uma oportunidade que a Europa
não poderá dar-se ao luxo de perder.
Breve apontamento sobre a
entrevista do cientista Sobrinho Simões
Brasilino Godinho
Se há anos (a 20 de Março de 2003) o Iraque foi
invadido a pretexto do ditador Saddan Hussein dispor de armas de
destruição maciça - o que nem era verdade - neste nosso tempo, em
Portugal, não havendo arsenal das ditas, tem-se dado o fenómeno da
destruição de bens e de pessoas se processar com recurso a
camufladas armas de eliminação fragmentada por sectores,
instituições e, também, por seleccionadas classes sociais; as
quais, autênticos instrumentos de extermínio, são manejadas pelos
famosos guerrilheiros aquartelados no Palácio de S. Bento, no
Palácio de Belém e no Terreiro do Paço, em Lisboa que, sem pudor,
ostentam o estandarte da Democracia.
E as consequências estão à vista: nas morgues,
nos hospitais, nas escolas, nas universidades, nas fábricas que
encerram as actividades, nos estabelecimentos comerciais que fecham
portas definitivamente, nas crescentes mendicidade e prostituição
expostas nas vias públicas e jardins, na criminalidade que cresce,
na insegurança que aumenta, na banca que sucumbe face à corrupção.
Sobretudo, nas inúmeras mortes que não constam das estatísticas
oficiais e que se devem à fome, à miséria e às faltas de meios de
subsistência, de básicos cuidados médicos e de alojamento de
muitos cidadãos carenciados e de avançadas idades. Convirá termos
presente que a gripe não é, por si só, a malvada que causa tão
tenebroso quadro de mortandades, como as entidades oficiais querem
fazer crer.
E que faz o governo? Em coro, mais ou menos desafinado,
assobia para o lado! Sobremaneira e com acinte, contemplando-se na
escandalosa e pacóvia figuração de bom e entusiástico aluno da
disciplina da Austeridade superiormente doutrinada pela grande
orientadora Angela Merkel e pela soberba assistente Christina
Lagarde.
Governo feliz e contente... Porquê? Por que está
cumprindo um dos dois programas da sua (des)governação.
Um deles, de disfarce de intenções, era programa - que
apresentara ainda na oposição e no decurso da campanha eleitoral do
actual mandato legislativo - recheado de muitas promessas que não
seriam para cumprir, conforme há, agora, plena consciência
colectiva. Programa apresentado somente para inglês ver, português
se deslumbrar e para iludir o Zé-Povinho. E para alcançar o Poder.
E, como mais tarde disse Passos Coelho para “alguém meter a mão
no pote”.
O segundo programa consistia em fazer tudo e mais alguma
coisa ao contrário do que fora prometido pelo grande chefe Passos
Coelho. Com uma predeterminada e confessada ideia: a do
empobrecimento do povo. E ainda com um claro objectivo: o da
destruição do país. O qual está sendo atingido. Antevê-se que
quando chegarmos ao fim do ano de 2015 Portugal esteja completamente
arrasado.
Caso para se dizer: há por aí gente que tem de
pagar por isso!
Haja a esperança de que um dia, este povo desperte
desta "austera, apagada e vil tristeza". Oxalá que ainda
seja a tempo de correr com os vendilhões do templo nacional e de
redimir a atraiçoada Pátria.
A voz do cientista Sobrinho Simões é uma preciosa
achega a ter em conta na forma como se encara a situação calamitosa
a que chegámos por decorrência das terríveis consequências
advindas das nefastas políticas impostas pelos (des)governantes
deste entristecido e maltratado país.
Por assim ponderarmos, publicámos a importante
entrevista do Professor Doutor Sobrinho Simões, através da qual
explana um elucidativo quadro da destruição operada no campo da
Ciência, por parte do actual governo.
Formulamos o voto de que aos leitores não escape a
importância de tais declarações do conhecido cientista,
concernente à rigorosa, verídica, avaliação das políticas
impostas pelos actuais (des)governantes.
Para ler e não esquecer a destruição que está em curso
Um registo de Brasilino Godinho
Um cientista português de elevado prestígio internacional, Professor Doutor Manuel Sobrinho Simões, pronunciou-se sobre a “destruição criativa” do actual governo que rebentou com tudo.
Por acaso (ou talvez não...), algo que vimos apontando nas nossas crónicas.
Com a indispensável vénia, transcrevemos a entrevista, feita por Samuel Silva, que nos chegou através da Internet e que se segue:
Entrevista
“Este Governo fez uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo”
Samuel Silva22/11/2013 - 07:42
Manuel Sobrinho Simões é um dos cientistas mais conhecidos do país. Há quase 25 anos que o instituto que dirige, e fundou, é uma referência na investigação do cancro em Portugal.
Sobrinho Simões dirige o Ipatimup, onde trabalham 130 cientistas.
Fernando Veludo/NFactos
O prestígio do Instituto de Patologia e Imunologia
Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup) não o deixou incólume
aos cortes no financiamento público e é dessa experiência e dos
desafios que se colocam à ciência em tempos de crise que falará
nesta sexta-feira à tarde, na conferência Ciência, Economia e
Crise, tal como o físico Carlos Fiolhais, o economista Daniel
Bessa ou o ensaísta Onésimo Teotónio Almeida, que a Fundação
Francisco Manuel dos Santos organiza na reitoria da Universidade do
Porto.
Aos 66 anos, Sobrinho Simões não se imagina a deixar de trabalhar. “É tudo o que sei fazer.” E não disfarça o entusiasmo quando fala do próximo grande projecto em que está envolvido, o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S), que junta o Ipatimup aos institutos de Biologia Molecular e Celular (IBMC), de Engenharia Biomédica (INEB) e agora também a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, para integrar um consórcio de investigação na área da saúde, sobretudo de doenças neurodegenerativas e infecciosas, cancro e medicina regenerativa.
Nos últimos 15 anos, Portugal conseguiu fazer um caminho com o aumento do investimento em ciência, quer público quer privado, e obteve bons resultados. De quem foi o mérito?
O primeiro é um demérito, já que partimos muito de baixo. O segundo foi a capacidade de projectar o futuro do [ex-ministro da Ciência e Ensino Superior] Mariano Gago, que foi instrumental para desencadear e consolidar esta aposta. O terceiro mérito foi dos ministros do PSD que tiveram a pasta da Ciência. Nunca perturbaram esta estratégia, o que é uma coisa raríssima em Portugal.
A FCT [Fundação para a Ciência e a Tecnologia] está de uma incompetência como eu nunca vi. Está a mudar permanentemente as regras e os prazos. Não há coisa mais difícil do que alguém planear a sua vida sem um mínimo de estabilidade.
O que falhou?
Não conseguimos que as universidades e politécnicos contratassem tantos doutorados e pós-doutorados nos seus quadros como gostaríamos. E isto tem uma consequência, sobretudo numa fase de crise, porque eles não estão a encontrar emprego.
Há lugar para esses diplomados nas empresas?
As nossas empresas não estão treinadas para fazerem investigação internamente. Temos um tecido empresarial fraco e que gosta muito de comprar “chave na mão”.
Os anteriores governos do PSD seguiram a linha inaugurada por Mariano Gago. Este não fez o mesmo?
Este Governo fez uma ruptura, o que não aconteceu só na ciência. Mas na ciência foi mais grave, porque é um tecido relativamente novo. Fez uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo, esperando que, das cinzas, nasça algo de novo. Na ciência, não nasce.
O que perdemos já com a austeridade?
Perdemos muita gente. E perdemos esperança. Na ciência, apesar de tudo, os nossos jovens têm capacidade para serem contratados, no estrangeiro, mas vão muito feridos de asa e dificilmente voltarão.
Isto é responsabilidade de quem?
De uma política cega em relação ao ensino superior. O Governo não percebeu que não pode rebentar com o tecido universitário.
Como vê a proposta do Orçamento do Estado para o sector?
É péssima, porque corta de uma forma cega. Não reforça as instituições que merecem e deviam ser premiadas. Ao mesmo tempo, deveria reformular as instituições que não merecem. Além disso, do lado da ciência, há uma ideia de que um investigador muito bom pode juntar dois amigos e vai ali para o pátio do Hospital de S. João [no Porto] fazer um projecto de investigação.
É a cartilha do empreendedorismo aplicada à ciência?
A ciência, antes de mais nada, precisa de um tecido de suporte. O empreendedorismo é criminoso, porque tem estimulado perversões. O cientista que é muito empreendedor deve ser um empresário. Os estímulos deste tipo podem acabar por ser um convite ao chico-espertismo.
Como vê as alterações que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) introduziu ao financiamento da ciência?
A FCT está de uma incompetência como eu nunca vi. Está a mudar permanentemente as regras e os prazos. Não há coisa mais difícil do que alguém planear a sua vida sem um mínimo de estabilidade.
E concorda com os critérios de avaliação, baseados na produtividade científica e na obtenção de patentes, por exemplo?
São terríveis. Primeiro, porque coloca os investigadores das ciências sociais e humanas numa situação de dificuldade. E a sociedade portuguesa precisa, como de pão para a boca, de ciências sociais. Depois, parece-me que é mais importante a repercussão da nossa actividade no mundo científico e na sociedade do que o facto de se publicar numa revista com muito impacto. A FCT não pensa o mesmo.
O próximo quadro de financiamento europeu pode ser uma saída para estas dificuldades?
Será muito importante e vamos responder bem. Mas os estímulos europeus têm perigos. Como estamos numa crise filha da mãe, vamos ter de responder a todas a solicitações. Há um efeito perverso se começarmos a concorrer a coisas que não costumamos fazer. A Europa tem de ser a cereja em cima do bolo, não pode servir para suportar custos fixos. Temos sempre de ter um tecido institucional, que tem que ser suportado pelo Estado.
Defende que se inverta a política de cortes?
Quem ganhasse um projecto europeu tinha como prémio não um corte, mas dinheiro a mais. Mas a Europa também está a falar muito de aplicação e inovação quando o assunto é ciência. Quando se desvia para essa área, coloca-se Portugal numa situação difícil, por causa da fragilidade do tecido empresarial.
A relação com o mercado pode ser uma solução para os centros de investigação?
A grande questão na ciência é quem faz primeiro uma [determinada] pergunta. Não quero que seja feita pela empresa X ou Y e eu só tenha de dar a resposta. Depois, a ciência precisa de tempo. E a indústria, a inovação e a Europa querem resolver coisas no menor intervalo de tempo possível. Uma pessoa não tem tempo para pensar e fazer boas perguntas. Então o que faz? Faz perguntas óbvias de que já sabe a resposta.
Desse modo, dificilmente haverá movimentos disruptivos na ciência.
Sobretudo em países pobres. Neste momento, só há dois movimentos disruptivos: ou há um investigador genial com uma excelente pergunta, ou se está num sítio tão rico que pode comprar sempre a última versão do equipamento pesado. Neste aspecto, toda a Europa também está em dificuldades. Por exemplo, o Beijing Genomic Institut (China) sozinho tem mais capacidade de sequenciação que toda a Europa junta.
Qual a saída para o momento actual que vivemos no ensino superior e na ciência?
Não sei. Mas tenho a certeza de que não é com esta gente. O meu medo é que não seja fácil pensar com quem há-de ser. Não há tanta diferença assim entre os partidos do centro.
Então o que defende?
A Europa tem de constituir de facto um tecido de ensino superior e investigação que ultrapasse as fronteiras nacionais. E temos de colaborar mais ao nível das regiões europeias – por exemplo, o Norte do país tem de trabalhar com Espanha.
Quanto tempo mais aguenta o país o desinvestimento na ciência sem pôr em causa o que foi feito?
Não sei, e tenho muito medo de que aguentemos menos do que aquilo que as pessoas pensam. O Ipatimup aguenta mais dois ou três anos, depois acaba.
Porquê?
Tivemos uma redução do nosso financiamento de base do Estado de 45% em quatro anos. Antes, representava 1/3 e, nesta altura, é 1/7, correspondendo a cerca de 900 mil euros.
Como foi possível manter o instituto em funcionamento?
Aumentámos a prestação de serviços e a investigação contratada com as farmacêuticas, criando uma unidade de translação e outra de inovação, que tem trabalhado junto da indústria. Ainda não conseguimos começar a ganhar projectos europeus em quantidade suficiente, ao passo que os concursos da FCT estão cada vez mais difíceis, com menos dinheiro e maior competição.
Quantas cientistas trabalham no Ipatimup?
Somos 130, dos quais 70 são doutorados. Cada vez tem sido mais difícil contratar. Ou os jovens conseguem bolsas de pós-doutoramento, ou têm conseguido articular-se parcialmente com as faculdades para darem aulas ao mesmo tempo que são investigadores aqui.
O I3S é o grande projecto para os próximos tempos?
No fundo, será o I4S. Porque agora também temos a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto associada ao projecto. É um crescimento brutal para nós. As obras estão a andar bem e, em Janeiro de 2015, vamos começar a fazer a mudança. É uma aposta séria, numas instalações que têm 18 mil metros quadrados e poderão acolher 600 investigadores.
Vai reorientar a actividade científica em função dessa nova realidade?
Fizemos sempre investigação em cancro e em genética populacional e iremos manter essas duas linhas. Como é muito mais fácil estudar as alterações genéticas do que a influência do tabaco ou dos raios solares, temos continuado a estudar sobretudo as alterações genéticas e metabólicas que justificam os cancros. Mas agora temos consórcios com o Hospital de S. João e o Instituto Português de Oncologia para procurar resolver a nossa ligação à prevenção e ao tratamento.
Aos 66 anos, Sobrinho Simões não se imagina a deixar de trabalhar. “É tudo o que sei fazer.” E não disfarça o entusiasmo quando fala do próximo grande projecto em que está envolvido, o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S), que junta o Ipatimup aos institutos de Biologia Molecular e Celular (IBMC), de Engenharia Biomédica (INEB) e agora também a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, para integrar um consórcio de investigação na área da saúde, sobretudo de doenças neurodegenerativas e infecciosas, cancro e medicina regenerativa.
Nos últimos 15 anos, Portugal conseguiu fazer um caminho com o aumento do investimento em ciência, quer público quer privado, e obteve bons resultados. De quem foi o mérito?
O primeiro é um demérito, já que partimos muito de baixo. O segundo foi a capacidade de projectar o futuro do [ex-ministro da Ciência e Ensino Superior] Mariano Gago, que foi instrumental para desencadear e consolidar esta aposta. O terceiro mérito foi dos ministros do PSD que tiveram a pasta da Ciência. Nunca perturbaram esta estratégia, o que é uma coisa raríssima em Portugal.
A FCT [Fundação para a Ciência e a Tecnologia] está de uma incompetência como eu nunca vi. Está a mudar permanentemente as regras e os prazos. Não há coisa mais difícil do que alguém planear a sua vida sem um mínimo de estabilidade.
O que falhou?
Não conseguimos que as universidades e politécnicos contratassem tantos doutorados e pós-doutorados nos seus quadros como gostaríamos. E isto tem uma consequência, sobretudo numa fase de crise, porque eles não estão a encontrar emprego.
Há lugar para esses diplomados nas empresas?
As nossas empresas não estão treinadas para fazerem investigação internamente. Temos um tecido empresarial fraco e que gosta muito de comprar “chave na mão”.
Os anteriores governos do PSD seguiram a linha inaugurada por Mariano Gago. Este não fez o mesmo?
Este Governo fez uma ruptura, o que não aconteceu só na ciência. Mas na ciência foi mais grave, porque é um tecido relativamente novo. Fez uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo, esperando que, das cinzas, nasça algo de novo. Na ciência, não nasce.
O que perdemos já com a austeridade?
Perdemos muita gente. E perdemos esperança. Na ciência, apesar de tudo, os nossos jovens têm capacidade para serem contratados, no estrangeiro, mas vão muito feridos de asa e dificilmente voltarão.
Isto é responsabilidade de quem?
De uma política cega em relação ao ensino superior. O Governo não percebeu que não pode rebentar com o tecido universitário.
Como vê a proposta do Orçamento do Estado para o sector?
É péssima, porque corta de uma forma cega. Não reforça as instituições que merecem e deviam ser premiadas. Ao mesmo tempo, deveria reformular as instituições que não merecem. Além disso, do lado da ciência, há uma ideia de que um investigador muito bom pode juntar dois amigos e vai ali para o pátio do Hospital de S. João [no Porto] fazer um projecto de investigação.
É a cartilha do empreendedorismo aplicada à ciência?
A ciência, antes de mais nada, precisa de um tecido de suporte. O empreendedorismo é criminoso, porque tem estimulado perversões. O cientista que é muito empreendedor deve ser um empresário. Os estímulos deste tipo podem acabar por ser um convite ao chico-espertismo.
Como vê as alterações que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) introduziu ao financiamento da ciência?
A FCT está de uma incompetência como eu nunca vi. Está a mudar permanentemente as regras e os prazos. Não há coisa mais difícil do que alguém planear a sua vida sem um mínimo de estabilidade.
E concorda com os critérios de avaliação, baseados na produtividade científica e na obtenção de patentes, por exemplo?
São terríveis. Primeiro, porque coloca os investigadores das ciências sociais e humanas numa situação de dificuldade. E a sociedade portuguesa precisa, como de pão para a boca, de ciências sociais. Depois, parece-me que é mais importante a repercussão da nossa actividade no mundo científico e na sociedade do que o facto de se publicar numa revista com muito impacto. A FCT não pensa o mesmo.
O próximo quadro de financiamento europeu pode ser uma saída para estas dificuldades?
Será muito importante e vamos responder bem. Mas os estímulos europeus têm perigos. Como estamos numa crise filha da mãe, vamos ter de responder a todas a solicitações. Há um efeito perverso se começarmos a concorrer a coisas que não costumamos fazer. A Europa tem de ser a cereja em cima do bolo, não pode servir para suportar custos fixos. Temos sempre de ter um tecido institucional, que tem que ser suportado pelo Estado.
Defende que se inverta a política de cortes?
Quem ganhasse um projecto europeu tinha como prémio não um corte, mas dinheiro a mais. Mas a Europa também está a falar muito de aplicação e inovação quando o assunto é ciência. Quando se desvia para essa área, coloca-se Portugal numa situação difícil, por causa da fragilidade do tecido empresarial.
A relação com o mercado pode ser uma solução para os centros de investigação?
A grande questão na ciência é quem faz primeiro uma [determinada] pergunta. Não quero que seja feita pela empresa X ou Y e eu só tenha de dar a resposta. Depois, a ciência precisa de tempo. E a indústria, a inovação e a Europa querem resolver coisas no menor intervalo de tempo possível. Uma pessoa não tem tempo para pensar e fazer boas perguntas. Então o que faz? Faz perguntas óbvias de que já sabe a resposta.
Desse modo, dificilmente haverá movimentos disruptivos na ciência.
Sobretudo em países pobres. Neste momento, só há dois movimentos disruptivos: ou há um investigador genial com uma excelente pergunta, ou se está num sítio tão rico que pode comprar sempre a última versão do equipamento pesado. Neste aspecto, toda a Europa também está em dificuldades. Por exemplo, o Beijing Genomic Institut (China) sozinho tem mais capacidade de sequenciação que toda a Europa junta.
Qual a saída para o momento actual que vivemos no ensino superior e na ciência?
Não sei. Mas tenho a certeza de que não é com esta gente. O meu medo é que não seja fácil pensar com quem há-de ser. Não há tanta diferença assim entre os partidos do centro.
Então o que defende?
A Europa tem de constituir de facto um tecido de ensino superior e investigação que ultrapasse as fronteiras nacionais. E temos de colaborar mais ao nível das regiões europeias – por exemplo, o Norte do país tem de trabalhar com Espanha.
Quanto tempo mais aguenta o país o desinvestimento na ciência sem pôr em causa o que foi feito?
Não sei, e tenho muito medo de que aguentemos menos do que aquilo que as pessoas pensam. O Ipatimup aguenta mais dois ou três anos, depois acaba.
Porquê?
Tivemos uma redução do nosso financiamento de base do Estado de 45% em quatro anos. Antes, representava 1/3 e, nesta altura, é 1/7, correspondendo a cerca de 900 mil euros.
Como foi possível manter o instituto em funcionamento?
Aumentámos a prestação de serviços e a investigação contratada com as farmacêuticas, criando uma unidade de translação e outra de inovação, que tem trabalhado junto da indústria. Ainda não conseguimos começar a ganhar projectos europeus em quantidade suficiente, ao passo que os concursos da FCT estão cada vez mais difíceis, com menos dinheiro e maior competição.
Quantas cientistas trabalham no Ipatimup?
Somos 130, dos quais 70 são doutorados. Cada vez tem sido mais difícil contratar. Ou os jovens conseguem bolsas de pós-doutoramento, ou têm conseguido articular-se parcialmente com as faculdades para darem aulas ao mesmo tempo que são investigadores aqui.
O I3S é o grande projecto para os próximos tempos?
No fundo, será o I4S. Porque agora também temos a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto associada ao projecto. É um crescimento brutal para nós. As obras estão a andar bem e, em Janeiro de 2015, vamos começar a fazer a mudança. É uma aposta séria, numas instalações que têm 18 mil metros quadrados e poderão acolher 600 investigadores.
Vai reorientar a actividade científica em função dessa nova realidade?
Fizemos sempre investigação em cancro e em genética populacional e iremos manter essas duas linhas. Como é muito mais fácil estudar as alterações genéticas do que a influência do tabaco ou dos raios solares, temos continuado a estudar sobretudo as alterações genéticas e metabólicas que justificam os cancros. Mas agora temos consórcios com o Hospital de S. João e o Instituto Português de Oncologia para procurar resolver a nossa ligação à prevenção e ao tratamento.
quinta-feira, janeiro 29, 2015
UMA
OPORTUNA E GRANDE LIÇÃO
DE
PROFUNDO E ABRANGENTE
ESPECTRO
SOCIOPOLÍTCO
OPORTUNA
E IMPORTANTE ENTREVISTA
Com
a devida vénia transcrevemos de ESQUERDA.
NET
a
importante entrevista do ministro das Finanças do novo governo
grego, Professor Yanis Varoufakis, concedida à jornalista austríaca
Johanna Jaufer.
Vale
a pena ler!
É
uma extraordinária lição de Política, de Economia e de Finanças.
E até – assinale-se! - de História da Europa.
Brasilino
Godinho
Nesta entrevista, para
o público falante de alemão, dada a Johanna Jaufer da cadeia
pública austríaca ORF, Varoufakis afirma: “A Europa não
aprendeu com as lições da história e, enquanto não mudarmos de
rumo, é altamente improvável que consigamos manter o conjunto da
união”.
27 de Janeiro, 2015 -
15:27h
Yanis Varoufakis, ministro das Finanças do
Governo do Syriza
Yanis Varoufakis é o ministro das Finanças
do governo grego do Syriza. É um reconhecido economista
greco-australiano, professor na Universidade do Texas e na
Universidade de Atenas. Em março de 2014, foi um dos 74 economistas
de 20 países que assinaram o manifesto
internacional que apelou à reestruturação
da dívida portuguesa e apoiou o manifesto das 70 personalidades
portuguesas.
Você é há três semanas político
profissional…
Duas semanas.
Teve que pensar muito? No seu blogue
escreveu também que a decisão lhe dava pânico.
Foi uma decisão grave. Porque eu entro na
política para realizar uma tarefa que sempre pensei que tinha que
levar a cabo, e era-me dada a oportunidade de meter mãos à obra.
Tem a ver com as negociações entre a Grécia e a União Europeia,
em caso de vitória do Syriza: trata-se de um projeto e de uma
perspetiva extremamente difíceis. Por outro lado, eu sou um
académico, sou um cidadão, um cidadão ativo, de maneira que estou
habituado a um tipo de diálogo em que o que se trata é que eu
aprenda realmente consigo e você comigo: teremos desacordos, mas
através desses desacordos, os nossos respetivos pontos de vista
enriquecer-se-ão.
Não se trata de alguém se impor a
outro…
Exato. Mas na política é pior: cada parte tenta
destruir a outra parte – perante o público -, e isso é algo que
me é alheio, algo que de nenhuma forma estou disposto a fazer.
E o que acontece com o seu trabalho na
universidade? Fica suspenso?
Sim, efetivamente. Deixei a Universidade do
Texas. Mantenho a minha cátedra na Universidade de Atenas – sem
pagamento -, e espero que não passe muito tempo até regressar.
Está disposto a permanecer num governo
por mais tempo?
Não. Não desejo fazer carreira política.
Idealmente, o que quereria é que outra pessoa fizesse isto, e que o
fizesse melhor que eu. Só que esta era a única forma de fazer algo
que não poderia fazer de outro modo. Não sou um profeta, de modo
que não lhe posso dizer onde estarei daqui a dois, três, cinco ou
dez anos. Mas se me pergunta agora, o ótimo para mim seria que o
nosso governo tivesse sucesso na renegociação de um acordo com a
Europa que tornasse a Grécia sustentável, e que depois outras
pessoas viriam, já se sabe… o poder deve ser rotativo, ninguém
deveria prender-se a ele.
Algo que foi divulgado várias vezes na
Alemanha e na Áustria é o assunto das reparações de guerra,
porque a Alemanha se esquivou a pagar reparações propriamente
ditas depois da II Guerra Mundial. Na sua opinião, por que
aconteceu isso? Talvez porque alegaram que a Alemanha se encontrava
dividida, e esperavam uma reunificação? Ou foi porque os
norte-americanos alegaram que precisavam de uma Alemanha capaz de
albergar as suas bases militares, o que deixava pendurados os
reclamantes? Ou foi uma combinação de ambas as coisas?
Foi uma combinação. Nos anos 40, os Aliados
tinham decidido converter de novo a Alemanha num país camponês.
Propuseram o desmantelamento de 700 fábricas, e foram os
norte-americanos que travaram esse plano. De maneira que, sim,
destruíram 700, mas depois mudaram de ideias. Mudaram por razões
que têm a ver com o modo como os EUA estavam a desenhar o
capitalismo global: precisavam de uma moeda forte na Europa e de uma
moeda forte na Ásia (que acabaram por ser o marco alemão e o iene
japonês), e todo o projeto da União Europeia se construiu em torno
desse plano. Na Europa nós gostamos de pensar que a União Europeia
foi uma criação nossa. Não foi. Foi um desenho norte-americano
que depois nós adotamos e que, certamente, era congruente com o que
desejávamos, com as nossas aspirações. Parte desse desenho
passava por estimular a economia alemã, tirá-la da depressão,
tirá-la do poço em que se encontrava nos anos 40, e uma componente
importante de qualquer tentativa de revigorar uma economia passa por
aliviar a sua dívida, por um corte importante da dívida, pelo
perdão de dívida. Assim, em 1953 foi organizada a Conferência da
Dívida em Londres, da qual resultou um violento corte da dívida
alemã em prejuízo de muitas nações, entre as quais a Grécia.
Mas a Grécia é um caso especial, porque a Alemanha tinha contraído
com ela uma dívida que não tinha com nenhuma outra nação: em
1943, a Kommandatur aqui, em Atenas, impôs ao Banco da Grécia um
acordo pelo qual este banco imprimiria um montão de dracmas –
dracmas de guerra— e fornecê-lo-ia às autoridades alemãs para
que estas pudessem comprar material, financiar os seus esforços de
guerra e acumular bens agrícolas para a Wehrmacht, etc. O
interessante é que as autoridades alemãs assinaram um contrato:
deixaram por escrito o montante de dinheiro que tomavam como
empréstimo. Prometeram pagar juros. Foi, por conseguinte, um
empréstimo formal. Os documentos existem ainda e encontram-se em
poder do Banco (Central) da Grécia. Em nenhum outro país aconteceu
algo parecido. De modo que isto é como uma dívida oficial, como um
título, contraído com a Grécia em tempo de guerra pelo estado
nazi alemão.
Pode dar números exatos?
Números exatos. Será escusado dizer que a
dificuldade está em traduzir essa moeda de guerra, que muito
rapidamente foi absolutamente inflacionada por causa da quantidade
de dracmas imprimidos. As autoridades alemãs, ao aceitar esse
empréstimo do Banco da Grécia e ao fazerem compras, desvalorizaram
a moeda, o que teve enormes custos sociais secundários em toda a
Grécia. É muito difícil calcular exatamente em quanto se traduz
esse empréstimo em termos atuais, como se compõe o juro, como se
converte, como se calcula o custo da hiperinflação causada… O
meu ponto de vista é que somos parceiros; deveríamos deixar-nos de
moralismos, deveríamos deixar de apontar-nos mutuamente com o dedo.
A teoria económica bíblica – “olho por olho, dente por dente”
- deixa todo o mundo cego e desdentado. Deveríamos, simplesmente,
sentar-nos com o mesmo espírito com que os EUA se sentaram em 1953,
sem levantar questões como: “os alemães merecem o castigo?”,
“é culpa ou é pecado?”. Já sei que em alemão os dois
conceitos - “culpa” e “dívida” - se expressam com a mesma
palavra (Schuld), antónima de crédito. Deveríamos limitar-nos a
levantar esta simples questão: como podemos voltar a tornar
sustentável a economia social grega de modo que os custos da crise
grega sejam minimizados para o alemão médio, para o austríaco
médio, para o europeu médio.
Por que é que muitas pessoas da Europa
setentrional não temeram que os cortes nos direitos laborais nos
anos 90 pudessem ser presságio do mesmo tipo de coisas que agora
estão a ocorrer aqui (na Grécia)?
Acho que tudo é culpa de Esopo. A sua fábula da
formiga e da cigarra: a formiga trabalha duro, não desfruta da
vida, guarda dinheiro (ou valor), enquanto a cigarra se limita a
descansar ao sol, a cantar e a não fazer nada, e depois vem o
inverno e põe cada uma no seu lugar. É uma boa fábula:
desgraçadamente, na Europa predomina a estranhíssima ideia de que
todas as cigarras vivem no Sul e todas as formigas no Norte. Quando,
na realidade, o que há são formigas e cigarras em todo o lado. O
que aconteceu antes da crise - é a minha revisão da fábula de
Esopo— é que as cigarras do Norte e as cigarras do Sul,
banqueiros do Norte e banqueiros do Sul, por exemplo, se aliaram
para criar uma bolha, uma bolha financeira que os enriqueceu
enormemente, permitindo-lhes cantar e descansar ao sol, enquanto as
formigas do Norte e do Sul trabalhavam, em condições cada vez mais
difíceis, até nos tempos bons: conseguir que as contas quadrassem
em 2003, em 2004, não foi nada fácil para as formigas do Norte e
do Sul; e depois, quando a bolha, que as cigarras do Norte e as
cigarras do Sul tinham criado, estoirou, as cigarras do Norte e do
Sul puseram-se de acordo e decidiram que a culpa era das formigas do
Norte e das formigas do Sul. A melhor forma de fazer isso era
confrontar as formigas do Norte com as formigas do Sul,
contando-lhes que no Sul só viviam cigarras. Assim, a União Europa
começou a fragmentar-se, e o alemão médio odeia o grego médio, o
grego médio odeia o alemão médio. Não tardará que o alemão
médio odiará o alemão médio, e o grego médio odiará o grego
médio.
Isso já começou, não?
Sim, já se vê. E é exatamente o que ocorreu
nos anos 30, e Karl Marx estava completamente equivocado quando
disse que a história se repete como farsa. Aqui a história
repete-se, simplesmente.
No tocante à decisão do Sr. Draghi de
inundar o mercado com biliões de euros, vi que você disse que isso
é como usar uma pistola de água num incêndio florestal.
Acho que o Sr. Draghi tem boas intenções. Quer
manter unida a zona euro, e é muito competente. Faz o que pode,
dadas as restrições que tem. Não tenho a menor dúvida - ainda
que ele nunca o admita - de que entende cabalmente que o que está a
fazer é demasiado pouco e demasiado tarde: uma pistola de água
perante um grande incêndio florestal. Mas ele acha que até uma
pistola de água é melhor que nada. Se se declarou um incêndio,
ele preferiria servir-se de um canhão de água, e teria preferido
começar a usá-lo antes, mas não era permitido porque na Europa
temos uma Carta do BCE que o ata de pés e mãos e o lança perante
o monstro da deflação, o que é muito injusto para o BCE. E assim
será enquanto a Europa não compreender o que é imperiosamente
necessário do ponto de vista económico para sustentar uma união
monetária, enquanto não entender por que se dá toda esta
fragmentação e a crescente renacionalização de tudo, incluída
agora a flexibilização quantitativa do senhor Draghi (80% das
compras de títulos serão realizadas pelos Bancos Centrais
nacionais, como se estes existissem separadamente do BCE). Porque
essa fragmentação e essa renacionalização é exatamente o oposto
do que deveríamos estar a fazer, apoiar, consolidar. Como se
formaram os EUA? Pois, porque cada vez que tinham uma crise - a
Guerra Civil, a Grande Depressão - avançavam na sua união. Nós
dizemos que estamos a fazer isso com as “uniões bancárias”,
com os “Mecanismos Europeus de Estabilização”, mas não é
verdade. Criámos uma união bancária que não é uma união
bancária, é uma desunião bancária, e chamamo-la, à maneira
orwelliana, “união bancária”. A Europa não aprendeu com as
lições da história , e enquanto não mudarmos de rumo, é
altamente improvável que consigamos manter o conjunto da união.
A propósito dos planos do Syriza para
revitalizar a indústria na Grécia, Theodoros Paraskevopoulos disse
que se trata também de recuperar as dimensões do setor
farmacêutico na Grécia, porque tem uma boa base. Como é isso?
Ao que sei, por alguma razão, temos boas
empresas farmacêuticas que têm exportações sólidas. Precisamos
ajudá-las e precisamos criar indústrias assim também noutros
setores.
Por exemplo?
Acho que temos excelentes programadores
informáticos e engenheiros de software, de modo que deveríamos
fazer algo parecido ao que fez Israel. Criar uma rede de pequenas
empresas emergentes orientadas internacionalmente para a exportação.
Se algumas delas acabarem por ser compradas pela Google, etc., não
é uma má coisa. É o tipo de coisas que deveríamos ensaiar e
apoiar, se podermos.
Se pusermos a questão de que fazer para
atrair investidores estrangeiros para a Grécia, há alguma ideia
parecida com parcerias público-privadas, algo que nos países da
Europa setentrional tem dado muitos problemas?
Eu não sou partidário das parcerias
público-privadas. Onde essas associações foram ensaiadas,
acabaram sempre por drenar recursos do estado sem produzir nenhum
valor acrescentado significativo. Normalmente, foram exercícios de
corte de custos, e no final, sem o menor efeito de desenvolvimento.
O que eu acho é que devemos tender para o desenvolvimento de ativos
públicos já existentes sem os vender - mesmo agora estamos a
liquidar e a vender simplesmente para angariar receitas -, de modo
que o dinheiro do setor privado, os fundos de investimentos, possam
vir e contribuir para o desenvolvimento de forma mutuamente
benéfica. É um tipo de empreendimento público-privado, mas não
ao estilo do que se ensaiou na Grã-Bretanha e noutros lugares.
Voltando à discussão do memorando:
entre que fatores acha que a Sra. Merkel está condicionada?
Acho que a Alemanha está dividida. Os interesses
da banca em Frankfurt não são os mesmos que os da banca média,
tal como os interesses das pequenas e médias empresas na Alemanha
central não são os mesmos que os da Siemens e da Volkswagen, etc.
É muito diferente ter a capacidade produtiva exclusivamente
localizada na Alemanha, como as empresas pequenas e médias, ou
estar mergulhado na globalização e ter fábricas na China e no
México. E a Sra. Merkel é uma política astuta que se preocupa -
ou pensa precaver-se - de que haja consenso entre esses interesses
sobre o que há que fazer com o euro, com o nosso Banco Central, com
a periferia, etc. A Sra. Merkel, simplesmente, não moverá qualquer
peça até que haja um consenso que lhe garanta a sobrevivência
política.
Mas esse consenso não é possível.
Bom, repare, por exemplo, o que se passou em 2012
com o anúncio unilateral por parte do Sr. Draghi das Operações
Monetárias sobre Títulos, ou mesmo ontem, com a Flexibilização
Quantitativa. Verá que, quando começam a ouvir-se vozes que dizem:
“olhem, rapazes, que a deflação nos está a matar, há que fazer
algo”, então a Sra. Merkel pode servir-se dessas vozes para
dizer: “apoiarei o Sr. Draghi, façam o que fizerem”. Por
conseguinte, não é um consenso-consenso, mas ela está a calibrar
as movediças placas tectónicas sob os seus pés. E o modo como o
faz é muito astuto. Eu convidá-la-ia a pensar no seu legado para
além da mera sobrevivência, e gostaria que considerasse a
possibilidade de que daqui a 10, 20, 100 anos, a Europa pudesse
falar não só de um plano Marshall que salvou a Alemanha, mas
também de um plano Merkel que salvou o Euro.
Artigo traduzido para espanhol
sinpermiso.info
por Estrella Mínima e para português por Carlos Santos para
esquerda.net
terça-feira, janeiro 27, 2015
Prezadas
Senhoras,
Caros
Senhores
Chamamos
a vossa atenção para o assunto que se expõe em seguida.
O
mistério Portas e os valores do Prof. Marcelo
Em 6 de
Outubro de 2014 publicámos uma crónica sobre a esquisita compra de
dois submarinos por parte do governo português.
Em
Portugal abriu-se um processo judicial que, após anos de elaboração,
teve há poucas semanas o desfecho de arquivamento. Ao contrário do
que aconteceu na Alemanha. Lá houve processo e condenações dos
envolvidos na negociata.
Por em
Portugal ter acontecido aquilo que, geralmente, se espera de
complacência da justiça portuguesa nos casos submersos em que estão
envolvidos corpulentos tubarões e grandes trutas, vale a pena
dedicarmos alguma reflexão ao assunto.
Cremos
que a nossa referida crónica ajudará na cívica tarefa, ora
proposta, de rigorosa e descomprometida apreciação dos actos das
entidades públicas.
Até
porque nela, na parte final, já púnhamos em dúvida que viessem
respostas às perguntas que formulávamos. Não nos enganámos.
Aliás,
agora até estaríamos tentados em admitir que Paulo Portas, não
sendo um menino, acaba por ser, de algum peculiar modo, travesso
beneficiário da protecção de alguma divindade; conforme aquele
idílico quadro descrito no aforismo popular: “Ao menino e ao
borracho põe Deus a mão por baixo”. Neste caso paulino,
com uma importante e não descabida ressalva: é que ficam as
dúvidas se a mão é posta por baixo ou por cima ou se uma mão por
cima e outra mão por baixo. Aqui, o indecifrável mistério...
Quanto
ao Prof. Marcelo vale a pena relembrar a sua
paradigmática lição
daquela data.
Com
os nossos melhores cumprimentos.
Brasilino
Godinho
Juntamos
a crónica de 6 de Outubro de 2014
segunda-feira, outubro 06, 2014
O
mistério do fotocopista Paulo Portas
Brasilino
Godinho
Imaginando
uma história afim da realidade
Para bem nos
situarmos na complexidade da mágica de prestidigitação que envolve
o intrigante mistério do fotocopista Paulo Portas e das milhares
fotocópias que tirou de documentos arquivados no ministério,
durante uma noite e madrugada não dormida, mas de presumível
azáfama operativa na véspera de cessar funções de ministro da
Defesa Nacional, comecemos por imaginar que:
- Hoje um jornal diário traz a notícia de que anteontem um modesto trabalhador do Ministério da Defesa Nacional na véspera de cessar as suas funções, em vez de sair no termo do seu horário de trabalho, às 17:30', deixa-se ficar nas instalações e já sem a presença dos restantes funcionários, inicia a exaustiva tarefa de fotocopiar milhares e milhares de documentos. Tarefa que se prolongou por toda a noite e madrugada. Ao que se supõe, o funcionário terá sido ajudado por alguns comparsas amigos.
- Anos depois (quando já o facto estiver esquecido pelo público), talvez que, por consequência, descobre-se que desapareceram alguns importantes documentos relacionados com a aquisição de submarinos a uma empresa da Alemanha.
Sobre o caso a
que alude o ponto 1 interrogamos o leitor:
a). Qual a
razão do funcionário, por seu livre arbítrio, extrair fotocópias
de documentos dum órgão tão importante do governo e,
possivelmente, com teores de grande confidencialidade e de extrema
relevância nacional? Que aplicação lhes dará? O que, o
prevaricador, numa acção preventiva, pretende encobrir e (ou)
justificar de expedientes e matérias ilícitas? Suas práticas
irregulares ou de terceiros que quer proteger?
b). O delito do
funcionário é muito grave. Transgride as normas da legalidade que
lhe são aplicáveis. É um abuso de confiança e de exorbitação de
poder. Ofende os preceitos da ética. Implica a necessidade de
investigação judicial porque está em jogo: quer a indevida
apropriação de património; quer o custo de materiais utilizados em
proveito pessoal; quer a própria segurança da República.
c). Pensemos:
Que vai acontecer ao modesto funcionário que cometeu o delito?
Certamente, que
será aberto um inquérito, haverá um processo disciplinar e feita a
averiguação da responsabilidade criminal. De pronto, é constituído
arguido; rapidamente, é julgado e condenado.
A
realidade afim da hsitória imaginada
A realidade que
vamos expor tem a ver com o denso mistério do fotocopista Paulo
Portas.
Ao tempo da
saída de Paulo Portas do Ministério da Defesa Nacional alguns
jornais noticiaram que o governante, na véspera do dia último de
exercício das funções de ministro da Defesa Nacional, tinha
passado a noite e a madrugada (entretido... será o termo
apropriado?) a extrair milhares de fotocópias.
Uma actuação
anómala, incompreensível e de contornos obscuros, porque não pode
ser dissociada da corrupção assinalada na compra dos submarinos e
de outros equipamentos militares. Anote-se que os corruptos alemães
envolvidos no fraudulento negócio já foram condenados pelos
tribunais germânicos, enquanto em Portugal decorrem há vários anos
investigações sem fim à vista; provavelmente, programadas para se
articularem com o regime das prescrições.
Ainda há
poucos dias um jornalista do diário i deu
informação de que, para além dos membros da família Espírito
Santo, havia alguém que teria recebido milhões de luvas do negócio
dos submarinos. Quem? Que diz a Justiça? Nada!
As autoridades
judiciais estavam distraídas e alhearam-se da extrema gravidade
delituosa que é de atribuir a tal actuação de Paulo Portas.
Anote-se que nem um simples inquérito ou processo disciplinar foi
realizado (a propósito: os ministros deviam estar sujeitos a
processos disciplinares sempre que indiciados em ilícitos). Os
jornalistas assobiaram para o lado. Os governantes e políticos de
todos os partidos não lhe dispensaram a devida ponderação.
Há tempos
apurou-se no Ministério da Defesa Nacional (repare-se: não é um
qualquer ministério de somenos importância) que desapareceram
documentos. Quais? Imagine-se: logo haviam de desaparecer os
documentos relativos às compras de equipamentos militares, incluindo
os famigerados submarinos.
Quer a actuação
delituosa de Paulo Portas, quer o desaparecimento de documentos do
ministério que chefiou, aconteceram impunemente sem ter havido séria
e competente investigação sobre as duas esquisitas situações.
De
registar que na semana transacta uma comissão da Assembleia da
República concluiu um apelidado
inquérito
parlamentar que se limitou a isentar de responsabilidades os
políticos que, de algum modo, lidaram com os processos de aquisição
dos equipamentos militares. Aliás, uma conclusão prevista desde que
devidamente compatibilizada com os expedientes de alijar
responsabilidades, muito usuais na referida assembleia. Todos sabemos
que os inquéritos parlamentares se traduzem em dois procedimentos:
de condenar quantos investigados integrantes das minorias; de ilibar
os prevaricadores pertencentes aos partidos da maioria.
Em vista disso
e, a título de excepção, com um pouco de indulgência, dizemos aos
deputados protagonistas dessas comédias dos inquéritos
parlamentares o seguinte: contemplem-se na desfaçatez e festejem-se
até ao exaustão, no gozo das vossas incoerentes, ilógicas e
falseadas decisões. Até a um dia... de higienização geral que
tarda em chegar.
Pela nossa
parte, caros e atentos leitores, deixemo-nos de tretas. Sejamos
objectivos: se milhares de documentos foram no Ministério da Defesa
Nacional abusivamente fotocopiados por Paulo Portas em violação de
todos os preceitos regulamentares, das normas legais, de elementares
regras da Ética e dos imperativos deveres concernentes à
Deontologia Governativa, então por que nem admitir que nessa mesma
madrugada tenham levado sumiço os tais documentos, porventura muito
comprometedores? E se assim terá sido, qual o motivo porque a Paulo
Portas não se atribuem todas as responsabilidades? E como não
investigar com rigor o aludido procedimento de Paulo Portas? Quem de
direito está à espera de quê? E porquê?
Uma última e
crucial interrogação: A explicação do que se passou com a
negociata dos submarinos e as contrapartidas previstas e nunca
devidamente concretizadas, não terá a haver com esta história
nunca bem contada das fotocópias do fotocopista Paulo Portas? Talvez
que nela esteja fixada a grande matriz do escândalo que vai
flutuando nas águas muito turvas e conspurcadas da política
nacional.
Deixo as
perguntas. Também declaro a minha convicção de que não virá a
público nenhuma resposta.
Pela simples
razão de Portugal ser um dos países onde:
- mais existe a
corrupção;
- subjaz o
compadrio e o clientelismo;
- bastante se
valoriza a mediocridade e a ignorância encartada;
- muito se
aplaude o oportunista e o vendedor de banha da cobra;
- está
instalado o medo;
- prolifera a
prática da perseguição e vingança por parte dos governantes;
- não há uma
justiça que puna exemplarmente os poderosos pelos actos ilícitos; -
- existe uma generalizada apatia face à gravíssima degradação
sociopolítica vigente.
Fim
Nota
marginal – Mais uma preciosidade do Prof. Doutor Marcelo Rebelo de
Sousa, apresentada há instantes na TVI.
A
hipocrisia consagrada como valor máximo a prosseguir a bem do
triunfo da coligação nas próximas eleições legislativas.
O
professor advoga que custe o que custar nunca Passos Coelho, Paulo
Portas e os dois partidos da coligação, devem transmitir aos
portugueses a impressão de que estão desavindos ou com problemas de
relacionamento e opiniões divergentes sobre as orientações
políticas.
Ou
seja: o professor Marcelo entende que é preciso disfarçar. Fingir
que estão unidos. Se a coligação quere ganhar as eleições tem de
proceder assim. O país não importa. Nem a deplorável situação da
maioria dos cidadãos portugueses lhe merece atenção. O que
interessa ao professor Marcelo, a Passos Coelho, Paulo Portas e aos
seus dois partidos é o domínio do Poder e as correlativas benesses
e mordomias – numa palavra: a efectiva exploração da QUINTA
LUSITANA, sem obstáculos ou impedimentos.
Fiquemos
com a certeza: valor importante para o professor Marcelo é o
exercício continuado da hipocrisia e do cinismo para muito enganar e
confundir os eleitores portugueses. Neste domínio da manipulação
das mentes o professor Marcelo sente-se como peixe na água da baía
de Cascais. Nesse mar costeiro tem longa prática de flutuação... É
consagrado Mestre com créditos firmados e amplamente reconhecidos.
Mais
uma grande lição(...) do Professor Marcelo, das muitas semelhantes
que tem leccionado ao longo dos muitos anos das suas charlas
televisivas.
Enfim,
algo bastante elucidativo do elevado magistério moral e superior
doutrinação política do famoso comentador televisivo...
segunda-feira, janeiro 26, 2015
Saudemos
a Grécia
Brasilino Godinho
A
trimilenária nação helvética que foi precursora da Europa e que
no seu seio criou a Democracia, a Política, a Filosofia e o Teatro,
credora do maior apreço e respeito dos povos europeus e de todo o
mundo civilizado, foi hoje, 25 de Janeiro de 2015, mais uma vez
inovadora e criativa: com o resultado da consulta eleitoral
gerou a esperança de um futuro melhor para a Grécia e para a
Europa.
Parabéns à
Grécia! Parabéns à Europa, submetida ao poder do eixo
Berlim-Bruxelas.
Porém, há
que registar que o povo grego foi confrontado com as inúmeras
pressões e chantagens de que foi alvo por parte da chanceler alemã
Angela Merkel, da directora do FMI, Christine Lagarde, da Comissão
Europeia e da banca internacional. Ainda há três dias o director do
Banco Europeu, Mário Draghi, lançou o plano de compra das dívidas
nacionais como derradeiro instrumento de chantagem política sobre o
eleitorado grego.
Felizmente o
povo grego não cedeu às ameaças e deu eloquentes lições:
de dignidade, de firme demonstração de civismo e de arreigado apego
à Democracia.
É de
presumir que as mencionadas entidades que tanto pressionaram a Grécia
venham a usar todo o seu poder para complicarem e neutralizarem as
políticas do futuro governo grego.
Por isso não
existem garantias de que sejam concretizadas todas as esperanças que
agora são despertas na Grécia e em todos os países atingidos pelas
nefastas orientações impostas por Merkel e pela Comissão Europeia.
Mas desde já
precavidos quanto às nuvens negras que despontam no horizonte de
Bruxelas e de Berlim, hemos de aguardar, com alguma confiança, os
acontecimentos que se seguem.
quinta-feira, janeiro 22, 2015
Um testemunho bastante elucidativo
sobre o extermínio da língua mátria
Brasilino Godinho
Há
instantes recebi uma mensagem de cidadão português residente em
Marrocos, que é de relevante interesse, porquanto representa um
eloquente testemunho de como, por obscuros rumos, enviesados meios e
maléficos expedientes, prossegue o encaminhamento da destruição da
língua portuguesa.
Este
testemunho vem reforçar o meu conhecimento sobre a matéria que me é
tão desagradável. E há muito tempo que sei dos clamores que vão
por essas Europa, África, Ásia e Américas, contra o encerramento
dos poucos núcleos escolares onde se leccionava o português e
contra a negação de apoio e o manifesto desinteresse dos
governantes portugueses pela manutenção do uso e pela divulgação
da nossa língua.
Mais
que alheamento e desprezo por parte de tais protagonistas da
decadência nacional há que considerar, sem subterfúgios que, no
tocante à destruição da Língua, se trata de crime de lesa-pátria.
Aos
leitores solicito que concentrem a vossa atenção no texto do citado
e-mail do Senhor Manuel Andrade, que transcrevo:
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AMIGO
E SR. BRASILINO
INFELIZMENTE É UMA TRISTE REALIDADE O QUE SE PASSA. OS
SUCESSIVOS DESGOVERNOS DE PORTUGAL NADA FAZEM PARA INVERTER ESSA
SITUAÇÃO. EU COM A EXPERIÊNCIA DOS PAÍSES ONDE JÁ PASSEI POSSO
CONFIRMAR. HÁ BASTANTES PASSOS A DAR. A COMEÇAR POR MAZAGÃO.
HOJE, EL JADIDA. ONDE HÁ UMA GRANDE VONTADE DE APRENDER PORTUGUÊS.
HÁ UM CASO CONCRETO DE 2 IRMÃOS QUE FALAM PORTUGUÊS MUITO
RAZOAVELMENTE COMO AUTODIDACTAS. A RTP FEZ UMA REPORTAGEM COM ELES
MAS PARECE QUE NUNCA A EXIBIRAM, NEM SEQUER CHAMARAM QUEM DE DIREITO
PARA A ATENÇÃO QUE O ASSUNTO MERECIA. EU MESMO, SOBRE A VONTADE DE
UMA MARROQUINA QUE QUERIA APRENDER PORTUGUÊS, LIGUEI, HÁ ANOS,
PARA O INSTITUTO CAMÕES QUE NADA ME ADIANTOU. ALIÁS ESTE INSTITUTO
MAIS PARECE UM POUSO DE TACHISMO, QUE REALMENTE UM DEFENSOR E
DIFUSOR DA NOSSA LÍNGUA.
AQUELE ABRAÇO.
Nota - pode publicar e
divulgar onde e como quiser.
Fim de citação
quarta-feira, janeiro 21, 2015
Língua
Portuguesa corre perigo de extinção
Brasilino
Godinho
A revista
VISÃO - citada pelo SAPO - de hoje, deu a notícia de que John
McWhorter, linguista da Universidade de Columbia, em New York, num
artigo publicado no Wall Street Journal prevê que 90% das línguas
vão-se extinguir no próximo século (até 2115).
O mesmo
professor anota que está em curso, à escala mundial, a colonização
linguística do inglês e do chinês.
Não sou
linguista mas a falta deste requisito científico não me tem
impossibilitado de - desde os anos 90 - vir, através das minhas
crónicas, alertando para as persistentes ameaças de extinção do
português; nomeadamente, a maior traduzida no desprezo que lhe dão
sucessivos governos portugueses. Governos que para além do mau trato
da Língua, a subalternizam em favorecimento do inglês e, agora,
também do chinês. Já chegámos ao ponto de em todos os graus de
ensino (mesmo no ensino básico) se pôr mais ênfase e determinação
no ensino do inglês do que no estudo da língua pátria. O que
evidencia que em Portugal, confirmando as previsões do professor
John McWhorter, se prossegue um rumo de escandalosa e detestável
vanguarda e se corre célere para o abismo da perda da língua
portuguesa. O que se passa em sintonia de objectivo destruidor da
nação portuguesa com a prática governamental de escorraçar a
massa cinzenta para o estrangeiro. A este abominável atentado de
lesa-património da Pátria junte-se-lhe a perda da Língua e eis que
estará alcançada a perda de Portugal como Estado e Nação.
Já todos
percebemos que os governantes portugueses estão nisso empenhados. A
previsão agora anunciada, qual meio-caminho andado para ser
consumado o fatídico desígnio, provavelmente, vai deixá-los
satisfeitos.
Pela
parte que me diz respeito, continuarei a pugnar pela minha pátria
que é a Língua Portuguesa.
domingo, janeiro 18, 2015
Duas
grandes tretas,
ambas
repulsivas!
Brasilino Godinho
Ontem,
sábado, pelas 16h:50', o SAPO inseriu notícias referentes a duas
tretas que são com frequência apresentadas ao público.
A
primeira, foi denunciada por Silva Peneda: “A
ideia de autoregulação do mercado é uma
treta”.
Depois do
colapso financeiro e, por arrasto, do descalabro da economia,
ocorridos nos últimos tempos, há a convicção de que não faz
sentido insistir-se no que já é considerado um erro crasso:
manter o modelo de funcionamento dos mercados financeiros que vem
causando devastadoras consequências em diversos países, incluindo
Portugal.
Silva
Peneda, social-democrata de rija têmpera e com imagem de político
sensato, está certo na oportuna avaliação abrangente (nacional e
internacional) que faz na presente conjuntura.
A
segunda, refere-se à deprimente mania da regionalização
que, ciclicamente, quando se avizinham eleições, o Partido
Socialista, exercitando uma deplorável continuidade obsessiva, traz
à colação e que constitui uma séria ameaça de desconformidade
político/administrativa muito onerosa e prejudicial ao País.
A seguir,
transcrevemos trechos (que numeramos, para melhor incidência dos
nossos comentários) da notícia da RENASCENÇA, inserta no portal
SAPO.
António Costa defende descentralização
17-01-2015
- Líder socialista quer alteração da lei eleitoral. A descentralização é fundamental para o bom funcionamento da democracia. Palavras de António Costa este sábado numa conferência em Leça da Palmeira.
- O secretário-geral do PS considera que só uma política de maior proximidade pode garantir um melhor funcionamento do Estado.
- "Grande instrumento do Estado deve ser a política de descentralização", que "permitirá maior proximidade, que é garantia de transparência e de maior eficiência do gasto público".
4. Para avançar com a regionalização é, contudo, necessário
"evoluir e desbloquear o impasse constitucional",
sublinhou.
5. António Costa disse que o "reforço da democracia passa por
aumentar o poder do cidadão", bem como "reforçar a
confiança do cidadão no exercício da actividade politica".
6. É a "proximidade que reforça a transparência, a qualidade
da democracia", concluiu.
Vejamos:
Ao lermos as declarações de
António Costa, secretário-geral do PS, ficámos perplexos.
Então António Costa ainda não
atingiu o Poder e já avança com a estapafúrdica ideia da
Regionalização?
Neste atribulado tempo de múltiplas
desgraças, Portugal está confrontado com várias crises de grandes
dimensões e a esmagadora maioria da população portuguesa
enfrentando tremendas dificuldades. No entanto, pasme-se! O putativo
novo chefe do executivo não apresenta um convincente e bem
estruturado programa; e, ao invés, contempla-se, muito empenhado, em
promover a regionalização do país. Parece que para ele não há
outras grandíssimas prioridades. Essa (a da regionalização) -
imagine-se! quem nos diria tal avassaladora necessidade? - é a
prioridade do futuro, hipotético, órgão executivo. Começa
bastante mal António Costa a caminhada em direcção ao Palácio de
S. Bento. Muito mau prenúncio do que seria o seu exercício de
governação. Será que há, da sua parte, disponibilidade para se
prosseguirem as desastradas (diremos mesmo, horríveis) políticas de
Passos Coelho?
A manter-se António Costa neste
rumo e com recurso a uma retórica oca, recheada de fantasiosos
lugares-comuns da politiquice caseira e sem sentido objectivo de
reconstrução de um país destroçado, não se vislumbra a
famigerada luz ao fundo do túnel, nem o rumo certo do
desenvolvimento e de um melhor futuro para o empobrecido, sacrificado
e ofendido povo português.
À cadência de síntese, analisemos
ao pormenor:
1. Para satisfazer o capricho de
António Costa aí está o espantalho da revisão da Constituição.
A descentralização é fundamental
para bem funcionar a democracia, disse António Costa. Por feliz
acaso, faz sentido!
Só que os dispositivos
constitucionais e legais existentes facultam a descentralização.
Aliás, foi já no século XIX, que
Alexandre Herculano – bem secundado por Antero de Quental –
propôs de forma vigorosa e descomprometida (assinalamos
descomprometida) a descentralização focada no municipalismo.
Portanto, os novos arautos da descentralização não descobriram o
“ovo de Colombo” neste domínio político/administrativo, nem se
apresentam tão isentos na opção como pode ser sugerido à primeira
vista.
2. A história da proximidade é um
chavão habitualmente apregoado que já incomoda e fere os tímpanos
do pacato cidadão, minimamente consciente. E realce-se: não
resiste ou subsiste a uma serena abordagem crítica.
Trata-se, também, de uma falácia.
Desde logo, não se percebe o que seja: “só uma política de maior
proximidade pode garantir um melhor funcionamento do Estado”.
Repare-se que não se fala de proximidade. Sim, da maior. As câmaras
municipais e juntas de freguesia não são instituições de
proximidade? Que maior proximidade poderá existir? Qual será a
caracterização da terminologia de “maior proximidade”. Porém,
se nos alhearmos das autarquias e nos detivermos na abstracção “de
só uma política de maior proximidade”, interroguemo-nos sobre o
que se representa ou se compreende numa tal política de “maior
proximidade”? Então o governo, as autarquias têm desenvolvido
políticas de não proximidade ou de fantasmagórica menor
proximidade aos cidadãos e às povoações? Por outro lado, será
que política de “maior proximidade” se traduza numa excessiva e
violenta aplicação de medidas agressivas do ambiente, do tecido
urbano e da sobrevivência do ser humano?
Que política de maior (nem de
regular ou de menor, mas de maior, note-se!) proximidade pode
garantir p melhor funcionamento do Estado? Como neste restrito âmbito
equacionar os termos inerentes ao funcionamento do Estado:
Mau? Regular? Bom? Melhor? Garantia do melhor funcionamento do
Estado decorrer da hipotética “maior proximidade”, seja lá isso
o que for em termos práticos, congeminado na cabeça de António
Costa? Como poderia ela (falseada, abstrusa, até inexistente
garantia) subsistir ou sobrepor-se à verdadeira garantia que
sempre decorre do excelente desempenho dos cidadãos investidos nos
exercícios das funções oficiais? As políticas e as instituições
valem pelo contributo que lhes é dado pelo Homem. O que não se
compadece com o desvirtuado jogo de palavras vãs e a abstracção
dum inconsequente discurso vazio.
Outra ideia de incrível desajuste à
realidade é a de “maior proximidade pode garantir um melhor
funcionamento do Estado”. Os agentes da nossa praça política têm
a singular preocupação de iludir as massas populares falando de
tudo e de nada, sempre acenando com a expressão garantia. Os
factos desmentem-nos a toda a hora. E as garantias leva-as o
vento para o caixote do lixo da História.
3. “Garantias de transparência e
de maior eficiência do gasto público”? Risível tal observação.
Atente-se nas enormes dívidas de muito numerosas câmaras municipais
contraídas num invejável estado de proximidade (aqui, parece
insinuar-se a hipótese de não ser da famigerada “maior
proximidade”...) de transparência e, provavelmente, de maior
eficiência do gasto público... Certamente, segundo a congeminação
de António Costa, tudo obra e (des)graça decorrente de uma exemplar
funcionalidade à vista desarmada de cada munícipe, ali - no terreno
local - colocado e respeitador das recomendadas e utilitárias
aproximações visuais e legais... E claro, de pouco e assaz
comprometido beneficio para a comunidade decorrente das apregoadas
garantias da maior proximidade de que falam António
Costa e seus camaradas de partido.
Enfim, sobressai nesta inexpressiva
linguagem superficial e de nula objectividade de António Costa o
aspecto de charada que confunde o indígena.
4. 5. e 6. Para animar a rapaziada
socialista só faltava ao secretário-geral do PS voltar ao tema da
regionalização. A regionalização é um embuste. Seria uma divisão
político/administrativa do continente português sem qualquer
sentido de interesse público e de vantagem para o cidadão comum.
Ademais, denotando uma deplorável
tendência de gratuita subserviência perante o estrangeiro.
Igualmente, a mostrar nociva predisposição ou arreigado vício para
imitar e plagiar tudo o que são modas, usos e práticas de outros
países.
Os partidos estão, na
regionalização aportuguesada, empenhados por razões de
oportunismo, de hegemonia territorial e pela circunstância, em
aberto, de proporcionar existência duma reserva de acolhimento - nos
lugares a criar - das rapaziadas das jotas e dos barões que se
encontram em filas de espera espreitando, cobiçosos, os inúmeros
tachos que se criariam no disperso espaço continental.
António Costa diz: “para
avançar com a regionalização é, contudo, necessário evoluir
e
desbloquear o impasse constitucional”. Com preconcebida ressalva de
cortesia para com o declarante diremos que é conversa de chacha. Bem
pode o secretário-geral do PS tirar o cavalinho
da chuva.
Pela simples razão de que tal avanço com a regionalização
concretizaria, sim, o regredir e o passe para desvirtuar a
Constituição na parte substantiva de melhor estabelecer a estrutura
funcional do Estado de Direito que, infelizmente não vigora em
Portugal. Aliás, o propósito de António Costa dá disso prova
concludente, na medida em que para se concretizarem obscuras
iniciativas pensa-se logo em introduzir alterações na Constituição,
ao arrepio do povo. Este instrumento de soberania nacional só
prevalece na firmeza dos seus proncípios e determinações enquanto
não representa estorvo na aplicação das ideias de certos mentores
da política nacional.
Os portugueses devem ter consciência
que Portugal continental, no quadro europeu, tem configuração, bem
delineada, de uma pequena (média, na melhor das suposições) região
da comunidade. Na Europa há países como a Alemanha e a Espanha
(basta citarmos estes dois) que têm regiões com dimensões
superiores à de Portugal continental.
Portugal continental que,
afinal, bem se pode considerar uma relativamente pequena região
marginal existente no campo dilatado das muitas regiões europeias,
precisa de subdividir-se em diminutas regiões para, segundo
alguns dos políticos portugueses, haver maior aproximação aos
cidadãos e se darem as famosas garantias(...) - de coisa
nenhuma - no que concerne a transparência, a boa aplicação dos
dinheiros do Erário e à abençoada “maior proximidade” dos
cidadãos? Onde? Quando? E como se faz inequívoca demonstração do
acerto de tais apregoadas virtualidades das ambicionadas pequeninas
regiões portuguesas?
Reparem os leitores: Na Alemanha, em
Espanha e noutros países europeus, onde existem regiões com a maior
dimensão que a região Portugal continental, os povos dessas
regiões devem estar muito deficientemente servidos por, nas suas
avantajadas regiões, não usufruírem dos poderes dos cidadãos, não
haver reforço da democracia, não haver a tal “maior proximidade”,
nem a maior eficiência do gasto público, nem, sequer, o fantástico
aumento do poder do cidadão – os preciosos ditames de António
Costa para a região Portugal continental. Coitadas e
distraídas gentes. Espertos e vivaços são certos políticos
portugueses...
Caso para nos interrogarmos por que
razão misteriosa aquelas regiões europeias, maiores que
Portugal, não se regionalizam à sublime maneira
portuguesa e nem se dignam seguir as recomendações que,
neste domínio, alguns dos nossos políticos querem impor a Portugal?
Ainda no que concerne à União
Europeia justificam-se as regiões. Elas correspondem a específicas
caracterizações de Estados que se formaram geralmente no século
XIX, pela aglutinação de nações ou povos possuídos de distintas
diferenciações de variadas naturezas: étnicas, linguísticas,
culturais, históricas, tradicionais, geográficas.
Tome-se na devida conta que aquilo
que é aproveitável e justificado na Europa não nos obriga a
considerar como moda que devemos seguir no nosso país - que é
secularmente estruturado num operoso municipalismo onde, afinal, se
depara uma verdadeira proximidade dos cidadãos ao Poder. Mas que
mesmo beneficiário dessa prerrogativa de vizinhança nos espaços
concelhios não evita os desmandos dos gestores da Administração
Local. Prova evidente que é nos homens que está o enorme problema
correlativo ao mau funcionamento dos órgãos de soberania:
Presidência da República, Assembleia da República e Governo. E.
outrossim, no modus faciendi dos detentores dos poderes
central e autárquico.
Com objectividade se poderá dizer
que a União Europeia é uma União de Nações ou União de Regiões,
incluindo as três regiões portuguesas (continente português,
Madeira e Açores) já legalmente constituídas.
Pois que em Portugal, um dos quatro
países mais antigos da Europa, algumas das referidas diferenciações
identitárias só existem na Madeira e nos Açores. Por isso temos,
acertadamente, de facto e de direito, três regiões: Portugal
(região continental) Madeira e Açores (chamadas regiões
autónomas).
Para concluir, um alerta dirigido
aos portugueses: compenetrem-se dos elevados custos de uma
regionalização à portuguesa espécie que iria contribuir para um
descabido e enorme agravamento do défice orçamental, e aumento da
dívida do Estado e, ainda, para a continuada desgraça que atinge o
povo português. Aos propagandistas da regionalização portuguesa
não bastam as existências (e as exigências...) de Presidência da
República, Assembleia da República, ministérios, autarquias e de
numerosos institutos, fundações, empresas municipais, laboratórios
de variadíssimas observações, para se atingir o exorbitante e
insuportável somatório de despesas do Estado que de ano para ano
vai agravando a dívida pública?
Haja bom senso! Um país endividado
como Portugal não se deve dar ao luxo de condescender com os
cânticos de sereia dos fanáticos adoradores do bezerro de ouro; o
qual, os mesmos, com sofreguidão e deslumbramento vislumbram na
regionalização que paira no estreito horizonte de alguns iluminados
políticos que gravitam em redor do arco do Poder instalado neste
maltratado país. Tão-pouco, os portugueses se devem permitir
aceitar o despautério do Estado (melhor explicitando: o governo)
esbanjar ingloriamente, estupidamente, os fracos recursos financeiros
de que o País vai dispondo com enormes dificuldades. E tenhamos
presente o estádio de miserabilismo do povo português.
Definitivamente:
O que é a
Regionalização?
Um detestável
embuste! Uma grande falácia! Uma repulsiva treta! Uma descabida
formulação político/administrativa. Uma pretensiosa iniciativa de
mau agouro! Uma forma escandalosa de desperdício dos dinheiros dos
contribuintes!
Mas de festejada
oportunidade e grande benefício para muitos - alegremente e zombando
dos crédulos eleitores - “meterem as mãos no pote”.
Fim