Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

INFORMAÇÃO
ao Sr.MANUEL NUNES LOURENÇO
(compatriota radicado no Brasil)
Agradeço as simpáticas palavras que me dirigiu após recente leitura das duas últimas crónicas da autoria do signatário.
Tentei enviar esta mensagem pelo e-mail, indicado no seu texto, mas não consegui.
Quanto à aquisição da minha obra "A QUINTA LUSITANA" aponto-lhe duas hipóteses: primeira, enviar-lhe um exemplar à cobrança para a sua morada, aí no Brasil;
segunda, aguardar a publicação da obra no Brasil.
Quanto a esta alternativa, informo que estou iniciando conversações com editoras brasileiras que manifestaram interesse na edição da minha obra. Por isso, não estou em condições de lhe indicar uma data em que isso acontecerá.
Fico aguardando as suas notícias.
Saudações brasilinas.
Brasilino Godinho
2006-02-23

Um texto sem tabus…

SOU PORTUGUÊS! ESTOU EM PORTUGAL. QUERO FALAR, LER, OUVIR E ESCREVER PORTUGUÊS.
SERÁ QUE ME VÃO IMPEDIR?...
Brasilino Godinho
brasilino.godinho@netvisao.pt
http://quintalusitana.blogspot.com/

Nasci português. Corria a terceira década do século passado. Era uma noite fria de Outubro. Ali, no primeiro andar de uma casa com fachada pintada de amarelo suave, à Rua da Judiaria, cerca da Sinagoga, onde o Rei D. Manuel I mandou concentrar os judeus que, obrigados a renegar a fé judaica para salvarem as suas vidas e os seus haveres, se sujeitaram a residência fixa e a serem classificados como os “cristãos- novos”, num preciso momento aconteceu uma multiplicidade de sucessos: “vi à luz” que iluminava o aposento; “vi à mão” dos familiares; “vi a ser” o ser de gente; “vi a talhe de foice” dos desejos paternais; “vi a tempo” de chegada oportuna; “vi de carrinho” não enganando ninguém e “vi ao mundo” chorando e berrando por “vir nas horas de estalar” a toda a pressa, sem fazer-me rogado. Sucessos que mais tarde, já adolescente, “vieram à baila” nas conversas de família. Isto ocorreu na bela e monumental cidade dos Templários, Tomar, terra ribatejana banhada pelo Rio Nabão. O meu nome é originário do Brasil - país a que me sinto ligado por fortes laços de estima. Atrevo-me a admitir que terei sido uma partícula brasileira que vinda dependurada no bico da cegonha caiu de pára-quedas em Portugal. Por aqui ficou, cresceu e se tornou maior à escala permitida pela específica natureza humana. Bem considerando: um “brasil” em configuração infinitamente pequena relativamente à dimensão do Brasil. Também, um caso de objectiva dupla nacionalidade; assim a modos da pescada… que antes de o ser já o era.
Complemento anotando que desde 1963 estou naturalizado aveirense. O que se deve ao determinismo inerente às contingências da vida profissional. Também, condição alcançada por natural e amadurecida afeição à esplêndida urbe dos canais.
Os anos foram-se sucedendo na minha vida no desfrute de uma reconfortante juventude de espírito; este, sempre fiel a valores humanísticos e permanentemente aberto à evolução dos tempos, ao revigoramento das mentalidades e ao progresso das sociedades. Igualmente, cumprindo resguardo de contradições no pensamento e na acção, tenho conservado a nacionalidade. O que vem acontecendo de modo natural sem esforços de acomodação e sem sobressaltos de consciência. Quero mantê-la! Sinto orgulho de ser português.
E há boas razões para assim considerar a minha inserção no mundo. Em primeiro lugar, motivações ditadas pela assimilação da alma lusitana, pelo conhecimento cultural relacionado à história pátria e pela avaliação do relevante papel de Portugal e dos portugueses na evolução da Humanidade. Depois, uma ideia de fascínio enraizada pelos sentimentos de respeito e até de veneração por tantas grandes personalidades que, por obras valorosas ou capacidades invulgares, prestaram relevantes serviços e se elevaram a altos cumes de prestígio e de reconhecimento à escala mundial. Também um estado de percepção onde radica uma disposição de partilha, de fraternidade e de comunhão relativa a certas maneiras de estar em sociedade e sentir em solidariedade colectiva; as quais, certamente, foram a base de sustentação dos feitos sublimes que delinearam o percurso histórico dos portugueses na construção do país e na difusão da cultura por outras paragens estranhas e distantes do seu território.
Localizadas nos mais diversos espaços geográficos do seu rectângulo continental ou noutros locais do planeta Terra, os portugueses edificaram obras de interesse universal. Percorrendo todas as áreas de actividade, do saber, das artes e de relacionamento entre povos e culturas distintas, séculos após séculos, encontram-se marcas indeléveis, identificadoras e exultantes do esforço, da tenacidade, do conhecimento e das qualidades dos portugueses. Sobrelevando tão valioso património cultural a gesta gloriosa dos Descobrimentos e as suas consequências; com excepcional relevo para a expansão da língua e cultura lusíadas por todos os continentes. Claro, toda esta dimensão ciclópica, épica e universal, dos desempenhos das gentes portuguesas ao longo dos séculos, constitui-se como essência da incontestável e preponderante grandeza lusíada. A obra imortal de Luís de Camões celebra esse extraordinário fulgor dos portugueses.
O apego à terra onde se nasceu, a ligação dos afectos às pessoas e aos lugares percorridos ao longo da vida, o clima, o encanto das paisagens, a magnificência do património arquitectónico, a variedade e importância dos legados culturais, são dados objectivos que, associados a factores subjectivos, conferem identidade singular a cada nativo luso – a qual assimilo e me engrandece como ser pensante nativo de Portugal. Outrossim, me responsabiliza no encontro comigo mesmo e no respeito para com os meus concidadãos.
Por de tudo isso ter notícia, percepção e entendimento, naturalmente, me considero português de alma e coração.
Assim consciente e sem quaisquer objecções à aceitação do primado da verdade acerca dos acontecimentos e dos seus protagonistas não escamoteio nem desvalorizo as páginas negras da história portuguesa merecedoras de reprovação e condenação. Elas são o reverso da medalha que na sua frente emblemática nos cativa e fortalece o ego, pelo brilho e grandeza da sua opulenta composição. Sem dúvida, matéria deplorável, incómoda e deslustrosa, essa negrura inserida na narrativa histórica de Portugal desencadeada desde a fundação da nacionalidade e prosseguida no tempo que passa. Mas inevitável que ela exista porque dependente das díspares, variáveis e complexas faculdades de alma das humanas criaturas que, muitas vezes, são causas e factores de acções e comportamentos dissonantes dos valores da cidadania e atentatórios da dignidade pessoal. Porque sendo a História reportada às intervenções dos homens na evolução dos tempos, os actos dos protagonistas reflectem as suas qualidades e os seus defeitos. E reconhecer-se esta alternância, entre o bem exercitado por distintos indivíduos e o mal da lavra de alguns outros, assinalada no historial da nação portuguesa, não implica desonra nacional definitiva ou irreparável, nem significa desconsiderar o homem português ao ponto de o classificar como o patinho feio, pecaminoso, envergonhado e proscrito da comunidade internacional. Assim como valorizar os feitos dos portugueses não envolve a ideia de sermos os melhores do mundo no domínio do conhecimento, na prática das artes e ofícios, na realização de grandes obras, no relacionamento entre os povos e culturas diferentes ou mesmo nas diversas manifestações a que dê azo a inventiva humana. Também não os abençoados e irrepreensíveis detentores únicos dos eternos valores e princípios que engrandecem e dão sentido de vida ao indivíduo e possibilitam harmonioso e qualificado funcionamento às sociedades.
Não obstante, há momentos em que aflora um sentimento de vergonha derivado dos comportamentos infelizes de certa gente com grandes responsabilidades nos destinos da nossa pátria. Mais que vergonha chega a ser indignação o que se sente quando surgem notícias ou ecos de acontecimentos que lesam gravemente os interesses dos cidadãos, comprometem o desenvolvimento do país ou denigrem a imagem de Portugal no conjunto das nações civilizadas.
Entre os factores que mais põem em risco o futuro de Portugal como nação distinta e milenária, destaca-se o desprezo que os governantes dedicam à língua portuguesa. E não só. Os maus tratos à Língua começam na escola do ensino básico. Continuam no ensino secundário e prolongam-se no ensino superior. Os programas são deficientes. Muitos professores não se empenham. Os alunos não são estimulados para a apreciação e uso correcto do idioma nacional. Não se incentivam os estudantes a lerem persistentemente as boas obras da literatura portuguesa e a fazê-lo, sempre, na companhia do dicionário. Seguramente que a leitura dos clássicos é a melhor forma de aquisição de vocabulário, de apreensão da construção gramatical e de aquisição do sentido estrutural do pensamento – aquisição melhor conseguida se acompanhada pelos estudos da filosofia e da matemática.
Nos estabelecimentos escolares, nos jornais, nas rádios, nas televisões, nos diálogos dos cidadãos, instalou-se o hábito de tudo facilitar sincronizado com o repúdio dum mínimo grau de exigência e de rigor. Há por aí instalado um desarranjo intelectual que comporta a tara da condescendência absurda pelas asneiras gramaticais; a tácita aceitação dos erros ortográficos; a mania da exaltação (ao que chegámos!) da praga dos vocábulos sincopados introduzida pelo uso dos telemóveis; o uso desenfreado da aberração linguística representada pelos neologismos e estrangeirismos; a petulância idiota de certa gente em misturar termos estrangeiros (sobretudo, ingleses) nos títulos, nos textos publicados e nas falas; a descabida e insensata utilização das denominações inglesas das empresas, dos produtos e dos equipamentos.
Se a tudo isto juntarmos a inércia dos governantes que, falando mal e escrevendo pior, nada fazem no sentido de incrementar o bom uso da Língua e de dar forte impulso à sua expansão nos países lusófonos e pelo Mundo, fica definida uma situação que bem podemos classificar de descalabro total.
Certamente que fere a sensibilidade de qualquer português apegado aos valores pátrios ver, por exemplo, a palavra “Welcome” impressa nos tapetes (de fabrico português) das entradas das habitações. Arrepia ouvir um ministro afirmar que os portugueses “hadem” de fazer. Dá para entristecer e desalentar ouvir um professor universitário, mestre de Direito, ex-chefe de partido e comentador celebérrimo de televisão, repetir a todos os instantes: “última da hora”. Torna-se insuportável escutar as banais intervenções, em mau português, de ministros e de outras figuras públicas recheadas de termos ingleses e franceses. Chega a ser ultrajante ver e ouvir o presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, em Portugal, a pronunciar discursos em inglês. Ainda recentemente tal aconteceu no palácio de Belém no acto de condecoração de Bill Gates.
Entretanto, desencadeiam-se programas e acções de aprendizagem do inglês nas escolas de todos os graus de ensino. Simultaneamente, o Ministério da Educação toma a iniciativa de arredar os estudos da língua e literatura portuguesas dalguns escalões dos currículos escolares. Pior, ainda, faz-se de forma idiota e subserviente a apologia da língua inglesa ao ponto de a consagrar como opção prioritária abrangente dos diferentes níveis escolares. A evolução da informática serve de pretexto. Mas, aqui, é preciso dizer que se perderam oportunidades e se descurou a importância do Português como linguagem de programação de computadores. Nem sequer houve a lucidez de atender à circunstância de a nossa língua ser falada por aproximadamente duzentos e cinco milhões de indivíduos. Tão-pouco existiu o cuidado de atender ao previsível aproveitamento de um tão vasto mercado internacional certamente induzido pelo uso do português à escala planetária.
Por este caminho de apatia, de desleixo, de desvalorização da Língua e de abastardamento do orgulho nacional, não tardará muito que percamos a nossa autêntica identidade de portugueses. Depreende-se das intervenções da classe política que está traçada (melhor dizendo: decretada) a preponderância do Inglês na sociedade portuguesa. Logo, o Português tenderá a tornar-se uma língua de segunda escolha ou um adulterado dialecto regional.
Pressinto que, nessa altura, ninguém me entenderá quando falar ou escrever Português. Para já, em plena degenerescência.
A situação é preocupante.
SERÁ QUE, DAQUI A INSTANTES, ME VÃO IMPEDIR DE USAR A LÍNGUA PÁTRIA?...
OU SE INSISTIR NO PROPÓSITO IREI TER QUE PAGAR IMPOSTO?... (Como castigo por não dar apreço ao automatismo do Dr. Jorge Sampaio se expressar em língua inglesa… E por sábia e profiláctica decisão de espertalhaços membros do (des)governo com visão oportunista de longo alcance…).

P.S. - Aqui deixo esta observação: já vou recebendo por correio electrónico mensagens redigidas em inglês de portugueses residentes no país. Verdade que nem dou resposta. Valha a consolação de dois franceses me enviarem de França correspondência escrita em… português! A que acresce a satisfação de ter tido conhecimento que um casal inglês em viagem de turismo a Portugal, mal “arranhando” algumas palavras de Português, ter, numa livraria de Aveiro, feito questão de adquirir a minha obra “A QUINTA LUSITANA”.
Brasilino Godinho
Escreve semanalmente, às terças-feiras, no “Diário de Aveiro”

Nota informativa: Exemplares deste texto serão distribuídos pela seguinte ordem:
1 – fiéis leitores das obras do autor;
2 – amigos e conhecidos do autor:
3 – cidadãos sensíveis aos problemas que afectam a comunidade portuguesa.

domingo, fevereiro 19, 2006

A CORPORAÇÃO DOS DEPUTADOS É UMA FRAUDE LEGISLATIVA

"Esta assembleia de subsidiados da República que vem sendo eleita de quatro em quatro anos, cegamente submissa às vontades dos chefes dos grupos parlamentares, não será antes uma assembleia de comissionados, em representação das chefias partidárias, nada tendo a ver com os repúblicos que somos?
Como julgarmo-nos representados por uma garotada, autoconvencida, petulante,glutónica,desprovida de espírito de serviço público, arrogante,fanática,sem honorabilidade,desrespeitadora de si própria, sujeita aos jogos do seu partido,que com a maior desenvoltura e impunidade alardeia os maiores dislates, comete grandes atropelos à ética, menospreza princípios e valores básicos, que mente descaradamente, afirmando hoje o que desdiz amanhã, que engana o povo,que baralha os assuntos e que lança, deliberadamente, a confusão nas pessoas para mais facilmente extrair dividendos pessoais, benesses de classe e proveitos políticos? E não só...
Estaremos tão permissivos ao ponto de nos identificarmos com quantos parlamentares se manifestam a toda a hora empenhados em sacar do Erário o mais que a imaginação pode conceber e os alçapões das normas e das leis proporcionam aos menos escrupulosos?
Os portugueses que prezam os valores da cidadania poderão assistir com indiferença ao que se passa no Palácio de S. Bento, no que se refere a tudo aquilo que traduz postergação e explícita negação de valores imprescindíveis?
Será possível revermo-nos nessa gente? - Jamais!
"Deputados: nossos dignos representantes"? Quem o disse convictamente? - Nem uma coisa! Não a outra!"
-----------------------------------------------------------------------------------
"
Provavelmente, os parlamentares convenceram-se que está salva a honra do convento dos beneditinos. Os portugueses têm opinião diferente. Convergem na avaliação de que eles foram demasiado optimistas e precipitados. Porque os deputados têm-se perdido nos enredos de bastidores das capelinhas, foram impotentes nos gestos, desajeitados nas palavras, incompetentes nas acções e improdutivos nos propósitos. Consequências? Neles se concentra a desconfiança do povo. Povo que cada vez mais toma consciência dos escândalos nacionais que eles protagonizam sem pudor. A corporação dos parlamentares é uma fraude legislativa."

in "A QUINTA LUSITANA"

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Um texto sem tabus…
Em tempo de crise, poupe-se!…
Comecemos pela Justiça…

Brasilino Godinho
brasilino.godinho@
netvisao.pt)

1 - Em qualquer país civilizado a Justiça constitui-se como órgão institucional regulador da vida colectiva das respectivas populações. E prossegue esse desígnio, com a maior ou menor eficácia e proveito da sociedade, em continuidade do seu normal funcionamento; o qual poderá ser crescentemente valorizado e prestigiado consoante os legítimos termos da sua expressão funcional. Assim sucedendo é natural que a autoridade da magistratura se imponha por si própria, com brilho, sem muletas adjuvantes de outros órgãos e sem recurso a tabus e expedientes de última hora tendentes a desculpar ou justificar eventuais erros praticados pelos seus agentes.
Da visão do edifício da Justiça fixamos a imagem de uma construção cujos alicerces, compartimentos e elementos superiores, estão harmonicamente ligados e guarnecidos em conformidade com as normas do Direito. Porque assim é, cumpre-lhe interpretar os princípios da equidade, do respeito pelas prerrogativas cívicas dos cidadãos e agir em consonância com os valores da Ética, sempre numa perspectiva de ordem pedagógica e no interesse da comunidade. Costumamos dizer – e já o escrevemos bastantes vezes – que a Magistratura Judicial deveria ser a reserva moral da Nação. Empregamos o termo do verbo dever no modo condicional porque, infelizmente, a Justiça em Portugal está percorrendo uma via de descrédito que não augura nada de bom para o normal funcionamento da vida colectiva. Mais, corre-se o risco de se intensificar o descalabro em curso e, consequentemente, surgirem maiores entraves à correcção dos desvios, à regularização do sistema e ao restabelecimento da confiança dos cidadãos na justeza das leis e nos usos e devidas aplicações que lhes são dadas pelos agentes judiciais nos exercícios das suas funções.
2 – Dito isto, dêmos breve nota dos escândalos à volta dos processos da “Casa Pia”, da Universidade Moderna e de alguns outros que têm alimentado os tempos de antena, as páginas dos jornais e a curiosidade popular. Não é agora oportunidade para comentá-los exaustivamente. Porém, sem pretendermos arvorarmo-nos em juízes dos arguidos do primeiro processo mencionado e atendendo “ao andar da carruagem” nem ficaríamos surpreendidos se a conclusão final do julgamento em curso fosse esta: houve agressões sexuais; existem vítimas mas não há violadores culpados; excepto o “Bibi”, confesso autor de algumas violações e de proxenetismo. Todo o rigor da Lei irá recair sobre ele. Expiará pelas suas culpas e pelas de outros culpados. Para aprender… Devia ter escolhido nascer num outro berço. Preferencialmente de oiro. Não foi inteligente ou não teve a sorte pelo seu lado. Vá lá saber-se… Posteriormente, na condição de maior e emancipado, não teve a perspicácia de se encaixar nalguma protectora fraternidade. Descuidou-se… Aconteceu a desgraça… Azar dele… Alívio da (in)justiça…
Nas presentes circunstâncias importará reconhecer - em concordância com o tribunal - a existência de violados e, logicamente, admitir as probabilidades de o terem sido pelo Mafarrico ou por algum lobisomem infiltrado na Casa Pia. Claro que esses malvados seres não se deixam apanhar nas malhas da nossa justiça…
Também, não descartamos a hipótese de ser criada a figura do “agressor desculpado pela suposta razão de não ter sido o único”, à semelhança do caso do ex-professor de Moral (reparem: de Moral!...) José Beselga que, condenado em primeira instância a 6 anos de prisão e a €50000 de indemnização por abuso de uma criança deficiente mental, teve na 3ª. secção do Tribunal da Relação de Lisboa a pena reduzida para 4 anos de detenção e €25000 de indemnização à vítima. Qual foi o argumento do despacho dos três juízes que, por acaso, são os mesmos que libertaram Jorge Rito, Hugo Marçal e Paulo Pedroso, envolvidos no processo da Casa Pia? Este: reduzida a pena porque “ele poder não ter sido o único a fazê-lo”. Quiseram os juízes, no seu douto(?) despacho, dizer que a vítima para além dos sofrimentos causados pelos abusos do Beselga ainda deveria ser “castigada” ou prejudicada por, eventualmente, ter sofrido idênticas agressões de outros indivíduos. Uma “preciosidade” de formulação de juízo jurídico… que, até hoje, não mereceu qualquer desaprovação do Conselho Superior da Magistratura Judicial. Óbvio que tão esquisito despacho judicial abre o precedente da desculpabilização dos ilícitos criminais desde que haja da parte do juiz a presunção da vítima ter sido alvo de actos agressivos executados por terceiros.
3 - Se já chegámos ao ponto de desculpar os crimes de determinados indivíduos porque eles não serão os únicos a praticá-los então interroguemo-nos: para que serve a Justiça em Portugal? Ou há moralidade ou comem todos pela mesma medida. A partir de agora os juízes vão desculpar os criminosos sem excepções comprometedoras… É que se uns praticam ilícitos criminais muitos mais fazem o mesmo. Logo… desculpem-se os criminosos que, precavidamente, não inovam na natureza, na forma e no desacompanhamento da tradição criminal e… afinal, se limitam a executar crimes que toda a gente criminosa comete em jeito de rotina.
Decerto, que não faz sentido manter uma dispendiosa instituição judicial só para julgar e condenar delinquentes, virginais criaturas, que se distingam na prática de actos criminosos invulgares ainda não abrangidos pela classificação de usuais ou se admita a possibilidade de eles poderem ter sido os únicos a fazê-los.
4 - O que nos sugere a descoberta de um novo ovo de Colombo… metido de permeio entre as áreas da justiça, da economia e das finanças do Estado. Talvez, aqui, se busque a recuperação da nossa debilitada economia e o equilíbrio do Orçamento… o Zé Povinho na sua santa ingenuidade não deixará de interpelar o Governo: Por que havemos em época de grandes apertos financeiros e económicos suportar os elevados custos do sistema judicial? Para quê andarmos a fingir que existe uma Justiça posta ao serviço dos cidadãos? Porquê simularmos que o Estado português é uma pessoa de Bem? Este, será um Estado de Direito que se revê na prática dos preceitos da Constituição da República Portuguesa?
Cremos que a todas as interrogações o Zé Povinho prontamente responderá com um categórico: Não! Pela nossa parte acrescentaremos uma simples afirmação: trata-se de um Estado do faz-de-conta. O qual, umas vezes exibe sem pudor alguns rabos-de-palha e noutras ocasiões faz como muitos políticos espertalhaços: esconde-os o mais que lhe é possível e o consente a bondade dos chamados brandos costumes.
5 - Se - como indiciam os numerosos factos vindos a público de desacertos judiciais e das correlativas faltas de interesse dos dirigentes em os corrigir ou eliminar, - a Justiça já não é o que devia ser ou aquilo que, ainda há pouco, admitíamos ser; se não dá garantias de celeridade na sua administração; se já não é o supremo garante do Estado de Direito; se despreza o princípio da equidade na aplicação do normativo legal; se não se rege pelo respeito da Ética e pela aceitação dos direitos do vulgar cidadão; caros leitores, se até o Governo se prepara para controlar as investigações da PJ e do Ministério Público e seleccionar os crimes que deverão ser investigados, não há volta a dar neste calamitoso estado de injustiça e desgovernação deste país.
Portanto, se os Deuses não nos ligam patavina e não interferem em socorro do Zé Povinho e os homens, inclusive os magistrados, se estão marimbando para as comezinhas(…) questões dos deveres individuais, dos direitos dos semelhantes, do acatamento das leis e das correctas aplicações das regras da Ética e do relacionamento individual e colectivo que nos obrigam a respeitarmos todos, sem preconceitos de classe, de raça, de religião, não há dúvida que urge enfrentarmos os problemas suscitados com determinação e força de ânimo para, extraindo as ilações correspondentes, irmos em frente adoptando novos procedimentos.
6 – Repetimos: Se é este o deplorável quadro da justiça portuguesa acabe-se com o sistema judicial. Já!... Quanto mais depressa mergulharmos num estado anárquico menos complicada e traumatizante será a nossa adaptação a essa situação de anarquia, do salve-se quem puder e à malfadada condição de desprotegidos dum Poder que, deslumbrado na contemplação do umbigo, não sabe ou nem quer zelar pelos interesses e qualidade de vida dos seus súbditos.
Pensando, embora, com alguma bonomia e enorme esperança de algo lucrarmos na poupança da colecta que tal decisão pode suscitar aos contribuintes, prevenimos: não cobrarmos nada pela sugestão. Aqui, ela fica graciosamente apresentada com o maior respeito e as imprescindíveis vénias dispensadas aos inúmeros agentes dos serviços judiciais e a quantos seus visitantes regulares ou na iminência do serem.
Certamente, que os envolvidos no sistema ficam antevendo com satisfação os ditosos tempos, ora previstos, libertadores dessa obrigação incómoda… e chata, de frequentarem (por obrigação de ofício, devoção ou simples curiosidade) e usufruírem os soturnos ambientes das instalações do poder judicial e afins.

Mas, atenção! Se quem de direito não aceitar esta fantástica sugestão deverá assumir solene compromisso de liquidar, a curto prazo, o estado de torto em que se encontra Portugal. E faça tudo, absolutamente tudo, o que estiver ao seu alcance para, brevemente, a Magistratura Judicial ser a Reserva Moral da Nação!

domingo, fevereiro 12, 2006

Um texto sem tabus…

"Esse livro não existe em Portugal"…

1 - Hoje venho falar-vos de uma situação insólita. Misteriosa. Indiciadora de maléficas artes de ocultismo e manipulação da opinião pública. Igualmente, "habilidades" reveladoras de sombrios envolvimentos dos terríveis poderes escondidos que dominam a nação portuguesa. Provavelmente, trata-se da conjugação de acções e interesses de obscuros agrupamentos…
2 - É que muitos cidadãos, nos últimos meses, ter-se-ão iludido quanto à existência de uma coisa bastante identificada com o nosso mundo lusíada actual: a obra "A QUINTA LUSITANA". Terão ouvido falar dela e julgado vê-la; quiçá, experimentado a sensação de a adquirirem para seus gozos pessoais. O produtor da tal "coisa" também se terá convencido da sua intervenção criativa, transposta na representação formal, objectiva. E não só pessoas lograram tais sensações. Os jornais citaram-na e alguns até a publicitaram; provavelmente, equivocados quanto à sua realidade… A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros tê-la-á incluído na sua base de dados e na lista de obras literárias editadas fornecida aos seus associados. Também processado o depósito legal nº. 217928/04 no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Outras personagens quando acorreram às apresentações públicas do referido livro na Biblioteca Municipal de Aveiro e na Sociedade Portuguesa de Autores, em Lisboa, ter-se-ão deixado dominar pelas ilusões de óptica… Nem coisa, não a loisa. Tão-pouco os leitores da imprensa podem descartar a falta de atenção, a distorção e a facilidade da hipnose a que involuntariamente se sujeitaram. Depois, havia o suposto conhecimento do público acerca de uma empresa de Lisboa encarregue da distribuição dos livros por todo o País.
Deste modo, durante o ano 2005 - a crer na fonte que nos veio informar da descoberta de uma realidade que a todos passava despercebida - estivemos experimentando uma alucinação colectiva… Agora, por obra e (des)graça de magia ou maquiavelismo tudo aquilo percepcionado, dado como adquirido e mesmo realizado, situar-se-ia nos domínios do irreal. Verdadeiro, seria não existir o livro "A QUINTA LUSITANA". Afinal, um tudo feito de nada…
3 - Isto se depreende da indicação fornecida pelo gerente de uma conhecida livraria de Lisboa a um cidadão de Viseu, cliente interessado na compra de "A QUINTA LUSITANA", de minha autoria; a qual, dada em tom colérico, foi a seguinte: Esse livro não existe em Portugal! (Toma e embrulha, como diria o actor cómico Badaró… Repare-se na tónica: "não existe em Portugal". Sem esquecer o vigor da "certeza" da não existência do livro. Ou menosprezar as subentendidas repulsa e condenação da obra incómoda. Engraçado e sugestivo…).
Claro que o cidadão, interessado comprador da obra - que não me conhecendo pessoalmente teve a gentileza de, ontem, pelo telefone (e á semelhança do que outros interessados leitores fizeram anteriormente) me transmitir a ocorrência - esqueceu-se de observar ao desabrido gerente: Se "A QUINTA LUSITANA" não existe em Portugal onde encontrá-la?… Na China? Na Patagónia? Algures em África? No Japão? Talvez no Pentágono americano? Nas caves do Vaticano? Ou nos esconsos da sede da polícia secreta de Israel? Mas, lembrando-me de alguns procedimentos indecentes de que fui vítima, eu perguntaria: Os exemplares desse livro não existirão "confiscados e armazenados" nalguma sua conhecida "loja"?
4 - Aliás, o expediente de ocultar a obra, "A QUINTA LUSITANA", de dizer aos clientes que não é conhecida ou que não se encontra á venda (em vários casos com dezenas de exemplares colocados em depósito na arrecadação) vem constituindo prática abusiva e desonesta nalgumas livrarias de Aveiro, de Lisboa e do Porto.
5 - Descodificando o enunciado, num breve apontamento, deixamos ao público a informação das formas abjectas como em Portugal se continua a fazer censura nas editoras, nos estabelecimentos livreiros e, sobretudo, nos jornais de circulação nacional e nas televisões. Censura pior que a efectuada pelas comissões de censura dos tempos de Salazar. Porque oculta, cobarde e feita à sorrelfa. - o que é um profundo escândalo. E, suprema vergonha, (outrossim, refinada violação das normas da cidadania e dos princípios democráticos), dando cumprimento a orientações provenientes de organizações que privilegiam o secretismo, desenvolvem influências e exercem poderes ocultos que minam os alicerces da portugalidade e, sobremodo, redundam em prejuízo da sociedade portuguesa.
6 - Concluindo, verdadeiramente, não há uma única realidade; mas, sim, duas realidades:
- A primeira, de afirmação. Verdadeira. Tangível. A obra "A QUINTA LUSITANA" existe! É séria! É isenta! É Invulgar! Os seus exemplares estão espalhados por todo o País.
- A segunda, de negação. Sectária. Tosca. Primária. Ela expressa a condenação, formulada pelos directórios dos partidos, pelos mestres maçónicos e pelas hierarquias da Opus Dei, de "A QUINTA LUSITANA" ser "queimada" nas fogueiras do esquecimento. E porque, na actualidade, estas organizações não dispõem da sanha dos esbirros da Inquisição ou da prestimosa colaboração dos agentes da PIDE adveio a decisão drástica traduzida na imperiosa directiva: O livro não existe!
Contraponho: E quem disser o contrário? Afirmo: Certo que não mente! Porém, mostra não "ir à bola" com a complexa aliança formada pelas capelinhas, pelas irmandades, pelos aparelhos partidários e pelos clãs mais ou menos fraternos … O que é, admito, para as ditas e os cujos, uma grande chatice…

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Um texto sem tabus…
Marcelo e Soares, tal e qual o peixe…


1 - Diz o ditado: “Pela boca morre o peixe”.
E Marcelo Rebelo de Sousa, à semelhança do peixe, suspenso do anzol, estrebuchando até ao estonteamento, frenético, vai perdendo forças e equilíbrios…
Embora nalgumas ocasiões fale menos do que devia… se no cumprimento da ética, em muitas ocasiões conversa de mais, principalmente nas intervenções aos domingos na TVI e, recentemente, nos tempos de antena concedidos pela RTP. Se em tempo passado perdeu a chefia do PSD, no dia 22 de Janeiro de 2006, não tendo perdido a eleição e tendo ganho o seu candidato, cantou vitória pessoal. Ou não tivesse sido a pessoa que mais promoveu o candidato Cavaco Silva. Mas com um preço exorbitante: o descrédito que advém da abrangente incoerência que vem evidenciando com alguma regularidade.
Vejamos: Para só nos cingirmos à questão Cavaco Silva, o professor Marcelo Rebelo de Sousa foi, no congresso do PSD realizado na Figueira da Foz, o militante que mais manobrou nos bastidores para ser conseguida a eleição de Cavaco como novo chefe do partido. Certamente, no pressuposto de ele ser o mais credenciado e competente entre os concorrentes propostos na agenda eleitoral.
Mais tarde, em Maio de 1995, pós saída de Cavaco Silva da chefia do governo português, num tom peremptório, classificou-o de medíocre e inculto – o que provocou um enorme estardalhaço. Nessa altura, os portugueses, atónitos, deduziram que Marcelo se precipitara e enganara na escolha que fizera anos antes no casino da Figueira da Foz. Com o gravame de ter arrastado bastantes correligionários no engano.
Há três anos propôs o lançamento da candidatura de Aníbal Cavaco Silva à presidência da República. Perplexos, interrogámo-nos: Como assim? Ele, Marcelo Rebelo de Sousa, primeiro, na Figueira da Foz, considerou Cavaco Silva “bestial”; depois, quando este seu companheiro de partido saiu do governo, classificou-o de “besta”; e a seguir, há três anos, volta a recuperá-lo como “bestial” (socorrendo-nos dos termos futebolísticos que estão em voga).
Desde então (2003), o conhecido “criador de factos políticos” foi desenvolvendo de forma continuada, obsessiva, a promoção do “seu” candidato. Todo este percurso de Marcelo representa um contínuo ziguezague de incoerências que não é susceptível de ser iludido. Digam-nos: onde está o fio condutor de coerência, de ética e de objectividade, de Marcelo Rebelo de Sousa?
Assim, o professor doutor Marcelo Rebelo de Sousa tem vindo a perder credibilidade. Na actualidade, as suas opiniões valem aquilo que valem… e os factos demonstram. Sem margens para dúvidas ou desculpas de mau pagador de promessas…
2 - Mário Soares que perdeu a eleição presidencial de 22 de Janeiro 2006, por vários motivos, teve na boca a causa primeira, de ordem pessoal, desse desaire. Por duas vezes, no espaço dum ano, em momentos cruciais, falou demais. Melhor teria sido se estivesse calado.
A primeira vez que tal aconteceu foi quando do jantar de celebração dos seus oitentas anos afirmou que ali acabava, irrevogavelmente, a sua actividade política. Disse: Basta! A segunda vez em que meteu o pé na argola aconteceu com aquele gesto de convidar Cavaco Silva a proferir uma palestra sobre política nas instalações da Fundação Mário Soares no lugar de Cortes, concelho de Leiria. Ali, sem meias-medidas ou contenção na língua, afirmou que Cavaco Silva tinha qualificação para ser um bom presidente da República. O que foi um espanto. Deixou os portugueses de boca aberta.
Se quanto à decisão de pôr termo à carreira política houve um generalizado consenso sobre a sua certeza e oportunidade, já a apreciação elogiosa a Cavaco causou estranheza a muita gente, visto que ainda se mantinham vivas as recordações das críticas depreciativas que Soares e os socialistas sempre fizeram à governação cavaquista e à personalidade do antigo dirigente do PSD. Também em vários sectores da população portuguesa havia a opinião de que Cavaco Silva tinha falhado como político e governante. Aliás, como asseverava o seu insuspeito correligionário, antigo presidente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa.
Com estas duas atitudes Mário Soares ficou irremediavelmente condenado à definitiva reforma política.
Posteriormente, esqueceu-se disso. Há meses quando anunciou a sua candidatura à presidência da República no claro intuito de contrapor-se a Cavaco Silva por julgá-lo inapto para o cargo, Mário Soares não terá feito uma avaliação correcta das circunstâncias que o condicionariam na campanha eleitoral. Pese, embora, o espírito combativo e a determinação no objectivo, ele não se compreendeu a si próprio. Desapercebeu-se das suas fragilidades política e ética, decorrentes do rompimento da voluntária promessa de abandono do combate político e da previsível contradição insanável entre o rasgado elogio do bom candidato Aníbal Cavaco Silva e os posteriores e inevitáveis reparos que viria a formular sobre o adversário, apontados no sentido de dizer aos eleitores que, afinal, o seu antagonista mais directo deixara de ser bom para passar a mau – quiçá, por ele, Soares, agora estar na liça.
Pelo que se viu durante o ciclo da intensiva campanha eleitoral Soares não se ficou pelos lapsos de linguagem; igualmente deu tiros nos pés. Daí, fraquejar-lhe o “pio” de habilidoso passarão habituado a pairar nas nuvens do nosso espaço político. Exactamente por não ter a autoridade moral - que lhe escapou na (referida) segunda emissão de voz - para desacreditar Cavaco molestando-o nos seus pontos fracos e vulneráveis, destacados pelo Prof. Marcelo Rebelo de Sousa: “a incultura política e não só” e aquele que foi “o triunfo da vulgaridade” no exercício da função de chefe do governo. Neste aspecto, Mário Soares ficou manco. A partir desta constatação percepcionada pela maioria dos portugueses Soares foi-se atrasando na marcha rumo ao palácio de Belém. A derrota terá que assumi-la como expiação dos pecados da renegada promessa e da descabida, imprevidente e incómoda exaltação do futuro concorrente. É caso para nos interrogarmos: onde Soares tinha a cabeça?... Na Lua? Ou enterrada na areia, imitando a avestruz?
3 - Quaisquer que sejam os ângulos de apreciação das discrepantes, antagónicas, atitudes do ex-chefe do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa e das incontinências verbais do patriarca do PS, Mário Soares, ressalta a característica comum de muitos políticos e governantes portugueses – qual marca negativa de identificação no seio da nossa sociedade - que se resume em três palavras: falta de coerência.
Acontece ser a coerência aquela insubstituível qualidade do ajuste dos nexos entre as ideias ou entre os factos. Também, da conexão lógica entre umas e outros. Se todos temos a obrigação de ser coerentes, dos políticos e dos governantes se espera que estejam na primeira linha dos que se preocupam em respeitar esse grande valor da cidadania. E nem será por mera casualidade. A eles cabem muitas responsabilidades decorrentes de actuarem como agentes operacionais e mentores da gestão da política nacional em representação do colectivo de cidadãos. Igualmente, a estes devem proporcionar exemplos enriquecedores de ordem pedagógica conducentes ao enraizamento de mais qualificadas formas de estar em sociedade.
Retendo este dado, vamos um pouco além: tomemos consciência do respeito que nos devemos a nós próprios e aos concidadãos. O qual se manifesta pela aplicação que damos aos princípios e pela transparente e objectiva aceitação dos valores que regulam o nosso viver quotidiano e o normal funcionamento da vida colectiva.
E agora, a inevitável observação: sendo os políticos e os governantes tão relapsos no incumprimento da coerência é desejável que sempre que “ponham o pé na poça” haja uma reprovação geral que, de algum modo, lhes faça mossa e os leve a baixar a emproada crista de capões de muitos altos poleiros que uns se arrogam de ser e a pôr no seu apropriado lugar os garnisés insignificantes que outros são.
Um texto de Brasilino Godinho
(Autor de: “A QUINTA LUSITANA”)
(brasilino.godinho@netvisao.pt
http://quintalusitana.blogspot.com/

Nota informativa - Exemplares deste texto serão distribuídos pela seguinte ordem:
1 – fiéis leitores das obras do autor;
2 – amigos e conhecidos do autor;
3 – cidadãos sensíveis aos problemas que afectam a comunidade portuguesa.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Um texto sem tabus…
E agora? - Veremos… como dizia o cego Palonço.

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1 – Para vós, leitor amigo e leitora simpática - decerto, atraente e gentil como, geralmente, são as mulheres do nosso encantamento - vá lá uma pequena (ou grande?…) provocação: qual a parecença entre Cavaco e a formiguinha?
A explicação é simples. Enquanto a formiguinha, curioso insecto de comprovados instintos sociais vai, ao longo da sua existência, trabalhando laboriosamente na recolha de víveres e, assim, aprovisionando mantimentos que lhe darão sustento e condições físicas e anímicas (por que não isso considerar no pequeno ser?...) de mobilidade e continuidade de vida; também Cavaco – a singular essência de mamífero primata, bípede e sociável, vivinho como a sardinha da costa portuguesa acabada de pescar, ágil, matreiro, persistente calculista das mais imprevistas searas, boa pessoa, distinto chefe de família, mestre contabilista de poucos ganhos e de muitas perdas da nossa desventura colectiva, curioso espécime de animal político, apreciada consequência daquela coisa que resultou das voltas da roleta do Casino da Figueira da Foz no decurso dum célebre congresso da família das Rutáceas, cujos acídicos frutos (laranjas e laranjinhas), numa época recente, se transformaram numa praga ameaçadora para o equilíbrio ecológico da terra lusa, cobiçosa personalidade que, não obstante ser algo desengraçada, integra as forças vivas da sociedade portuguesa - não se resignando, após a saída do governo, a ser uma folha caída, imprestável, da grande árvore do Orçamento da Pátria a que se abrigam todos quantos desempenham pequenos ou grandes papéis no apalhaçado circo político em que se converteu a desgovernação deste país e atento observador da natureza animal, inspirando-se no exemplo daquela criaturinha optou por imitá-la e prosseguir durante os últimos dez anos uma indiscreta actividade nutricionista tendente ao fortalecimento da matéria corpórea, à estilização dos gestos, das poses, das atitudes e à melhoria do indeterminado substrato. Para um observador distraído seriam pequenas coisas que, passando despercebidas ao cidadão comum, eventualmente, poderiam revestir alguma importância para o sujeito em foco. Ainda assim, qual? Um dado parecia certo: Cavaco procurava atingir melhor visibilidade quando se apresentasse na praça pública. Mas, para quê tal exposição e adorno?

2 - A cavacal figura tinha-a fisgada…
Particularizando: o esforçado político algarvio desenvolvendo tantos trabalhos e empenhos almejava atingir metas bem congeminadas no seu íntimo. Desde logo e durante a precedente década, criar adequada, flexível e robustecida estrutura física, vivificar a empedernida alma e dilatar a periclitante fama, com o objectivo de aguentar a corrida até à presidência da República. Nos últimos meses agigantando-se nessas tarefas, apoiado nas inúmeras contribuições logísticas advindas dos potentados financeiros e nas cumplicidades sabiamente (melhor dizendo: escandalosamente) distribuídas por televisões e jornais de maior influência na opinião pública que o apaparicaram, o trouxeram nas palminhas e, dessa especial maneira, lhe proporcionaram resguardo, conforto e incentivo, ele, tendo-se excedido no propósito, contemplado nos trabalhos, enaltecido nas canseiras e prometendo mundos e fundos, finalmente, a 22 de Janeiro de 2006, logrou ser escolhido para o ambicionado lugar no palácio de Belém.

3 - Pois… Aníbal Cavaco Silva triunfou! O novo presidente festeja! Um coro de fiéis amigos e correligionários aclama-o. O PSD rejubila. O PP põe-se nos bicos dos pés e bate palmas. Contra todas as aparências, tem razões de sobra para o fazer e para reclamar o devido reconhecimento da sua valiosa parceria como intermediário na corrente dos apoios.
Ocorre inquirir: só as referidas entidades atingiram o êxtase do contentamento? Não!
Está aí, radiante, objectivamente muito senhora de si, a instituição que mais contribuiu para a vitória de Cavaco Silva: a OPUS DEI! A grande vencedora! Escondida e silenciosa que nem uma rata de sacristia. Porém, com a habitual discrição e remetendo-se aos seus misteriosos cenáculos, ela aplaude e celebra o resultado eleitoral do dia 22 de Janeiro de 2006. Até na hora da vitória que é muitíssimo sua, todo o mundo, de forma conveniente e ajustada à índole da poderosa “fraternidade”, se esqueceu dela.
Também importa referir a satisfação com que nalgumas “lojas” se encara a eleição de Cavaco Silva para a suprema magistratura do Estado.
A propósito, anota-se que sobre as associações que fazem do secretismo a sua forma de vida, pairam tabus, por sinal, bastante gravosos para a nossa amargura colectiva…

4 - Mais uma vez se consagrou aquilo que estando à vista de toda a gente é interesseiramente negado por alguns comentadores desonestos e não conhecido por pessoas incapazes de pensar sem subordinação a interesses ou ideias alheias. Queremos referir-nos à decisiva importância que os órgãos de comunicação social têm na transmissão das mensagens e na aceitação que o público lhes dá. No grau cimeiro dos resultados da promoção das candidaturas e quaisquer que sejam as eleições, as redes televisivas têm um papel fundamental e preponderante. Isso é conseguido pela enorme dependência da maioria da população face à TV, pelos impactos das imagens e pelas artificiosas práticas de insinuação e manipulação das mentes dos telespectadores. Por exemplo: em tempos idos, no Brasil, foi a Rede Globo de Televisão que “levou ao colo” Collor de Melo à presidência da República Federal do Brasil. Igualmente, o antecessor de Lula, Fernando Henrique Cardoso, teve as duas eleições asseguradas porque contou com o indispensável patrocínio da TV Globo. O actual presidente, Lula da Silva, após três tentativas falhadas só conseguiu ser eleito à quarta vez por, na derradeira fase da respectiva campanha, ter conseguido captar a simpatia e o apoio de Gilberto Marinho, ao tempo, o poderoso dono da TV Globo.

5 - Atendo-nos ao caso português ora protagonizado por Cavaco Silva dizemos o seguinte: as estações RTP, SIC e TVI, conjugaram esforços e atenções na descarada promoção de Cavaco Silva. Nota saliente e insólita, representativa dessa prestante colaboração, foi-nos dada pela SIC no próprio domingo da eleição. Enquanto decorriam as últimas votações e antes das 20 horas – a hora em que foi anunciada a previsão do candidato vencedor - a SIC transmitia uma entrevista com uma jovem senhora que, a pretexto de análise à campanha eleitoral e suscitando o visível agrado e embevecimento da entrevistadora, ia fazendo apreciações que, pelo tom e expressões utilizadas, constituíram um indecoroso e patético esforço para instigar os telespectadores indecisos a irem votar em Cavaco Silva. Impressionante a desfaçatez daquele encapotado apelo de última hora.
Claro que o poder de influência e persuasão das televisões junto das camadas populares constitui um assunto sério e complexo sob variadíssimos ângulos. Preocupante. A impor urgente dissecação pelos especialistas descomprometidos de diversas áreas científicas. Trata-se de um problema com a maior gravidade em Portugal dado o exagerado número de milhões de analfabetos primários, funcionais e culturais. Todos, uns mais que outros, experimentando grandes dificuldades na compreensão das comunicações orais e escritas e na apreensão do sentido das coisas e dos procedimentos. E, consequentemente, impossibilitados de darem forma a qualquer análise crítica sobre aquilo que ouvem ou vêem, que os habilitem a fazer escolhas de acordo com os seus interesses pessoais e os de ordem geral com relevância para a comunidade. Também incapazes de descodificarem os capciosos expedientes a que recorrem certos indivíduos, verdadeiros profissionais na arte de confundir e intrujar o semelhante. Pior, ainda, o extraordinário domínio exercido pelos poderes ocultos nas diferentes áreas da comunicação social, com relevo para as televisões; o qual, se reflecte negativamente no seio da sociedade portuguesa.
Muito estranho que a alta entidade que supervisiona os processos eleitorais não tenha reagido à flagrante violação (atrás mencionada) da respectiva lei, por parte da estação televisiva SIC.

6 - O ciclo intensivo de propaganda, designado “campanha eleitoral”, terminou. Não deixa saudades, se tomarmos em linha de conta o obsceno festival dos esbanjamentos dos consumos, dos insuportáveis e pirosos espectáculos folclóricos, das deprimentes manifestações de incivismo, das excessivas atitudes hipócritas, das indecorosas faltas de coerência e de ética, dos comportamentos imbecis e dos despautérios protagonizados por alguns intervenientes. Uma triste e deplorável sucessão de acontecimentos à medida do estado geral de degradação da sociedade portuguesa.
A eleição presidencial concretizou-se. De imediato, o viciado círculo político retomou a habitual rotina diária de propaganda eleitoral. O Dr. Jorge Sampaio prestes a desocupar o palácio de Belém, saldando contas e dedicações, vai se despedindo em beleza – condecorando, em série, diversos amigalhaços e confrades. São gestos de longos alcances, indispensáveis, bonitos, pomposos, elegantes… Afinal, a actual República é generosa e compensatória para alguns predestinados nativos de Lisboa. Ela também sabe enfeitar-se e envaidecer-se consoante as circunstâncias e os requintados gostos dos seus chefes de turno…
Já anunciado: o novo presidente da República tomará posse do cargo em Março próximo. Abram alas! (Por favor, não o molestem!). Vem aí, correndo, impetuoso, abnegado, magnífico, o novo salvador da Pátria…

7 - Aparentemente, estão ressalvadas as normas democráticas. Tudo conforme os arreigados usos e costumes. O Governo desatina. A Assembleia da República estrebucha e desentende. A Justiça vacila. A Igreja contempla. A Comunicação Social (alguma bem-mandada) entretém-se e confunde. A Nação queda-se aturdida… talvez sob hipnose. O Zé Povinho está quase nu, de tanga cada vez mais esfarrapada…
Entrementes, Portugal hiberna…
Agora, aos indígenas lusos que somos, resta-nos ir acompanhando a marcha do tempo. E, como dizia o cego Palonço: Veremos!?…
Brasilino Godinho
E-mail: brasilino.godinho@netvisao.pt)
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