Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

domingo, setembro 30, 2012


Vamos lá destrinçar a ligação
entre o “inteligente” Borges
e os “ignorantes” empresários…
Brasilino Godinho

Hoje, no Fórum Empresarial do Algarve, o economista António Borges, mandatado consultor do governo, encarregue de processar as privatizações das grandes empresas nacionais, disse: “Os empresários que estão contra a TSU são completamente ignorantes”. E, com alguma pesporrência, acrescentou: “E não passariam no primeiro ano do meu curso na faculdade”. Não satisfeito com o seu desplante, rematou: “A medida era inteligente” .
Como se apreende é fácil a um artista mui vocacionado para tais efeitos supostamente habilidosos, usar um breve tempo de elocução para dizer tão grandes barbaridades. E neste campo das facilidades de obscura expressão, o homem das privatizações em curso já nos habituou a várias espécies de dislates, mais ou menos ofensivos, apontados quer à comunidade, quer visando directamente determinados sectores da mesma.
A criatura Borges está convencida de que é um personagem “completamente” inteligente que vive num país onde todos seus compatriotas, incluindo os empresários, serão “completamente ignorantes”. Se assim fosse ele era um homem feliz, atendendo ao facto de que em terra de cegos quem tem olho é rei.
Que o sujeito tem olho, embora vesgo e de visão restrita, unilateral, não há dúvida. Todos temos essa convicção. Só que imensos portugueses não são ceguetas. Daí, António Borges nem ser rei de qualquer coisa ou de simples sucata. Quiçá, por esta circunstância pessoal, seja infeliz…
Além de que ele terá, indubitavelmente, metido mais uma vez o pé na poça. Para além da deselegância no procedimento, da grosseria da expressão e da gratuita ofensa aos empresários, está por demonstrar que a atitude do economista António Borges corresponda a um elementar factor de inteligência. Pelo contrário, custa admitir que tal postura releve de inteligência e seja, ela mesma, admissível como medíocre ou de mediano alcance.
Por outro lado, com que fundamento, apurado sentido de faculdades de alma ou, ainda, qualquer competência nas áreas do conhecimento, da psicologia clínica e das ciências neurológicas, o economista Borges se permite classificar os empresários discordantes da famigerado TSU de “completamente ignorantes”. Certamente, fá-lo presumindo ser “completamente” inteligente. Sobre tal apressada presunção própria, provavelmente não faltarão comentadores que contraponham a interrogação: Não será ele “completamente ignorante” nas matérias que extravasam da sua área especializada: a económica? E mesmo nesta, será a sumidade que se lhe atribui?
A infeliz referência à Faculdade de Economia que frequentou também é tiro dado pela culatra. E a instituição sai ferida neste indecoroso desencontro com o recomendável bom senso. Pois que ela não se deverá rever em quem demonstra ser uma personalidade com algumas deficiências nas imprescindíveis componentes da formação cívica e da educação. Isto considerando que a universidade não se deve limitar a instruir, a ministrar conhecimentos, mas sim a formar homens íntegros, de mente sã e compenetrados dos seus deveres de cidadania e de respeito para com o próximo. Também, preparando para a vida pessoas naturalmente predispostas ao inequívoco cumprimento dos preceitos da igualdade, da solidariedade, da liberdade, da tolerância e da transparência.
Quanto à “inteligente medida” está comprovada a sua ineficácia e a generalizada convicção da sua bizarria eivada de insensatez. Tão-pouco lhe assenta a classificação de inteligente, segundo a abalizada opinião de conhecidos especialistas e se depreende da sua vacuidade.
A maioria dos economistas, os empresários, os trabalhadores e inúmeros portugueses, preenchem o leque classificativo dos “completamente ignorantes” atribuído por Borges; o qual, dando-se a conhecer como o autor ou um dos autores da destrambelhada ideia, se exclui, implicitamente, da condição de “completamente ignorante” para se figurar, de forma atrevida e expediente abusivo, como completamente inteligente.
Para melhor elucidação dos leitores neste domínio das completas ignorâncias induzidas por António Borges e da completa inteligência que por iniciativa própria lhe subjaz, nada melhor que o testemunho de uma reputada entidade estrangeira. Por sinal, integrante da ala da Direita da política norte-americana. Ou seja: da mesma família política de António Borges.
Com a devida vénia, transcrevemos um despacho de Lusa/SOL:

29 de Setembro, 2012
Um artigo na revista do American Enterprise Institute (AEI, influente 'think tank' da direita norte-americana) descreve a proposta de reduzir a taxa social única (TSU) como «um autogolo» do Governo.
«O Governo parece estar a caminho de agravar os problemas económicos e políticos do país ao propor uma má solução para a perda de competitividade», escreveu Desmond Lachman, investigador do AEI, na revista 'online' "The American".
O AEI é um dos institutos mais influentes no pensamento político dos EUA, assumindo uma perspetiva de direita. Esteve particularmente ligado à política externa dos governos de George W. Bush. Várias figuras associadas ao AEI, como Richard Perle, Paul Wolfowitz ou John Bolton, tiveram cargos nas administrações de Bush.
O artigo sobre a TSU, datado de 20 de setembro, critica a proposta (entretanto abandonada) de mudanças às contribuições para a Segurança Social, argumentando que «a última coisa de que Portugal precisa agora é de mais cortes substanciais à procura agregada».
Desmond Lachman, um britânico que foi diretor do banco de investimentos Salomon Smith Barney, compara a proposta do Governo «à ‘poll tax’ proposta por Margaret Thatcher no Reino Unido em 1989, que tantos custos políticos teve» para a então primeira-ministra inglesa.
No entanto, afirma o investigador do AEI, «o aspecto mais preocupante desta proposta é que faz muito pouco sentido em termos económicos» (sublinhado de Brasilino Godinho).
O Governo propôs no início deste mês uma redução de 5,75 pontos percentuais na contribuição das empresas para a Segurança Social acompanhada por um aumento de sete pontos na contribuição dos trabalhadores. O Executivo esperava que a medida resultasse numa redução do desemprego.
Lachman conclui o seu artigo escrevendo «esperemos que o Governo português mude de ideias sobre esta proposta», o que de facto acabou por acontecer.
Lusa/SOL
 P. S. Esta é a primeira e julgo que a última vez que escrevo sobre as desastradas palestras do economista António Borges. Não vale a pena gastar tempo a comentar as suas inconcebíveis opiniões; que, aliás, vão sendo cada vez mais incongruentes e predestinadas a suscitarem generalizada repulsa e a conveniente desvalorização.
Brasilino Godinho

sábado, setembro 29, 2012


O sublime discurso

do Reitor da Universidade de Coimbra

Brasilino Godinho

No p. p. dia 19 de Setembro o Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, Professor Doutor João Gabriel Silva, pronunciou na Sala dos Capelos, da universidade conimbricense, um discurso de celebração do início das aulas.

Trata-se de uma peça oratória de muito grande importância que deve ser lida e meditada pelo maior número de cidadãos deste país.

Por essa razão transcrevemos um excerto do discurso onde constam duas propostas que deveriam merecer o melhor acolhimento por parte do governo.

“Portugal já passou por momentos piores do que os atuais: a fome e a morte durante as grandes guerras do século XX, a noite de chumbo do Estado Novo e da guerra colonial, a guerra civil e as invasões francesas no século XIX, a perda de independência no final do século XVI e a guerra para a recuperar no século XVII, o garrote da inquisição dos séculos XVI ao XVIII, as pestes recorrentes na Idade Média, entre muitos outros.
Sobreviveremos também a esta crise, bem menor que essas outras. Portugal é um país de resistentes. Somos um povo que muitas vezes não se sabe governar, ou não teríamos chegado a esta situação, mas que sempre consegue descobrir a energia que lhe permite sair rijo da tempestade.
Quero por isso renovar a palavra simples que vos quis trazer quando tomei posse: o otimismo. Creio firmemente que a Universidade de Coimbra, graças ao intenso trabalho de todos, sairá reforçada desta crise.
Há, no entanto, um grave perigo que paira sobre nós: o envelhecimento. Uma Universidade é, em primeiro lugar, as pessoas que a compõem, e nenhum reitor pode assistir, sem manifestar a sua indignação, à progressiva degradação dos salários dessas pessoas. Mas também não pode assistir ao envelhecimento do seu corpo de professores, por indisponibilidade financeira para contratar tantos jovens brilhantes que ficam no desemprego. Estes jovens podem contribuir decisivamente para o avanço do conhecimento, a única verdadeira esperança para Portugal criar a riqueza necessária para sair da crise, e nós estamos a deixá-los inativos, ou a levá-los a emigrar contra a sua vontade. A crise que nos colocou nesta situação é-nos inteiramente exterior.
A Universidade de Coimbra, como outras universidades portuguesas, não tem dívidas nem pagamentos em atraso. No entanto, por sermos tão profundamente afetados por ela, sinto a obrigação de, em defesa da instituição que represento, me pronunciar sobre a origem da crise e sobre a forma de a debelar.
 É neste contexto que pretendo realçar hoje duas propostas que reputo de centrais para a compreensão e resolução da crise. Não são inéditas mas, no meu entendimento, não têm tido a atenção prioritária que deveriam ter. Não quero produzir, como tantos, apenas uma declaração de oposição ao que está a ser feito por causa da crise: quero apresentar propostas concretas.
Em primeiro lugar, penso que é necessário definir melhor os limites do mandato dos nossos governantes. Sendo eleitos apenas pela geração atual, entendo que os Governos não estão mandatados para gastar o dinheiro das gerações futuras. Muitos dos jovens que sofrem os terríveis níveis de desemprego atual, e continuarão a sofrer no futuro próximo, nem sequer ainda tinham direito de voto quando foram tomadas muitas das decisões que nos levaram a esta situação. Tem de haver um limite ao que os governos podem pedir emprestado. A Constituição da República Portuguesa, garante da nossa liberdade e da nossa soberania, que por causa disso estabelece tantos limites à ação dos Governos, tem de conter também balizas para o endividamento, pois neste momento nada limita mais a nossa soberania, a nossa capacidade de escolher o nosso destino, a nossa liberdade, do que o peso sufocante da dívida. A Constituição tem de nos proteger da dívida excessiva, tal como nos protege de tantos outros abusos de poder.
A segunda proposta é mais profunda. A estrutura de impostos em Portugal tem de começar a mudar. A recente decisão do Tribunal Constitucional de declarar inconstitucional o corte dos subsídios salariais na função pública, "por violação do princípio da igualdade", convoca-nos para a discussão do que poderá ser uma distribuição justa do peso da dívida. Sendo a matéria em apreço de nível constitucional, importa lembrar que o objetivo último da organização da sociedade é permitir a todos viver com dignidade, quer agora quer no futuro. Nos tempos atuais poucas circunstâncias comprometem mais esse objetivo do que o desemprego, que leva à falta dos recursos mínimos indispensáveis a essa dignidade. Recuso por isso que a discussão sobre a distribuição do peso da dívida se reduza à discussão da sua repartição entre os salários do setor público e os salários do setor privado. Temos sim de encontrar mecanismos que retirem esse peso dos rendimentos do trabalho, parando e até invertendo o crescimento da carga fiscal sobre os salários. Se os custos com as pessoas são muito elevados, todas as instituições e empresas vão tentar ter o mínimo de pessoas, e ninguém as pode censurar por isso. É uma questão de sobrevivência. A carga fiscal muito elevada sobre o emprego é causa direta de desemprego. Reconheço que, em tempo de crise, não se pode pedir ao Estado para prescindir de receita. No meu entendimento há duas origens alternativas aos rendimentos do trabalho: os recursos naturais não renováveis e as transações financeiras. Vou debater apenas esta última pois não podemos esquecer que a origem primeira da atual crise é o descontrolo dos mercados financeiros, com a sua quase ilimitada capacidade para gerar especulação tóxica.
Defendo a introdução em Portugal de um imposto sobre as transações financeiras. Não é uma ideia nova; já foi muitas vezes aplicada em vários países. Por exemplo, no Brasil foi um dos instrumentos centrais que permitiu sair da época de hiper-inflação do final do século passado e entrar no atual período de forte desenvolvimento. Custa-me que em Portugal quase nunca se fale deste assunto, apesar de ser um importante motivo de discussão na Europa. Ainda agora uma sua versão bastante mitigada foi introduzida em França, e a chanceler alemã também a defende, como forma de financiar os mecanismos de estabilização financeira europeus
Uma variante particularmente conhecida foi proposta pelo já falecido Prémio Nobel da Economia James Tobin como forma de estabilização dos mercados cambiais, sendo por isso conhecida como "taxa Tobin". A ideia é aplicar a todos os movimentos bancários um imposto muito baixo, por exemplo de apenas 1%. Pode parecer pouco, e é pouco de facto, mas o volume das transações bancárias diárias é tão elevado que mesmo uma taxa baixa geraria montantes relevantes.
Portugal é um país particularmente adequado para uma taxa deste tipo, pois tem um sistema bancário muito evoluído, e um sistema de pagamentos eletrónicos dos mais avançados e mais abrangentes do mundo. É um imposto muito simples, pois não envolve o preenchimento de declarações por parte dos cidadãos, e muito robusto contra evasões fiscais, pois quase todo o dinheiro passa pelos bancos. A maioria esmagadora do dinheiro, como é bem sabido, nunca chega a ter a forma de nota ou moeda, sendo apenas um valor que viaja entre contas bancárias.
Há muitas vantagens neste mecanismo. Em primeiro lugar, alarga muito a base tributária para além dos salários. Incide sobre todo o PIB e não apenas sobre os salários, que representam menos de metade do PIB. Acresce que o dinheiro movimentado na "economia informal" (há quem diga que corresponde a um adicional de cerca de 25% do PIB) também passa, em larga medida, pelos bancos, pelo que também essa economia passaria a ser tributada, gerando muito maior justiça social. Abrange ainda o capital especulativo, como aquele que é controlado por robots que fazem compras e vendas em alta velocidade para aproveitar as micro-oscilações dos mercados de câmbios e das cotações da bolsa. Ao perder uma parte do dinheiro especulativo em cada transação, mesmo que muito pequena, a especulação financeira inevitavelmente abrandaria e causaria muito menos estragos na economia real.
Repare-se que um imposto de apenas 0,5% sobre as transações bancárias equivale aproximadamente ao corte de 7% nos salários do setor privado que foi agora anunciado pelo governo, pois a sua base de incidência é muito mais larga. É muito mais justo aplicar 0,5% a toda a gente do que 7% a apenas alguns.
Este novo imposto deve ser consignado ao pagamento da dívida. Assim, todo o dinheiro que por esta via é retirado do sistema financeiro é-lhe devolvido logo a seguir, atenuando muito a perturbação que a sua introdução poderia trazer. A objeção principal que é apresentada a este tipo de imposto é a de que pode levar à fuga de capitais se for introduzido por um país isoladamente. A França, que acaba de o fazer, não parece ter esse medo, mas se for introduzido simultaneamente num conjunto grande de países é claramente melhor.
Permitam-me neste momento a reafirmação de um princípio. Nas palavras do nosso colega reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, no seu notável discurso do dia 10 de Junho deste ano, para os portugueses a Europa não é uma opção. É a nossa condição. Nós somos europeus, e só o podemos ser com muito orgulho, pois ter orgulho na Europa é ter orgulho em nós próprios. Eu tenho imenso orgulho em Portugal, nestas gentes que são as minhas gentes, com quem quero viver e junto de quem desejo morrer em paz, quando for a hora.
Penso que Portugal deve estar na linha da frente da criação deste novo imposto multinacional, pois os enormes sacrifícios que estamos a aceitar dão-nos essa autoridade. Ser membro da União Europeia, e da zona euro, dá a Portugal a possibilidade de intervir nos locais onde estas decisões são tomadas. As pessoas não podem continuar a ser a referência principal dos impostos.
Taxemos os robots, taxemos o dinheiro, libertemos as pessoas. Aliviando os salários ajudamos também a evitar a perigosa espiral regressiva em que estamos mergulhados, em resultado da brutal redução do poder de compra dos portugueses.
A UC declara-se desde já disponível para ajudar a desenhar os mecanismos concretos para operacionalizar estas duas propostas.”





sexta-feira, setembro 28, 2012


Estimadas senhoras,
Caros senhores,
Meus atenciosos leitores,

Tomo a iniciativa – porque vem à colação - de vos apresentar uma minha crónica publicada neste blogue em 20 de Junho de 2006. Tem a particularidade de, numa primeira reacção à leitura, julgarem que ela terá sido escrita agora, tal é a sua plena actualidade.
Penso que a mesma dá que pensar. E faculta ao leitor atento a possibilidade de avaliar quão dramática tem sido, nos últimos seis anos, a negativa evolução da política portuguesa.
Com os melhores cumprimentos.
Brasilino Godinho

Terça-feira, Junho 20, 2006

VAMOS CRIAR “O DIA DO GOVERNO”…
PARA QUÊ?
PARA COMEMORAR O SUCESSO…
DO INSUCESSO GOVERNAMENTAL.
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
01. No p.p. dia 10 de Junho, o Presidente da República fez um discurso à Nação. Aproveitou a circunstância para dirigir aos portugueses quatro apelos:
Primeiro: “Não se resignem face às dificuldades”.
Segundo: “Aprendam com a insatisfação colectiva”.
Terceiro: “Arranjem coragem para enfrentar dificuldades”.
Quarto: “Não se deixem vencer pelo desânimo ou pelo cepticismo”.
02. Antes, a 26 de Maio transacto, no “FÓRUM PARA A COMPETITIVIDADE”, o conhecido gestor americano Jack Welch dissera:
a) – “As pessoas são demasiado estáticas em Portugal”.
b) – “Os portugueses deveriam ter vergonha da degradação do País”.
c) – “É humilhante para os portugueses a percepção que o exterior tem de Portugal, que é de uma contínua degradação e declínio ao longo dos últimos anos”.
d) – “Cortem as ervas daninhas e terão um bonito jardim”.
e) – “Os gestores que apenas gostam de números e que não querem saber de pessoas - mas elas existem na empresa - são uns idiotas”.
03. Desde anos mais recuados, Brasilino Godinho vem escrevendo sobre o famigerado plano inclinado do nosso desvario colectivo. Ainda, há pouco, na sua obra ”A QUINTA LUSITANA”, escreveu a página 76: “Neste país, de gente amordaçada pelo sistema hermético da partidocracia, de cidadãos confundidos pelos fingimentos dos “políticos” e de pessoas molestadas pela inaptidão ou má fé de governantes irresponsáveis, tem faltado o tempo, não houve espaço, não existiu o bom ambiente, nem surgiram os estadistas capazes, para se afirmarem os valores dos princípios, as mais-valias das competências, as riquezas dos saberes e as supremas autoridades das experiências acumuladas”.
04. António Oliveira Salazar, sempre ele, o grande mestre (pedreiro-livre? ou pedreiro-cativo?) das tiradas grandiloquentes, a baralhar-nos o juízo, depois de nos atirar à cara “que a vontade de obedecer é a única escola para aprender a mandar” e sem nos ter dado conhecimento se teria exercitado regras e devoção de obediência, induzia os sequazes a perguntarem ao pagode: “Quem manda”? E logo, os mesmos, sem darem tempo aos indígenas de respirar fundo, apressavam-se a responder desabridamente: Salazar! Salazar! Salazar! (Em dose tripla para desfazer hipotéticas dúvidas…). Pois foi este homem que um dia disse que “a Agricultura é a arte de empobrecer alegremente”. E providenciou, resolutamente, nesse sentido. Instigou a malta a cavar a terra, a comer o pão que o diabo amassou e, nos intervalos, a divertir-se com Fátima, Fado e Futebol. Foi uma santa alegria que deu naquilo que todos sabemos e de que ainda hoje sofremos as sequelas.
Parafraseando a “máxima” do chefe do Estado Novo (este, concebido e institucionalizado segundo o modelo do regime fascista de Itália, criado por Benito Mussolini em 1922, três anos após a fundação do Partido Fascista e logo rematando a Marcha dos Camisas Negras sobre Roma), diremos que, actualmente, a política, em Portugal, é a arte de enriquecermos de amarguras. Tristemente. Resignadamente. Barafustando, persistentemente, em surdina e com regularizada acomodação. Vindimando numa vinha com muita parra e pouquíssima uva.
Mas se bem considerarmos a bondade do contraditório e a importância dos dualismos que nos condicionam o viver quotidiano, inevitavelmente daremos a chamada volta por cima; ou seja: iremos encarar, com outro espírito, o quadro existencial da sociedade portuguesa.
E nada melhor para nos orientar nesta análise do que seguirmos a linha de pensamento expressa pelo Chefe do Estado e as apreciações críticas de Jack Welch acima reproduzidas.
05. De facto, os portugueses (na sua maioria) sofrem, queixam-se e estão desanimados. Em contraposição, entidades como os bancos, algumas empresas, grandes capitalistas e magníficos empresários, atravessam um período de enorme prosperidade. Mal dos primeiros. Bem super-requintado dos últimos. É verdade que fecham fábricas quase todos os meses e milhares de famílias ficam na miséria sem sustento. Igualmente, os serviços dos hospitais, das maternidades, das escolas, das cadeias, são encerrados. Está a definhar e a encerrar tudo aquilo de instituições e meios da organização social que o pagode necessita para satisfazer necessidades básicas para levar por diante uma vida regular e decente. Porém… atenção!
Um olhar mais atento descortinará que se muitas responsabilidades cabem ao governo, alguns reparos têm de ser dirigidos à malta…
Alguém já se deu ao cuidado de pensar nos esforços dos governantes quando nada fazem de concreto ou de útil e nos aborrecimentos e transtornos que padecem naquelas frequentes ocasiões que agem mal e porcamente? Dá-nos um arrepio na espinha só de imaginar o cansaço físico e o desgaste psicológico que, por causa dessas atribulações e desventuras, se apodera irremediavelmente das excelências. Depois, os cidadãos mais desfavorecidos estão mal habituados quanto às lamúrias… É nas dificuldades que se fortalece a alma. E não só do pão vive o espírito do homem. Também se pode dizer que nem só do espírito se alimentam os ricos homens e as belas mulheres. Se uns carecem de pão para a boca; outros tendo o pão precisam da boca e de olhos convenientemente tratados… a completar a enriquecida alma. Que imensidão de preocupações não atingem os ricaços machos e as esplêndidas fêmeas, a qualquer momento perspectivando assaltos aos seus bens. Também, inquietos, sobrecarregados de dúvidas quanto às aplicações financeiras. Quem há por aí que não tenha ouvido o desabafo de ilustre milionário: “Ó como os pobres são felizes por não terem problemas de defesa e (ou) aplicação dos bens materiais!”... Sem dúvida: o vil metal a atormentar o povo, a nobreza e o clero. Ontem, hoje, amanhã…
06. Depois, Jack Welch não tem razão. Os portugueses estão desde a época dos descobrimentos habituados a percorrer declives de afundamento das condições de vida e já não têm vergonha disso. Como dizia o Salazar – e lá vem ele outra vez à baila… – estamos orgulhosamente sós; no primeiro lugar dos últimos da Comunidade Europeia. Já é alguma coisa… Quanto a cortar ervas daninhas e termos um bonito jardim já nos basta ter o canastrão do Jardim da Madeira. Ufa!...
Mais um apontamento sobre o Welch. Este amigo da onça não é nada perspicaz ao falar de números e de pessoas das empresas portuguesas. Francamente, chamar idiotas aos nossos empresários não lembrava ao Diabo. E logo àqueles espertalhaços que sabem das pessoas mas apenas gostam dos números… e de contemplar o próprio umbigo. Onde se viu um inteligente empresário apresentar-se numa venda de melões a comprar os ditos com uma pessoa. Não é com os números (de notas, claro!) que se compram os melões e… outras coisas mais?
07. Caramba! Todo este palavreado para chegar a esta conclusão: Vamos de mal a pior, segundo o sentir de muitos cidadãos. Estamos nas sete quintas na opinião de alguns excelentes reformados, imponentes gestores, majestosos capitalistas.
E está quase tudo a encerrar. Certo! Todavia, estranhamente, ninguém se lembrou de meter em clausura o Governo.
Tome nota presidente Cavaco Silva: porque “não nos resignamos”; porque “aprendemos com a insatisfação colectiva”; porque não necessitamos “arranjar coragem”; porque não vamos sucumbir arrastados “pelo desânimo e pelo cepticismo”TODOS, VAMOS CRIAR O “DIA NACIONAL DO GOVERNO”.
Para, no mínimo - e pelo menos por um dia - nos livrarmos dele. E durante 24 horas recuperarmos o fôlego. Igualmente, festejarmos o sucesso… do insucesso governamental.
Tal como num dia sem automóveis nas cidades, hajam festas, missas de acção de graças, bailes de máscaras (e temos imensas na área política), encontros de namorados, cortejos, fanfarras, celebrações de teatro revisteiro, provas desportivas e… debates sobre o estado em que estamos, com especial incidência nas trapalhadas contempladas no circo político. Tudo apresentado com entusiasmo e alegria. Ah! Em Lisboa, no Terreiro do Paço, não esqueçam de fazer uma grande manifestação ordeira, civilizada, com muitos discursos de elogio ao insucesso do Governo. Ele merece! Aliás, seguindo o exemplo dos que o antecederam.
Sobretudo, lembrem-se: Tristezas não pagam dívidas… E, nossas, muito sofridas, nem põem a governar bem quantos - mal governando - bem se governam…
08. No “DIA NACIONAL DO GOVERNO”, POBRETES, MAS ALEGRETES, GRITEMOS: VIVA A FOLIA!!!
Apelo aos portugueses:
- Demo-nos as mãos e as vontades.
- Vamos dar uma forcinha para que esta generosa ideia posta na contemplação dos nossos queridos e sacrificados governantes e mui reconfortante da nossa auto-estima, se concretize a breve prazo. Ela é do maior interesse político-social…
Sempre em Portugal se falou mal dos presidentes, dos ministros, dos políticos, dos administradores. É tempo de, publicamente e com pompa e circunstância, se reconhecer os méritos das desgovernações, das incompetências, dos desleixos, dos abusos, das falcatruas, dos oportunismos. Outrossim, se abrir uma brecha nesse deprimente estado de abatimento colectivo que tanto dificulta o exercício da boa vontade e a expressão das faculdades de alma dos detentores do Poder…
E acontece que nunca em Portugal se festejou com relevo o fracasso dos governos.
Portanto e porque os portugueses sabem ser agradecidos para quem os trata com tanto desvelo e carinho… está na hora de, a título excepcional, festejarmos o sucesso do insucesso das governanças.
É agora!!!
Passem palavra! A Bem do Zé-Povinho!...

quarta-feira, setembro 26, 2012


 

Uma tardia declaração importante

Um registo de Brasilino Godinho

 

 

O governo

"não estava preparado

para tomar conta do poder" -- João Salgueiro.

Quem é João Salgueiro?

João Salgueiro, conhecido economista, é membro do Partido Social Democrático. Foi ministro das Finanças do governo presidido por Francisco Pinto Balsemão. E exerceu, durante alguns anos, a presidência da Associação Portuguesa de Bancos.

A afirmação foi articulada hoje no decorrer de um encontro no Fórum Imobiliário e Europa onde João Salgueiro proferiu uma palestra.

A elucidativa referência à incapacidade do governo peca por ser tardia.

No entanto está em sintonia com as análises e críticas que temos elaborado regularmente nas nossas crónicas.

Tem a importância de a mesma ser de pessoa da área política do executivo e, portanto, insuspeita – o que afasta qualquer ideia de João Salgueiro estar a fazer jogo partidário hostil ao governo.

 



Ao compasso do tempo…

QUEM DISSE QUE O (DES)GOVERNO
NÃO ESTÁ ATENTO A CERTOS PROBLEMAS?…

Brasilino Godinho

Justiça tem que ser feita...
Todos temos dolorosa consciência que o governo do nosso maior desencanto está enredado em tremendas confusões e assombrosas, esquisitas, habilidades que o levam a gerir a Administração com grande ineficácia, com o maior desacerto e, também, com enorme agressividade para com o funcionalismo público e os vários sectores mais carenciados da sociedade.
Todavia, há uma área da sua improfícua actividade governamental em que evidencia alguma coerência ideológica, um certo jeito meio saloio para inglês ver e um compenetrado sentido, mui sofisticado, de perspicácia em oportuna conjunção com uma atormentada sensibilidade; esta, a enternecida irmã gémea de uma incontrolada propensão para a contínua resolução dos problemas (menores, acentuamos) que afectam algumas situações específicas de empregabilidade das suas clientelas; as ditas partidárias. Igualmente, o executivo se mostra bastante preocupado em assegurar a viabilidade de algumas empresas que lhe são muito caras… quer por razões de afecto e de eventual compadrio; quer pelos balúrdios monetários que elas cobram pelos seus serviços, geralmente compaginados em pareceres mais ou menos jurídicos (aqui, importa destacar que são os contribuintes que pagam as facturas, enquanto o governo faz o figurão de um abastado mecenas protector dos artistas; os quais cultivam – engenhosamente, com mestria - a arte da advocacia).
E não só esta é a vanglória do governo. É que neste expediente do recurso às empresas de advocacia estão implícitas duas orientações governamentais que dão margem de manobra para as correspondentes medidas saneadoras. Ou seja: ou o governo admite, generosamente (nalguma oportunidade ele se mostraria benévolo…), que os assessores e os serviços jurídicos dos vários ministérios estão muito sobrecarregados com trabalhos excessivos e haverá que dar aos funcionários (juristas) descanso suplementar em horário normal de actividade oficial ou considera que, por razões de incompetência ou negligência, haverá que os dispensar a todos. Em qualquer hipótese é uma situação ambígua, vigente num clima de preocupante obscuridade. Portanto, estamos confrontados com mais um extravagante sucesso do governo que nos coube em sorte malvada e que mostra que o mesmo está atento aos problemas de emprego dos jovens adornados com as cores laranja e azul celeste que, por acaso(…) estão preparados para num ápice, enquanto o diabo esfrega um olho, saltarem dos aparelhos partidários para os gabinetes dos ministérios.
No que se refere aos cuidados e providências cautelares de execuções funcionais e de providenciais aproveitamentos remuneratórios de tantos expertos de última hora, que os ministros têm zelosamente estabelecido, destaca-se o elevado alcance atingido no combate ao desemprego que, eventualmente, poderia atingir os meninos e as meninas das jotas. Felizmente, para uns e outras, que o governo está atento e que todos, os beneficiados, se podem exibir com desenvoltura nos salões ministeriais, como ilustres assessores e grandes especialistas de refinada estirpe e de primeiríssima escolha... Enfim, com os aconchegos dos meninos e das meninas, assim devidamente recompensados dos trabalhosos tirocínios nos aparelhos partidários, outrossim, assegurada que vai sendo a progressão nos negócios aos gabinetes de advogados, através dos pagamentos de milhões de euros efectuados nos últimos anos; sentirá o governo que cumpre o desiderato de serviço fraterno para com gente que lhe é muito querida.
Só que tal é feito à revelia dos serviços governamentais vocacionados para os devidos efeitos jurídicos e, lástima indiscutível, a encargo dos sacrificados e explorados contribuintes portugueses.
O que, diga-se, traduz falta de transparência, oportunismo, tráfico de influências, corrupção. Também, profundo rombo no orçamento pelo enorme esbanjamento de meios financeiros (centenas de milhares ou milhões de euros), em tempo de crise imensa. Definitivamente: uma abrangente imoralidade.
Fim
Anotação – “governo”, uma palavra escrita com letra minúscula. Não por lapso. Nem por engano. Simplesmente, por factor semântico e sentido de objectividade…

terça-feira, setembro 25, 2012


Ao compasso do tempo…

A FINA ESSÊNCIA DA INAPTIDÃO LINGUÍSTICA
E A CANHESTRA ARTE DO MALABARISMO POLÍTICO

Brasilino Godinho

O ministro, do interior laranja, iam decorridas 24 horas após o momento de pronúncia da insultuosa declaração das formigas e cigarras com que, em Vouzela, brindou os trabalhadores portugueses, veio acrescentar a informação, em jeito de adenda, de que, afinal, pretendia homenageá-los. Aqui, neste ponto, está o artista ministerial a dourar a pílula aos trabalhadores. “Esqueceu-se” de pedir perdão pela ofensa cometida. Caso para se dizer: neste decurso, bonita vai a brincadeira…
Da mesma enviesada forma displicente como ontem se manifestou, também agora, o senhor ministro manteve a postura e não se deu conta que os cidadãos portugueses não carecem, nem estão à espera de homenagens (falsas, diga-se!) dos detentores de um Poder que não perde oportunidade para os violentar e lhes cercear ou negar as dignas condições de vida a que têm indubitável direito – o que, arrogantes, fazem com sanha persecutória e inegável desumanidade.
Tal exercício (oxalá falhado) de lavagem cerebral ao bestunto do desprevenido indígena, mais não representa que a fina essência de inaptidão linguística e a canhestra arte amadora de extemporâneo malabarismo político.
Nas similares andanças dos governantes à que foi protagonizada pelo ministro, do interior laranja, subjaz um problema de que as excelências nem percepcionam ou que, simplesmente, fingem ignorar. O problema consiste na tendência compulsiva para fazerem uso da fala e do discurso com base de suporte num linguarejar que não dominam: quer em termos de rigor linguístico, quer em termos de objectividade e de consonância semântica com as ideias que pretendem transmitir e, porventura, em muitas ocasiões, acalentando o condenável desejo de manipular a malta facilmente influenciável.
O elementar bom senso determinaria que vários governantes e deputados tivessem a humildade de voltar à escola com vista a queimarem as pestanas nos estudos do Português e da Filosofia. Um objectivo que, se concretizado, muito beneficiaria os próprios e a comunidade. 
É facto que quase sempre que um governante ou político fala em público mete o pé na argola da incongruência, avança resoluto adentro do núcleo da confusão, entra afoito no campo do absurdo, acabando por refugiar-se nos subterrâneos do obscuro, onde prevalecem as práticas rituais da ignorância e da hipocrisia, a que recorrem as malévolas ratazanas que, antigamente, tinham pouso nas antigas sacristias.
Se as passeatas turísticas dos governantes políticos e dos deputados que têm realização por esse mundo de Cristo e por este maltratado Portugal são uma fatalidade que nos escapa ao controle, seria razoável que essas distintas gentes poupassem os portugueses a essa outra fatalidade que se traduz na sua imagem de marca: a de falarem mal e desatinadamente por tudo e por nada. Cada vez mais o decoro, a ética e a moral, impõe aos membros do governo e aos deputados que, quando imobilizados na praça pública, estejam pasmados em contemplação dos próprios umbigos. Se postos em movimento e em viagem turística: passeiem, mostrem-se, divirtam-se (o que fazem regularmente com visível agrado); mas não cometam a heresia de abrir a boca. Já não há pachorra para os ouvir e aturar-lhes os desmandos de linguagem. Além de que, como é sabido e a toda a hora demonstrado, ou entra mosca na descontrolada boca ou sai asneira…
Se tais excelências assim procedessem, certamente que estariam a dar um apreciável contributo para a melhoria do meio ambiente…
Fim

domingo, setembro 23, 2012


Ao compasso do tempo…

MINISTRO DO INTERIOR LARANJA.
QUAL DISPLICENTE CIGARRA…

Brasilino Godinho

O ministro, do interior laranja, que no governo da coligação exerce as funções da administração interna do seu respectivo espaço territorial e que, por extensão institucional, também é a ministerial figura a quem cabe a orientação política e o comando policial daqueloutro território de âmbito nacional, que há nome de Portugal, segue o padrão de conduta dos seus pares que fazem gala, adquirem consolo espiritual, quiçá conseguindo determinado proveito pessoal como as ajudas de custo e subsídios de marcha, em se entreterem regularmente: a passear pelo país, a confraternizar com amigos e companheiros, a fazer inaugurações, a visitar fábricas metalomecânicas e de chocolates, a percorrer estabelecimentos comerciais, feiras e mercados, a participar em diversos espectáculos teatrais, circenses e musicais, etc. Hoje, o referido ministro esteve numa povoação do concelho de Vouzela ocupado na tarefa mui trabalhosa e demasiado esforçada(…) de inaugurar a nove sede dos trinta bombeiros locais.
Claro que aproveitou a oportunidade para dar um ar de sua (des)graça abstrusa brindando os escassos assistentes com a metáfora da cigarra preguiçosa e da formiga trabalhadora.
Sua excelência disse: “Portugal é um país com muitas cigarras e poucas formigas”. E acrescentou uma nota de enaltecimento do “esforço do povo” para ultrapassar a crise – o que, desde logo, no tempo actual e face à paradigmática e obscena barafunda governativa em curso de inequívoca expansão, acentua, sobremodo, a conotação de um deplorável cinismo. Outrossim, terá sido a pacóvia demonstração de um exacerbado oportunismo.
Ora o povo conserva a impressão de que os governantes agem como se fossem cigarras preguiçosas que adiam indefinidamente os estudos, os programas, os trabalhos, as soluções e as medidas, recorrendo a todos os estratagemas para iludirem a sua provada ineficácia, a sua reconhecida incompetência, a sua insuportável pesporrência e as suas perniciosas práticas de intolerável arbitrariedade e execrável autoritarismo; umas e outras reflectidas nas decisões políticas e administrativas que vão impondo sem rei nem roque. Daí se poder concluir que o ministro em causa se deve incluir no grande número das cigarras parasitas que tão prejudiciais são para a sociedade…
Pois é! Assentemos que ao ministro, do interior laranja, lhe saiu o tiro pela culatra…
Dizer que “Portugal tem poucas formigas”, embora expressão metafórica, é uma fala afrontosa para milhões de portugueses que trabalham afincadamente e desta maneira aviltante são taxados de preguiçosos. Mais: ela é extremamente lesiva da dignidade do ser português e degradante da imagem do País. Não haja dúvida que a ministerial figura cometeu uma grave ofensa à nação portuguesa. O ministro, do interior laranja, deve rapidamente apresentar desculpas ao povo português e solicitar-lhe perdão. Inclusivamente, sujeitando-se a pena de expiação que poderia ser a imediata demissão do cargo governamental.
E no que toca a quase um milhão de trabalhadores que estão desempregados, atente-se que se não trabalham a culpa nem é deles. Muitas cigarras atrevidas, alguns macacos grotescos, bastantes cotovias rutilantes e inumeráveis papagaios desavergonhados, da quinta governamental tutelada pela incrível dupla colorida de laranja forte e azul celeste, terão nisso a sua elevada quota de responsabilidade. 
Quanto ao “esforço do povo” estamos perante uma frase sem sentido, relevando uma sintomática impropriedade semântica e uma notória divergência com a realidade.
Na ânsia de lisonjear os cidadãos o ministro, do interior laranja, nem se deu conta de que esforço significa emprego de força, de energia, de empenho; também é tentativa e diligência para conseguir alguma coisa. Nada disto acontece.
O que se passa é que não foi o povo que criou as várias crises que atormentam a maioria da população. E não é ele que desenvolve as tentativas e diligências para conseguir a resolução dos inúmeros problemas que afectam o país. Nem sequer ele é consultado e tido em consideração.
Sobretudo, agora, este povo não é tratado com urbanidade, em clima de harmonia, de fraternidade e de compreensão das situações e da gravidade dos problemas causados aos cidadãos; estes, vítimas indefesas das políticas vigentes.
Afinal, algo de diferente há que considerar. Exactamente, a circunstância de que o povo tem vindo, nos últimos tempos, a estar sujeito a aguentar e a sofrer os sacrifícios e as agressões físicas e psíquicas que os governantes lhe tem imposto com a maior severidade grande desrespeito, bastante e acintosa ofensa e enorme falta de sensibilidade social. Portanto, neste quadro de irracionalidade e de várias imposições ditatoriais, o povo não suporta as inerentes consequências, nem está imbuído de espírito voluntarioso ou com intrínseca resignação; tão-pouco desenvolve, neste obscuro campo, quaisquer esforços próprios - ou seja: esforços, canseiras, sofrimentos, privações, designadamente, em síntese, sacrifícios livremente assumidos.
Por que – repete-se – tudo lhe é imposto, sem qualquer contemplação pelos direitos inalienáveis da pessoa humana.
Fim

quinta-feira, setembro 20, 2012


Ao compasso do tempo…

Inaceitável! Indecente! Indecoroso!
Brasilino Godinho

01. Povo em doloroso transe
O povo de Portugal, na parte maioritária mais genuína e (nas perversas condições actuais), excessivamente sofredora e explorada, está farto dos espectáculos bacocos e das linguagens estultas da maior parte dos políticos que ocupam a praça pública. E não só do circo grotesco, da paródia sensaborona e do palavreado descabido. Também da corrupção que, qual erva daninha, cresce desmesuradamente. Igualmente do compadrio e do tráfico de influências e participação de interesses que subvertem a coesão social e são formas de domínio por parte de poderes que manobram nos sombrios túneis por onde prolifera a impunidade e a audácia de gente sem vergonha e nenhuns escrúpulos.
Mas, pior para o cidadão português é sentir a toda a hora a traiçoeira e repugnante agressão gratuita à sua integridade moral e (ou) física; o ataque à dignidade da pessoa; o contínuo empobrecimento; a falta de liberdade; a censura e a repressão dos que protestam; a tentada e persistente manipulação das consciências; a privação dos meios de subsistência; e a impossibilidade de tantos carenciados pagarem os tratamentos médicos. E, ainda, no caso dos reformados, ter ocorrido o incrível esbulho das suas pensões de que o Estado era fiel depositário (agora o Governo, travestido de Estado omnipotente e ditatorial, mostra-se infiel e desprezível apropriador).
Por todas estas razões de suma importância o Povo está, actualmente, desiludido, inquieto e revoltado. Em primeiro lugar, deu-se conta de que Portugal - ora possuído por uma casta de oportunistas, de impreparados e de desavergonhados actores de baixa política destituídos quer de sensibilidade e competência, quer de algum vago resquício de interesse pelo Bem Comum - está prosseguindo uma via de extinção como Nação independente e de desgraça colectiva. Em segundo lugar, tomou consciência da sua condição de explorado, de vítima e de que está indefeso, desprotegido, vilipendiado, à mercê de todas as violências e arbitrariedades dos detentores e lacaios do Poder.
E assim compenetrado da situação em que está envolvido, houve por bem traduzir seu estado de espírito no p.p. dia 15 de Setembro ao descer às ruas para manifestar, inequivocamente, que repudia e despreza todos esses fautores da sua desgraça. Mais, não confia nessa gente. Outrossim, veio protestar com veemência contra as políticas de destruição dos tecidos social, industrial e comercial que vêm sendo prosseguidas pelo desgoverno nacional.
02. Inaceitável! Indecente! Indecoroso!
Quer o modo de dizer, o jeito de estar e o expediente de fazer, dos políticos e governantes que, abusivamente, nos atormentam.
Tudo isto, de composição aberrante e de aspecto, forma e sentido, nitidamente ofensivos para o genuíno ser português, se consubstancia na hipocrisia e no cinismo vigentes na sociedade.
E desde logo é, precisamente, na expressão “o governo está a pedir sacrifícios aos portugueses”, muito usada pelos governantes, políticos, comentadores, jornalistas e locutores de rádio e televisão, que está implícita a desfaçatez de quem, assim levianamente e pela rama, trata as questões de maior importância. Também, realçada a impropriedade semântica. Igualmente denunciada a inconformidade objectiva do seu intrínseco conteúdo.
Pois que a gritante verdade é que o Governo não pede coisa nenhuma. Nem exige. Se pedisse, sujeitava-se a uma recusa. Se exigisse, haveria sempre um qualquer expediente a que recorrer para ignorar, iludir ou contornar a exigência.
O que o Governo faz é impor! Com arrogância, rigor e severidade! Pior, ainda, com o maior autoritarismo e descaro. E “Custe o que custar”, conforme proclama sem quaisquer sentidos de justiça e de solidariedade para com os cidadãos mais desfavorecidos. O que é factor não despiciendo, visto que aos governantes, políticos e poderosos o “custar” não lhes afecta minimamente; ou seja: nem, sequer, a ponta de um chavelho.
Concluindo: tudo o que está acontecendo em Portugal, nos domínios da desgovernação, é:
INACEITÁVEL! INDECENTE! INDECOROSO!

Fim

domingo, setembro 16, 2012


APOIO CLARO E INEQUÍVOCO
Brasilino Godinho

Hoje, 15 de Setembro de 2012, centenas de milhares de portugueses manifestaram, em várias dezenas de cidades de todas as parcelas do território nacional (Portugal continental, Madeira e Açores) profunda indignação e o maior repúdio pelas políticas de degradação do País, de empobrecimento geral da maioria da população e de extermínio de todos quantos idosos e mais carecidos da sociedade portuguesa.
Ao começo da noite um dirigente do partido do CDS veio às televisões anunciar que, apesar da grandeza das manifestações, lhes dava relativa importância e que o partido optaria pelo País.
Pela minha parte direi que, consciente da gravidade da situação e do inegável significado das manifestações, opto resolutamente pelo País.
O leitor perguntará: Como assim? Que País estará em causa?
É fácil a resposta esclarecedora: Portugal, na actualidade, é formado por dois países incompatíveis:
1. O País dos explorados e maltratados, sujeito a contínuo declínio, que urge tomar novo rumo de reabilitação. É o nosso!
2.O “país” dos exploradores, dos políticos oportunistas, imaturos, sem escrúpulos e dos poderosos que tudo manipulam em proveito próprio. É o deles!
Estou de alma e coração com o primeiro.
O CDS e os actuais governantes revêem-se no segundo.
Daí, exprimir a afirmação contida no título deste breve apontamento.

sábado, setembro 01, 2012



PORTUGAL,
“À ESPERA DE GODOT”…
Brasilino Godinho
Sim! Esperando. Esperando. Sempre esperando… Porém, agora, em colapso promovido por gente ignara e consentido pela plebe desesperada e impotente…
Verdadeiramente, este é um país de pelintrice, sem dinheiro (nem vontade dos governantes) para satisfazer necessidades básicas da população e em que as médias e superiores entidades públicas, normalmente, não reconhecem o trabalho, a dedicação às causas, a competência, a integridade de carácter dos cidadãos, o apego das pessoas aos deveres da cidadania, nem enaltecem as manifestações de inteligência e os melhores desempenhos dos indivíduos; mas, em contraposição, remuneram, elogiam, premeiam, condecoram e festejam a mediocridade, a incompetência, a estupidez, a corrupção, a vigarice, sob a capa do compadrio, das amizades, do tráfico de influências e de interesses obscuros e, ainda, das comprometidas solidariedades.
(A parte sublinhada é extraída de uma minha crónica publicada em 01 de Setembro de 2009. Infelizmente, fazendo agora três anos de existência, continua retratando o País que há nome Portugal e a estrutural corporação político/administrativa que, escandalosamente, o desgoverna, o avilta e o explora em proveito próprio ).

“E falou Ruy Barbosa, numa época e tempos que consideramos saudosos, que um dia o homem honesto sentiria vergonha de sê-lo...” (Citação do Prof. Doutor Tarcisio Praciano-Pereira)

Nota: Cumprindo os termos da atinente legislação em vigor qualquer pessoa destinatária dos meus e-mails que não esteja disposta a recebe-los fará o obséquio de me informar; assim, ficarei habilitado a proceder à respectiva eliminação na listagem dos meus contactos.