Ao compasso do tempo…
A FINA ESSÊNCIA DA INAPTIDÃO LINGUÍSTICA
E A CANHESTRA ARTE DO MALABARISMO
POLÍTICO
Brasilino Godinho
O ministro, do interior laranja, iam decorridas 24 horas após
o momento de pronúncia da insultuosa declaração das formigas e cigarras com
que, em Vouzela, brindou os trabalhadores portugueses, veio acrescentar a
informação, em jeito de adenda, de que, afinal, pretendia homenageá-los. Aqui,
neste ponto, está o artista ministerial a dourar a pílula aos trabalhadores. “Esqueceu-se”
de pedir perdão pela ofensa cometida. Caso para se dizer: neste decurso, bonita
vai a brincadeira…
Da mesma
enviesada forma displicente como ontem se manifestou, também agora, o senhor
ministro manteve a postura e não se deu conta que os cidadãos portugueses não
carecem, nem estão à espera de homenagens (falsas, diga-se!) dos detentores de
um Poder que não perde oportunidade para os violentar e lhes cercear ou negar as
dignas condições de vida a que têm indubitável direito – o que, arrogantes,
fazem com sanha persecutória e inegável desumanidade.
Tal
exercício (oxalá falhado) de lavagem cerebral ao bestunto do desprevenido indígena,
mais não representa que a fina essência de inaptidão linguística e a canhestra
arte amadora de extemporâneo malabarismo político.
Nas
similares andanças dos governantes à que foi protagonizada pelo ministro, do interior laranja, subjaz um problema de
que as excelências nem percepcionam ou que, simplesmente, fingem ignorar. O
problema consiste na tendência compulsiva para fazerem uso da fala e do
discurso com base de suporte num linguarejar que não dominam: quer em termos de
rigor linguístico, quer em termos de objectividade e de consonância semântica
com as ideias que pretendem transmitir e, porventura, em muitas ocasiões, acalentando
o condenável desejo de manipular a malta facilmente influenciável.
O elementar
bom senso determinaria que vários governantes e deputados tivessem a humildade
de voltar à escola com vista a queimarem as pestanas nos estudos do Português e
da Filosofia. Um objectivo que, se concretizado, muito beneficiaria os próprios
e a comunidade.
É facto que
quase sempre que um governante ou político fala em público mete o pé na argola
da incongruência, avança resoluto adentro do núcleo da confusão, entra afoito
no campo do absurdo, acabando por refugiar-se nos subterrâneos do obscuro, onde
prevalecem as práticas rituais da ignorância e da hipocrisia, a que recorrem as
malévolas ratazanas que, antigamente, tinham pouso nas antigas sacristias.
Se as
passeatas turísticas dos governantes políticos e dos deputados que têm
realização por esse mundo de Cristo e por este maltratado Portugal são uma
fatalidade que nos escapa ao controle, seria razoável que essas distintas
gentes poupassem os portugueses a essa outra fatalidade que se traduz na sua
imagem de marca: a de falarem mal e desatinadamente por tudo e por nada. Cada
vez mais o decoro, a ética e a moral, impõe aos membros do governo e aos
deputados que, quando imobilizados na praça pública, estejam pasmados em
contemplação dos próprios umbigos. Se postos em movimento e em viagem
turística: passeiem, mostrem-se, divirtam-se (o que fazem regularmente com
visível agrado); mas não cometam a heresia de abrir a boca. Já não há pachorra
para os ouvir e aturar-lhes os desmandos de linguagem. Além de que, como é
sabido e a toda a hora demonstrado, ou entra mosca na descontrolada boca ou sai
asneira…
Se tais
excelências assim procedessem, certamente que estariam a dar um apreciável
contributo para a melhoria do meio ambiente…
Fim
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