Vamos lá destrinçar a ligação
entre o “inteligente” Borges
e os “ignorantes” empresários…
Brasilino
Godinho
Hoje, no Fórum Empresarial do Algarve, o
economista António Borges, mandatado consultor do governo, encarregue de
processar as privatizações das grandes empresas nacionais, disse: “Os empresários que estão contra a TSU são
completamente ignorantes”. E, com alguma pesporrência, acrescentou: “E não passariam no primeiro ano do meu curso na
faculdade”. Não satisfeito com o seu desplante, rematou: “A medida era inteligente” .
Como se apreende é fácil a um artista mui
vocacionado para tais efeitos supostamente habilidosos, usar um breve tempo de
elocução para dizer tão grandes barbaridades. E neste campo das facilidades de obscura
expressão, o homem das privatizações em curso já nos habituou a várias espécies
de dislates, mais ou menos ofensivos, apontados quer à comunidade, quer visando
directamente determinados sectores da mesma.
A criatura Borges está convencida de que
é um personagem “completamente” inteligente que vive num país onde todos seus
compatriotas, incluindo os empresários, serão “completamente ignorantes”. Se
assim fosse ele era um homem feliz, atendendo ao facto de que em terra de cegos
quem tem olho é rei.
Que o sujeito tem olho, embora vesgo e
de visão restrita, unilateral, não há dúvida. Todos temos essa convicção. Só
que imensos portugueses não são ceguetas. Daí, António Borges nem ser rei de
qualquer coisa ou de simples sucata. Quiçá, por esta circunstância pessoal, seja
infeliz…
Além de que ele terá, indubitavelmente,
metido mais uma vez o pé na poça. Para além da deselegância no procedimento, da
grosseria da expressão e da gratuita ofensa aos empresários, está por
demonstrar que a atitude do economista António Borges corresponda a um elementar
factor de inteligência. Pelo contrário, custa admitir que tal postura releve de
inteligência e seja, ela mesma, admissível como medíocre ou de mediano alcance.
Por outro lado, com que fundamento,
apurado sentido de faculdades de alma ou, ainda, qualquer competência nas áreas
do conhecimento, da psicologia clínica e das ciências neurológicas, o
economista Borges se permite classificar os empresários discordantes da
famigerado TSU de “completamente ignorantes”. Certamente, fá-lo presumindo ser
“completamente” inteligente. Sobre tal apressada presunção própria,
provavelmente não faltarão comentadores que contraponham a interrogação: Não
será ele “completamente ignorante” nas matérias que extravasam da sua área
especializada: a económica? E mesmo nesta, será a sumidade que se lhe atribui?
A infeliz referência à Faculdade de
Economia que frequentou também é tiro dado pela culatra. E a instituição sai
ferida neste indecoroso desencontro com o recomendável bom senso. Pois que ela
não se deverá rever em quem demonstra ser uma personalidade com algumas
deficiências nas imprescindíveis componentes da formação cívica e da educação.
Isto considerando que a universidade não se deve limitar a instruir, a
ministrar conhecimentos, mas sim a formar homens íntegros, de mente sã e
compenetrados dos seus deveres de cidadania e de respeito para com o próximo. Também,
preparando para a vida pessoas naturalmente predispostas ao inequívoco
cumprimento dos preceitos da igualdade, da solidariedade, da liberdade, da
tolerância e da transparência.
Quanto à “inteligente medida” está
comprovada a sua ineficácia e a generalizada convicção da sua bizarria eivada
de insensatez. Tão-pouco lhe assenta a classificação de inteligente, segundo a
abalizada opinião de conhecidos especialistas e se depreende da sua vacuidade.
A maioria dos economistas, os
empresários, os trabalhadores e inúmeros portugueses, preenchem o leque
classificativo dos “completamente ignorantes” atribuído por Borges; o qual,
dando-se a conhecer como o autor ou um dos autores da destrambelhada ideia, se
exclui, implicitamente, da condição de “completamente ignorante” para se
figurar, de forma atrevida e expediente abusivo, como completamente
inteligente.
Para melhor elucidação dos leitores
neste domínio das completas ignorâncias induzidas por António Borges e da
completa inteligência que por iniciativa própria lhe subjaz, nada melhor que o
testemunho de uma reputada entidade estrangeira. Por sinal, integrante da ala
da Direita da política norte-americana. Ou seja: da mesma família política de
António Borges.
Com a devida vénia, transcrevemos um
despacho de Lusa/SOL:
29 de Setembro, 2012
Um artigo na revista do American
Enterprise Institute (AEI, influente 'think tank' da direita norte-americana)
descreve a proposta de reduzir a taxa social única (TSU) como «um autogolo» do
Governo.
«O Governo parece estar a caminho de agravar os
problemas económicos e políticos do país ao propor uma má solução para a perda
de competitividade», escreveu Desmond Lachman, investigador do AEI, na revista
'online' "The American".
O AEI é um dos institutos mais influentes no
pensamento político dos EUA, assumindo uma perspetiva de direita. Esteve
particularmente ligado à política externa dos governos de George W. Bush.
Várias figuras associadas ao AEI, como Richard Perle, Paul Wolfowitz ou John
Bolton, tiveram cargos nas administrações de Bush.
O artigo sobre a TSU, datado de 20 de setembro,
critica a proposta (entretanto abandonada) de mudanças às contribuições para a
Segurança Social, argumentando que «a última coisa de que Portugal precisa
agora é de mais cortes substanciais à procura agregada».
Desmond Lachman, um britânico que foi diretor do banco
de investimentos Salomon Smith Barney, compara a proposta do Governo «à ‘poll
tax’ proposta por Margaret Thatcher no Reino Unido em 1989, que tantos custos
políticos teve» para a então primeira-ministra inglesa.
No entanto, afirma o investigador do AEI, «o
aspecto mais preocupante desta proposta é que faz muito pouco sentido em termos
económicos» (sublinhado de Brasilino Godinho).
O Governo propôs no início deste mês uma redução de
5,75 pontos percentuais na contribuição das empresas para a Segurança Social
acompanhada por um aumento de sete pontos na contribuição dos trabalhadores. O
Executivo esperava que a medida resultasse numa redução do desemprego.
Lachman conclui o seu artigo escrevendo «esperemos que
o Governo português mude de ideias sobre esta proposta», o que de facto acabou
por acontecer.
Lusa/SOL
P. S. Esta é a primeira e julgo
que a última vez que escrevo sobre as desastradas palestras do economista
António Borges. Não vale a pena gastar tempo a comentar as suas inconcebíveis
opiniões; que, aliás, vão sendo cada vez mais incongruentes e predestinadas a
suscitarem generalizada repulsa e a conveniente desvalorização.
Brasilino Godinho
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal