Ao compasso do tempo…
Ai Baptista, que te perdeste…
E, logo, tu que eras o novo burlão
que estava mesmo a jeito de governar…
Brasilino Godinho
Mais uma infelicidade:
perdeu-se, ingloriamente, a esperança de um dia termos Baptista, distinto
burlão, como promissor chefe do governo português…
Baptista, é
nome de guerra do presumido burlão versado em assuntos económicos e engenharias
financeiras que, sendo o mais improvável primeiro-ministro do futuro governo,
talvez fosse detentor da prerrogativa de ter algum préstimo…
Pois é
verdade, o Baptista da actualidade mediática é pessoa desinibida, fala
fluentemente em português(…), disserta sobre assuntos económicos e financeiros,
já se apresentou em conferências e debates (como o do “Expresso da Meia-Noite”,
da última sexta-feira, na estação televisiva SIC, coordenado pelo jornalista
Nicolau Santos) e, particularidade não despicienda, por todos os sítios do
território lisboeta tem passeado a sua classe e sido ouvido com deferência, sem
suscitar grandes controvérsias. E, imagine-se!... tem ideias interessantes para
atenuar a derrapagem da situação financeira do país.
Enquanto se
ignorava a sua superior qualidade de vigarista (a crer naquilo que, em coro, os
jornais estão proclamando), as suas propostas eram ouvidas com atenção e alguma
concordância, nomeadamente por badaladas figuras da alfacinha cidade.
Agora, em
queda acelerada, já é severamente contestado, por se ter descoberto que se
arvorara, indevidamente, como coordenador de um inexistente organismo da ONU. Claro
que isto haveria de acontecer conforme os usos e os costumes da comunicação
social lisbonense. Ou seja: para certa gente, as ideias não valem por si
mesmas, mas consoante o estatuto e as circunstâncias da pessoa que as formula. O
que é prática simplista, habitual, repulsiva e incoerente, de certas elites
preponderantes no seio da sociedade portuguesa.
Portanto,
seja o Baptista, atirado à bicharada e, sobretudo, reconhecido, à última hora,
como um qualificado burlão. E, consequentemente, sejam desvalorizadas as suas
perorações, repudiadas as suas propostas e atiradas ao lixo as linhas de seu
pensamento. Também apagada a sua imagem das fotografias, à semelhança do que
fazia o ditador soviético, Estaline, relativamente aos seus pares caídos em desgraça,
após as terríveis purgas.
Daí que,
para salvar as aparências da seriedade que está arredada do quotidiano
lisboeta, o ilustre Baptista, apressadamente colocado na forçada condição de
altruísta bode expiatório, é a oportuna peça apropriada, o instrumento útil e a
solução eficaz. Ele, o “bode” que está mais exposto à degola. Pelo que jamais virá
a alcançar o lugar cimeiro da governação.
O azar ou a
censurável(…) imprevidência de Baptista, constituem-se hipóteses que radicam no
facto de, provavelmente, ter menosprezado a possibilidade de se filiar num dos
partidos do chamado arco do Poder. Porque, sem dúvida e dentro dos padrões
existentes da vida partidária mais ligada à maioria parlamentar, a sua ascensão
na hierarquia dos partidos X, Y ou Z, estaria mais ou menos garantida. E então,
sim, aí o teríamos devidamente credenciado para as altas funções de chefe do
governo.
No entanto, como
isso não se perspectiva, o festejado Baptista talvez esteja liquidado politicamente.
Mas pior do
que esse infortúnio pessoal da criatura em causa, é que a malta se encontra algo
desiludida, porque gorada fica a aliciante expectativa de rotundo êxito
protagonizado por um novo burlão, mui esperto, bastante convincente e excessivamente
arejado de ideias; o que augurava um futuro de recuperação do país. E… ainda, por
demais, tratando-se de um expedito indivíduo decidido não só a bater-se
taco-a-taco com a famigerada ”Troika”, como a abster-se, resolutamente, de
beijar e abraçar a senhora Angela Merkel – uma e outra, detestadas entidades da
nossa desventura colectiva…
Enfim, mais
uma desgraça… a juntar a tantas mais que afligem os indígenas portugueses.