Ao compasso do tempo…
QUEM DIRIA?
“PONTO DE INTERROGAÇÃO”
AINDA NÃO DESAPARECEU DO PAÍS.
PERDIDO? ACHADO? ONDE ESTARÁ?
Brasilino Godinho
brasilino.godinho@gmail.com
http://quintalusitana.blogspot.com
O primeiro-ministro Passos Coelho falando hoje no encerramento de uma conferência a que assistiram representantes do trio tutelar do país - Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional - e depois de informar que "agora temos pela frente o ano de 2012, que será a muitos títulos crucial para a nossa vida colectiva”, acrescentou que “não vou dizer que o ponto de interrogação desapareceu”.
Logo de seguida, talvez melhor traduzindo a profundidade do seu pensamento, admitiu a permanência do intrigante “ponto de interrogação” pelas certamente malfadadas “circunstâncias externas atravessadas por riscos que todos conhecem”. Mais advertiu que “ Portugal sozinho não pode controlar”.
Relativamente às importantes e embaraçosas afirmações do chefe do governo, acima transcritas, haverá interesse em as analisar, assim a modos de quem espreme um limão para lhe extrair o sumo; geralmente, na convicção de que o mesmo não é seco e imprestável…
A importância das declarações de Sua Excelência é sempre devidamente considerada no meio indígena, nos ambientes recatados das aparelhagens partidárias que dão suporte ao governo e nas outras tertúlias politicas da capital. Obviamente que, nem por a criatura governamental falar muito e regularmente dizer pouco, nos deixamos tentar por subestimarmos o sentido e largo alcance das suas habituais, expeditas, voluntariosas, fantásticas, perorações.
Assim, no caso em apreço, registam-se alguns embaraços na interpretação da linguagem utilizada pelo governante.
Comecemos por não nos determos naquilo “que será a muitos títulos crucial para a nossa vida colectiva”, visto que é algo inexpressivo. Para ser inteligível houvera necessidade de mencionar quais eram esses títulos que se constituiriam ornamento ou figuração na frente do ano de 2012 ou mesmo inseridos no próprio ano em curso. E com influência na vivência da sociedade portuguesa.
Mas, antes que nos esqueçamos, devemos contemplar-nos na consoladora certeza que nos dá o primeiro-ministro do governo português de que, sem margem para hesitações, “agora temos pela frente o ano de 2012”. Aleluia!!! Festejemos o anúncio! Toquemos o Hino à Alegria, de Beethoven! Bem-haja, Excelência!
Deveras enigmática e por demais preocupante é a referência de Sua Excelência de que não virá dizer “que o ponto de interrogação desapareceu”. Que desfeita! Uma desconsideração para com o Zé-Povinho. Tal omissão ou birra do jovem governante suscita várias dúvidas e confusões; qual delas a mais perturbante para quem esteja empenhado em apreender a sabedoria e o fulgor contidos na aludida afirmação... Vejamos umas e outras:
Qual é o “ponto de interrogação”? É o ponto ou é a interrogação que está em causa? Qual a importância absoluta ou relativa do ponto, seja ele mesmo de interrogação? E se é simplesmente interrogação por que motivo ou obrigação Sua Excelência a quer associar ao ponto? O ponto, dito de interrogação, desapareceu e Passos Coelho receia confirmar tal ocorrência, julgando que isso prejudicaria a sua imagem de responsável pela preservação do património que aqui nem se percebe se é do governo, do país ou da gramática nacional?... Mas se de facto o famigerado “ponto de interrogação” desapareceu, o chefe do Governo não se sente obrigado a informar o País das eventuais, terríveis consequências, que advirão para os portugueses? Ou de afincadamente o procurar no pressuposto que se trata de coisa importante e que lhe é bastante querida?
Também duas dúvidas se colocam e que têm um alto grau de probabilidade de, qualquer delas, corresponder a um facto:
- O “ponto de interrogação” não será pertença pessoal do primeiro-ministro?
- O “ponto de interrogação” não será ele próprio, dirigente máximo da governação, em toda a plenitude do seu ser?
Por outro lado, alargando o leque das hipóteses, se o “ponto de interrogação” permanece algures escondido, afastado dos olhares cobiçosos ou invejosos de gente pouco recomendável e (ou) antipática para o selecto colégio governamental, ocorre perguntar: Onde está? Estará bem guardado? Alguém, com malévolas intenções, aproveitando um descuido da vigilância, nem irá apropriar-se dele?... Se tal acontecer a interrogação, viúva do seu companheiro, não irá à vida, para nossa eventual infelicidade, remetida para outra galáxia do nosso perene desespero?...
Esta última hipótese haverá que ponderar seriamente porquanto, como Sua Excelência considerou num alarde de grande agudeza de espírito, existem “circunstâncias externas atravessadas por riscos que todos conhecem”.
Ademais, para agravar a situação e como se não bastassem per se as circunstâncias externas, estas são atravessadas por traiçoeiros riscos… O que é uma grande chatice! E quem diria? Bem se dispensavam os riscos. Ainda neste ponto (que não é de interrogação) importa observar que Pedro Passos Coelho está enganado. “Todos” desconhecem os riscos. E muitos nem percebem o que será essa misteriosa coisa de as mal-amanhadas circunstâncias serem atravessadas por tenebrosos riscos que: tanto podem ser de vida, de morte, de acidente, sulcos, rabiscos num papel, lapsos de linguagem ou de perda de memória. Talvez de incêndio, de inundação e de naufrágio.
E por falar de naufrágio e concluindo, não será que o “ponto de interrogação” naufragou num mar de confusões, de ambiguidades e de superficialidades ou nas profundezas de um abismo centrado num imenso vazio de ideias conexas à realidade e à objectividade?...
Aqui bate o ponto… que, de exclamação, se substitui ao famigerado de “interrogação” do Senhor dos Passos de Pedro Coelho. Pois nem a Portugal sozinho ou acompanhado foi possível evitar o surgimento, na mente da Excelência, desse esquisito e desgraçado “ponto de interrogação”!