Ao compasso do tempo…
UMA OPORTUNA REFERÊNCIA…
A ILAÇÃO QUE SE DEVE EXTRAIR…
Brasilino Godinho
brasilino.godinho@gmail.com
http://quintalusitana.blogspot.com
A título de exemplo dos significativos casos de circunfluentes passos da desgovernação dados pelos membros da equipa chefiada pelo grande Senhor dos Passos, relatados através da Internet, ficam os leitores cientes de dois, que a seguir especificamos:
Primeiro caso - Desde que há poucos meses o grande Senhor dos Passos e seus adjuntos ministros tomaram posse da desgovernação do País, foram “instalados” no espaço do “pote” (a que in illo tempore aludia o senhoril personagem), com salário, mesa e outros ostensivos regalos, 610 novos funcionários, o que corresponde a um recrutamento de 3 pessoas por dia e a um salário médio de 2300 euros, perfazendo um encargo anual de quase 20 milhões de euros. Só um ministro e à sua conta, coleccionou 50 caloiros e caloiras da função pública, que foram colocados sob a sua tutela, devidamente guarnecidos de meios operacionais, de imprescindíveis subsistências, de confortáveis agasalhos e dos inevitáveis materiais sonantes…
No mencionado rol está incluído o extravagante caso do especialista em vias-férreas que caiu de pára-quedas no virtual sector ferroviário do Ministério das Finanças; o qual, técnico, certamente possuidor de desenvolto, fascinante e competente engenho, deu (ou ter-lhe-á sido sugerido? ou consentido?) um reconfortante passo gigante no sentido de ornamentar e engrandecer, como inestimável “tesouro”, quiçá valiosa escultura viva, o polivalente gabinete da senhora secretária de Estado do Tesouro e das Finanças. Aliás, por desusado sinal, a brilhante peça artística de configuração masculina só ficará exposta, a cuidadoso recato, no privativo lugar de trabalho da ministerial, enquanto esta singular entidade se mantiver em funções. Quando ela deixar de as exercer, o específico objecto, “tesouro”, “escultura viva”, “peça artística”, caracterizado na sua tríplice alteração profunda: de expressão, de forma e de volume, irá à vida… como sói dizer-se.
Ainda incluído neste assinalado segundo caso, há a notícia veiculada pelo diário i de ter sido dado o tiro de partida na corrida aos “tachos” do Estado. O que constitui mais um motivo de sobra para nos inquietarmos, enquanto indígenas sujeitos a insuportável e asfixiante clima de desaforo, de imoralidade, de nepotismo, de esbanjamento, de degradação física e moral e, claro, de desgoverno.
Segundo caso - Entre os vários automóveis adquiridos neste tempo de misérias várias, de fomes muitas e de corrupções imensas, mas - por sorte malvada - de refinados e enviesados passos, dá-se realce à recente aquisição por parte do desgoverno de um popó Mercedes S450 CDI pela módica(…) quantia de 140 876 euros.
Moral da confrangedora história que nos atormenta: Com a infrene prossecução dos passos característicos da coelhal personagem, em breve muitos portugueses, ora em deplorável estado de letargia, estarão passados… recolhidos nos jardins das tabuletas.
Ninguém tenha dúvidas: estamos confrontados com um diabólico, maquiavélico, sofisticado, persistente e eficaz novo PREC. Um silencioso e encoberto processo revolucionário em curso de extinção de três partes da população portuguesa – a dos carenciados (indigentes, pobres de condição) a dos que integram a classe média e a dos idosos e aposentados.
Noutro plano, de suprema importância e de enorme gravidade, há a assinalar que o Senhor dos Passos está empenhado em atribuir-se máscula figura e, ainda, em apresentar no areópago de Bruxelas, como credencial de aluno aplicado e respeitador das ordenanças neoliberais, a melhor folha de serviços prestados aos mercados e à Comissão Europeia. Outrossim, mostrar-se - face aos portugueses e perante a comunidade internacional - como um gentil títere da senhora Merkel e fidelíssimo intérprete do seu pensamento, a que acrescenta um comportamento de zeloso cumpridor das suas magníficas(?...) directrizes. Assim, o grande Senhor dos Passos procede em confrangedora representação do Estado português nas suas andanças internacionais. Quanto à situação portuguesa e às terríveis consequências da sua política no tecido social, o grande titular dos descomedidos Passos mostra um inadmissível e censurável distanciamento e não se lhe ouve qualquer palavra de conforto para tantos concidadãos atingidos pelos infortúnios do desemprego, da fome, da pobreza e da doença. Tão-pouco, um apontar de uma política concernente à recuperação da economia, à prioridade e valorização do Ensino, ao desenvolvimento do país e à melhoria das condições de vida das empobrecidas e famintas populações. Para ele o grande e lapidar (medonho, segundo consideramos) objectivo é o do empobrecimento progressivo da nação portuguesa. Repete a todas as horas: Austeridade! Austeridade! Austeridade! Sempre apontada para os desfavorecidos. Mas relativamente aos poderosos - incluindo no grupo os governantes esplendidamente acomodados; os políticos sem escrúpulos muito bem cotados no tráfico de influências (alguns deles ilustres detentores de reconhecidas capacidades para circularem, afortunadamente, sem percalços ou constrangimentos, nos subterrâneos da corrupção); os símios exibicionistas habitualmente fixados nos baços espelhos onde se figuram as caricatas imagens dos charutos enfiados nas sôfregas cavidades bucais (aquelas tais onde resplandecem as ambições desmedidas) - a famigerada austeridade é informe coisa que lhes passa ao lado, sem deixar rasto.
A propósito, os portugueses saberão que, há anos na Malásia e nalguns outros países da Ásia que enfrentavam graves crises financeiras, os ministros de vários governos, reduziram os respectivos vencimentos? E, nesta data, já têm conhecimento que, precisamente, há poucos dias o novo chefe do governo italiano Mario Monti (que acumula as direcções de dois ministérios: dos Negócios Estrangeiros e das Finanças), renunciou ao seu salário por considerar ser sua estrita obrigação moral dar o bom e pedagógico exemplo da contenção e do sacrifício que agora são exigíveis aos seus concidadãos?
Também exemplo elucidativo de sensibilidade, de consciência cívica e de alto sentido das responsabilidades, teve expressão pública no decorrer de uma conferência de imprensa dada por Mário Monti e pela nova ministra do Trabalho, Elsa Fornero, para apresentação das medidas de austeridade que o governo italiano vai aplicar com o objectivo de debelar a profunda crise financeira de que enferma a Itália. Esse exemplo representou-se quando Elsa Fornero falava sobre as dificuldades que iriam sentir os italianos. Em dada altura ficou com a voz embargada, não conseguia articular palavras e as lágrimas correram-lhe pelas faces. Foi um momento dramático, mas eloquente e revelador de um profundo sentimento de fraternidade, de um alto conceito de servir o povo e de um elevado sentido de responsabilidade, pouco usual nas classes políticas dominantes na Europa. Note-se: uma tecnocrata a que certa rapaziada aponta o dedo, por exercer as funções sem mandato eleitoral. O que prova que não é por se ser eleito por sufrágio universal que o político se transforma no governante sério, competente, responsável, eficaz e coerente no pensamento e na acção…
Com base interpretativa fixada nesse excelente paradigma italiano e relacionando-o comparativamente com o deprimente statu quo português, é oportuno formular algumas interrogações: aqui, em Portugal, nos últimos anos e até agora, qual foi o dirigente político que, sem ser obrigado, espontaneamente, tenha condescendido na redução dos seus proventos? Qual dos governantes e políticos manifestou verdadeira compreensão do nefasto alcance das gravosas medidas que estão sendo postas em forma abrangente, com impiedosa e cega aplicação e, sobretudo, de caso pensado e com desmesurado acinte sobre os reformados e os funcionários públicos? Quem se há preocupado com a calamidade do desemprego? Quantos políticos e altos quadros dos órgãos de soberania do Estado se importam com as situações de miséria, de fome e de mortalidade, provocadas por faltas de recursos materiais, decorrentes de uma orientação governamental que visa a ruína do maior número de cidadãos e de uma política neo-liberal centrada nos números, nos ganhos do grande capital e na ansiada impressão de rigor e obstinação em prosseguir o objectivo de reduzir o défice das contas públicas; a qual sensação agradável perspectivada pelo Senhor dos Passos, ainda que imediata e pouco reflectida possa, ela, causar reconhecimento e louvor nos mercados especulativos? Que dirigente, espécie de avis rara, mostrou alguma emoção ou lamentou sinceramente os males que causa aos semelhantes; os quais (danos), sem margens para equívocos, expressam cinismo, indiferença e consabida frieza de ânimo? E mais: onde deparamos com um dirigente político que se preocupe em minimizar ou reparar os estragos que introduz no tecido social?
Não há conhecimento de nenhum caso. Isto dá para comparar e extrairmos conclusões muito depreciativas para os actores do circo político que nos infernizam a vida e que não perdem oportunidades de sacar do Erário o máximo de proveitos monetários. Muitos, dessa fauna de oportunistas sem escrúpulos, obscenamente, acumulam pensões de reforma, mordomias, subsídios e avenças milionárias. Acontece isto num país em estado de tanga. Uma desvergonha! Um escândalo nacional!
Portanto, os portugueses que acordem para a ameaçadora realidade. Se desperdiçarem o tempo que deveria ser ocupado com a resistência, a indignação e a reivindicação dos seus direitos, nem terão a safa da oportunidade do despertar. Temos o direito e a obrigação de arregaçarmos as mangas e, sem perdas de tempos, actuar.
Há que reagir com bastante força, grande coragem e firme, consequente, determinação. Hoje, na hora que passa! Amanhã será tarde!