Um texto sem tabus…
SALAZAR ERA MAÇON?
Brasilino Godinho
brasilino.godinho@gmail.com
Para quem não sabe e segundo os dicionários “a Maçonaria ou Franco-Maçonaria é uma sociedade internacional secreta, cuja doutrina tem como rótulo a fraternidade e a filantropia e que usa como símbolos os instrumentos do pedreiro e do arquitecto (o triângulo e o compasso)”.
Não é por acaso que na descrição precedente o dicionário indica o termo “rótulo” para designar a fraternidade e a filantropia a que se dedicaria a organização. É que - se é reconhecida a prática de tais pressupostos relativamente aos seus membros que, por demais, se irmanam, se protegem e se promovem uns aos outros - não há conhecimento absoluto ou bastante abrangente sobre a natureza das práticas, usos e costumes (certamente, não revelados ou investigados), a que se dedicam as várias organizações maçónicas. Embora, hoje, haja informação sobre os ritos, os símbolos e os reais objectivos de influência e de poderio prosseguidos pelas suas actividades secretas. Além disso, o “rótulo” é um elemento propagandístico que não dá garantias de o conteúdo corresponder à matéria publicitada.
Desde logo e tratando-se de associações que exercitam um desmesurado secretismo, todas as suposições são possíveis. Além disso, assinala-se a enorme apetência que as seitas maçónicas têm pelos poderes, sejam eles: de governação e de natureza económico-financeira, ou quantos instalados em áreas essenciais como a comunicação social, as forças armadas, a educação, o ensino, a magistratura judicial e até a Igreja (nesta instituição, as posições são alcançadas através não só de clérigos maçons mas, sobretudo, de membros da Opus Dei - a famigerada maçonaria branca, como lhe chamam os espanhóis).
De facto, em Portugal, a Maçonaria domina os sectores mais importantes da sociedade portuguesa. Muito se acha censurável e, acima de tudo, anormal que sendo tão profunda a dominação maçónica na governação do País ninguém questione a sua enormíssima responsabilidade no actual estado de coisas e no que sobreleva de degradação geral da Nação. A culpa é atribuída aos partidos e aos políticos. Mas, as pessoas distraem-se muito com esta derivação. Todos se esquecem (ou fingem não se aperceberem) que os partidos mais importantes são emanações das maçonarias e que por estas são tutelados. Assim como os governos. Pão, pão, queijo, queijo e para exemplificar põe-se a interrogação: no actual governo qual será o ministro, espécie “avis rara”, que não tem vínculo à Maçonaria?
Quem lê a presente crónica talvez julgue que estou a exagerar.
Para elucidar e dirimir tão ligeira interpretação, permito-me transcrever alguns trechos de uma entrevista do ex-grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, Dr. António Arnaut, concedida ao semanário “Expresso”, uns meses antes de ser substituído pelo Dr. António Reis, no grau supremo da hierarquia daquela sociedade secreta. “A Maçonaria sempre teve no seu seio grandes figuras da Igreja Católica e de outros credos”. E citou os nomes do Cardeal D. José da Costa Nunes e do Bispo D. António Alves Martins. “Todos tiveram altos cargos na Maçonaria”. Mais informou que a Maçonaria sempre esteve ligada ao Poder.
Por sua vez, o grão-mestre da Grande Loja Regular de Portugal, José Manuel Anes, citado no “Portugal Diário”, edição de 18/10/2004, sob a rubrica “Maçons por toda a parte”, peremptoriamente afirmou à “Agência Lusa”: “A maçonaria regular está presente em todos os governos, qualquer que seja a sua cor política, o que torna mais fácil a aplicação dos valores desta organização que tende a ser, cada vez mais “discreta, mas activa”. E aproveitou para realçar a pluralidade de opções políticas e religiosas que caracterizam a maçonaria regular portuguesa. Mais disse “que não menos importante é a intervenção a nível dos organismos decisores portugueses” Claro que “por esta razão, o grão-mestre não nega a “influência” da organização, nomeadamente no governo”.
Transcrevo:”Questionado sobre se um novo governo significa uma diferente presença da maçonaria regular no executivo e no Parlamento, José Manuel Anes não hesita em afirmar que, “mesmo que mudem as cores políticas “a maçonaria estará sempre presente”. “Independentemente do poder político, a maçonaria regular tem cada vez mais peso na sociedade portuguesa”, disse à Lusa. “Caso contrário, cada vez que mudasse um governo, teríamos dificuldades com essa mudança”.
Igualmente sintomáticas da indesmentível influência maçónica as afirmações de José Carlos Nogueira, soberano grande comendador do Rito Escocês Antigo e Aceite da Maçonaria, proferidas a 9 de Abril do corrente ano, em Leiria. Na ocasião, este dirigente depois de um longo e prolixo discurso laudatório da organização e dos maçons – esquecendo-se que o elogio na própria boca tem o sentido de vitupério lançado em volta de boomerang - rematou com esta convincente frase: “A Maçonaria não é um grupo de pressão e nem é um lóbi”. O que é verdade. Pois a Maçonaria nem precisa de o ser. Se ela cavalga o Poder… qual seria a necessidade de regredir no seu poder ou influência?
Estas citações revestem-se da maior importância e confirmam, sem margem para dúvidas, tudo aquilo que temos escrito sobre o enorme domínio que as maçonarias exercem neste país.
Mais, avalizam as considerações que constam na minha obra “A QUINTA LUSITANA” (por sinal, bastante bloqueada, pelos maçons, nas editoras, nos jornais, nas televisões e nas livrarias) a páginas 88-104, que se podem sintetizar no seguinte parágrafo, inserto na página 95: Maçonaria – Um Estado, dentro do Estado (Português). Clandestino! Poderoso! Que subverte a transparência da vida política! Insuportável à luz dos superiores interesses do Povo!
O que fica exposto, reproduzindo declarações dos chefes das seitas maçónicas, leva-nos a recuar no tempo e a interrogarmo-nos sobre a influência da Maçonaria na estrutura do poder do Estado Novo e até acerca das eventuais ligações com o Prof. Doutor António Oliveira Salazar.
Já no meu livro “A QUINTA LUSITANA” suscitava tal questão. E com pertinência. Dado que tendo a Revolução Nacional do 28 de Maio de 1926 estabelecido a Ditadura Militar e perseguido ferozmente anarquistas, republicanos e comunistas, só em 1935, decorridos nove anos, Oliveira Salazar proibiu a Maçonaria.
Acresce com relevante significado que, não obstante ser maçon, o general António Óscar de Fragoso Carmona exerceu durante décadas sucessivas, desde 1926 até à sua morte em 1951, as funções de presidente da República. E manteve, ao longo dos anos, nas casas civil e militar alguns maçons da sua confiança.
Também é surpreendente que o vice-almirante Sarmento Rodrigues, membro da maçonaria, tivesse sido ministro do Ultramar, tal como Santos Júnior, ministro do Interior de governos de Salazar e o Prof. Doutor Adelino da Palma Carlos, maçon, procurador à Câmara Corporativa. Ocorre inquirir por que razões o Prof. Doutor Paulo Cunha e o Dr. Franco Nogueira, foram nomeados ministros dos Negócios Estrangeiros? Igualmente, alguns outros maçons participaram nos governos de Salazar, que não vem ao caso aqui mencionar. É inconcebível que o Dr. Salazar, perspicaz, geralmente bem informado sobre as mais variadas matérias relacionadas com a sociedade portuguesa, a política nacional e a Administração, não se apercebesse das filiações maçónicas dos seus mais chegados colaboradores. Ninguém acredita. Aliás, agora, pelas bocas dos dirigentes máximos das maçonarias regular e irregular, desvaneceram-se todas as dúvidas dos incrédulos sobre este obscuro assunto.
Ainda de notar que no governo chefiado pelo Prof. Doutor Marcelo Caetano o Prof. Doutor Veiga Simão, também maçon, houvesse sido ministro da Educação e logo após a Revolução de 25 de Abril, delegado do governo português na ONU; naquela reviravolta que, na altura, foi considerada uma surpreendente pirueta pessoal e uma estranha nomeação pelos novos governantes. Ela, nem terá sido inexplicável… Afinal, ele, na sua condição de maçon bastou-lhe vestir nova fatiota… ou, simplesmente, mudar de desempenho, continuando a servir a mesma causa da fraternidade maçónica. (Outro destaque: Veiga Simão foi ministro da Defesa no governo chefiado por António Guterres).
E no entanto, o regime do Estado Novo mantinha a aparência de combater a Maçonaria - o que se representava na exigência de qualquer candidato a lugar da Função Pública ter de assinar um impresso da Casa da Moeda, no qual declarava que não era filiado em nenhuma sociedade secreta. Além, de subscrever declaração em papel selado, manuscrita, com a expressa afirmação de “activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas”. Também importa anotar que o regime de Salazar não perseguia implacavelmente os maçons. Porquê? Discrição! Discrição, era a palavra de ordem…
Ainda no que toca a Salazar há que assinalar a sua personalidade reservada, com a obsessão do distanciamento e do secretismo. Igualmente, a exacerbada intolerância. Características da mentalidade maçónica. Contudo, reconheça-se que esta apreciação, por si só, não assegura credibilidade à hipótese de alguma ligação pessoal a qualquer das fraternidades do compasso e do esquadro. Neste aspecto, atribua-se a Salazar o benefício da dúvida… Pelo menos, até mais saber…
Todavia, a incerteza não se coloca quanto aos entrosamentos entre o regime salazarista e a Maçonaria. Dada a comprovação de no topo da pirâmide do poder do Estado Novo ter permanecido muitos anos um maçon: o próprio presidente da República, general António Óscar de Fragoso Carmona. E, também, os testemunhos dos grão-mestres confirmativos que a Maçonaria sempre esteve (e continua a estar) nos governos. A governação de Salazar não fugiu à regra. O que é simplesmente espantoso!
Por tudo isto, há justificação para os portugueses se interrogarem: Que ligações, compromissos e interesses se conjugaram entre o Salazarismo e a Maçonaria?
Para a Maçonaria este assunto tem sido um tabu. Observação pertinente: os jornais e televisões nunca se mostraram interessados em desvendar tão insólitas relações de influência e, talvez, de recíproca dependência. Ou não estivessem os mais importantes órgãos de comunicação social sob o rígido controlo dos maçons de serviço…
Fique-se com a certeza: este tema é um dos maiores segredos guardados a sete chaves pelos altos dirigentes da Maçonaria.