A
entrevista de Paul de Grauwe à LUSA.
Simplesmente,
notável!
Vamos
tê-la em atenção!
Por Brasilino
Godinho
Como
português que sente no corpo e na alma a opressão e as agressões
de que é vítima o povo português, vindas da parte do (des)governo,
tenho a obrigação de dar testemunho do meu maior apreço pelas
desassombradas afirmações de elevado cunho ético/social e de
assinalável expressão técnico/profissional do conhecido e
respeitado economista belga Paul de Drauwe, professor de Política
Económica Europeia, na London School of Economics e da Universidade
de Leuven, Bélgica. Outrossim, manifestar-lhe, em público, o meu
profundo agradecimento pela sua oportuna e abalizada intervenção em
sede de análise da conjuntura nacional portuguesa. Portanto, reforço
o meu propósito de apreço: Bem-haja!
Este
meu aplauso a Paul de Drauwe é tanto mais oportuno quanto a sua
lúcida análise se apresenta com o vigor de uma voz isenta e
autorizada, a sobressair na poluída atmosfera sobreposta ao espaço
pantanoso do solo pátrio que nos é adstrito. Acresce que as
afirmações de Paul de Drauwe têm a característica de serem
acentuadamente convincentes; quer pela acessível linguagem
utilizada, quer pelo superior valor intrínseco da formulação dos
conceitos e das conclusões analíticas. Também factor relevante nas
declarações do economista belga é o que delas decorre como
manifesta contradição e repúdio dos teores das falaciosas
campanhas diárias desenvolvidas pelos jornalistas e economistas de
serviço - nitidamente, prestimosos, subservientes e
colaboracionistas (assinale-se!) - alinhados com o governo.
Vem
a talho de foice referir a insólita circunstância de, em Portugal,
só depararmos com o economista, professor universitário, João
Ferreira do Amaral, empenhado na imprescindível destrinça das
péssimas consequências derivadas das desastradas políticas
prosseguidas pelo chamado governo - este, o maior e desqualificado
(no contexto nacional e a nível internacional) causador das
desgraças em que está mergulhado o País.
Da
entrevista, aqui focada, há que destacar três afirmações
lapidares:
01. "É difícil
entender como pode o Governo magoar a população e sentir-se
orgulhoso disso".
Tal procedimento do (des)governo tem sustentáculo
causal no facto de lhe faltar sentido de Estado, idoneidade moral,
competência técnica, maturidade política e sensibilidade social.
O escritor António Lobo Antunes, numa crónica
publicada na edição de 31 de Outubro de 2013, da revista Visão,
escreveu que não há governo em Portugal. O que existe, segundo o
conhecido escritor, é "um bando de meninos". Assim sendo,
dá para entender porque o (des)governo magoa a população e se
sente orgulhoso disso. Esta invulgar circunstância de menoridade dos
pseudos governantes portugueses não foi apercebida por Paul de
Grauwe. Daí, ele ter dito não entender os aberrantes procedimentos
das aludidas criaturas.
02. "Dizem aos
portugueses que têm de fazer mais sacrifícios. Para quê? Para
pagar a dívida aos países do Norte (da Europa). Isto é explosivo.
Os portugueses não vão aceitar isso indefinidamente".
Infelizmente, muitos portugueses (incluindo os 800
novos multimilionários, nados e criados nos últimos 12 meses) vão
se acomodando e encarando a situação numa perspectiva de clubite
aguda... ou de oportunístico aproveitamento, incidindo na exploração
da sua engendrada "Quinta Lusitana" em que transfomaram
Portugal.
Este quadro traduz a pungente realidade: o povo
português está confrontado com um desmedido estádio de perversão
político/social. Ele irá manter-se até quando?
03. "O governo
português fez o grande erro de tentar ser o melhor da turma no
concurso de beleza da austeridade. Não havia razão para Portugal
fazer isso; podia não ser o melhor da turma; podia nesmo ser o pior
e isso seria melhor para a economia".
De
facto, a pretensão saloia de ser o melhor da turma no "concurso
de beleza da austeridade" só
podia estar na ideia de gente inapta. Aliás, ela, representação
mental, destrambelhada de todo, vem dos tempos de Cavaco Silva
enquanto chefe do governo. E aqui chegados vale a pena mencionar, que
o actual presidente da República se limita a apoiar o desgoverno que
impera em Portugal. Pior, assiste, indiferente, à persistente
destruição de todos os sectores vitais do País; a qual, se
configura como obscura tarefa irresponsável desenvolvida pelos tais
meninos identificados pelo escritor António Lobo Antunes.
O que nem constitui surpresa.
Para
ilustrar a antecedente observação sobre o equívoco desempenho da
presidencial peça figurativa/decorativa do Palácio de Belém,
limito-me a reproduzir as declarações do famoso comentador dos
domingos, das televisões e conjecturado candidato às próximas
eleições presidenciais, professor Marcelo Rebelo de Sousa,
inseridas na edição de 26/5/95, do semanário (já extinto)'Tal
& Qual':
"Posso provar que sou
isento: nunca ninguém foi capaz de dizer o que eu disse e repito: a
incultura de Cavaco Silva, política e não só, é abismal - e o seu
triunfo foi o da vulgaridade. Vejam lá se algum comentador teve a
coragem de dizer isto...".
Logo, nesta altura, o prof. Marcelo omitiu as suas
mui operosas, exímias, manobras de bastidores no decurso do
Congresso do Partido Social Democrata (PSD) realizado em 1985, na
Figueira da Foz, que guindou Cavaco Silva à chefia desse grémio
partidário (PSD) e a decisiva importância que elas tiveram em tal
desfecho de consagração da "incultura política" e do
"triunfo da vulgaridade" - componentes qualitativas(...)
que, tardiamente, dez anos depois (em 1995), lhe reconheceu. Afinal,
assinalados factores distintivos da aludida personalidade cavacal.
Mas,
retomando o fio condutor da presente reflexão, regista-se que a
passagem do tempo e a cronologia dos acontecimentos políticos em
Portugal, vêm confirmando sentido de objectividade às observações
feitas em 1995 (reproduzidas no Tal & Qual)
pelo conhecido professor das lides televisivas, acerca da cavacal
figura.
Também, por demais evidente, se manifesta,
correntemente, a vacuidade e imprecisão do rotineiro 'discurso' do
professor Marcelo; ambas, marcas impressivas, associadas à sua
peculiar desconformidade com a coerência.
Todavia,
o professor Marcelo num pronto - e tal como já sucedera
anteriormente com o seu protagonismo no congresso PSD, da Figueira
da Foz - esqueceu a sua suposta "coragem"... Rapidamente,
se dispensou de repetir o que dissera com espavento ao semanário Tal
& Qual. E como isso fosse de
pouca importância, posteriormente, lesto e audacioso, avançou pelo
caminho da leviandade com que se dispõs a promover o subsequente
triunfo da "vulgaridade e da incultura de Cavaco Silva"
("política e não só, ainda por cima "abismal") em
demarcados domínios da política à portuguesa usança. Recorde-se o
fogoso papel do professor Marcelo no lançamento e promoção da
candidatura presidencial do professor Aníbal Cavaco Silva. E tal
desenvoltura marcelista deu naquilo que deu...
Ao professor Marcelo, pela sua confirmada abismal
incoerência política e não só, também devem ser exigidas
responsabilidades pelo deficitário desempenho presidencial do actual
residente do Palácio de Belém - do qual, a maioria do povo está
absorvendo nefastas consequências.
Ainda situando-me na área cavaquista será oportuno
evocar o que, sobre Cavaco Silva, escreveu o cronista de assuntos
económicos, Daniel Amaral, na edição de 25 a 31 de Maio de 1995,
da revista 'Visão':
«... compreende-se agora a
política do primeiro-ministro português. Aspirante vaidoso a aluno
bem-comportado da Europa, lançou mão a tudo quanto pôde para
satisfazer a sua vaidade: uma política cambial desastrada, uma
política salarial vergonhosa, uma política fiscal incoerente. O
falhanço foi total. Depois, ao verificar como a economia estava de
rastos, saiu de cena, aparentando confiar no esquecimento para
regressar mais tarde...».
E Cavaco Silva confiou no esquecimento... e voltou! E
imagine-se... logo, para a presidência da República. Com os
resultados que se conhecem e se vão acumulando com impressionante
desconchavo.
As palavras de Daniel Amaral ditas à distância
temporal de 18 anos bem poderiam ser aplicadas ao chefe político
Pedro Passos Coelho. Por sinal, aluno bem-comportado da escolinha
alemã da senhora Angela Merkel e apropriadamente creditado como o
"melhor da turma do concurso de beleza da austeridade".
Confrangedora
ironia (ou maldição?) do destino: se no tempo do professor António
de Oliveira Salazar à juventude se insinuava que: "Lá
vamos cantando e rindo";
agora, na era da triste, antipática, figura coelhal, de passos
desordenados, sem regular e definido rumo, caímos na dramática
rotina de ouvir aos jovens e aos adultos não o absurdo cântico
laudatório do regime do Estado Novo, mas, sim, o angustiante clamor:
Cá vamos gemendo, chorando e sofrendo...
Clamor, qual grito de alma dos oprimidos,
acintosamente submetidos ao terrífico clima de austeridade; o qual,
sublinhe-se, é agressivamente imposto pelo grupo de meninos (usando
a oportuna, precisa, denominação do escritor António Lobo Antunes)
que desgoverna a nação portuguesa.
Fim