Urge
salvar Portugal!
Por
Brasilino Godinho
Anteontem,
os polícias saíram dos seus aquartelamentos, desceram, aos
milhares, às ruas de Lisboa e avançaram sobre o Palácio de São
Bento. Após o que tomaram conta da escadaria do famoso palácio.
Ontem,
algumas personalidades, quais pudicas virgens ofendidas, vieram a
terreiro público lavrar reprimenda e condenação sobre as forças
de segurança que manifestaram a sua indignação relativamente às
políticas de austeridade e de outras diversas naturezas ofensivas da
dignidade dos cidadãos.
Tais
criaturas arvorando-se na condição de guardiãs do templo da
Democracia e como se lhes coubesse sentido de julgamento do protesto
dos agentes policiais, apontam o carácter de violência(?) que teria
caracterizado o avanço dos manifestantes pela escadaria até junto
da fachada do vetusto edifício, sede da Assembleia da República.
Mais disseram que o acontecimento seria uma intolerável falta de
respeito pelo órgão de soberania e uma acção de rebeldia face à
lei e ao governo.
Cada
um é livre de expressar opiniões por mais disparatadas que sejam.
Porém,
há que imitar o mestre de orquestra que, a meio da diversão,
exclama: Alto lá e pára o baile!
Assim,
estabelecida a pausa para uma serena e isenta reflexão, adiantamos
breves considerações.
Em
primeiro lugar, a sociedade portuguesa está submetida a uma ditadura
política de uma minoria que chegou ao Poder por vencer umas eleições
em que quase metade dos cidadãos inscritos nos cadernos eleitorais
se absteve de participar na votação ou votou branco e nulo - o que,
à partida, se subentende como uma atitude de repulsa ou condenação
da medíocre classe política portuguesa. Pela contagem dos votos
válidos apurou-se a repartição dos mesmos pelos outros partidos
intervenientes. O que quer dizer que, relativamente, ao conjunto de
dez milhões de portugueses os actuais governantes foram eleitos por
uma minoria (cerca de 10%) do número total de cidadãos nacionais.
Se
a esta mui objectiva circunstância formal se juntar a apreciação
do que tem sido o descalabro das políticas implementadas com os
terríveis efeitos nas vidas das pessoas, de abastardamento de
princípios e de valores e, sobretudo, com a violência e virulência
com que é atingida a dignidade do ser humano português, chega-se à
conclusão que este governo perdeu legitimidade.
O
que é reforçado pela dramática situação de milhões de pessoas
se sentirem desesperadas, indignadas, revoltadas. E não sabem que
providenciar ou a quem recorrer para ultrapassarem o que parece ser
um aterrador beco sem saída.
Mais
de ponderar: não se pode aceitar o aniquilamento da classe média, a
feroz perseguição aos funcionários públicos e professores e o
encapotado genocídio dos idosos pensionistas - procedimentos da
governação que vêm ocorrendo com inquietante persistência, grande
arrogância, assinalável agressividade e enorme prepotência.
Outrossim, permitir-se a destruição de Portugal. Tornou-se
necessário e inadiável arredar o governo do Poder.
Por
isso, perdidas todas as esperanças de inverter a angustiante
situação, em desespero de causa, é natural que a evolução do
estado de espírito de cada português ultrajado, agredido,
maltratado de todas as formas e constantemente alvo de ofensas e maus
tratos por parte dos governantes, siga no rumo da violência. Visto
que já todo o mundo apercebeu que a regeneração quer do tecido
social, quer de Portugal nas vertentes política,
económico/financeira, educativa e cultural, não é conseguida no
tempo presente, nem vislumbrada num impreciso amanhã, através do
sorumbático respeitinho e do patético discurso inconsequente de
políticos mentirosos e sem escrúpulos: os quais, em coro afinado
com os seus agentes publicitários, mais não fazem que tentar iludir
os cidadãos.
Também,
neste deprimente quadro, nada se espera de positivo, porque do outro
lado, no pântano em que se isola o actual governo, não há: gente
respeitável com sensibilidade para ouvir os interlocutores;
discernimento para zelar o bem-comum; interesse em estudar e analisar
os problemas da Administração Pública; preocupação de encontrar
as imprescindíveis, melhores, soluções governativas.
Muito
grave é poder-se assinalar aquilo que é apercebido pela esmagadora
maioria dos portugueses: Os governantes estão cegos! Estão surdos!
Estão mudos!
Igualmente,
o presidente da República está sofrendo das mesmas patologias!
Porém,
as tenebrosas consequências recaem sobre os indígenas sofredores,
humilhados, ofendidos.
Daí,
que a bastantes portugueses se torne evidente que caminhamos a passos
largos para um estádio de violência que, em crescendo, se pode
tornar incontrolável.
A
marcha dos polícias é um sério aviso ao governo e ao presidente da
República. Que foi feito sem alardes de violência física,
sublinhe-se.
E
quanto ao respeito devido aos governantes - evocado pelos "amigos
da onça" e referido no início desta crónica - importa afirmar
que quem não se dá ao respeito e a ele falta continuamente no trato
com o cidadão português, se desacredita a si mesmo e não merece
ser respeitado. É das individualidades colocadas no escalão
superior da organização de um Estado de direito que deve partir o
exemplo norteador de comportamento do colectivo dos indígenas.
Igualmente, as leis se justas, devem ser acatadas. Mas se iníquas,
há obrigação cívica e imperativo moral de as rejeitar.
Concluindo:
na actual situação de ditadura da minoria governamental tem que
prevalecer em sede de cidadania o espírito de luta, a onda de
indignação e o abrangente espaço de revolta, que encaminhe a nação
portuguesa na senda da recuperação dos valores (ora perdidos) da
Democracia, da dignificação do indivíduo e da nobilitante imagem
de engrandecimento de Portugal.
Sintetizando:
Urge salvar Portugal!!!
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal