Ao compasso do tempo…
SUPOSTO QUE… TIVESSEM RECATO
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
E não só. Também que as criaturas sentissem a obrigação de bem exercerem as funções de que estão investidas. Porém, não se verifica a vergonha. Tão-pouco o cumprimento do dever. Jamais o respeito pela Ética.
Estamos apontando o dedo aos governantes (da III República) e aos ilustres residentes do Palácio de S. Bento, comodamente instalados à mesa do Orçamento. Esta situação constitui um embuste que deturpa e viola os princípios emblemáticos da Democracia e os valores que distinguem a República. Evidencia desperdícios de tempos irrecuperáveis na prossecução do bem-estar colectivo da sociedade e o esbanjamento de verbas do Erário, tão necessárias para a satisfação das necessidades básicas dos portugueses. Daí o agravamento das condições de vida dos cidadãos das classes mais desprotegidas.
Claro que as instituições ligadas ao grande capital, os membros das classes possidentes e os fraternos irmãos dos clãs que, efectivamente, detêm o poder em Portugal não sentem o agravamento da situação que colocou Portugal no rol dos países mais pobres da Europa. De semelhante e confortável posição de desfrute dos bens materiais e dos privilégios decorrentes das posições de mando, de segurança e estabilidade de vida, também os políticos dispõem e dessas vantagens colhem apetecíveis proventos e vãos louros de glórias efémeras.
Aqui, sucintamente esboçado um quadro onde se contrastam a exuberância dos excessos de meios, dos obscenos exibicionismos, das dissolutas vaidades e desregramentos morais e éticos, na bem cultivada “Quinta Lusitana” dos dominadores e aqueloutros insaciáveis usufrutuários; enquanto no desfigurado campo posto em pousio, por míngua de recursos materiais, sobressai a desolação e o abandono.
Posta esta introdução e porque nela enquadrável, anotamos que os dirigentes a quem cabe a governação do país que somos deveriam ter consciência das responsabilidades inerentes aos cargos e do dever de dar bons exemplos de conduta cívica aos cidadãos.
Na actualidade, de profunda crise em Portugal, não se admite que se exijam sacrifícios a milhões de portugueses e deles não haja repartição pelos que vivem na ostentação, acumulando chorudos vencimentos, avultadas pensões e avantajadas benesses, no total desprezo pelas precárias condições de vida dos seus compatriotas.
Igualmente, não se admite que o chefe do governo, ministros, altos funcionários e seus respectivos séquitos, estejam todos os dias a viajar por todo o território e pelo estrangeiro, consumindo rios de dinheiro com os transportes e ajudas de custo. Pior, ainda, quando se envolvem nessas andanças durante o horário normal dos serviços oficiais, ocupados em actividades particulares ou de índole partidária.
A propósito: o cidadão José Sócrates, na semana transacta, esteve em Aveiro participando nas jornadas parlamentares do Partido Socialista. Provavelmente isentou-se do cumprimento de horário de trabalho. Mas efectuou a viagem a título particular, na qualidade de militante do PS, em tempo coincidente com o horário das repartições públicas. Ora este aspecto é relevante. Porquanto um alto dirigente governamental deveria ter a preocupação de não confundir ou integrar actividades oficiais e partidárias. Os contribuintes estão a pagar umas e outras. Será que os ministros e os altos dignitários do regime persistem nas indevidas cobranças de ajudas de custo e subsídios de marcha; como faziam, há poucos anos, alguns deputados de fina têmpera(…) nas suas deslocações particulares pelo país e naquelas fantasiosas viagens aos mais variados lugares da estranja (acentue-se: sem saírem de Lisboa).
Estamos de acordo com muita gente que pensa haver necessidade de se fiscalizarem melhor os gastos dos dirigentes que nos caíram na rifa da má sorte e que tão aplicadamente vêm desgovernando a Nação, desorientando os cidadãos, sacrificando os indígenas das classes mais modestas e explorando a boa fé do Zé-Povinho.
Tudo “embrulhado” num invólucro de cinismo e de hipocrisia. Com largos sorrisos e muito paleio à mistura… Para convencer tolos… E ludibriar patetas alegres…