Um texto sem tabus…
ENQUANTO OS POLÍTICOS DESABAFAM…
O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO TEM UMA IDEIA…
Brasilino Godinho
1 - De vez em quando e sempre que a coisa dá para o torto, os políticos que estão no activo lamentam-se, sem sombra de humildade, da ingrata e sacrificada vida que levam. E, consternados, mostrando aquele ar sombrio de quem carrega grandes preocupações e atribuladas mágoas, lá vão dizendo: “É difícil viver em Democracia”.
Embora a expressão nada tenha de novo no que toca ao conhecimento, partilhado pela maioria dos cidadãos, do grau de dificuldades do curso da Democracia em Portugal; geralmente, quando atirada de chofre, desperta junto da malta agradecida – que, regularmente, confraterniza em almoços, jantaradas, “futebóis”, retiros do fado e nas celebrações dos templos e das capelinhas, com a rapaziada da política e os matreiros “donos” da nossa democracia - uma onda de simpatia e de apreço por essa classe especial, muito prestimosa, integrada de soberbos cavaleiros andantes; de requintadas damas de belos atributos físicos e superiores dotes de perspicácia; de vistosos meninos de tenra idade, imberbes, precoces especialistas das tácticas de combate partidário que dominam na perfeição a ciência ligada às moções de estratégia eleitoral; de irrequietas moças propensas ao saracoteio das eleições; e de grandes mestres da nossa melhor e altruística sociedade…
De imediato, as pessoas lembram-se que os nossos políticos têm um alto grau de compreensão do papel que desempenham na sua específica área de actividade e um apurado sentido de oportunidade e de apreensão dos valores da solidariedade que se devem a eles próprios e aos seus homólogos. A qual, é configurada na conhecida máxima que assevera ser a mais acertada distribuição dos bens materiais aquela que começa por beneficiar quem dispõe da prerrogativa de a fazer por sua conta e benefício, de forma tão exemplar quanto for possível. Ou seja: a mais proveitosa para o feliz contemplado. Mas, se esta prática não é exclusiva da Democracia e reveste aspectos herdados da Ditadura do Estado Novo temos de convir que, no regime actual, estão mais facilitadas as censuras provindas de muitos rostos pálidos que perderam o respeitinho pela gente importante que está por aí atenta ao seu bem-estar pessoal (de natureza, intransmissível e unidireccional – à semelhança da corrente eléctrica que tem sempre o mesmo sentido). E, por vezes, também, entretida e encantada a contemplar o próprio umbigo e a divertir-nos com espectáculos de circo e teatro burlesco que só não são gratuitos porque “fiados”, acabamos por os liquidar com língua de palmo, tarde e a más horas, através dos impostos que nos fazem o favor de sacar das nossas ricas bolsas…
Lamentavelmente(…) estamos confrontados com um traço amargo impresso na Constituição da República Portuguesa. O qual, faz tremer de repulsa alguns belos exemplares de criaturas expostas na montra da política à portuguesa. É uma provocação a individualidades de boa estirpe e uma grande chatice que a Democracia assegure a “gente desqualificada e invejosa” – forçosamente, tinha que ser uma coisa e a outra - o direito (talvez, a mania) de refilar e apontar o dedo aos políticos quando julgam que eles se estão marimbando ou abusando da boa vontade do “pagode”. Uma deslealdade absoluta que leva bastantes novos e magníficos democratas a suspirar pelos tempos da Ditadura… Reconheça-se que estes animais de estimação, de boas famílias, vertebrados (alguns com a coluna torta, afectada – e infectada - pelo exagero das mesuras), de sangue quente, de recomendados costumes e com a alma revestida de penas, integrantes da espécie de aves de arribação ao campo democrático, têm toda a razão… de nele se sentirem incomodados. Uma vez que… - é uma dor de alma observá-los a qualquer distância: de proximidade doentia ou de afastamento profiláctico. Sim! Se próximos, despertam enjoo e tédio; pelo que será preferível mantê-los à distância como elementar medida de profilaxia mental…
Igualmente, o Zé-Povinho, contemplativo de Fátima, entusiasta do Fado, adepto ferrenho do Futebol, sofrendo em silêncio as agruras da existência e angustiado com as rasteiras que os (des)governos lhe pregam, há muito chegou à triste conclusão que a sua vida não experimentou melhorias com o advento da Democracia. A sua sobrevivência continua penosa e extremamente dificultada. O que se traduz numa enorme frustração.
Daí, se concluir que a Democracia em Portugal é de difícil vivência. Para toda a gente. Sofre de mau-olhado… Ou de maldição salazarista…
E nela, Democracia da nossa esperança e com ela, Democracia dos nossos desesperos e frustrações, está complicado viver. Perdão!... Vegetar, na penúria e no sofrimento, o Zé-Povinho. Regalar e festejar na abundância e no desperdício, sob a mira dos atiradores especiais da crítica, a classe política e os seus associados dos volumosos capitais e das implacáveis multinacionais - que nos couberam em sorte malvada…
2 - Em plena época de provas escolares e no momento que se anunciavam os resultados dos exames dos cursos secundários, uma directora de serviços do Ministério da Educação respondendo à interpelação do jornalista sobre as causas atribuíveis a tão elevada percentagem de maus resultados nos exames de Português, Matemática e Físico-Química, respondeu que o ministério tinha “uma ideia”…
Do pouco que disse e daquilo muito que não disse ficou a ideia para o público que o ministério talvez tenha uma vaga ideia de que não possui quaisquer ideias para resolver a crise da educação e do ensino em Portugal
Parece óbvio concluir que o mal está no Ministério da Educação ter “uma ideia”… Porque se não fora o caso de existir a malfadada ideia de coisa nenhuma, poderíamos imaginar que os responsáveis do ministério se empenhassem na análise da situação do ensino em Portugal e, com esforço, competência e determinação, chegassem ao ponto de, naturalmente, se lhe depararem as ideias e as correlativas soluções.
Parecendo não ser o caso, tão desejado e necessário, resta-nos ver passar o TGV do desenvolvimento dos parceiros da Comunidade Europeia; enquanto o nosso comboio da região saloia nem chegará a partir da estação central de Lisboa – o que será devido a uma previsível sucessão de desgraças: imperícia do condutor, distracção do revisor, apatia do pessoal da estação e falta de dinheiro para custear o combustível da locomotiva…
E, assim, um Estado e uma Nação vão à vida…