O
DISCURSO DO GRANDE COMANDANTE-CHEFE
DO
REGIMENTO
DE INFANTARIA GOVERNAMENTAL
Brasilino
Godinho
Ontem, dia 28/8/2021, no 23.º Congresso Nacional do
Partido Socialista, a decorrer em Portimão, o festejado comandante-chefe
António Costa, do Regimento de Infantaria Governamental - o qual, corpo
operacional militarizado, instituído por graça malfazeja dos “Donos Disto Tudo”
e desgraça de má sorte dos indígenas portugueses, integra 70 oficiais de alta,
média e baixa patentes – também na sua prendada qualidade de Secretário-Geral
do PS botou longo discurso.
Ao abrir o aparelho de TV sou surpreendido com o
excelentíssimo Comandante dissertando para o seu público. Fiquei a ouvi-lo.
Quando sua excelência terminou, fechei a máquina televisiva. Estava atordoado.
Logo em tão desagradável estado de espírito, pois que
me debatia com um problema de consciência terrível.
É que ando há tempos, contados por muitas luas,
comunicando aos inúmeros leitores das minhas crónicas, dispersos por Portugal e
países estrangeiros, que o nosso país vem sendo mal governado e que nele impera:
a exploração dos cidadãos; a sobrecarga negativa dos impostos e agravamento das
condições de vida; o predomínio da corrupção por tudo que é sítio da governança
do Poder Central e das desgovernanças autárquicas; que, enfim, a população
indígena sobrevive dolorosamente nas ruas de muitas amarguras e sendo vitimada pela
pandemia da Covid-19 à cadência de milhares infectados diariamente – assim, Brasilino
Godinho, desenvolvendo um procedimento de natureza cívica que tem tido geral
aceitação.
E não é que numa penada de oratória desconforme, de
vã glória e algo surrealista, o oficial mais graduado do famigerado Regimento
de Infantaria Governamental vem, à cidade algarvia e ao mundo do socialismo
lusitano, dizer que Portugal é um
modelo de governação, de bem-estar social, onde tudo que tem cunho oficial
funciona às mil maravilhas, constituindo exemplo para a Europa. Mais: “garantindo” – como costumam afiançar
alguns desenrascados jornalistas da nova vaga – que com os renovados programas
da governação regimental sob sua chefia e o suporte dos milhões de euros vindos
da Comissão Europeia, Portugal vai ser - sem margem para dúvidas - um país dos
mais progressivos da Europa e do Mundo.
Ver e ouvir assim ousadamente descrito um fantasista quadro
paradisíaco de Portugal inevitavelmente que traria desagradáveis reflexos na
minha mente; dado que, habitualmente, nela se cultiva a objectividade e o rigor
nas análises que elabora com regular frequência.
Mas felizmente que disponho de experiências de vida
nonagenária e conservo activas as faculdades de alma; umas e outras que deram
azo a que decorridos breves instantes de perplexidade já estava recomposto e houvera
readquirido a serenidade; melhor exprimindo: o discernimento que me é
geralmente reconhecido.
Possuído desse estado de alma estou aqui e agora para
transmitir aos leitores a informação de que o discurso do grande comandante
António Costa na sua completude, abrangência e complexidade tem alguns pontuais
resquícios de acerto; mas que no seu todo de aparente essencial relevância é
uma lamentável desvirtuação da muito penosa e dramática realidade sociopolítica
vigente em Portugal.
Concluindo: Ainda não foi desta vez que a
oficialidade do Regimento de Infantaria Governamental, os seus testas-de-ferro
e os subservientes avençados que ocupam os espaços dos Blogues, Sítios da
Internet, da Imprensa, Rádios e Televisões, me apanharam em contramão nos
circuitos onde concentro: seriedade, objectividade, rigor, isenção e justeza de
raciocínio.