492/A Apontamento
Brasilino Godinho
30/Agosto/2020
(Continuação do 492. Apontamento)
O PORTUGAL DE HOJE
NELE O GALO NÃO CANTA
E OS VÍRUS EXPANDEM-SE
Portugal transcorridos 881 anos de existência regrediu
tanto que, nalguns aspectos enquadrados num peculiar contexto sociopolítico, se
encontra configurado à semelhança de um país do terceiro mundo; ultrapassada
que foi a fase de expansão dos descobrimentos e criação do império; o qual, teve
desastroso epílogo pós Revolução de 25 de Abril de 1974.
A esta data seguiu-se o período de contínua e
acentuada decadência que ainda prossegue e agora ela muito agravada pelos
efeitos decorrentes da pandemia Covid-19.
A tradução prática desse estádio de degradação
geral do país exprime-se do modo seguinte:
Estado endividado, falido, que sobrevive com
empréstimos que se sucedem a ritmo alucinante.
População muito empobrecida, gente em estado de
miséria e morrendo de fome, contrastando com grandes “tubarões” e escandalosas
fortunas dos chamados “Donos Disto Tudo” que, desavergonhadamente, ostentam enorme
riqueza e esbanjamentos de luxuosa figuração - como nunca se viu em Portugal.
Tecido empresarial de rastos ou vendido a preços de
uva mijona a entidades capitalistas estrangeiras.
Comércio de retalho praticamente extinto.
Preponderância de hipermercados e supermercados que
tendem a formar cartéis de modo a onerar preços ao consumidor e a
aproveitarem-se das dificuldades dos fornecedores e do facto de eles não terem
poder reivindicativo.
Desprezo e exploração que também acontece com os
velhos e reformados que são continuamente ofendidos na sua dignidade e contemplados com agravamentos de
impostos e aumentos de descontos nas suas miseráveis pensões de sobrevivência.
Os recursos naturais inaproveitados, sectores de
produção de naturezas várias entregues à exploração de empresas estrangeiras e
as actividades pesqueiras reduzidas e facultadas às frotas de pesca das grandes
e gananciosas companhias espanholas.
A Banca de rastos.
O Ensino, algo desorientado, enfrentando grandes
constrangimentos financeiros e sucessivas alterações de currículos, de
programas, de gestão administrativa e de orientação científica. E a Educação
esquecida, desprezada e maltratada, pelas entidades oficiais, que dela se
afastam progressivamente com perniciosas consequências na formação integral dos
jovens.
A Saúde encontra-se muito combalida e o SNS
(Serviço Nacional de Saúde) precisa urgentemente de cuidados intensivos e de
ser provido de instalações adequadas, de profissionais, de instrumentos e meios
de diagnóstico e terapêuticos, que lhe faltam para melhor enfrentar a
calamidade da Covid-19 e bem satisfazer a população carecida de cuidados
sanitários.
A Língua Portuguesa continua enferma da grave deformação
que lhe foi violentamente introduzida pelo aberrante Acordo Ortográfico de 1990
- o qual, praticamente, só é seguido (com estúpido rigor) e aplicado na escrita
corrente em Portugal, por incrível obsessão dos políticos e governantes que
muitíssimo a descuidam e a maltratam sem pudor e sem brio patriótico.
No que concerne à Justiça regista-se que ela está
confinada nas ruas da amargura nacional. É, geralmente, partilhada pelo povo e
pelos meios bem informados da Europa, a convicção de que Portugal não é um
Estado de Direito.
E desde logo é inferida e apurada a circunstância
de aqui, neste recanto europeu, campear a corrupção por tudo que é sítio
habitável e estância governativa. Com tamanho envolvimento de corrupções
activas e passivas que Portugal é, agora, mundialmente conhecido como um dos
países mais corruptos. Certamente, um título de glória para adorno de quantos,
com a maior desfaçatez e impunidade, dão imenso contributo, nesse expressivo
sentido.
Quanto a Olivença nem Governo, nem os políticos do
refugo partidocrático esboçam um gesto de repúdio pela sua situação de colónia
espanhola. Terra portuguesa usurpada pela Espanha no termo da “guerra das
laranjas", desencadeada pelo general Manuel Godoy; e em violação do tratado de
Viena, de 1815. Tão-pouco exercem pressão no sentido de ser devolvida a
soberania de Portugal sobre Olivença.
Uma atitude que transgride os n.ºs 1 e 3, do Artigo
5.º, da Constituição da República Portuguesa e se representa como crime de
lesa-pátria.
Pelo contrário, a rapaziada e os veteranos do circo
político, abancados à mesa do ORÇAMENTO, não perdem oportunidade de se
mostrarem bajuladores e subservientes face à monarquia espanhola.
Sobre a governação do País todos temos visualização,
sofrimento, angústia ou percepção de quanto ela tem sido desastrosa, inoperante,
desavergonhada, corrupta, malévola, incompetente e descuidada do bem comum; por
completo, alheada da obrigação de assegurar condições de vida digna a todos os
portugueses, sem discriminações de qualquer espécie.
Uma nação portuguesa tão desoladoramente maltratada
que até o Presidente da República acaba por, há dois dias, apelar ao povo para
votar noutro governo. Coisa nunca vista em parte alguma neste mundo que muitos
julgam de Cristo.
E como se com a mesma gente, tão mal creditada
pelos mandatos legislativos anteriores, pudesse ser canalizada a esperança da
grei em futura regeneração da Pátria.
Aliás, ajuizadamente, afirma o povo: “É tudo
farinha do mesmo saco”. Por desgraça: estragada e mal cheirosa. Se consumida,
provocando graves consequências de natureza patológica.
Tudo isto decorrendo de uma malfadada e indecorosa
Partidocracia que subverte escandalosamente a POLÍTICA e a DEMOCRACIA e que a
uma e outra mascara, iludindo os cidadãos com uso e abuso de execráveis
expedientes de baixa e reles política.
Enfim, uma nação com glorioso historial que se
encontra mergulhada num asqueroso pântano criado, mantido e desenvolvido por governantes
e políticos incompetentes, corruptos e exploradores; quais testas-de-ferro dos
“DONOS DISTO TUDO” que se vêm sucedendo, de geração em geração, ao compasso do
tempo.
Tristíssimo fado de PORTUGAL!
Tem total cabimento transcrever dos LUSÍADAS a
imortal advertência de Luís de Camões:
“O recado que trazem é de amigos,
Mas debaixo o veneno vem coberto,
Que os pensamentos eram de
inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Oh! Grandes e gravíssimos
perigos,
Oh! Caminho de vida nunca certo,
Que aonde a gente põe sua
esperança
Tenha a vida tão pouca segurança!”