Em terra de cegos quem tem olho é rei…
Só que… desgraça! O rei vai nu…
Brasilino Godinho
Em Portugal, no território alaranjado, há
um rei que tem um desproporcionado olho. Por sinal, olho dotado de um grande
cristalino que se assemelha a lente de binóculo de longo e ampliado alcance… sempre
direccionado num equívoco rumo. Amplitude de funcionalidade a lembrar os três
telescópios do Observatório de Monte Palomar…
O que é mais de salientar, uma vez que no conglomerado
de cultores do pomar laranja existe a convicção e dele emana a insinuação para
indígena convencer, de que Portugal é um país de ceguetas que não enxergam um
palmo à frente do nariz. Perante tamanha, vislumbrada, desgraça colectiva,
valha ao pagode uma especial e feliz circunstância: a da existência - dir-se-ia
divertida e brejeira, se não fora dramática - do tal rei de opereta saloia; precisamente
à semelhança do personagem rei do conto de Hans Christian Anderson que, em dada
ocasião, se mostrou às multidões no seu estado de nudez, convencido que
envergava deslumbrante vestimenta.
Também o referido, singular, espécime português, displicentemente
e com grande descaro, se apresenta desnudado, em postura obscena, sem se dar
conta de que está carecido das vistosas roupagens que seus fanáticos seguidores
juram entrever sempre que surge actuando no circo político mediático.
Ainda há poucas horas os atrevidos e desembaraçados
pregoeiros, ao serviço da real criatura, vieram aos passos da reinação, ali às
portas de Santo Antão, na alfacinha capital, anunciar a boa nova da afectada
realidade, tal como é vista pela presunçosa figura reinante:
“A vida das pessoas
não está melhor,
mas o país está muito
melhor”.
Dito!
Repetido!
Vale
a pena interrogarmo-nos:
-
Qual país está melhor?
-
A vida das pessoas, em Portugal, não estando melhor, será que não mudou e está
na mesma?
Depreende-se
que no reino alaranjado se pensa que a vida das pessoas não está pior.
Se
a afirmação for aceite com carácter selectivo, faz algum sentido restrito… Até
por ser letra de fado a entoar nos retiros Marialvas do Bairro Alto, no palco
do selecto Casino de Lisboa ou mesmo nos Passos Perdidos, da Assembleia da
República e no Coliseu dos mais desvairados e bacocos Recreios... E visto que a
crise, a austeridade e a vergonha, não se pressentem sentidas nos cultivos da
avantajada área do grande e produtivo pomar de laranjas e laranjinhas, que é
parte integrante da “Quinta Lusitana”…
Em
contraposição, as milhentas pessoas que não abancam à mesa do Orçamento, nem
abusivamente se aproveitam do Erário, outro triste e penoso fado cantarão…
Fim