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e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sábado, agosto 29, 2020

 

Publicado há um ano

 

264. Apontamento
Brasilino Godinho

29/Agosto/2019

 

MAIS UMA GRANDE CHATICE 

INQUIETANDO PORTUGUESES

 

Há generalizada impressão em Portugal e nos arredores europeus, de que Portugal é terra amaldiçoada onde se vive em constante alvoroço quanto à incerteza do dia de amanhã. Factor não despiciendo a ter presente é a falta do conhecimento de ciência certa quanto à identidade do agente amaldiçoador; o que bastante contribui para agravar o mal-estar que muitos devotos sentem quando ouvem o despedimento do fastidioso e obsessivo “Até amanhã se Deus quiser”.

Também grande e negativa influência é sentida diariamente, aos fins de tarde, pelos espectadores do programa televisivo que os intimida na desesperança dum amanhã que dependeria da ocasional resultante favorável expressa no reparo “se Deus quiser”.

Como se tal inquietante dúvida que dia-a-dia fica sobressaltando o espírito do pacato indígena de religiosa fé, não fosse bastante deprimente, deveras estupidificante e, em absoluto, vazia de racional sentido, vão-se repetindo manifestações de semelhante jaez e motivadoras de crescente aflição.

É o caso ocorrido hoje de manhã, num programa televisivo, em que foi dito (sem pestanejar, se bem me apercebi) pelo ex-jogador Jorge Andrade, que a selecção de Portugal ganhará o campeonato europeu se… Deus quiser.

O que esta afirmação traduz? Que os portugueses tirem o cavalinho da chuva e se deixem de ilusões. Portugal só vencerá se Deus quiser. Porque se ele não quiser nada valerão a crendice do seleccionador Fernando Santos, as habilidades dos jogadores e os incentivos das claques em gritarias frenéticas nas bancadas dos estádios.

Mais: para além de tal arrepiante incerteza quanto à benevolente condescendência da Divina Criatura, prevalece a aberração concernente ao fulcro da questão: Porquê, Deus haveria de ocupar seu precioso tempo de absorventes, divinas, tarefas, a pensar e a decidir-se sobre o desfecho da participação da selecção portuguesa numa disputa futebolística? E a equipa portuguesa ser preferida e as outras equipas serem preteridas – porquê?

Por acaso, perspectiva-se ou insinua-se uma cunha do Presidente Marcelo ao Divino Espírito Santo, com quem mantém excelentes relações? – segundo a interessante indicação que teve a gentileza de transmitir ao pagode, através de uma entrevista a um órgão de comunicação social, em data relativamente recente.

Enfim, todas as aventadas hipóteses de intervenção de Deus nas vidas de indígenas portuguesas, são tendenciosas chatices visando inquietar demasiado os seres de frágil espírito e que seriam inteiramente dispensáveis se outra fosse a capacidade de discernimento e racionalidade instalada na sociedade portuguesa.

Atente-se na imensa chatice e grande tormento decorrentes da terrível incerteza de que ficam sofrendo os adeptos do futebol nacional, inteiramente dependentes da desejada e hipotética, soberana, vontade de Deus em querer que a selecção portuguesa ganhe o campeonato europeu.

É de recear que muitos adeptos sucumbam ou percam a fé se Deus não quiser atender às invocações que lhe são feitas a toda a hora e instante…

 

Uma coisa podemos ter como certa: se Deus existe, está possuído de infinita paciência para aturar tanta e variegada pedinchice de fanáticos, abusivos, crentes portugueses…

 

Nota final

O ser humano é minúscula partícula do Universo. Para quê estar constantemente a lembrar-lhe essa condição de inferioridade? Implícita na expressão "se Deus quiser". Para o crente é dado adquirido que tudo depende da vontade divina. Insistir é "chover no molhado". Afinal, um contra-senso.