Em tempo de compasso…
Um humilhante atestado
de:
01. Indigência técnica.
02. Cobardia política.
03. Perversidade funcional.
04. Esbanjamento financeiro.
Brasilino Godinho
Se o governo
que - sorte malvada! - nos saiu em rifa, no último bazar eleitoral, como prémio
de desconsolação, qual anacrónico pechisbeque tóxico, extremamente
infecto-contagioso para o tecido social, fosse um órgão de soberania credível,
certamente que hoje estaríamos a lamentar a inexistência de cidadãos portugueses
dotados de competência e seriedade para delinear o desenvolvimento do pais e
para bem gerir a nação. (Um parêntesis para anotar o seguinte: felizmente que
ainda há em Portugal cidadãos de elevada craveira intelectual, de invulgar
competência, da maior seriedade, que dignificam a pátria que lhes serviu de
berço).
Infelizmente,
não é o caso deste executivo que já regista no seu curto historial um impressionante
rol de promessas não cumpridas e de políticas demasiado ruinosas para o país e
para as suas gentes, sobretudo, as mais carentes e desfavorecidas.
Isto escrito
a propósito de o famigerado timoneiro das Finanças ter decidido convocar técnicos
do Fundo Monetário Internacional para virem a Lisboa elaborar um projecto de
reforma do Estado – como se esta tarefa não estivesse ao alcance de técnicos
portugueses.
Com tal
iniciativa o executivo demitiu-se, ingloriamente, das suas atribuições. O que, também,
é um deprimente atestado, firmado pelo governo; decididamente: Incrível! Ofensivo!
Inaceitável! Repugnante!
Um humilhante atestado de:
- 01. Indigência técnica
Aqui e desde
logo, se realça a denotada impreparação dos ministros e secretários de Estado,
para as tarefas ministeriais. Depois, acrescente-se a carência de conhecimentos
e experiências da legião de “especialistas”, constituída por jovens de ambos os
sexos que, por mercê de despachos ministeriais e à semelhança da licenciatura
arrelvada, foram arvorados às respectivas “especialidades”; os quais, pelos
vistos, são peritos de coisa nenhuma. Não obstante: ocupam, enxameiam, decoram
e oneram, os gabinetes dos ministérios.
Então, o
governo com tanto pessoal especializado não conseguiu (ou nem conseguiria)
estudar, no decurso de ano e meio de exercício das funções, o assunto e
programar a reforma do Estado? E agora o pessoal do FMI vai realizar a tarefa
numa semana? Ou, simplesmente, os técnicos do FMI vêm dar o aval a tudo aquilo
que esteja preparado pelos governantes portugueses?
Por outro
lado: Que está fazendo o governo, afinal? Que nem sequer desempenha a tarefa de
governar – o que, supostamente, é a sua obrigação principal.
- 02. Cobardia política
O governo
quando está a recorrer aos técnicos do FMI visa um objectivo: Enjeitar a
responsabilidade das mui gravosas consequências decorrentes das medidas que vai
impor arbitrariamente. Sem arte e sem engenho, fragilizado, pretende disfarçar
o inato autoritarismo, a consabida inoperância e a por demais sentida
agressividade sobre o funcionalismo público, a classe média, os pensionistas e
os marginalizados da sociedade. Com o maior despudor tentará justificar-se,
apresentando-se como mero executor de orientações determinadas pela entidade
tutora FMI.
A
concretizar-se esta atitude do governo estaremos perante uma inequívoca
cobardia. Porque não terá a coragem e a seriedade de assumir as suas
irrecusáveis responsabilidades.
- 03. Perversidade funcional
Esta
componente do modus faciendi do governo, na presente conjuntura, expressa-se na
concretização do propósito indiciado, desde o inicio do mandato, de introduzir
profundas alterações na estrutura funcional do Estado e nos domínios da
Política, da Economia, do Ensino e da Segurança Social, com maior enfoque na
revisão da Constituição da República Portuguesa. Não tendo conseguido realizar
o intento, o governo logra impor o seu desígnio através de um testa-de-ferro:
uma entidade estrangeira que comunga das mesmas ideias dos nossos actuais
governantes. Assim se juntam e coordenam as motivações políticas das duas
partes: governo e FMI. Claro que, em última análise, de forma tortuosa, ao
arrepio dos superiores interesses do povo português.
Tal
procedimento do governo só merece uma classificação: é uma perversidade,
dissonante da Democracia.
- 04. Esbanjamento de meios financeiros.
Naturalmente
que os trabalhos de elaboração do projecto da reforma do Estado e que todas as
actividades inerentes ao funcionamento da Administração Pública, devem ser
levados à prática pelo governo. Para isso, dispõe de serviços, direcções gerais,
inúmeros assessores jurídicos e, agora, de muitos e excepcionais(…)
“especialistas” de última e arregimentada apanha partidária. E assim sendo, não
há justificação para se gastarem balúrdios com pareceres e serviços de
entidades particulares.
Assinale-se
que, a acrescentar aos milhões de euros gastos anualmente com os governantes e com
os ditos “especialistas” dos gabinetes ministeriais, remuneratórios de algo
muito vago (segundo as evidências), serão pagos milhões de euros ao FMI relativos
aos chorudos honorários do pessoal destacado em Lisboa durante uma semana.
O que traduz
um esbanjamento financeiro incompatível com a detestável austeridade, a carga
fiscal e os cortes de salários e subsídios na Função Pública e no sector
empresarial. Mais: O governo vai despedir 40 000 funcionários, enquanto que nos
últimos meses recrutou à toa, com o maior desplante, um enorme grupo composto
de “especialistas” de estranhas especializações, de assessores, secretários, secretárias,
motoristas, chefes de gabinetes, assistentes machos e fêmeas. E, ainda, se
permitiu o gozo de comprar carros de grandes cilindradas. Enfim, tem sido uma
grande demonstração de anarquias despesistas.
Noutro campo
de Democracia em que prevalecesse a Política (com maiúscula), a Ética, a Moral,
a Seriedade, a Respeitabilidade, o sentido de servir o Bem Comum, diríamos - com
alguma esperança: quer na modificação dos nocivos comportamentos, quer na afirmação
dos deveres cívicos - o seguinte: Haja decoro!
Aqui, neste
canto lusitano e agora, face ao mau ambiente, nem vale a pena fazer semelhante
exortação… Tal é a cegueira prevalecente…
Fim
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